Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 13
Capítulo 12: Viajando


Notas iniciais do capítulo

Esta história não tem qualquer relação com pessoas, lugares ou fatos da vida real. É uma obra de ficção com puros fins de entretenimento.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/575707/chapter/13

O Comandante Lorran bateu à porta de Eileen na madrugada do sábado.

_Sr... O que faz aqui essa hora?

_Eu gostaria de conversar...

Disse o homem que vestia capa de chuva preta e segurava uma maleta suspeita.

. . .

A noite estava escura e nublada, chovia do lado de fora, e a mulher servia café a Gilbert.

_Então... O que o Sr. Gostaria de conversar? –disfarçou o nervosismo na voz-

_ Bem houve muitos problemas, com a falta de energia, a chuva que interfere no sinal de comunicação, aqueles raios perigosos caindo por toda parte, e aquela criatura perambulando por sua casa sem ser vigiado... –o comandante falava um pouco estressado-

_Está tudo bem... A queda de energia complica um pouco, mas você não disse que estava tudo bem?

_E ele, onde está? Fez algum movimento suspeito? –encarava-a esperando por respostas- Eu realmente gostaria de ter enviado alguém mais cedo, no entanto, todos estavam ocupados consertando os equipamentos, então decidi vir pessoalmente, desculpe incomodá-la tão tarde...

_Bem, não tem problema, ele está dormindo, eu acho... Não aconteceu nada demais, ele só ficou comparando o planeta dele a raça dele conosco e com nosso planeta, como sempre... –revirou os olhos-

_ “Como sempre”? –o comandante intrigou-se-

_Sim, ele está sempre se gabando em relação a nós, não é?

_Sim... Claro... –Gilbert tirou os óculos e olhou a mulher nos olhos- Aconteceu algo que eu deva saber?

A mulher enrijeceu a postura, aquele homem, era mesmo sagaz, não que ela soubesse mentir muito bem. Suas expressões sempre a entregavam.

Sr. Gilbert está afiado, como era de se esperar... Não poderia ser diferente ou ele não seria o Comandante das forças especiais... Ou... Talvez esteja estampado no meu rosto que estou escondendo algo?

_Não...

Ela respondeu com remorso por mentir. Ele suspirou delongando mais um olhar sobre a mulher, depois pôs os óculos novamente e continuou:

_Bom... Vamos ver as gravações então...

_Gravações?

_Sim, eu não disse que as câmeras podem gravar? –estranhou o nervosismo na fala da mulher- Vamos ver o que estiveram gravando... Tenho certeza de que podemos conseguir as imagens...

Eileen pareceu calma por fora, mas fervia por dentro. Era agora que o comandante descobriria sobre a falha dela, sobre a fraqueza e a mentira que ela mantinha guardada em si. A cor dela mudou, empalideceu. Não podia evitar, tinha medo de que as gravações revelassem a pequena ajuda que ela ofereceu e mostrassem um Siv debilitado.

Gilbert habilmente acessou as gravações contidas na câmera através do notebook que trouxera na maleta. Começou a vê-las, primeiro a da cozinha. Viu o café da manhã, e mais tarde todo o diálogo sobre chocolate, tudo normalmente. Eileen engoliu seco. Viu as câmeras do quarto do alien, mas ele só aparecia no final da gravação, já tarde da noite. Quando chegou à gravação da sala de estar e da Câmera das escadas, Eileen gelou, e algo inusitado ocorreu: as gravações começaram normalmente, mas depois da parte do café da manhã, a gravação ficava com a tela toda cinzenta e um chiado, o mesmo aconteceu nas câmeras da escada e dos outros cômodos.

_Mas o que...? Não podem ter pifado por causa da umidade! Deveriam estar gravando, como...? –tentava acessar as imagens -

E para surpresa de Gilbert e da mulher ao seu lado, após um chiado da tela, uma rápida imagem passou. O comandante astuto percebeu uma mínima mudança no vídeo e passou a reduzir.

