Happiness escrita por AndromedaSama


Capítulo 3
Felicidade - Fim


Notas iniciais do capítulo

Beeem, e aqui estamos com o fim dessa fic, espero que apreciem o último capítulo.



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Assim como Simon me ensinara, a felicidade pode vir de qualquer lugar, e quando ela vem, ela abala seu coração feito uma estrela explodindo no universo.

Sierra, 24 anos.

Depois de praticamente duas semanas sem notícias positivas de seu chefe, Simon começara a aceitar que eu falei a verdade. Já não me chamava mais de Maria e sim Sierra. E após aquele incidente da música ele começou também a se aproximar de mim, e partilhava conversas agradáveis comigo.

Descobri que seu nome era Simon Rivers e que ele tivera uma irmã chamada Layla, que faleceu de câncer, e ele usaria o dinheiro do sequestro para pagar as dívidas que ele adquiriu com o tratamento dela. Não era a melhor escolha dele, mas como eu poderia julgar? Eu não poderia entender a situação de qualquer forma, com minha vida monótona e conformada, vivendo como uma bibliotecária em uma cidade vizinha, apenas com a esperança de um dia encontrar outra cópia de Happiness e descobrir o final.

Ah, e ele era apenas quatro anos mais velho que eu, que tinha 24 anos.

Simon possuia olhos frios e súbitas mudanças de humor, ao mesmo tempo que ele poderia rir de alguma coisa que eu dizia, ele me mandaria parar de respirar tão alto. No início isso me irritava, mas com o tempo me acostumei, e agora, até isso, parecia fascinante em Simon.

Fascinante como Simon Robbins foi, ou melhor, é para mim, mesmo os dois sendo tão diferentes.

Porém havia uma barreira entre nós que parecia que nunca iria se romper. Simon nunca se aproximava demais, sempre quando parecia que ele ia deixar os sentimentos dele a mostra, ele parava, se deitava no sofá, e não falava comigo por horas, como se ele se repreendesse por algo.

Mas eu sei, que por trás daqueles olhos mais frios que um iceberg, os sentimentos trancados ficavam recuados, sem chance de transbordar, escondidos por uma máscara tenaz, só esperando, algo capaz de destruir essa barreira.

Nesse momento, decidi uma coisa. Eu iria quebrar essa barreira.

Simon estava parado de frente para o pequeno quadrado que era a única janela que tinha no cômodo, observando o por do sol, que descia lentamente, quase sumindo atrás da vista urbana de uma cidade que eu não conhecia, misturando o vermelho do sol e o cinza da poluição.

–Simon. - Eu chamei e ele olhou para mim, um olhar vago, apenas uma reação automática ao chamado de seu nome.

Quebrei a distância entre nós e selei nossos lábios. Simon pareceu surpreso, porém não tardou a se entregar ao beijo, entrelaçando nossas línguas.

E como se eu estivesse esperando por esse momento desde sempre, algo acendeu dentro da minha alma, indo em direção ao meu peito e queimando como fogo vivo, elevando meu âmago até um estágio que eu não sabia que existia.

Foi como se um cometa atingisse meu coração, arrasando meu corpo e alma.

Eu finalmente me sentia viva.

Isso era a felicidade?

Simon agarrou minha cintura com força, como se de alguma forma ele quisesse me fundir á ele, e me guiou até o sofá velho e duro do cativeiro, sem nunca parar de me beijar.

–Simon. – Eu falei hesitante por um segundo, temendo algo que eu simplesmente não entendia. – Eu...

–Cale a boca, Sierra. – Ele disse contra a minha orelha, roçando seu queixo com a barba por fazer na minha bochecha, o que me causou arrepios. A mesma frase que me fizera ficar quieta tantas vezes, agora dita como um pedido.

E de repente, um mundo antes cheio de cinza e névoa, deu lugar ás mais vivas cores, pintadas pelas mãos de Simon, que me guiavam pelo caminho do qual eu não poderia voltar.

–Sierra... - Seus sussurros me quebravam, derretiam minha alma. Sentia como se ele derramasse mel em meus ouvidos. Uma voz sedutora, rouca, louca de desejo, cheia de emoção. É como se naquele pequeno chamado desesperado, eu pudesse sentir o gosto da luz do luar.

Eu pensava que a felicidade não poderia arrasar mais meu corpo do que aquilo, até Simon me amar de um jeito tão profundo que era vergonhoso de narrar.

E nos amamos de novo. E de novo. Até nossos corpos serem tomados pela exaustão e a luz da pequena janela do cativeiro, dar lugar ao escuro da noite.

O corpo cansado, mas com a alma em chamas e o coração cheio do que eu finalmente percebi ser a felicidade.

A compreensão invadiu minha mente, com palavras que não precisavam serem ditas e sentimentos que não necessitavam serem provados.

