Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 12
Capítulo 11: Por mais algum tempo...


Notas iniciais do capítulo

essa obra não tem qualquer relação com pessoas fatos ou lugares da vida real. É uma obra de ficção com fins de entretenimento.



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A manhã daquele sábado começou chuvosa, com direito a trovões e um dia nublado e escuro.

_Aquele garotinho que você salvou outro dia voltou para os pais...

Eileen disse para o alien que apoiava o rosto numa das mãos. Os dois estavam sentados à mesa da cozinha, a mulher tomava café e ele lia o jornal.

_Hum? –ele abaixou o jornal para olhar a mulher- Isso é algum tipo de cumprimento? –arqueou uma das sobrancelhas-

_Na verdade não. Pensei que você gostaria de saber.

Ela deu de ombros e ele voltou a ler o jornal, desinteressado. Eileen se levantou para lavar a xícara, e do lado de fora, um estrondo de um trovão que caiu perto, foi ouvido. Pelo susto, ela deixou a xícara cair e se partir em pedaços.

_Ah!

Abaixou-se para catar os cacos e ouviu um risinho vindo do alien, como se ele achasse aquilo patético.

_Tem medo de fenômenos naturais como este?

_Eu só tomei um susto... Esses raios parecem estar caindo cada vez mais perto, imagina se um desses cai na rede elétrica!

Bateu na própria boca após o agouro. Cuidou de limpar os cacos deixados pela xícara. Cortou-se.

_Ai!

Olhou para a ponta do dedo indicador que sangrava. Franziu o cenho quando ouviu um suspiro arrogante do homem que lia o jornal. E acompanhada dos clarões do lado de fora da janela, foi limpar seu dedo no banheiro de seu quarto, no andar de cima.

Descendo as escadas, viu o alien sentado no sofá. Só que diferente do comum, não assistia TV, mas a chuva que jorrava do lado de fora.

_No seu planeta não chove? -perguntou num tom provocador-

_Chove, mas é um fenômeno raro. –disse sem desviar os olhos do exterior- Uma vez a cada ciclo solar.

_E quanto tempo é isso?

_Muito, para os padrões humanos. –sorriu de leve-

_Pelo visto não tem muita água no seu planeta.

_Não tanto quanto na terra, a água se forma de maneira diferente, ela nasce do solo no meu planeta.

_No solo? –disse descrente- Eu não vou nem comentar sobre isso, estamos falando de um planeta alienígena afinal...

_Hum... –Siv grunhiu pensativo-

_O que está resmungando aí? –pôs um curativo no corte-

_Minhas viagens para outros países estarão arruinadas se o tempo continuar chuvoso...

_Viagens?-ficou curiosa- Você vai viajar?

Isso significa que Siv Borghild vai finalmente deixar minha casa?!

_Está tão feliz assim com a notícia? -sorriu cínico- Sinto lhe desapontar, mas com essa chuva não creio que sairei tão cedo, já que vocês humanos ainda não têm tecnologia para criar máquinas que possam passar por chuvas e tempestades.

Argh! Pensei isso cedo demais!

Interrompendo o diálogo dos dois, novamente um forte estrondo foi ouvido, bem perto dali. E o som seguido foi como o de explosões em cadeia, a luz da sala em que estavam repentinamente apagou, e um enorme clarão foi visto do lado de fora. Siv levantou-se instintivamente.

_O-o que foi isso? –a mulher tocou no coração que estava com taquicardia-

_... –o homem encarou o lado de fora- Uma descarga elétrica caiu próxima daqui...

. . .

Enquanto isso...

Na casa vizinha, onde o comandante Gilbert e seus soldados monitoravam a casa da Sanders...

. . .

_Comandante! Um raio caiu na rede elétrica, deu curto circuito nos postes da vizinhança! –um soldado veio correndo para a sala de monitores, onde estava o comandante-

A agonia eufórica invadiu a sala, o nervosismo tomou conta de todos, de um lado soldados tentando descobrir a extensão dos estragos, e do outro, um líder preocupado com a missão a ser cumprida.

_Rildo, quanto aos monitores, quais os danos? –Gilbert franziu o cenho-

_Só temos um monitor que não pifou, não podemos ver nada do que está acontecendo na casa, o único monitor que funciona é o do jardim, do lado de fora.

_E o som? Nossas escutas ainda funcionam?