Ficou boquiaberto após reduzir o suficiente para ver a imagem que passou num piscar de olhos entre os chiados da gravação: Era Siv Borghild, a imagem estava focada no roto dele e ele olhava a câmera, com um sorriso no rosto, depois disso, a imagem voltava a chiar.

_Maldito! –Gilbert cerrou os punhos e bateu em suas próprias pernas, furioso- Ele interferiu nas gravações! Isso é sujo! Esse extraterrestre está usando de má fé contra nós!

_E-ele... Deu pane nos vídeos...

Falou num tom nervoso, tentando esconder o alívio que sentia.

Então ele já havia pensado nisso... Não imaginei que ficaria feliz por algo que ele tenha feito, apesar de que foi errado...

_Senhorita? –o comandante irrompeu os devaneios da mulher-

_Sim? –respondeu em alerta-

_Não notou nenhum movimento estranho? Não percebeu quando ele alterou as câmeras? –perguntava de cenho franzido-

_Não... Eu não o vigiei o tempo todo, teve uma hora durante a noite que eu não o vi... Talvez ele tenha alterado nessa hora... –dizia de ombros recuados-

Na verdade não o vi depois que o expulsei do meu quarto...

_... Então ele aproveitou para burlar a vigilância... Mas... Por que só de algumas câmeras?

_Por que é irritante ter de acabar com todas elas

Uma voz gutural soou atrás do comandante e de Eileen. Os dois viraram-se instintivamente, para visualizar o dono da voz, ninguém menos que o próprio Siv Borghild de quem falavam.

_... É cansativo gastar minha energia para acabar com alguns equipamentos tão frágeis quando eu poderia esmagá-los com os dedos... Optei por não destruir o equipamento de vocês, é claro. –disse com um impecável sorriso cínico no rosto-

Ele está se achando... Claro que ele não destruiu tudo porque seria desgastante... Ele estava falando sério quando disse que estava fraco...

O alien lançou um olhar de relance para a mulher, que teve um calafrio. Depois, voltou a encarar o comandante Gilbert.

_Por que fez isso?

_Não tinha nada mais para fazer. –disse sem se importar-

O rosto de desdém daquele sujeito irritou o comandante profundamente, mas controlou-se. Manteve a compostura.

_Isso não é uma explanação aceitável. –pressionou- Tem um acordo com o governo “Siv Borghild”.

_Você quer mesmo um motivo, humano? –disse com o mesmo sorriso de sempre- Eu cansei de ser vigiado... –e o sorriso foi se desfazendo à medida que ele falava- Não suporto ser observado 24 horas, já fui vigiado o bastante na minha vida, não admito que continuem a me observar, se temos um trato, deve-se estabelecer confiança mútua, caso contrário, não deveríamos ter feito um acordo... A vigilância das câmeras e escutas não estava no acordo, porém eu estive tolerando até agora, e cansei.

Gilbert franziu o cenho e fixou o olhar sério no rosto do alienígena, em silêncio e apreensivo. O tom sarcástico e ácido do alien tomou forma na seguinte fala:

_E sabe, podem até acreditar que estão me vigiando, mas a terra é um lugar pequeno, gravem isto nas suas memórias: da perspectiva do espaço, os únicos sendo vigiados constantemente, são vocês.

Saiu da casa, mesmo com a chuva, deixando ambos os humanos na sala sem palavras...

_Ele tem tido menos paciência para conosco... Isto pode se tornar um problema sério futuramente... –Gilbert ponderou- Talvez seja melhor reelaborar o planejamento ou isso acabará numa tragédia... Mais uma vez, sinto por manter sua vida em risco, senhorita... –curvou-se num gesto de desculpas-

_...

Pra mim pareceu que o Siv estava irritado com algo mais, não conosco... Ele disse que já foi vigiado o bastante durante a vida... O que isso significa...? Ele pode estar só inventando uma desculpa para tirar de uma vez essas câmeras da minha casa, já que isso poderia ter nos trazido problemas, mas... Não foi o que pareceu...

Siv Borghild... Um alien que mimetizou a aparência humana... Ele sempre teve um comportamento de superioridade em relação a nós humanos, mas ultimamente tem estado especialmente diferente... Tem horas que... Não parece ser aquele alien cheio de compostura que apareceu aqui para desvelara raça humana... Seria isso influência nossa...?

