Acordei, e me sentia meio grogue, como se estivesse bêbada e não conseguia sentir nem mesmo as pontas dos meus dedos. Eu abri lentamente os meus olhos, incomodada pela claridade do ambiente em que eu estava. Quando finalmente consegui olhar para as coisas à minha volta percebi que estava num quarto de hospital, branco, limpo, e gelado. Eu olhei para os lados e vi Bobby, que dormia em sua cadeira de rodas, Sam, sentado numa poltrona bege, de um lado da cama, perto da porta e Dean dormindo do outro lado, numa igual. Eu respirei fundo e tentei me ajeitar, e senti um pouco de dor no meu abdômen, e com o barulho que eu fiz, acordei Sam, que parecia alerta a qualquer tipo de barulho enquanto dormia. Eu tentei dar um sorriso quando ele acordou, e ele me sorriu de volta, puxando sua poltrona silenciosamente para perto de mim, e se sentando.

–Você está bem ?-Ele sussurrou. Eu balancei a cabeça com um ‘’sim’’.

–O que aconteceu ?

–Você precisava mais do que alguns pontos, e te arrastamos até o pronto socorro o mais rápido possível, te levaram para a sala de cirurgia e, bem... Aqui estamos. -Ele pressionou os lábios, num sorriso torto. Ele fazia isso bastante.

–Está muito ruim ? O que vocês acham que aconteceu ?

–Brianna, uma hora você estava bem, dormindo e outra, gritando, com um corte na barriga em forma de...-Ele parou, as palavras pareciam estar presas em sua garganta.

–Forma de que, Winchester ? Vamos, responda !

–De uma cruz de cabeça para baixo. Achamos que é só algum demônio querendo te assustar, ou um fantasma, talvez.

–Ou um aviso. -Especulei. -Quer dizer, minha irmã foi morta por cães infernais a alguns dias atrás, talvez isso seja um aviso dizendo que eu sou a próxima, ou algo assim.

Ele mordeu a própria boca, enquanto olhava para suas mãos, que estavam entrelaçadas. Sam respirou fundo e continuou pensando, até que abriu a boca para falar algo.

–Não sei o que pensar ainda. Você se lembra de alguma coisa, antes disso ?

Eu lembrei do meu sonho estranho, com o cara vestindo um trench coat, mas por alguma razão,achei melhor não comentar, isso poderia piorar as coisas.

–Não,não mesmo,Sam. –Ele ficou me olhando,preocupado,até que sorriu para mim e colocou sua mão sobre a minha. Era como se ele dissesse ‘’Vai ficar tudo bem’’. Dean acordou e ele me soltou na mesma hora, com o rosto um pouco vermelho, e eu franzi as sobrancelhas, rindo.

–Hey,como você está,Bela Adormecida ? Acordou sorrindo.

–Já estive melhor. -Eu sorri para ele. -Dean, conseguiu falar com Castiel ?

–Ele disse que viria assim que você acordasse.

–E eu estou aqui.

Uma voz vinda da porta disse. Virei a cabeça para olhar a quem pertencia, e era o homem com quem eu havia sonhado na noite passada. Tentei me manter calma, e minha língua travada, para que eu não falasse mais do que o necessário na frente deles. O homem tinha olhos azuis escuros, e ele quase, quase sorriu para mim. Castiel parou em frente a minha cama.

–Então, Cas, sabe sobre o que a Ellie falava em relação a você ‘’guiar’’ Brianna ?-Dean perguntou.- E, aonde você esteve esse tempo todo, tava tirando uns dias de férias, é ?

–Eu estava resolvendo alguns assuntos particulares. -Ele ia abrir a boca para falar mais, porém eu o interrompi.

–Então, me diga, porque Ellie mandou que eu o procurasse ?

–Porque eu sou o seu anjo da guarda, Brianna.-Ele disse e pairou um tipo de silencio mortal por alguns segundos no ar.