_Sim, provavelmente, mas o equipamento de som está desligado, e quebrado... –Rildo respondeu balançando a cabeça negativamente-

_Isso é péssimo... Blake! -chamou pelo cabo que respondeu prontamente- Fale com o pessoal do controle de rede elétrica da cidade, diga para resolverem o mais rápido possível. –o comandante voltou o olhar para Rildo- E você, tente consertar os monitores e o equipamento de som, dê um jeito, a situação não pode continuar assim!

Gilbert Lorran ligou imediatamente para Eileen, para sondar a situação.

_Srtª. Sanders? Aqui é o Comandante Lorran...

[Sr. Gilbert, o que houve? ]

_Um raio caiu num poste e gerou um curto circuito em cadeia... É um problema sério...

[Estão todos bem aí?]

_Não se incomode com isso, o problema são os monitores, o único que não pifou mostra o jardim, minha equipe está tentando consertá-los, faremos o mais rápido possível, mas ainda teremos o problema da energia... E aquela criatura fez algum movimento suspeito?

[Não... Mas e quanto às câmeras?]

_Elas continuarão gravando, mas não podemos ver nada aqui dos monitores... Espero que sejam consertados logo... Fique de olho nele, por favor, sei que será desconfortável, mas talvez tenha que mandar alguns homens meus para inspecionar sua casa.

[Tudo bem]

_Eu tenho que desligar agora, mandarei alguém assim que os soldados estiverem desocupados, tem muito a se fazer por aqui... –desligou o celular-

_Comandante, -o cabo Blake se apresentou- A empresa que cuida da eletricidade disse que só poderá fazer as reformas e concertos necessários quando a chuva cessar!

Gilbert irritou-se, mais do que irritação, o cerne de sua inquietação vinha do mau pressentimento que estava se formando como uma tempestade dentro dele. Todavia, o momento exigia sua paciência e calmaria para controlar a situação da forma mais eficaz e menos injuriosa possível.

. . .

Na casa de Eileen

. . .

Os raios caíam mais frequentemente, em intervalos desregulados, sem ritmo com as trovoadas e os clarões dos relâmpagos. As nuvens descarregavam chuva suficiente para o mês todo.

Eileen subia as escadas para ir ao seu quarto, quando um raio atingiu um lugar perto de sua casa. O teto pareceu estremecer, ela se desequilibrou com o susto, e por sorte, caiu sentada num degrau da escada. Quase rola degraus abaixo, mas conseguiu se recompor.

Correu para o lugar de onde o som forte tinha vindo, abriu a porta da casa que dava em seu jardim, se surpreendeu ao ver a marca preta no gramado que ainda pegava fogo, que logo era contido pela chuva.

Estava muito frio do lado de fora, o vento forte e a chuva gelada batiam na pele e faziam as pernas dela tremerem. Abraçou-se, tentando se esquentar, mas falhou. Entrou imediatamente dentro da casa, mas estava toda encharcada.

_Resolveu dar uma olhada do lado de fora?

O alien comentou zombando quando a viu passar pela sala de estar, completamente molhada da chuva.

_En-engraçadinho.

Ela tremia tanto de frio que até sua voz era afetada, apressou-se em subir as escadas para se trocar no quarto. Não podia tomar um banho quente, porque o chuveiro elétrico não funcionava, então teve de se secar apenas e tentar se aquecer.

Talvez eu deva finalmente fazer bom uso daquele chocolate suíço que ganhei dos meus pais? Eu coloquei no café hoje de manhã, mas acho que seria melhor um chocolate quente agora...

Desceu veloz até a cozinha e preparou a bebida quente. O cheiro do chocolate aquecido subia e incensava a cozinha, indo até a sala.

_O que está fazendo?

Siv questionou ao ver a expressão feliz da mulher enrolada num cobertor e tomando uma caneca de chocolate quente.

_Bebendo algo muito bom, quer? –ofereceu uma caneca-

_Você pôs alguma substância duvidosa nessa bebida? –olhava para a caneca e para a expressão da mulher-

_É claro que não!

_Então por que parece alterada? Isso contém algum tipo de elemento tóxico ou alucinógeno?

_Não, estou com essa cara porque esta é simplesmente a melhor bebida que o homem já inventou! –cheirou o vapor do chocolate- Ah!

Ele cheirou a bebida antes de dar o primeiro gole. Franziu o cenho. Bebeu, mas assim que engoliu, começou a tossir e pôs logo a caneca na mesa.