Será que estes comportamentos são um reflexo do tempo que ele passou no mundo humano... Ou... Ele sempre foi assim e tentava esconder?

Ah! Isso é muito complicado... E aposto que aquela maldita habilidade dele de ler mentes deve estar na ativa agora, não quero nem ouvir os comentários dele, esse invasor de privacidade... Grrr...

_Tentaremos negociar com ele, Srtª Sanders... O governo obviamente não aceitará tão facilmente perder a chance de monitorá-lo... Os líderes ficarão furiosos... –suspirou um tanto cansado- Além disso, não creio que seja aconselhável deixar sua casa sem câmeras com uma criatura tão perigosa vivendo aqui... –disse apreensivo-

_Verdade que o governo não se calará... Mas não é como se Siv fosse realmente fazer algo perigoso aqui...

Eileen conjecturou. Gilbert levantou uma das sobrancelhas com um ar de censura.

_B-bem, eu quero dizer... –gesticulava um pouco nervosa- Se ele realmente quisesse me matar ou algo do tipo, já teria feito... Não é desmerecendo o trabalho que vocês fazem, mas é inegável que a segurança que o governo está oferecendo não pode realmente pará-lo... É como amarrar a perna de um elefante com um barbante, uma vez que ele queira sair, nada o impedirá...

_... Sinto muito, mas isto é o máximo que podemos fazer por agora... Os cientistas estão trabalhando dia e noite para descobrir uma fraqueza e produzir armamentos eficazes... –respondeu um pouco afetado com o comentário da mulher-

_Desculpe, não quis parecer ingrata, mas... –suspirou- Não há nada que realmente o impeça de nos matar ou realizar qualquer ato do gênero... Na verdade tem... –pensou por alguns segundos-

_... O quê? –O comandante intrigou-se-

Esta é uma ótima oportunidade de falar sobre o chocolate... Porém... Não sinto como se devesse contar isso... O que há comigo?! Eu deveria era dizer tudo que aconteceu e deixar o governo matá-lo por ele ser uma criatura tão rude!

Mas por que eu...?A-ah... Não tenho coragem de dizer isso...

_Senhorita Sanders...? –Gilbert chamou a atenção da mulher-

_Ah, não é nada, só tenho algumas preocupações, não é nada importante... –disfarçou com um sorriso no rosto-

. . .

No Prédio governamental

. . .

_C-como? Ele alterou as gravações? –o presidente teve asco-

_Sim... –Gilbert relatou- E deixou claro que não aprecia nossos esforços em observá-lo...

_A questão não é se ele aprecia ou não, nós devemos vigiar as ações dele! Uma criatura de alta periculosidade...

_Nós tentaremos fazer um acordo com ele, no entanto... Não temos tanta certeza de que ele venha a ceder...

_Deixe-me falar com ele... Estivemos usando diplomatas até agora, mas não adianta... Então eu falarei com ele pessoalmente...

_É uma decisão precipitada, se me permite dizer, Senhor Presidente... –o vice-presidente comentou- Podemos tentar-foi interrompido

_Não, ele simplesmente aceita aquilo que quer, por isso temos que tentar fazer um acordo mais viável... Sendo assim, eu mesmo o farei!

_...

Gilbert e o vice-presidente se entreolharam, preocupados.

. . .

Na casa de Eileen...

. . .

O cabo Blake estava na entrada da casa, encarando com uma expressão rígida e nada amigável o alien que estava inexpressivo, mas incomodado de certa maneira.

_Hum? O que disse?

_Comandante Gilbert me mandou aqui para levá-lo... Sr. Borghild, o Presidente requisita sua presença num encontro... Ele gostaria de discutir alguns assuntos importantes...

_Que tipo de assuntos?

Eileen assistia à cena calada, um pouco envergonhada por estar ali escutando tudo. O cabo simplesmente apareceu dizendo que precisava falar com o alien, e ela prontamente permitiu.

