Coração de Água escrita por Aleakim


Capítulo 3
Capítulo três - Erros.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me pela demora à publicar um novo capítulo, uma amiga passou um tempo em casa e só liberou o computador hoje. Ah, LoL atrasando atualizações desde 2015.
Enfim, boa leitura.



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Seis anos depois

O verão finalmente havia chegado. Len observou os acontecimentos pela janela do orfanato. Estava morando lá a seis anos. Nunca mais conseguiu falar com Gumi, mas isso não significava que tinha a esquecido. Não, esquecer jamais, ela ainda era seu amor, e a maior prova viva é que só olhava para a rua através da janela porque podia vê-la passar por lá para ir à escola. Fazia isso todo dia, mas agora que terminou as aulas da garota acabaram... O que mais poderia fazer? O ensino médio fora concluído, e ele nunca mais voltou a qualquer outro colégio desde a morte dos pais.

Sua tia se demonstrava cada vez mais preocupada com o garoto; Ele não se importava com nada além de ficar sentado próximo aquela janela. Não tinha nada verdadeiramente interessante nas ruas, mas havia algum sentimentos naquelas situações diárias... Len estava sozinho, sequer tinha amigos, a irmã ficava longe de si e, para piorar a situação, não ia para escola a um bom tempo. Faltavam apenas dois anos para completar dezoito. Ele teria de se virar.

– Len, sabe, eu ia levar Rin amanhã para visitar o túmulo de seus pais... Você gostaria de nos acompanhar? Vai ser bom tomar um ar puro... - Miki murmurou com delicadeza, como se o garoto se machucasse com as palavras se não fossem pronunciadas com cuidado.

– Eu não saio daqui desde o dia em que entrei, nem mesmo para ver meus pais, então... Não, não quero ir. - Sua voz soava fria, como se nada mais pudesse movê-lo de lá. O garoto se recordava que Gumi tinha pensamentos movidos à um coração de água, então, por sua vez, Len pensava que, atualmente, seu coração era de gelo.

Miki suspirou, mas antes de sair do quarto do Loiro, disse mais uma única frase: - Você também está muito atrasado nos estudos, Len. Contratei uma professora recém-formada no ensino médio para que se recupere.

O mundo de Len desmoronou naquele exato momento, para que ter contato com mais uma nova garota? Queria Gumi e mais ninguém. Não precisava conversar com qualquer outra pessoa, só com ela. Falava pouco até com a própria irmã! Uma professora não seria necessária.

Dentre tantos anos que ficara sem a amada e sozinho, Len adquiriu o hábito de ler inúmeros livros e escrever suas próprias histórias; Vidas que gostaria de viver, coisas que adoraria que acontecesse, sugestões para mudar o mundo, seus sonhos se tornando realidade. Tudo o que considerou impossível estava acontecendo nos cadernos que tanto escrevera. E, além de tudo isso, era um bom modo de se expressar, mesmo que jamais fosse reconhecido.

Deitou-se na cama e parou para analisar tudo o que acontecera nos últimos anos; Era provável que tivesse dito menos de mil palavras, mas para compensar, seus pensamentos jamais se calavam. A razão para nunca mais ter ido ver Gumi foi uma ligação de Rin, onde ela disse coisas que o magoaram profundamente, então perdeu as expectativas que tinha da garota aceitá-lo completamente. No momento atual, Len odiava a si mesmo e à irmã por sua decisão e pelo telefonema. Ele poderia ter sido feliz, mas foi um idiota por completo.

Os garotos do Orfanato tentaram inúmeras vezes se aproximar, mas quanto mais tentavam, mais ele se afastava. Quando se completou dois anos que estava lá, as pessoas pararam de tentar aceitá-lo e o deixaram quieto para sempre. Surpreendentemente, foi a época que Len mais estava disposto a ter algum amigo, pois foi quando finalmente notou que estava sozinho, mas agora não existia ninguém que o quisesse por perto. E, mais uma vez, o garoto causou sua própria dor através de decisões imaturas.

Quando desistiu de pensar no passado, Len fechou seus olhos e deixou as lágrimas se escorrerem de qualquer jeito. Quinze minutos depois, o sono chegou.

– Loirinho, acorde. - Len poderia reconhecer aquela voz em qualquer lugar, mesmo alterada depois de algum tempo, ainda era tão pura quanto no dia em que a conheceu.

– Princesa...? - Murmurou baixo e e se levantou, observando ao redor com cuidado, procurando-a.

No entanto, tudo o que podia ver era um quarto negro. A cama em que estava deitado desapareceu, mas antes pôde notar um brilho que a cobria. Caminhou para frente, chamando Gumi. A cada passo que dava, relembrava um momento de sua infância feliz com os pais. Como podia abandonar aquelas memórias pelos pensamentos marcantes que tinha de uma garota?

Por menor que tenha sido o tempo que esteve com Gumi, ele a amava demais... Foram os dois melhores e piores dias de sua vida.

Quando finalmente conseguiu observar uma pequena Luz à frente, voltou a ouvir os múrmuros de uma voz chamando-o. Um tanto mais grossa do que da última vez... Não era a mesma pessoa. Sentiu um toque delicado em seu braço, tentou esboçar um sorriso, imaginando que seria ela.

Foi aí que Rin o acordou.

– Len, Leeeeen... – O garoto não queria levantar. Não para ver a irmã. Já sabia que logo chegaria o dia em que Rin o visitaria, como sempre faz a cada dois meses, mas... Não queria que fosse no meio de um sonho tão bom.

– O que você quer? - Len ergueu-se devagar, observando-a com cuidado. A irmã mudou muito nos últimos anos; Já não tinha o cabelo tão curto, e a tiara que vivia usando se tornou em um laço de fita. Estava linda, mas jamais admitiria em sua frente.

– Que você levante essa bunda gorda da cama e vá aproveitar o dia lindo de hoje! Está um calor ótimo e logo vai chover. Sabe o quão bom é andar na chuva? Você vai comigo. E também vai no cemitério para ver nossos pais amanhã.

– Eu tenho uma bunda mais magra que a sua. - Len fez uma careta e voltou a se jogar na cama, fazendo questão de empinar a parte traseira. Rin riu, dando-lhe um leve tapa nas costas.

– Você tem que fazer algo da vida, Irmãozinho... A quanto tempo não sai desse lugar? - fez-se silêncio - ...Você realmente não saiu desde que chegou aqui, não é?

– Vá embora. - Len abaixou a cabeça, murmurando de modo seco para a irmã.

– Mas Len...

– Eu disse para ir embora. Quando eu precisei de você de verdade, você me empurrou. Não preciso das suas lições de moral agora, falando o que eu deveria fazer ou não! Saia daqui, por favor, e não volte até por na cabeça que eu não vou sair deste Orfanato até o dia de minha morte.

Rin virou-se na direção da porta e saiu. As lágrimas escorriam sobre seu rosto rapidamente. O que Len tinha na cabeça? Dentre tantas coisas que ele poderia saber, ambos sabiam que o que ocorreu no dia da morte de seus pais era o que mais machucava. Apesar de ser um dia um tanto feliz para o garoto, continuou sendo o pior dia da vida para sua irmã.

Ela não tinha mais pais. Não tinha amigos. Não tinha alguém que a entendesse para desabafar por horas. Tudo o que lhe restara foi o irmão que parecia ter encontrado o próprio modo de superar as mágoas.

E agora tinha o perdido também.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, wuhu.