Capítulo Seis: Encontro

Naruto estava sentado naquela mesma praça que tinha visto Hinata pela primeira vez. Eram quase duas da manhã, mas ele tinha implorado para ela o encontrar ali. Tinham se visto muitas vezes já, ele já se sentia completamente encantado por aquela menina e podia ter certeza, pelo modo como ela agia, que o mesmo acontecia com ela.

No centro da praça, onde havia um chafariz que ficava ligado 24h por dia, estava o loiro sentado. Aos pés do chafariz tinha uma toalha estendida e uma cesta de piquenique. Havia duas velas dentro de potes também, porque mesmo com a iluminação do lugar, ali ainda era um pouco escuro.

Mais uma vez, o loiro olhava em volta. Será que ela conseguiria ir? Ele esperava que sim. Era o que lhe dera animação para passar aquele dia inteiro sem olhar em seus olhos. Até mesmo Tenko notara a diferença em seu aprendiz, perguntando inúmeras vezes o que estava havendo. Naruto nada dizia e tentava se concentrar mais. Nada adiantara.

O encontro dos dois sempre era em segredo. No início, apenas por parte de Naruto, mas agora Hinata percebia que havia algo mais nele, algum segredo que sua família não gostaria. O segredo ficou sendo um acordo mútuo e sem palavras. Por isso o encontro, o primeiro encontro oficial dos dois, acontecia no meio da madrugada.

Ela então apareceu, correndo, segurando seu longo vestido. Mas apenas quando ela  parou, ofegante na frente do loiro foi que ele notou que a jovem não estava com a quantidade normal de roupa. Naquela época as mulheres usavam dois vestidos, um era quase a sua roupa íntima e o outro era, de fato, o que todos viam. Algumas usavam espartilho também. Hinata estava com o vestido colado ao corpo e sem qualquer armação ou espartilho. Os olhos do loiro brilharam enquanto a via assim e a menina corou.

— Não achei que fosse dar para perceber — ela soltou em um tom de desculpas.

Naruto apenas negou com a cabeça ao ouvi-la e quebrou a distância que os separava, apoiando o dedo indicador sob seus lábios, em sinal de que era para parar. Logo em seguida, ele colocou a mão em seu rosto, afagando. Hinata, que estava tensa, fechou os olhos e inclinou a cabeça. Era a primeira vez que ambos tinham esse tipo de contato.

— Eu te conheço há tão pouco tempo, mas não consigo parar de pensar em você — ele dizia muito baixo, sussurrando. — Jogou algum feitiço em mim?

— Não sou uma feiticeira — ela disse, rindo, enfim o encarando com aqueles brilhantes olhos perolados. — Porém desconfio que um grande mago você seja.

— Quem me dera! — Ele suspirou e novamente afagou o rosto dela. — Nada me impediria de ficar com você.

— E o que lhe impede? — Hinata era assim, quando menos se esperava ela vinha com a pergunta que estava guardada em si, a curiosidade que ela tanto queria matar.

— Eu disse, é complicado. — Mesmo um pouco frustrado ele não se afastou da jovem. — Ainda não posso lhe contar. Você entende?

— Sim — ela sussurrou. Suspirou fundo e desviou os olhos para o “piquenique”. ­— Então, o que foi preparado?

— Uma surpresa. Mas é claro, tudo uma desculpa para passar um longo tempo com você. — Ela corou e ele percebeu. A conduziu até a toalha e se sentou ao seu lado. — Espero chamar de primeiro encontro. O que acha sobre isso?

— Já lhe disse, Kyuubi… — Apesar de corada ela tinha um sorriso brincalhão nos lábios. — Um encontro depende sempre do que acontece e, pra ser melhor, de como termina.

Ele adorava aquilo. A voz baixa pela vergonha de estar contando seus pensamentos, o rosto vermelho… Ele a adorava, ali, a um suspiro de distância.

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Naruto estava de frente para o espelho, terminando de dobrar a manga de sua blusa ¾. Ele gostava de blusas assim, mais do que das antigas, mas elas lhe irritavam quando não ficavam dobradas, como aquela. Demorou mais do que normalmente demorava justamente por isso. Sakura e Sasuke estavam ali e o loiro não tinha ideia do por quê.

— Onde você vai levá-la? — Sakura perguntou e percebeu seu olhar através do espelho.

— Naquele restaurante que indiquei a Sasuke pra te levar. — O moreno riu, não porque fosse um lugar ruim, mas porque a esposa acabara de descobri que o jantar romântico tinha indicação de Naruto e tinha feito uma cara engraçada.

— O que é? Ele conhece todos os lugares aqui, eu não. Pare com essa cara, mulher. — Sasule a puxou, mas não eram o tipo de casal que ficava se agarrando, um simples abraço era o suficiente.

— Então… é um encontro? Oficialmente? — Sakura pressionou.