–Meu anjo da guarda ? E aonde você esteve quando eu precisei de ajuda ?!-Eu falei um pouco alto. -Aonde estava quando eu e Ellie estavamos correndo perigo com aqueles cães do inferno,huh ?

–No momento, você não precisava de mim, pois tinha Ellie ao seu lado.

–Ellie ao meu lado ? ELLIE AO MEU LADO ?-Eu gritei. –NÓS SOMOS APENAS HUMANAS, TEMOS QUE CONTAR COM SORTE E ARMAS DE SAL ! Castiel, você poderia tê-la salvado !

–Ellie não precisava ser salvada de nada, ela somente estava encarregada de te proteger até o momento certo.

–Como é ?

–Ellie é um Anjo, Brianna. Ela simplesmente voltou para onde ela pertence.

Eu fiquei sem reação. Era impossível. Haviam fitas de nascimento dela, aniversários, Ellie era o mais humana possível. Ele devia estar louco, insano ! Ellie, um anjo ! Nunca, jamais ! Ellie nunca foi nem mesmo santa, quanto mais um anjo ! Eu dei uma risada idiota e respirou fundo, ainda rindo.

–Impossível.

–Muitas coisas são possíveis nesse mundo, Brianna. Tão possíveis quanto essa sua marca de nascença atrás do pescoço ou a cor dos seus olhos terem mudado repentinamente de cor quando você tinha oito anos.

–Como você sabe...

–Eu sei. Você é muito mais importante do que imagina.

–E como ela é importante, Cass ?-Sam perguntou.

–Essa é a pergunta do ano !-Dean comentou,baixinho.

–Isso... É algo que tenho que falar somente para ela. -Ele olhou para Dean, esperando que os três saíssem do quarto, porém ninguém se moveu.

–Ouviram o Cisney, saiam daqui!-Eu me manifestei, e todos saíram do quarto, menos ele.- Castiel, feche a cortina da janela. -Ele me olhou confuso. Anjos eram realmente tão inocentes assim? -Por favor.

Ele fez como eu pedi e se sentou do meu lado, na beira da cama.

–Porque você estava no meu sonho? E o que foi aquilo, todas aquelas... Imagens, pareciam vários filmes confusos na minha cabeça, e eu simplesmente os perdi quando acordei.

–Brianna, você é muito mais especial do que imagina. A muitos séculos atrás, durante o primeiro apocalipse, houve uma mulher, que era uma das cascas de Michael, que não podia engravidar, e ela disse ‘’sim’’ a ele sem nem mesmo pensar, pois ela desejava a morte. Assim que Michael achou sua verdadeira casca, ele saiu do corpo da mulher, que milagrosamente ficou intacto pelo poder de Michael. E, alguns meses depois, ela descobriu que estava grávida, e teve uma filha.

–E o que isso tem a ver comigo?-Ele me deu um olhar impaciente, e eu me calei.

–Aquela mulher era uma virgem, e mesmo assim ela engravidou, e sua filha era uma híbrida entre os humanos e os anjos. A alma dessa criança é preservada, assim como suas memórias anteriores lhe são devolvidas em todas as suas reencarnações. Aquela criança é uma contraposta do Destino, ela protege, de certa forma, as verdadeiras cascas de Lúcifer e Michael toda vez que elas renascem, para que o destino não seja desfeito, ou mudado.

Eu estava tentando digerir a história, palavra por palavra, enquanto eu brincava com meus dedos, mordendo meus lábios. O cara estava realmente dizendo o que ele queria dizer ou ele era completamente insano e sem noção? Eu respirei fundo e olhei para ele, esperando que continuasse.

–Brianna, você é a criança híbrida. A primeira Nephilim.

Ele disse, me olhando seriamente, esperando alguma reação escandalosa, talvez. Eu simplesmente respirei fundo e pisquei algumas vezes, já que mais lágrimas queriam escapar dos meus olhos. Ele tinha acabado de jogar em cima dos meus ombros uma puta responsabilidade, e eu não sabia se tinha um ataque de pânico ou se chorava igual a um bebê. Eu queria falar algo, até mesmo abri minha boca, mas não sabia o que dizer, e por fim, comecei a chorar.