Antes de continuar, Blake lançou um olhar para a mulher que estava sentada ali perto:

_Não me informaram Sr. Sou apenas um soldado de baixo nível que foi enviado para buscá-lo, mas o Comandante o receberá e lhe dará mais informações assim que chegarmos ao prédio do governo.

Siv sorriu e levantou-se do sofá.

_ Muito bem, eu irei...

_Agradeço sua cooperação, Sr. –o cabo reverenciou-

E os dois homens saíram da casa dela.

O Presidente? Será que é por causa das câmeras? Eles realmente perderam o controle da situação...

. . .

Na sede do governo...

. . .

Na sala de reuniões do prédio, a imensa mesa com inúmeras cadeiras acomodava apenas duas pessoas, numa ponta o presidente e na outra ponta, do outro lado da sala, o alienígena sorridente.

_Nos encontramos de novo, Sr. Borghild...

O presidente disse sério, com os cotovelos apoiados na mesa e o rosto apoiado nos dedos entrelaçados,

_ Deve entender porque o chamei aqui...

_Compreendo perfeitamente, porém, não posso concordar com o ponto de vista do Senhor, Presidente... –respondeu educado-

_Nós tínhamos um acordo. –o presidente pronunciou com certa indignação-

_Nós temos um acordo. –disse ainda sorridente- Em nenhum momento quebrei os protocolos estabelecidos no acordo...

_Sr. O fato é que nos sentimos ameaçados com sua presença e creio que não esteja sendo muito honesto conosco... Apenas queríamos garantir a segurança dos nossos cidadãos e fez-se necessário observar suas ações tendo em vista que as executa de forma obscura... –estreitou os olhos-

_Deixe-me expor como me sinto também, Sr. Presidente... –continuou com o sorriso- O Sr. já teve a experiência de observar ratos de laboratório evoluindo intelectualmente enquanto os testa?

_... Aonde quer chegar?

_É assim que me sinto enquanto os Senhores vigiam-me 24 horas por dia, testando sua tecnologia desatualizada e suas armas fracas tentando me matar, a única diferença é que testam minha paciência, não minha inteligência. E para constar, preciso lhe dizer que sei que tipos de estratégias usarão em mim antes mesmo de vocês usarem?

A cada palavra que pronunciava, o extraterrestre manteve o tom calmo e a postura, mas havia certa obscuridade em sua expressão e uma intenção maligna por trás do cínico sorriso desenhado em seus lábios.

O Presidente suou frio, ficou nervoso. Aquele sorriso que seu inimigo dava exercia uma pressão imensa. A inteligência e postura eram impecáveis, sem falhas, era isso o que o Presidente mais temia que seu inimigo podia ler muito bem seus pensamentos, mas ele não podia se quer imaginar que ação o alienígena tomaria, apesar de entender que ele demonstrava um tipo de irritação.

_O que você deseja de nós afinal?

O presidente tremeu internamente ao perguntar, com o semblante que misturava aflição e temor pela resposta que teria daquela criatura abominável.

_Não muito. Eu quero viajar.

_Viajar?

_Sim. Eu fiquei por muito tempo por aqui, o mundo humano tem diversas sociedades, preciso conhecê-las também, não posso apenas me instalar aqui e esperar entender toda a complexidade da raça humana... –pôs a mão no queixo-

O líder do país franziu o cenho, se ele causava problemas somente estando lá num ambiente tão restrito como uma cidade, quiçá se viajasse apara outros países.

_Tenho certeza de que isso está previsto no contrato... Que o governo deve prover os recursos necessários para minha viagem...

_Você não tem escrúpulos... –o presidente disse num tom irritado-

_Não diga isso... –riu- É claro que haverá algumas vantagens para vocês humanos também... Veja bem, agora que perderam as câmeras de vigilância, precisarão ficar de olho em mim, e obviamente enquanto eu estiver viajando poderão me vigiar e ao mesmo tempo me guiar... –propôs- Uma relação mútua.

_... Está dizendo que se permitirá ser vigiado?