_Isso tem um gosto horrível! –tosse- Não entendo como podem gostar de algo assim... –colocou a mão na boca, enojado-

_A maioria das pessoas gosta dessa bebida para sua informação! –defendeu-se- E esse é um dos melhores, 70% cacau!

_O paladar humano é diferente do nosso, temos uma percepção mais apurada dos gostos.

_Não poderia esperar menos de um alienígena... –estreitou os olhos- Mas saiba que coloquei esse mesmo chocolate que usei para fazer a bebida no café de hoje cedo...

_Então era por isso que tinha um gosto estranho... Eu pensei que fosse mais uma das tentativas humanas pífias de me drogar ou envenenar, é claro que nunca vão conseguir fazer isso porque não tem como desenvolver uma substância forte o suficiente para o caso... Além disso, pelos “costumes humanos” é falta de educação recusar uma refeição oferecida.

_Você não está sendo nem um pouco educado agora falando mal da bebida, sabe...?

_Sinceridade não é falta de educação. –deu de ombros-

Ele saiu do recinto. A mulher nem se importou, continuou bebericando e apreciando seu delicioso chocolate, pouco importava se aquele E.T. gostava ou não de chocolate.

Ela ainda ficou por mais um tempo na cozinha, enrolada num cobertor, olhando chuva cair do lado de fora. Apesar de ser dia a casa estava escura, porque o céu estava todo cinzento.

Sr. Gilbert disse que mandaria pessoas, imagino quando é que vão vir aqui, deve estar uma confusão por lá...

Ela saiu da cozinha e passou por a sala de estar, para subir as escadas, mas parou e ficou paralisada, olhando para o extraterrestre sentado no sofá. Piscando, abismada com algo.

_Qual o problema?

Ele disse incomodado ao notar a mulher o encarando. Ela desceu os degraus da escada que já havia subido, se aproximou e continuou com a face que era um misto de surpresa e certo pavor.

_... Siv...

_Perdeu a habilidade e se comunicar, humana? –disse inexpressivo-

Ela ficou ali, parada por longos segundos, atônita, como se buscasse compreender a situação, deixando o alienígena incomodado.

_... Siv... Tem sangue escorrendo pelo seu nariz...

Ele rapidamente tocou no rosto, abaixo do nariz. Olhou para sua mão, estava suja de sangue.

Num impulso, ele se levantou do sofá e encarou confuso e um tanto assustado aquilo.

_Está se sentindo bem? –ela arqueou o cenho- Nem esperava que seu sangue fosse vermelho...

O sangue que escorria pelo nariz desceu pelo resto da face e começou a pingar no tapete da sala de Eileen.

_Ah! Que ótimo, tem sangue de alien no meu tapete! –gesticulou com as mãos- Vá lavar seu rosto pelo menos, e... O que há com você afinal?

Ela pegou um pano e começou a limpar o tapete, enquanto o fazia o alien ainda estava lá, imóvel encarando o líquido em sua mão.

Repentinamente, ele torceu a expressão e pôs a mão sobre a boca, como se estivesse enjoado, e grunhiu. Sentiu um tremor interno, e tossiu por alguns segundos, com a mão cobrindo a boca.

Quando olhou, agora havia ainda mais sangue em sua mão, e desta vez sua boca estava suja também, além dos respingos do líquido que caíram na camisa social branca que usava.

_Ei... –a mulher levantou-se assustada- Isso é sério mesmo? Siv você está doente? Está se sentindo mal?

Ele não respondeu, só fez uma cara de desgosto e ficou encarando o próprio sangue, mais espantado e confuso do que ela.

_Talvez você esteja resfriado... Quero dizer, está tossindo, e como é um alien talvez tenha um efeito mais forte em você... –disse um tanto preocupada- Quero dizer, vocês têm resfriado?

E tinha que ficar doente logo agora que não tem ninguém do governo vendo nada? Que péssima hora! O que eu faço? Não tenho ideia de como lidar com um alien enfermo...

_Não diga tolices, as doenças humanas não nos afetam dessa forma, somos mais desenvolvidos... Nenhuma doença teria esse efeito...

_Então o quê...? –disse confusa-

_... –ele a encarou um pouco irritado- Não sei, eu não conheço seu mundo por completo ainda...

E enquanto discutiam sobre o que poderia ser, o sangue escorrendo pelo nariz continuava pingando e pingando sem parar.