–Você está dizendo que eu sou filha de um anjo e de uma virgem? Minha vida não poderia ficar mais estranha...-Eu choraminguei, baixinho.

–Você não pode contar a eles ainda, pois não está preparada para receber suas memórias ou eles para entenderem. Eu vou lhe ensinar a usar seus poderes antes, e depois devolver as memórias.

–Eu vou ter que segurar essa barra toda sozinha ? Você está de brincadeira, não é ?

–Eu não sou engraçado, mais devia pedir que Gabriel conte uma piada para você algum dia, ele é o anjo mais divertido que conheço.

–Ok, ok, Cas. -Eu dei uma risada e limpei minhas lágrimas. -Você pode me curar para nós darmos o fora daqui ?

Ele balançou a cabeça e segurou minha mão. Eu imediatamente pude sentir a diferença, não sentia mais as feriadas no abdômen, nem conseguia me lembrar de como era a dor. Eu tirei algumas agulhas que tinham em mim e me sentei na cama.

–Vamos ?

–Eu não posso ir assim, desse jeito.

–Não entendo, está usando roupas, não está ?

Eu revirei os olhos, rindo.

–Chame Sam e peça que os outros fiquem lá fora, com você. -Ele saiu do quarto e Sam entrou.

–Queria me ver ?-Me perguntou meio desconfiado.

–Castiel me curou. Vamos gigante, preciso dessa sua camisa xadres para fazer um vestido. -Ele piscou algumas vezes e me olhou confuso, sem parecer ter certeza do que eu havia pedido a ele. -Eu não tenho o dia todo ! Só quero a sua camisa, pode ficar com a jaqueta e a outra camisa que tem ai.

Ele começou a tirar a jaqueta, depois uma camisa fina e finalmente a xadrez. Eu a peguei e me enfiei no banheiro, e comecei a amarrar a camisa de modo que parecesse um vestido sem alças, e prendi meu cabelo num coque, e sai do banheiro. Ele ainda estava lá, me esperando.

–E ai, como ficou ? Dá pra passar pela segurança e pelos médicos ?

–Estamos em setembro, está meio frio lá fora.

–E ?

Ele rolou os olhos e tirou a jaqueta, e me entregou.

–Coloque em cima dos ombros, para parecer convincente.

–Convincente ?

–Uh... Os seguranças acham que é minha noiva.

Eu fiz uma careta e simplesmente sai do quarto, dizer nada. Sim, eu entendia como os hospitais não deixavam ninguém além de familiares entrarem no quarto, mas ele poderia ter dito que era meu irmão, não ? Assim que passei pela porta,vi Dean encarando as minhas pernas e roupas.

–Isso é a blusa e a jaqueta do... ?

–É sim. Ele é maior, mais roupa para cobrir minha pele. -O interrompi. Bobby me deu um olhar curioso e nem mesmo abriu a boca.

–Okay, Cherry Bomb, não precisa ficar nervosinha.

Eu não o respondi, apenas puxei Castiel e Bobby para o estacionamento. Meu carro não estava lá, somente um Impala 67 em perfeito estado, igualzinho ao que minha irmã tinha antes de ser todo destruído num acidente na estrada. Eu olhei para o lado e nem Castiel nem Bobby estavam lá.

–Ele pode se teletransportar ?

–É nervosinha, acho que você vai com a gente. -Dean apareceu do meu lado e abriu a porta do Impala. -Não vem ?

–Isso é seu ? O Impala ? Sério ?

Ele me deu um sorriso engraçado e balançou a cabeça com um sim. Me sentei nos bancos traseiros do carro, já que Sam estava na frente. Eu me puxei para o meio do banco, aonde conseguia ver o painel do carro e possivelmente conversar com os dois. Era igualzinho ao de Ellie, a não ser que ela mantinha maquiagem por todo o carro, era bem parecido.