— Eu não chamaria assim — ele disse. Ambos olharam, sem entender, para o amigo e este riu, virando-se para eles. — Um encontro depende sempre do que acontece e, pra ser melhor, de como termina — citou o mesmo que Hinata dissera há muito tempo com um grande sorriso nos lábios. — Agora, não passem a noite aqui. — começou a sair, parando na porta apenas pra dizer: — E não usem a minha cama!

Naruto tinha um Audi A5 Coupé, porque ele tinha adquirido uma verdadeira paixão pelos carros novos e sofisticados. Tinha quebrado a cabeça pra entender um pouco daquelas coisas, mas admirava tanto que agora esse era o seu carro preferido e o que ele tinha certeza que Hinata também gostaria. Havia outro, o que ele usava sempre, simples, mas o Audi era o seu preferido. Hinata riria se ainda se lembrasse dele como antes e o ouvisse falando sobre carros, tinha certeza disso.

Parou exatamente às sete horas em frente à biblioteca, que ficara sendo o ponto de encontro. Ele bem que queria buscá-la em sua casa, mas não poderia mostrar que já sabia onde era. E aquele era o primeiro encontro dos dois sem ser segredo. Naruto estava ansioso e nervoso por isso. Assim que abaixou os vidros ele a viu saindo de dentro da biblioteca e falando com o senhor que, teoricamente, era seu tio.

Saiu do carro, contornando-o e parando ao lado da porta, enquanto a observava caminhar, já com o rosto vermelho, em sua direção. Ela estava linda. Um vestido que ia até o joelho… Azul? Parecia azul, desses escuros... Quase preto. Assim como o cabelo dela, ele notou.

— Você está… linda.  — Aquela palavra era tão pouco. Ele queria mais, porém não encontrava no momento. Hinata ficou vermelha ao agradecer baixo e ele quase imediatamente foi abrir a porta para ela.

— Sabe, você está muito bonito também. — Ele quase não a ouvia, tão baixo ela falava. Essa era a sua Hinata. Agradeceu e deu a volta no carro, sentando-se ao lado dela. — E seu carro também é muito bonito.

— Fico feliz que tenha gostado — ele soltou. Ela não entendeu, ele soube, mas, ainda assim, nada conseguia fazer ele tirar o sorriso bobo por ainda conhecer o gosto dela.

Naruto pediu que Hinata escolhesse uma música. Ela ficou um pouco sem graça de o fazer, mas após algum tempo colocou em uma rádio onde tocava de tudo um pouco, bem, de tudo que não era ensurdecedor. Ele ficou satisfeito com isso. Lançou a pergunta de como tinha sido o dia dela e pronto, o caminho foi preenchido pela doce voz baixa de Hinata. Até ele estacionar em frente ao restaurante.

Novamente se apressou pra abrir a porta para ela, não queria deixar que os manobristas do local fizessem aquilo. Era bem contraditório. Poderia se esperar que um lugar assim exalasse sofisticação, mas era um lugar bem simples e aconchegante. Hinata sorriu por isso. Naruto não se importava muito com os lugares, mas tomara muito cuidado escolhendo aquele, pois sendo a primeira vez que saíam assim, ele queria mesmo que no final, fosse um bom encontro.

Foram levados à mesa, servidos com vinho, mas nada de cardápio. Hinata o olhou curiosa, mas o loiro explicou que o prato já tinha sido escolhido, provavelmente seria servido em breve. Foi então a vez da Hyuuga perguntar como fora o dia dele. Obviamente Naruto ocultou algumas coisas, como o treino com Sasuke, ou o fato de ter passado muito de seu tempo livre pensando nela. Apenas contou coisas simples, que um empresário de fato passaria e incluiu, divertido, sobre como era péssimo em dobrar a manga da blusa. Isso fez Hinata rir também.

Pouco tempo depois eles foram servidos, uma comida típica, nada demais, mas que Naruto gostava muito, apesar de não ser rámen. Em meio a algumas conversas, dentre as quais até mesmo a pesquisa deles entrou, eles jantaram, riram e trocaram alguns olhares, alguns deles, inclusive, que deixaram Hinata corada.

Vários minutos depois, ainda estavam ali. Naruto tinha contado alguma coisa engraçada, pois Hinata ria verdadeiramente e ele também, mais para vê-la assim. Porém, quando ela se acalmou e Naruto prestou atenção que tocava uma música na pista de dança do outro lado do salão, ele se levantou e estendeu a mão para ela.

— Concede-me a honra? _ ele perguntou baixo, já esperando aquela vermelhidão no rosto da sua menina. Ela logo sorriu e pegou em sua mão, levantando e ambos seguiram para a pista de dança.

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Quando suas pernas não funcionarem como antes

E eu não puder mais te carregar no colo

A sua boca ainda se lembrará do gosto de meu amor?

Os seus olhos ainda sorrirão em suas bochechas?

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Naruto a guiava pela pista de dança, naquele ritmo lento da canção, sorrindo por conta da letra da música, mas também porque ela sorria. Naquele momento era como se ela também se lembrasse de tudo. Ou talvez ela só estivesse mesmo feliz e sorrisse, como a música pedia que fizesse.