_E-eu vou pegar um lenço, seu nariz está sangrando muito –disse com o estômago embrulhado- Não me dou muito bem com sangue...

Trouxe lenços, ele limpou o sangue, mas não parava de pingar, e a expressão levemente irritada que ele fazia a mulher ter vertigem.

_Tem problemas de coagulação ou algo assim? –a mulher perguntou-

_Não é esse o problema... Tem al...-ele tossiu interrompendo a frase- Tem algo errado co...-tossiu mais uma vez-

Isso é uma situação inédita... Será que essa doença é muito grave?

As mãos do homem tremiam, ele começou a respirar com dificuldade. Deu um passo à frente, mas perdeu o equilíbrio e caiu sentado. Ele tentava se apoiar no sofá para se levantar, mas falhou. Não tinha forças. Encarou a mulher com um misto de irritação e terror.

_O que tinha naquela bebida? –franziu o cenho-

_E-eu já disse era só chocolate! –disse com recuo na voz- Pode ter sido o café...

_ Aquela outra bebida teria feito mal antes... Mas a de hoje... O que é chocolate? De que é feito isso? Que substâncias você pôs? –perguntava nervoso-

_Não fiz, só derreti! E-eu não sei por que fez mal... Não sei que substâncias têm...

_Qual a substância que há em maior quantidade?

_Cacau, eu acho... –disse nervosa-

_E o que é isso?

_É uma fruta! Não tem nada de mal! –desesperou-se-

_Como é essa fruta?

_Como assim, como é? –ela dizia nervosa-A-Aqui...

Ela pesquisou uma foto no celular e mostrou. A expressão dele ficou ainda mais pálida, e assombrada.

_Tinha isso no café... E naquela bebida?

_Sim, o chocolate vem dessa fruta aqui, e esse é suíço, especialmente forte...

_Você me deu veneno...? –olhou abismado para a mulher-

_N-não isso não é veneno, eu não fiz nada anormal...

Defendia-se com uma pontada de culpa. E Ele fazia esforço para se levantar, apoiando-se no sofá, mas falhou novamente.

O que eu faço agora? I-isso é veneno mesmo? Foi culpa minha? Mas se fosse veneno eu não estaria passando mal também? E meus pais não mandariam veneno para mim... Ah, essas câmeras estão gravando, mas eles não conseguem ver isso por causa dos monitores quebrados... Se o comandante Gilbert visse o estado do Siv agora, provavelmente já o teria levado para uma sala de cirurgia para dissecá-lo...

_Aah... –a mulher resmungava nervosa- Vamos sair daqui,

Apoiou o braço do homem em seus ombros, ajudando-o a andar.

_O que está fazendo?

_Isso é uma pergunta que alguém que nem consegue se levantar deveria fazer?

Ela subia as escadas e ele franziu o cenho, silencioso.

_Mas está falando sério? É verdade mesmo que chocolate te faz mal? –encarou-o perguntando com certo desespero-

_Nunca pensei que poderia haver uma planta do meu planeta que crescesse aqui na terra, ainda mais uma venenosa...

_Chocolate não é venenoso aqui na terra...

_Aquela fruta nasce de uma árvore que fica em um território abandonado do meu planeta, isto porque é uma planta extremamente ofensiva e tóxica para nossa raça... Apenas um fruto pode levar a morte... É um veneno terrível que... Urg -pôs a mão na boca, enjoado- Destrói... As células do corpo...

_Isso quer dizer que você está morrendo? –apavorou-se-

_À medida que as células são destruídas, ocorrem hemorragias internas e rapidamente o infectado morre... Deve ser um ou dois dias no tempo humano...

_E isso não tem cura? Além disso, não vive se gabando por sua raça ter a cada geração, os melhores genes? Não tem ninguém que resista ao “veneno”?

_Tem cura, mas as substâncias necessárias não existem no seu mundo, e mesmo se existissem, não seria possível que produzissem a tempo... –respirava cansado- E claro que já há alguns poucos conterrâneos que possuem defesas contra esse veneno, mas como pode ver, não faço parte deste grupo...

Ai, ai, ai... O que eu faço? Ele está mesmo envenenado e, não sei se devo achar cômico ou trágico que o veneno mortal seja chocolate... Não esperaria menos de um extraterrestre...