–Ah,que saudade. -Deixei escapar, e Dean soltou uma risada.

–Saudade ? Tem certeza que não nos conhecemos ?-Sam olhou pra ele com os olhos arregalados, e Dean sorriu, olhando para o retrovisor.

–Minha irmã tinha um igual, idiota.

–Então ela tinha muito bom gosto para carros, diferente da irmã mais nova.

–Haha, muito engraçado. Mas eu meu Cadillac corre muito mais que o Impala, além de ser mais resistente e maior.

–Você ouviu isso, Baby ? Um anão de jardim loiro está nos chamando para uma corrida ! –Ele alisou o volante.

–Eu acho que o anão de jardim vai acabar com você, Dean.-Sam me defendeu.

–É o que veremos.

–Você só vai ver a poeira no vidro do seu carro, querido.

Sam e eu rimos enquanto Dean pensava em algo melhor para dizer, mas/ suas cartas tinham acabado. Ele me olhou novamente pelo retrovisor algumas vezes, quando finalmente abriu a boca para falar algo.

–Brianna ?

–Dean.

–O que foi que Castiel te disse, lá dentro do quarto do hospital.

–Ele disse que acha que algum demônio tem uma certa obsessão pela minha família, e que está tentando me achar, mas vai ser bem difícil, já que eu tenho um amuleto que ganhei de Ellie a alguns anos atrás. -Eu omiti algumas partes, mas não estava mentindo, não é ? Quer dizer, haviam demônios que estavam me procurando...

–Bem, quando ele vier te buscar, estaremos preparados.

Eu não o respondi, apenas me encostei no banco e fiquei fazendo caretas no retrovisor, para ver qual dos dois iram perceber primeiro, e foi só eu levantar meu dedo do meio, colocando a língua para fora que os dois riram em sintonia, e eu sorri. Os dois realmente não queriam parar de me observar, ou talvez ou seja muito convencida. Talvez o segundo, talvez os dois. Eu dei de ombros encostei a cabeça na janela e fiquei observando a chuva lá fora. Não havia percebido antes, mas o céu parecia um borrão de cinzas, e a chuva só ficava mais forte a cada segundo que eu passava olhando para o céu.

–Eu deixei Bobby em casa, seguro. -Castiel apareceu do meu lado do nada, eu soltei um grito, Dean depois de mim e quase bateu o carro num outro.

–Jesus Cristo, asinha ! Não faz mais isso !

–Não entendo, o que eu fiz de errado...?

–Quase fez a minha alma sair bela minha boca, só isso. -Dean bateu no volante e Sam ria dele.

–Isso é realmente preocupante.

–Pode ficar tranquilo, Cas, aquilo foi modo de falar.

Ele me olhou confuso. Cara, eu teria que explicar muita coisa para ele, durante o meu tempo na terra. Simplesmente sorri para ele e voltei a olhar a chuva lá fora, e pouco tempo depois estávamos de volta a casa de Bobby. Eu sai do Impala e corri para o Cadillac, peguei minha mala e sai correndo para o andar de cima, e tranquei a porta, não deu tempo nem de olhar para a cara de ninguém. Deus, eu precisava de um banho, e de roupas, minhas roupas. Após um banho assustadoramente frio e rápido eu me sequei e procurei algo confortável para usar, até porque não sairia para caçar por algumas semanas, e não tinha nenhum lugar para ir. Por pura preguiça, eu peguei um par de leggins pretas e coloquei a enorme camisa xadrez vermelha de Sam, e minhas botas curtas de sempre. Prendi o cabelo num rabo de cavalo e saí do banheiro, jogando a mala na cama, e desci as escadas. Eu não devo ter demorado mais do que quinze minutos lá. Quando desci, estavam todos conversando sobre alguma coisa, e simplesmente pararam quando em viram. Sam parecia o mais ‘’chocado’’ de todos os quatro. Bobby foi o primeiro a dar de ombros, junto a Castiel, e eles continuaram a conversar. Dean estava me dando aquele sorrisinho tentador novamente, Sam parecia não saber se pedia a blusa de volta ou se ficava ali, engolindo moscas. Eu dei uma risada e andei até Bobby e Castiel, eu estava com fome, fome de pizza.