Felicidade.

Simon. Simon.

Eu consegui. Eu senti a verdadeira felicidade.

***

Quando eu acordei, já era de manhã novamente, e apesar do tempo passado, a felicidade ainda queimava no meu peito. E juntamente com isso, o medo açoitou meu coração.

Isso não pode desaparecer.

Ainda nua e com o corpo grudado ao de Simon no apertado sofá, eu levantei sem acordá-lo. E peguei no chão a arma que ele havia esquecido. Com as mãos tremendo eu me ajoelhei ao lado do sofá, olhei para o rosto de Simon adormecido por uma última vez, me aproximando de seu rosto e dando-lhe um casto beijo.

Chegou o momento pelo qual esperei desde minha infância.

Apontando a arma para minha têmpora direita, eu estava sorrindo tanto que minhas bochechas doíam e lágrimas desciam sem parar pelo meu rosto. Engatilhando a arma, na fração de segundo antes de dar um tiro em minha própria cabeça, um pensamento passeou por mim, deixando meu corpo sem aquela euforia por um instante.

Eu não quero mor...

Tal pensamento foi interrompido pela bala estilhaçando meu cérebro e levando minha vida.

Simon Rivers, 28 anos.

Acordei com o som de um tiro.

Levantei imediatamente, apenas para ver Sierra, nua, com uma arma na mão, e o resto do que um dia já foi sua cabeça espalhado pelo chão de concreto. Um sorriso congelado no seu rosto.

A visão me levou a sanindade. Minha visão ficou branca, sem barulhos. O quarto não existia, o mundo não existia.

Tudo que importava era que Sierra estava morta.

Comecei imediatamente á gritar e chorar ao mesmo tempo em agonia, procurando desesperadamente uma saída daquele pesadelo horrível.

Nesse meio tempo, eu lembrei de uma conversa que eu tive com Sierra, logo que nos conhecemos.

“-Qual o seu objetivo de vida, Sierra? – Perguntei sem realmente querer saber, só queria matar o tempo.

–O meu objetivo... – Ela imediatamente ficou séria, me olhando diretamente, com uma determinação que eu não entendi. – É ser feliz.

Eu explodi em risadas. Do jeito que ela me olhou, eu realmente achei que ela ia dizer algo como “eu quero conquistar o mundo”.

–Não ria! – Ela pediu se levantando, vermelha.

–Ah, me desculpe. – Eu parei, limpando meus olhos lacrimejantes. – E depois que você conseguir, o que vai fazer? – Disse divertido.

–Morrer. – Ela sorriu com ternura e eu fiquei quieto, ignorando-a e me deitando no sofá.

Ela certamente é louca.”

Com essa memória se desvanescendo na minha cabeça conturbada,agarrei seu corpo ainda quente, gritando obscenidades e ofensas, enquanto Sierra continuava a me encarar com um sorriso de olhos vazios.

Perdido, o brilho metálico da arma logo me captrou, e sem pensar duas vezes, peguei a arma e atirei na minha cabeça, caindo em cima de Sierra e finalmente sentindo um alívio.

Narrador.

Quando uma pessoa morre, mesmo que desconhecida, as pessoas procuram uma explicação para morte dela, uma desculpa, qualquer coisa que poderia ter relação com sua morte. Por mais absurdo que seja as vezes, a realidade é que tentam idealizar uma sábia pessoa antes da morte. "Ele sabia que ia morrer...". Dando tudo, para tentar deixar sua cabeça mais leve, e não se livrar da ilusão da inexistência da morte.

Isso é mentira, ninguém sabe como, quando e onde vai morrer, e isso é o que mais assusta sobre a morte.

Também é o que mais assusta sobre a vida.

Sierra e Simon, mesmo atirando na própria cabeça, ainda não iriam conseguir diferenciar a morte do cair no sono, até chegarem na campina e encontrarem a menina Layla.

Rod, 39 anos, policial.

Havíamos recebido uma ocorrência de um som de tiros em uma rua pobre de Nova Iorque, e quando fomos averiguar, encotramos um casal suicida.

Naquele quartinho decrépto, eu senti o sussurro de uma noite melancólica, uma brisa entrou pela janela levando uma jura de amor que se perderia diante da eternidade.

O rosto daquela mulher, congelado em um sorriso para a eternidade, me lembrava o livro que havia escrito na minha adolescencia, passada em um orfanato. Uma história macabra sobre um homem que acreditava que a verdadeira felicidade só era alcançada depois de uma vida de tristeza, e no fim, ele morria, sem nem ao menos, ter um único sentimento de felicidade.

Uma bobagem de um adolescente na puberdade, mas por algum motivo a pequena relação entre as histórias, me causava arrepios.

O nome mais irônico para um livro desse tipo, seria um que remetesse felicidade, e foi esse título que eu escolhi.

Happiness.


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