_Ei... Humana... Isso é o seu quarto... –estranhou ao ser levado até o local-

_É eu sei! Não têm câmeras aqui, por isso estou te trazendo pra cá, sabe o que iria acontecer se alguém do governo te visse nesse estado? –sentou-o na cama cuidadosamente- E você nunca fez cerimônia mesmo pra entrar aqui... Ao menos desta vez não está invadindo...

_Agora está me defendendo...?

_Não!

_Então por que fala como se não fosse dizer nada ao seu governo?

_Eu não vou! –ficou ainda mais nervosa- Mas e quanto a você? Você vai mesmo morrer?

_Isso depende... Se o meu sistema imunológico for rápido o suficiente para combater o veneno antes que eu morra... Se não, vocês humanos finalmente terão o que queriam... Me ver morto... –colocou um tom de sarcasmo na voz-

Morto? Isso é ridículo, morrer por causa de chocolate? Mas... Fui eu quem deu chocolate pra ele... Isso significa que eu vou ser a culpada pela morte de alguém? Eu sou uma assassina cruel?

Ela pegou roupas e jogou para Siv.

_Vá lavar esse sangue e vista isso, será melhor se você dormir.

_E quais as suas intenções por trás da sua bondade repentina? Espera que eu os poupe de retaliações nos meus relatórios?-sorriu cínico-

_Você não perde a língua afiada nem quando está morrendo... –irritou-se- Não, não tenho nenhuma má intenção, porque diferente da sua raça eu tenho uma coisa chamada “coração”. E você deveria saber, pode ler meus pensamentos! Além disso, estou começando a me preocupar com minha reputação se eu acabar matando alguém...

Ele não respondeu, ficou só olhando para ela com a mesma inexpressão, como se tentasse desvendar algo.

. . .

Algum tempo depois,

. . .

Eileen estava sentada num banco ao lado de sua cama, onde estava deitado Siv. Ela batia o pé no chão freneticamente, tentando pensar numa forma de ajudar. Fazia pouco tempo que ele havia passado mal. O sangramento no nariz havia parado, mas ele continuava a tossir. O Comandante Gilbert não havia ligado para ela mais nenhuma vez, isso a preocupava.

Siv estava com um aspecto fadigado. A pele dele estava pálida, os olhos fundos e a expressão cansada e abatida. A mulher apiedou-se de vê-lo sem saúde. Porém, antes que ela pudesse sentir mais pena, a campainha tocou, tirando-a de seus devaneios.

_Volto num minuto, -disse saindo rápido do quarto-

Desceu as escadas apressada, abriu a porta na esperança de ser o comandante com alguma notícia, mas não era.

_Halley? –assustou-se- O-o que faz aqui?

_Eu ouvi no noticiário que uns raios caíram na cidade, quando soube que era um lugar do seu bairro vim correndo no meu carro! Você está bem? –entrou preocupada-

_Sim, estou inteira... Só houve uma queda de energia...

_Ah! –suspirou aliviada- E quanto aquele estrangeiro? Ele está aqui? Está bem?

_N-não, não está aqui... –mentiu nervosa- Ele saiu hoje cedo e ainda não voltou...

_Ah, bom. Espero que não esteja chovendo onde ele estiver...

_Hail, eu realmente estou um pouco ocupada agora, obrigada por ter vindo, mas a casa está sem energia, eu estou um pouco ocupada tentando resolver esse problema... –disse tentando expulsar a amiga-

_Tá bom, já entendi, só espero que não tenha aproveitado esse escurinho pra trazer algum bonitão pra sua casa! –brincou-

_Hail! –a outra repreendeu-

_Estou só zoando com a sua cara, tchau Eili, nos vemos segunda! –saiu, mas voltou e terminou- E me conte tudo que aconteceu depois! –saiu correndo para não receber o olhar mortífero da amiga-

. . .

Eileen voltou para seu quarto, suspirando. Encarou o alien que a seguia com os olhos até ela sentar no banco ao lado da cama.

_Por que está me olhando com essa expressão? Não era ninguém do governo! –disse ainda com irritação por causa da amiga-

_...

_Não precisa me olhar assim, você deve saber mesmo o que eu estou pensando!

_Não. –respondeu sério- Não... consigo...

_Do que está falando?

_Não consigo... ler o seus pensamentos... agora... –dizia pausadamente com certo empenho, cansado-

Hum? Como assim não consegue? Essa não é uma das grandes habilidades dele?