–Bobby, sabe se tem algum lugar que venda pizza na cidade ?

–Bem, sim, mas você não conhece a cidade, pode se perder.

–Qual é, Bobby, eu daria tudo por uma pizza de calabresa !-Choraminguei.

–Ei, apressadinha, eu vou com você, deixe o velho Bobby em paz.

–Eu consigo te ouvir, garoto.

Eu ri e Dean se virou para mim.

–Vamos ?-Ele disse, balançando as chaves do Impala, e eu tentei pega-las.- Na-não. Eu dirijo.

–Eu ia dizer para usarmos o meu carro, estou com saudades dele, mas se insiste...

Ele quase fez um bico e franziu as sobrancelhas, seguido de um sorriso largo.

–Bem, dar um descanso a minha baby não faria mal.

Eu entreguei as chaves a ele saímos da casa de Bobby, entrando rapidamente no carro. Tinham algumas roupas minhas no banco de trás, algumas armas, um copo de café, cds de bandas no chão, livros, e algumas armas. Isso porque eu não tive tempo para arrumar o meu bebê. Assim que entramos no carro estava tocando Cherry Pie bem alto, e eu toda atrapalhada com a porta e o banco, tentei desesperadamente desligar o rádio, e Dean deu um tapinha na minha mão. E aumentou ainda mais o volume, sorrindo igual a um idiota, dançando sentado no banco. Eu ri ele começou a dirigir, cantando e dançando. Eu tirei o cd e ele me olhou um tanto indignado.

–Eu estava escutando a música.

–Sei que sim, mas meus ouvidos estão doendo, e eu tenho todo direto de reclamar, sabe, irmã morta, demônios na minha cola, acabei de sair do hospital... Minha vida não tem sido exatamente fácil.

Ele assentiu.

–Como era Ellie ?

–Ellie era o que eu sempre quis ser. Forte, sábia, uma caçadora e tanto. E era a melhor pessoa que eu já conheci. Era doce e gentil, sabia medir as palavras e ações, sabia quando era hora de parar e procurar se afastar. Acho que ela era meio fria, mas nunca foi um problema para mim. Eu...Eu nunca me vi sem Ellie. Erámos inseparáveis, dois lados de uma mesma moeda.

–Huh, se eu dizer que entendo, você ficaria surpresa ?

–Não, dá pra sentir de longe os sentimentos que tem um pelo outro, o jeito que se olham, como se jogariam na frente de uma bala, um pelo outro. Nós duas erámos assim, tanto que ela se sacrificou para que eu vivesse.

Eu suspirei. Dean não disse nada, apenas ficou de olho na rua, e quando me dei conta ele já estava pedindo a pizza no Drive-Thru, alguns minutos depois ele já tinha a pizza enorme em mãos, e praticamente a jogou no meu colo. Eu abri a caixa e peguei um pedaço.

–Com fome ?

–Mais do que imagina. Eu estou a dois dias sem colocar nada aqui dentro. -Eu disse, apontando para minha barriga. -Quer um pedaço ?

–Agora ?

–Agora,Dean.

–Bem... Não é um cheese burguer com bacon, mas dá pro gasto. -Ele pegou um pedaço da caixa.

–Bacon, sério ?-Perguntei. Eu não era a maior fã de bacon.

–Claro,bacon é muito bom. Qual o seu problema para não gostar de bacon ?

Eu ri, com as memórias antigas que flutuaram na minha mente.

–Foi na quarta série. Eu disse a alguns colegas que eu tinha um fantasma como melhor amigo. Era na hora do intervalo, e a comida do dia era bacon com batatas. Digamos que eu voltei para casa odiando bacon.