_Estou dizendo que enquanto me guiam pelo mundo, poderão até descobrir algo útil, afinal, vocês ficam o tempo todo coletando amostras do meu DNA, mas aposto que com o conhecimento de vocês os pesquisadores não tem nenhuma dica sobre como acabar com minha espécie...–disse entre risos-

_...

E-ele sabe... Esse alienígena é mais astuto do que pensávamos... Ele está brincando conosco... Isso não é bom...

_Um pouco rude de sua parte duvidar da minha inteligência... –disse com um leve sorriso e uma expressão mais séria- Eu posso ler seus pensamentos, no entanto, mesmo sem lê-los eu saberia facilmente o que vocês humanos ficam maquinando em seus cérebros... –disse num tom convencido-

_Não vai nos dar outra opção não é?

O presidente espremeu os dedos, borbulhando de raiva internamente, estava farto de receber ordens daquele ser que havia invadido seu lar, era humilhante e excruciante estar a mercê de um alienígena.

_Aonde quer ir?-controlou o tom da voz-

_Não fale como se eu fosse algum tipo de opressor, apenas gostaria de fazer uma viagem para fins de estudo, vocês humanos também não fazem isso? ... E eu não estou obrigando-os a aceitarem minhas condições, estou simplesmente expondo minhas intenções para que vocês possam entender... –fitou o presidente nos olhos- Sabem muito bem que eu poderia simplesmente sair voando por aí e fazer tudo a meu modo, mas seria um inconveniente para seu governo e para minha imagem, por isso vim acertar tudo antes da viagem, não quero de forma alguma ser desrespeitoso com sua autoridade...

O presidente escutou atento e aflito às palavras do alienígena.

Ele está certo... Se ele decidisse ir sozinho, seria um problema... Os outros líderes ficariam furiosos e lançariam pedras em mim se eu lhes dissesse que esta criatura fugiu do controle e agiu independente das nossas orientações...

_... Muito bem... Faremos um acordo então... –o presidente disse relutante- É o melhor a se fazer...

_... Um líder sábio...

O alienígena sorriu vitorioso e o presidente teve que engolir os xingamentos que queria bradar e manter a compostura.

. . .

Os dois estavam sentados à mesa da cozinha, a mulher colocava café, mas parou, perguntando alterada:

_Você vai viajar?!

_Sim.

Eileen ficou surpresa com a notícia repentina, não conseguia acreditar nas palavras do alienígena.

Então minha casa vai ficar livre por um tempo...

_ Parece feliz com isso. –ele disse com seu sorriso típico no rosto-

_A-ah! Quer parar de invadir minha mente? –disse nervosa, depois suspirou- Mas aonde você vai?

_Visitar um país chamado “França”.

_Por que a França?

_Soube que foi o reduto de diversos conflitos históricos.

_Ah, que lindo, um alien interessado na Revolução francesa... –revirou os olhos-

Só espero que ele não cause problemas lá... Pobres cidadãos franceses...

_Por que sempre me tem como sinônimo de problemas? –fitou a mulher- Deviam prestar atenção aos problemas que vocês mesmos causam uns aos outros. –disse um tanto incomodado- Só por que sou um extraterrestre não significa que trarei problemas, isso é xenofobia, sabia?

_Não pode dizer isso, você já nos causou um bocado de problemas só por estar aqui... O governo não pode sair por aí divulgando que há um alienígena na terra, muito menos que é um acusador inteligente como você! As pessoas ficariam desesperadas! –contestou-

_Eu não causarei problemas, minha intenção é observar, não machucar ou torturar humanos. –levantou-se e olhou no relógio de pulso- Se me der licença, tenho que cumprir os protocolos estabelecidos com o Presidente de sua nação.

E saiu dali. Um carro do governo veio buscá-lo, e ele foi embora. Eileen observou pela janela da cozinha enquanto o carro sumia da vista e suspirou.

Então minha casa finalmente vai ficar em paz por um pouco de tempo...

. . .

O tempo passou rápido, Eileen teve finalmente um momento de tranquilidade. Sem agentes do governo, sem vigilância 24h por dia, sem stress ou discussões por causa daquele alien. Era só ela e a casa. Um espaço vazio, sem graça, mas ainda assim, era seu espaço.