_Pare de brincadeira, você está sempre espiando os pensamentos dos outros, até se gaba por isso!

_Olhe bem... meu estado... –ele sorriu sem humor- Acredita que posso ler pensamentos... Quando meu corpo mal... se mantém de pé...? –respirava ofegante-

Uh... Então é verdade...? Antes ele tinha mesmo falado algo sobre como ler pensamentos era cansativo...

Isso significa que... Finalmente terei alguma privacidade mental?! Siv não está mais espiando minha mente? Ah! De alguma forma me sinto tão livre!

Ah, mas no que eu estou pensando? Realmente me sinto feliz por ser a primeira vez em meses que tenho alguma privacidade, mas... Se ele morrer de verdade eu serei oficialmente uma assassina! Ahh! Mas que droga!

_Hum...? Siv!

Eileen se levantou abruptamente ao fitar o rosto do alien, e ele fez uma expressão de perplexidade.

_...?

_A-a sua pele... –disse pasma- Está azul...

Ela olhava para o rosto do alien, para falar a verdade, para o lado esquerdo do rosto dele, pois ali, sua bochecha estava azul, com algumas listras num azul petróleo e brancas, como se veias passassem por ali.

_Azul...? –ele não entendeu bem-

_Olhe...

Ela pegou um espelho em seu quarto e o mostrou refletido. Ele ficou apenas por um ínfimo segundo com surpresa, depois voltou a sua inexpressividade.

_P-por que a sua pele está dessa cor? Eu entendo a palidez, mas... Azul...?

_Não é... óbvio? –riu seco da mulher- Minhas células estão... sendo destruídas... E eu preciso delas... para imitar os humanos... Então... Não consigo mais manter... a aparência... Minha pele, não... Provavelmente meu corpo está... regressando a minha aparência real... –respirou com dificuldade-

Eu não imaginava que chocolate pudesse acabar com a vida de alguém... Que modo terrível de ter a vida destruída... Morrer aos poucos, isso é...

Terrível...

Mesmo para uma criatura como ele...

As sobrancelhas dela se concentraram no meio da testa. O nariz dele começou novamente a sangrar, mas a mulher limpou com um lenço. Ele levantou o olhar para fitá-la.

_Por que... está fazendo... isso? –ele a encarou com um olhar cansado-

_P-por quê? –repetiu nervosa-

Essa é uma boa pergunta... Por que é que eu estou fazendo isso?

_Devo considerar isso como… burrice? -sorriu sarcástico- Você percebeu... que está cuidando da criatura que pode... supostamente... destruir a humanidade? –falou com dificuldade- Talvez… Eu não seja… o único doente aqui…?

_Ora, seu...!

Ele está certo… Já que ele está doente eu deveria deixá-lo morrer assim mesmo… Mas…

Se eu não ajudá-lo… Eu vou ficar arrependida o resto da vida por ter parte da culpa na morte dele… Eu dei o veneno, se eu nem sequer o ajudasse, seria o mesmo que deixá-lo morrer... Além disso, morrer dessa forma... Ele pode até negar, mas deve estar sentindo uma dor enorme por dentro, com as células sendo destruídas...

Mesmo que eu o ajude... Ele com certeza vai dizer algo bem ruim sobre a humanidade e nós vamos acabar extintos se ele sobreviver… Mas… Ele é uma pessoa também certo…? Quero dizer, um alien, de qualquer forma… Eu acho que não posso suportar ver alguém morrendo na minha frente... Seja humano ou... um alien...

Eu não consigo...

...Isso é muito triste...

Ele continuou fitando-a, confuso até que ela quebrou o silêncio, respondendo com o semblante aflito:

_A morte é algo terrível de se ver acontecer… Mesmo se for a de um alien como você…

O olhar dele se manteve fixo nela por alguns segundos, surpreso. Depois riu novamente da fala da mulher.

_ Talvez você seja... Uma tola completa?–continuou num tom de deboche-

_Haa –ela forçou um sorriso, irritada- Então você ainda tem energia para falar mal de mim? Isso é uma habilidade sua, sabia...? –suspirou sonoramente-

_Ou talvez… Isso seja… -a expressão dele ganhou suavidade- Aquilo que vocês humanos chamam de...

_...?

http://s1281.photobucket.com/user/AisaBellvard/media/HWO/SivBorghildsick_Color_zps8776f9ae.jpg.html?sort=3&o=8

_... “compaixão”…?