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Querida, eu te amarei

Até que tenhamos 70 anos

Amor, meu coração ainda se apaixonará tão fácil

Quanto quando tínhamos 23

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Aquilo até que se aplicava a ele, não é mesmo? Mesmo que os anos passados tivessem sido bem mais,  ele se apaixonou como um menino, como um adolescente. E estava se apaixonando novamente naquele momento, conforme a girava e o cabelo dela ia para o rosto, passava pelos lábios rosados e novamente soltava.

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Estou pensando em como

As pessoas se apaixonam de maneiras misteriosas

Talvez apenas o toque de uma mão

Eu, me apaixono por você a cada dia

Eu só quero te dizer que eu estou

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Ele a girou, impulsionando-a para longe, apenas para se aproximar a puxando para perto. Era bem diferente das danças que já tinham tido antes. Antes, mal podia tocá-la, eram apenas olhares e quase toques. Claro que depois isso foi mudando. Mas eram raros ainda assim. Agora, porém, ele podia sentir cada sutil movimento dela contra seu corpo. Ambos se mexendo juntos, assim como os olhos deles. Como aquela música era perfeita para ele, ou assim ele pensava enquanto ouvia. Porque realmente, a cada dia ele se apaixonava mais por ela. Não havia como ser diferente.

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Então, querida, agora

Me abrace com seus braços de amor

Beije-me sob a luz de mil estrelas

Coloque sua cabeça em meu coração que bate

Estou pensando alto

Talvez tenhamos achado o amor bem aqui, onde estamos

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Sua surpresa foi ela ter feito o que a música pedia. Conforme ia ficando lenta e acabando, Hinata deitou a cabeça em seu peito e ali ficou. Ainda que estivesse segurando uma de suas mãos, era em um abraço que ele a prendia perto de si. Não se importava que ela ouvisse seu coração acelerado. Na verdade ele não se importava com nada. Ficaria ali durante muito mais tempo, talvez para sempre.

Mas, infelizmente, a hora passara rápido. Ambos teriam de acordar cedo e não queria prendê-la, então, após mais alguns minutos daquela forma, quando Hinata ergueu a cabeça, ele soube que estava na hora. A conduziu para a mesa novamente, onde pediu a conta, pagou e ambos se retiraram. Estavam em silêncio, porém os olhares que trocavam de poucos em poucos segundos dizia mais do que qualquer outra palavra. Hinata tinha certeza que depois daquela noite, seus sentimentos pelo loiro tinham mudado. Ela o admirava, mas agora era mais do que isso. Naruto, por sua vez, tinha certeza que seu amor renascera. Mais uma vez ele tinha se apaixonado por ela.

Hinata indicou o caminho de sua casa, aquele que o loiro conhecia bem demais, porém fingiu que não. Novamente ele abriu a porta para ela, a levou até a porta e ambos trocaram olhares em silêncio. Hinata deu dois passos em direção à porta e parou, o olhando.

— Então… foi um encontro? — ela perguntou baixo, envergonhada.

— Ainda não — ele falou. Percebeu o desânimo em sua expressão e aquilo o fez sorrir. Quebrou a distância entre eles, carinhosamente, levou a mão direita ao rosto da Hyuuga e deslizou até quase sua nuca, a puxando em seguida um pouco para si. Podia sim estar precipitado, mas não se importou com isso. Ele logo tocava os lábios dela com os seus em um beijo calmo, gentil e amoroso. Naruto tinha saudades dos lábios dela. Ficou em júbilo por poder beijá-la mais uma vez. Mas muito mais quando os lábios dela ganharam vida ao lhe corresponder da mesma forma e as mãos da jovem apoiarem-se em seus ombros.

Ele a abraçou, prolongando o beijo por mais alguns instantes antes de se afastarem. Ela com o rosto vermelho e um sorriso tímido. Ele com um grande sorriso nos lábios.

 — Agora sim foi um encontro. Um bom encontro. — Por um instante viu a surpresa nos olhos dela e, em seguida, um sorriso. O conceito de encontro ainda não tinha mudado. — Eu te ligo. Tenha um bom descanso, Hinata — Ele sussurrou, dando um beijo na testa dela e saiu, mas apenas saindo com o carro depois que ela entrou.

Do outro lado da rua, entre duas casas, escondido em meio às sombras, havia alguém. Não era possível ver seu rosto, mesmo que estivesse quase de frente para este, mas era possível sentir o seu desagrado com o que tinha acabado de presenciar. Suas mãos, a única parte exposta de seu corpo, estavam fechadas com força e era possível perceber a respiração sôfrega de raiva. Não se sabe quanto tempo a figura ficou ali parada, apenas olhando para a janela até que as luzes da casa de Hinata se apagassem, mas assim que isso aconteceu, esta continuou pelas sombras, contornando a casa da jovem até desaparecer de vez.