–Uau, crianças são cruéis. -Ele deu uma risada.

–Não faz ideia. Mas e você ?

–Eu o que ?

–Não tem nenhuma história constrangedora de infância para me contar ?

–Ah, não, não. Eu sempre fui o descolado, todos me amavam. -Ele falava sorrindo.

–Oh, me desculpe, eu nunca fui a garota descolada, era sempre a estranha.

–Ah, com esse rostinho, eu duvido muito. -Ele me cantou, eu acho...

–É, hmn, obrigada. Mas esse rostinho apareceu depois que meus pais morreram, e eu tive que me mudar para Ohio, não tive a chance de ser cruel com quem fazia de mim uma piada.

–Não precisava nem ser cruel, Bri. Era só aparecer na frente deles.

–Muito engraçado. E não me chame de Bri.

–Okay, Bri, você que manda.

–Dean !-Dei um tapa no braço dele.

–O que foi,Bri ?-Ele deu uma risada.- Te deixei nervosa ?

–Não. Me. Chame. De. Bri. Entendeu ?

–Na verdade, não, Bri. Bri é um apelido muito legal.

Eu suspirei, emburrada e fiquei olhando para a janela. Não queria que me chamassem daquele jeito, mesmo eu não sabendo o porque, não queria, de jeito algum. Dean suspirou alto, parecia que ia falar algo, mas não disse nada. Ele somente dirigiu mais um pouco e estávamos de volta ao Ferro velho de Bobby. Eu desci do carro com a pizza, sem nem mesmo olhar para trás. Pude ouvir os passos rápidos dele atrás de mim antes de me puxar pelo braço.

–Qual é, vai ficar mesmo brava ? Eu só estava implicando um pouco com você.

–Esquece, Winchester. -Tentei puxar meu braço, e ele não me soltou.

–Brianna, foi mal, ok ? Não precisa ficar mal humorada desse jeito. -Eu suspirei, olhando para o céu, e voltei meu olhar para ele. –Não me leve a mal, mas você até que fica bonitinha irritada. -Ele me deu aquele sorriso. Eu tinha o visto poucas vezes, mas já sabia que ele me fazia arrepiar. Eu me concentrei no chão, fingindo não me importar com o que saia da sua boca.

–Okay, Ted Hughes, já p-pode me soltar.-Eu disse, olhando para ele. Dean sorriu e não disse nada,ficou ali me olhando.-Dean,meu braço,se continuar assim eu vou perder ele.

–Pode deixar, eu dou um jeito.

Ele eu um sorrisinho e chegou mais perto de mim, a ponto de eu sentir a respiração dele nas minhas bochechas. Eu não me afastei, até porque não estava pensando muito no que fazer, por dentro eu estava em pânico, por fora eu estava simplesmente não me importando no que ele faria, o no que iria acontecer.

–Posso te contar uma coisa ?-Eu sorri e balancei a cabeça.-Eu já beijei muitas mulheres,não vou mentir. Mas nunca senti tanta vontade de beijar uma como sinto vontade de te beijar,Brianna.

E fechei meus olhos, estava quase beijando ele, podia sentir o calo que sua pele emanava, o seu hálito...

–Eu fiquei preocupado com você, Brianna.

–Castiel !-Me virei para ele,assustada.-Eu estou bem.

–Eu interrompi algo ?

–Ah, não, não. Só estávamos conversando, só isso.

O anjo semicerrou os olhos, na minha direção e desapareceu. Eu suspirei, frustrada e entrei na casa de Bobby. Sam estava sentado na mesa, parecia estar quase comendo o prato. Eu dei uma risada e coloquei a caixa em cima da mesa,e ele foi o primeiro a pegar um pedaço.

–Deus,porque demoraram tanto ?

–F-ficamos conversando, desculpe.