_Hã?

Ela o fitou, perplexa. Os ouvidos dela não podiam acreditar no que acabavam de escutar, tanto que seus olhos estavam amis abertos que o normal pela súbita fala dele.

Ele abriu um sorriso sereno no rosto. E fitou os olhos da mulher, que estava confusa com a situação.

_Me lembrarei... De escrever isso nos meus relatórios...

Após isso, ele virou-se para ficar de bruços na cama, fechou os olhos, cansado, e dormiu.

O que ele quis dizer que vai escrever no relatório dele afinal? Ele estava tentando dizer que escreveria elogios? E... Foi apenas imaginação minha ou ele estava mesmo sorrindo?

Quer dizer, ele geralmente fica sorrindo o tempo todo, e na maioria das vezes é assustador ou irritante, mas dessa vez… Foi… Diferente, de alguma forma… Ele estava sorrindo de verdade, não com aquela presunção de sempre...

Quem pensaria que um alien arrogante como ele pudesse ter um sorriso tão...

Ela ficou observando-o enquanto dormia. Diferente do dia a dia, ele mantinha um semblante calmo e leve, sem aquele ar cínico que o fazia arrogante e, algumas vezes, aterrorizante.

Ah! Eu vou me arrepender disso, eu devia tê-lo deixado sangrar até morrer. Um alien perigoso é melhor morto. Vou ter que esconder do governo que fiz isso... Espero que não consigam acessar as imagens que as câmeras estão gravando... Se descobrirem será eu quem estará acabada...

Enquanto pensava, acabou caindo no sono.

. . .

Despertou com o barulho da chuva forte caindo aos montes nas telhas da casa. Levantou a cabeça, que estava apoiada na cama e olhou para frente. Siv ainda estava lá, dormindo.

Era estranho, todo aquele barulho da chuva do lado de fora se contrapondo com o silêncio no quarto dela. Enquanto dormia, ele parecia outra pessoa.

Uma curiosidade despertou nela. Seria mesmo aquela pessoa deitada ali o mesmo alienígena maldoso que invadiu a terra? Ela tocou no rosto dele com o dedo indicador, mas rapidamente recuou, com medo de uma possível reação má da parte dele.

Nada. Continuava dormindo, não tranquilamente, algo no rosto dele demonstrava que não se sentia muito bem. E principalmente, ela pôde sentir que ele estava gelado.

Ah... Será que ele...?Pálido, não ouço a respiração, corpo frio... E ainda está com aquela mancha azul...

Engoliu seco e hesitou com o rumo que o próprio pensamento tomava.

Ele está frio... Se não me engano ele havia dito algo sobre as células do corpo dele regularem a temperatura para que ela ficasse ideal, e que ele podia fazer isso livremente... Mas ele não era frio...

E já faz um bom tempo que não o ouço respirar...

Isso significa que...

...

...

Ele morreu?

Ele não parecia estar respirando. Ela aproximou-se dele, com certo receio.

Sr. Gilbert disse que não sabe se ele imita os órgãos humanos além da aparência externa, será que ele tem... coração?

O próprio coração dela acelerou, quando seus pensamentos presumiam a morte daquele homem deitado ali, e pior, que a morte havia acontecido por culpa dela. Encostou o ouvido no lado esquerdo do tronco dele. Ficou paralisada, hipnotizada escutando aquele som familiar.

Eram as batidas de um coração. Assim como o dela e de todos os outros humanos, ele tinha um também... A respiração ritmada dele fazia a cabeça dela subir e descer suavemente... E ela se perguntava, em seu interior, se aquilo não era apenas uma mera imitação do sistema biológico humano. Até que ponto ele podia mimetizar os humanos? Poderiam os comportamentos dele de agora também ser apenas uma cópia do que ele viu durante sua estadia no planeta? Ou eram uma demonstração do que ele realmente sentia?

Sentou-se no banco e ficou ali. Parada, olhando ele dormir tranquilamente. E embora seus olhos estivessem focados na criatura que repousava em sua cama, sua mente estava num lugar completamente diferente. Com uma miríade de dúvidas e questionamentos os quais precisavam de mais tempo para ser respondidos.

. . .

Quando Eileen se deu conta, havera pegado no sono novamente, e ao acordar, deparou-se com um quarto escuro, contando apenas com a meia luz da lua que trespassava a janela para iluminar o quarto.