Enquanto Eileen lavava a louça na cozinha, a campainha tocou. Tomou um susto. Seu coração acelerou.

Será que é...

Ela foi até a porta a atendeu com uma expectativa esquisita.

Ah, por que esse nervosismo todo? O que há comigo? Não é como se fosse alguém importante... Pode ser só um carteiro ou o George...

Assim que abriu a porta viu uma visita inusitada:

_Halley?

_Oii! Faz algum tempo não é Eileen? –sorriu a amiga-

A morena entrou na casa da Sanders. Abraçou a amiga e foi convidada a beber algo.

_É um final de semana, por que essa cara larga, Eili? -a morena disse com um sorriso no rosto-

_Ah, não é nada... –respondeu sem graça-

_Hey, sua amiga veio te visitar! Que astral é esse? Vamos sair pra te animar se estiver tão desanimada assim... –sugeriu-

_Não precisa, Hail... –sorriu gentilmente-

Hail encarou a amiga por alguns segundos. Ela sempre sabia quando a outra estava com problemas ou quando precisava conversar, talvez a amizade de anos tivesse trazido esse tipo de percepção.

_Fiquei um pouco assustada quando você faltou ao trabalho há uns tempos atrás, você faltava tanto, quando não estava doente era algum problema familiar... –disse séria, com um leve sorriso no rosto-

Eileen riu forçado, mais do que qualquer outro, ela sabia que Halley a conhecia tão bem que podia reconhecer quando ela não estava bem.

_É verdade!

Verdade uma ova! Tudo culpa daquele alien! Porque eu tinha que ficar acompanhando ele o tempo todo e dos acidentes que ele causou, fiquei boa parte do tempo no hospital e quando não estava internada, tinha de fazer o papel de babá dele!

_Falando em falta... Cadê aquele estrangeiro que estava morando contigo? –olhou em volta- Ele ainda está por aqui?

_A-hahahah –riu forçado novamente- Sim... Ele fez uma... Viagem... O intercâmbio dele é bem recheado de viagens, para se integrar com os países que estão envolvidos com a economia de nosso país... Sabe como o governo é... Busca eficiência... –inventou uma desculpa-

_Anh...-grunhiu desanimada- O bonitão foi embora antes de você aproveitar?

Halley, minha querida, estamos falando de um alien! Um alien! Isso é extremamente nojento! Repugnante!

_Halley, por favor... –disse a mulher com certo nojo-

_Tá, tá, já parei! –gesticulou abismada- Falando sério agora, ele até parecia um cara legal... Sorridente, alto, bonito, e estrangeiro!

É porque você não sabe que ele é um maldito alien!

_Se você falar mais uma característica eu juro que lhe dou uma tapa na cara! - disse com um tom irritadiço-

_Ai, você é muito rígida Eili! Tente levar mais na brincadeira, só estou tentando te animar! Está com uma cara assim, nem parece você!

_Desculpe, eu só tenho essa cara, nasci com ela!

_Que mau humor, se acalme, amiga!

_Ah... –suspirou um pouco impaciente- Desculpe, estou um pouco inquieta hoje...

_Hoje? O que tem hoje? Algo de especial?

_Não... Só estava me lembrando de umas más memórias...

Já faz um mês que aquele extraterrestre sumiu da minha casa... Imagino se o governo vai deixá-lo voltar... Ou melhor, imagino se ele voltará, já que o governo não tem tido muito controle sobre ele... Gostaria de continuar com meus dias de paz por aqui... Trabalhando honestamente, sem precisar me envolver nesses assuntos além do meu alcance... Não nasci pra isso...

_Está fazendo de novo essa expressão deprê... –a amiga fitou Eileen-

_Desculpe, não estou muito a fim de sair hoje...

_Tudo bem... –levantou os braços desistindo- Eu vou embora então... Me ligue quando se sentir melhor...

Deu um ligeiro sorriso e despediu-se da amiga, que foi embora com uma expressão de preocupação no rosto.