Sam olhou para mim e depois para Dean, e depois deu de ombros. Peguei um copo de whisky e me joguei no sofá verde, eu estava começando a gostar bastante dele. Fiquei ali sozinha por um tempo, ouvindo os quatro conversando. Eu não parei para prestar muita atenção, só gostava de ouvir as vozes preenchendo o silêncio, me distraindo.

–Deus, eu estava tão perto dele. -Disse para mim mesma, mentalmente. Nunca fui o tipo de mulher que gostava de ficar com qualquer um, ou de me deixar levar por um rosto bonito, mas tinha algo de diferente nos Winchesters, eu poderia ver até no jeito que me olhavam. Aquilo estava começando a me deixar um pouco nervosa, não era fácil e nem comum eu me sentir nervosa perto de alguém.

–Brianna ?-Sam se sentou do meu lado.

–Fala, Sam.

–Eu achei um trabalho. Parece que algumas pessoas estão voltando a ser jovens novamente, digo, realmente jovens. Voltando a ser crianças.

–Ok, mas o que eu tenho a ver com isso ?

–Uh, eu achei que você fosse querer ir com a gente, sabe, voltar para a ação.

–Sam...-Eu comecei ,e não terminei e dizer o que pretendia. Ele com uma cara de desapontado, cara de cachorrinho abandonado. Simplesmente impossível de dizer não.- Eu vou pensar.

–Ok,a gente sai daqui a quarenta minutos.

–Que ? Sam ! -Eu gritei, e ele saiu correndo, rindo. Ótimo trabalho, Brianna, você acabou de ser trouxa. -Filho da mãe !-Falei baixo, e subi para arrumar minhas coisas. Assim que coloquei tudo em ordem, decidi me dar um pouco de paz e deitei na cama. Cinco minutos sozinha, era tudo que eu precisava.

–Brianna, eu vou lhe devolver alguns poderes. -Castiel apareceu no quarto, do nada, como sempre.

–Cas, não pode. Eu vou numa caçada com Coisa Um e Coisa 2 daqui a cinco minutos. E se eu... Explodir alguém por acidente ? Não queremos isso, certo ?

–Você não vai explodir ninguém.

–Cas, vamos fazer um acordo, ok ? Depois dessa caçada, eu saio para treinar com você, de pouquinho em pouquinho. Se eu sou o que realmente diz, não queremos que eu enlouqueça com poder ou todas essas outras coisas que você quer me ‘’devolver’’. Eu passo três meses, só nós dois, trabalhando nisso. O que acha ?

Ele me deu aquele olhar semicerrado e parou por um momento para avaliar meu acordo. Ele deu alguns passos para frente, para ficar do meu lado, e ficou em observando, com aquela cara de desconfiado.

–Tudo bem. Assim que terminar o caso, vou te buscar, e não fuja, nem conte a eles.

Eu sorri e levantei da cama.

–Não vou.

–Ei, Brianna, você vai vir ou o que ?!-Dean gritou do primeiro andar da casa, um tanto impaciente.

–Eu estou indo !-Gritei e me voltei a Castiel.-Te vejo em alguns dias, asinha.

Eu beijei sua bochecha e peguei minha mala. Cas não teve reação, só ficou ali parado e então desapareceu. Eu ri, aquele lá era engraçado. Eu desci as escadas, dei tchau a Robert e sai da casa. Sam e Dean estavam encostados no Impala, me esperando. Abri a mala de meu carro e peguei praticamente meu arsenal todo, coloquei ele dentro de outra mala e joguei as duas dentro do Impala.

–Pra que tudo isso ?-Dean perguntou.

–É tudo que eu preciso, ué.

–Dean, deixa ela. –Sam o censurou.

–Ok, ok. Vocês fariam o favor de entrar no carro, Princesas da Disney ? Tem gente que precisa de ajuda por ai.

Balancei a cabeça e entrei no carro. Aquela seria uma longa viagem, uma que mudaria a minha vida, para todo sempre. E eu nunca teria previsto o que aconteceria durante ela,só esperava que tudo ocorresse bem.