Sentou-se propriamente. Esfregou os olhos, se assustou ao ver o alien, sentado na cama, olhando a janela.

_Ah, -ele virou o rosto para olhar a mulher- Você acordou...

_...?

Ele pôs os pés para fora da cama, levantou-se e caminhou até a janela, lentamente.

_Ainda está chovendo... O mundo humano tem níveis muito elevados de pluviosidade...

_H-hã? –ela o encarou confusa- S-sua pele... V-você...

_Ah, sim, ela voltou a parecer com pele humana...

Ele a encarou por alguns segundos, depois voltou a observar o lado de fora e pôs a mão no vidro da janela, deixando uma marca no vapor condensado no vidro.

_Meu corpo está melhor agora, mas ainda está fraco... Vai levar mais algumas horas para que se reestruture completamente...

Eileen ainda o encarava, sem acreditar no que via. Ele a fitou novamente, com e perguntou com um tom arrogante:

_O que está olhando? Perdeu algo no meu rosto?

_Ah...

Ela se irritou com o tom que ele utilizava na voz e respondeu:

_Parece que está bem melhor mesmo, se já até consegue ter esse tanto de arrogância... E também não tem nenhuma gratidão com as pessoas que te ajudaram.

_Gratidão? –ela a fitou árido- E o que esperava? Que eu lhe agradecesse como os outros humanos fazem? Você não fez nada, meu sistema imunológico fez tudo sozinho, além disso, foi você quem pôs veneno na minha bebida em primeiro lugar... –disse com um timbre de desprezo à raça humana-

_Eu disse que não sabia que era veneno! –exaltou-se, sentindo-se culpada- E eu te ajudei sim, eu descobri sua fraqueza e não contei para o governo, isso é “ajuda” também, estou te acobertando! -retrucou indignada-

_Não importa o que tenha feito, eu nunca lhe pedi ajuda, foi escolha sua fazer isso para satisfazer seu ego, então não espere nenhuma gratidão da minha parte. Além disso, não são vocês que dizem para ajudar sem esperar receber nada em troca? O que queria, um “obrigado”? –disse seco- E se contar todas aquelas vezes em que sua vida foi salva por mim sem que pedisse, era você quem deveria estar me agradecendo.

Ela rangeu os dentes, irritada e o sangue lhe subiu à cabeça quando ela olhava o homem insuportável à sua frente.

_É impossível dialogar com você Siv Borghild! Você continua um convencido... –franziu o cenho- Da próxima vez que estiver entre a vida e a morte, eu vou torcer para que morra! -quase gritou-

Ele deu um sorriso de deboche, como se as palavras dela fossem ridículas.

_E é melhor tomar cuidado! Eu posso até não contar para o governo sobre sua fraqueza, mas tenha certeza que usarei isso para chantageá-lo pelo resto da sua vida! –apontou o dedo indicador para ele, furiosa- Seja cauteloso Siv Borghild ou posso acabar “envenenando” seu café da manhã todos os dias até que você morra!

A mulher estreitou os olhos, jurando vingança e ele riu.

_Se você diz...

_Do que está rindo? Saia do meu quarto seu alien maldito! Está invadindo minha privacidade... –expulsou-o-

_Mas foi você quem me trouxe aqui, Eileen... E seus pensamentos não condizem com- –foi interrompido no meio da frase-

_C-Cale a boca!-a face dela ruborizou e ela jogou alguns objetos disponíveis por perto nele- Pare de ler meus pensamentos! Isso é sujo, disse que não podia Lê-los! –gritou histérica e nervosa-

_Naquela hora não podia ler, mas agora...

_S-suma daqui!

Empurrou-o para fora do quarto me bateu a porta atrás dele. Ele olhou para trás, deu um sorriso saindo dali em seguida.

Do outro lado da porta, a mulher estava recostada, e foi escorregando até o chão, pondo as mãos na cabeça.

Acabei de prolongar o processo de luta contra destruição da humanidade e meu sofrimento... Acho que ele estava certo... Eu sou mesmo burra. Sinto muito... Sr. Gilbert e o pessoal do governo... Vamos passar maus bocados por mais algum tempo...

Suspirou desmotivada e impressionada com a própria ingenuidade em se permitir ajudar aquele alien maligno.

E assim foi aquele sábado chuvoso e cinzento para Eileen Sanders... Um dia que ela preferia que não tivesse existido.


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