Eileen voltou à mesa da cozinha e sentou-se em uma das cadeiras. Por algum motivo aquele cômodo a fazia sentir nostálgica. Ficou observando o lado de fora através da janela. Aquilo lhe trazia lembranças...

A-ah... A quem eu estou tentando enganar? Talvez esta casa esteja mesmo um pouco vazia... Acho que sinto falta de toda aquela bagunça... É isso que mais de três meses convivendo com um alien e pessoas importantes na política fazem...

Não pensei que fosse sentir falta de uma vida tão desordenada...

Suspirou inconformada com aqueles sentimentos que faziam morada em seu coração.

Se o Siv me visse agora provavelmente zombaria de mim, argh, isso me irrita! Ah! Devo estar com problemas, devia ir a um psicólogo... Não, pensando bem, me jogariam num hospício se eu contasse como a minha vida mudou... Não tem jeito...

A campainha tocou novamente. Eileen suspirou e deslocou-se da cozinha para a sala, atender à porta.

Acho que a Hail deve estar mesmo preocupada... Voltando assim... E ela não sabe nem um terço de toda a história...

Abriu a porta num suspiro e começou a falar com o olhar baixo:

_Hail, eu sei q- parou de falar quando viu a pessoa à sua frente- S-Siv...?-ficou surpresa- M-mas...

Ela o seguiu com os olhos, sem palavras enquanto ele entrava na casa.

_V-você não estava viajando?

Ela fitou-o confusa e ele virou o olhar para encará-la.

_Hum?

_Espera... Não deveria estar na França? –tentou acalmar-se enquanto falava-

_Sim. É um país muito diferente daqui, devo conjecturar, mas por que a surpresa?

_... Ah... –não conseguiu elaborar uma resposta-

_E você acredita que um mês não foi o bastante para conhecer a França? –arqueou uma das sobrancelhas- Diferente de vocês humanos, eu assimilo tudo rápido e posso a analisar com facilidade.

_Vejo que está convencido como sempre...

_...

_Falando nisso, o governo sabe onde você está? Aposto que sumiu da vista deles sem dar notícias...

_... –ele sorriu- Não deve ser difícil presumir onde eu estou, além disso, eu fui vigiado a viagem inteira. Estou um pouco cansado disso... –suspirou pesadamente-

Então ele fugiu da vista do governo mesmo?!

Ele riu e a mulher logo entendeu que ele havia os pensamentos dela quando ele continuou:

_Estava só brincando... Eu tenho um acordo a cumprir, ao contrário da impressão que você tem sobre mim sou alguém de palavra e sempre respeito meus acordos.

_B-brincando? Sei... Mas por que está na minha casa de novo? O presidente não conseguiu arranjar um local pra você?

_Eu não quero um local indicado por o governo... Deve imaginar onde colocariam alguém como eu... Não seria muito diferente de ser um prisioneiro em uma cela...

O olhar dele estava distante por alguns segundos e ela não sabia se havia sido só a impressão dela ou se os olhos dele sempre foram assim, sem fundo. Suspirou sem esperanças de se ver livre daquele invasor indesejado.

_Me odeia tanto assim? –perguntou rindo-

_Não é que eu te odeie, Siv Borghild... É só que fico estressada quando um alien que fica lendo meus pensamentos e me atazanando se aloja na minha casa! E ainda faz bolinha do governo! –disse irritada-

_... –ele a fitou por alguns segundos- Vocês humanos são assim, todos incongruentes?

_Hum? O quer dizer...?

_Eu gostaria de saber se todos vocês dizem exatamente o oposto do que pensam. –pôs a mão no queixo- Vi muitos grupos assim em outro país... Onde os humanos realizavam ações que não condiziam com o que pensavam... Você também não estava dizendo algo que condizia com- foi interrompido-

_Estava lendo meus pensamentos de novo?! –irritou-se e enrubesceu-

E assim iniciou-se mais uma discussão por uma Eileen irritada e um alien cínico. Os velhos dias voltaram, e por mais tempo a paz da mulher seria adiada, mas seria isso tão ruim assim para ela?

Parte II–Conspiração-/ Fim


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Human World Observation" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.