Coração de Água escrita por Aleakim


Capítulo 2
Capítulo dois - Primavera.


Notas iniciais do capítulo

Escrevi isso com o coração na mão. Várias mágoas surgiram, mas vou ser forte.
Espero que gostem.



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Não demorou muito para Len voltar para casa. Sua irmã informou que receberam um telefonema; no dia seguinte, eles teriam de decidir com quem iriam morar agora que os pais estavam mortos. Rin sugeriu que fossem viver em outra cidade, mas o garoto se recusara. Agora que conheceu Gumi, não queria sair de lá de jeito nenhum.

– E se formos morar com a tia Lily? Ela mora na cidade vizinha, poderíamos continuar estudando na mesma escola... - Rin notou que seu irmão não se importava com aquelas palavras, então se calou por alguns momentos.

Ambos estavam pensando no que fariam; Não era difícil notar que suas opiniões eram diferentes. Rin queria estar longe daquela cidade, mas Len via necessidade em ficar. O primeiro a cessar aquele silêncio foi o garoto.

– A tia Miki... Ela é coordenadora de dois Orfanatos, certo? O feminino é na cidade em que a tia Lily mora, e o masculino é aqui. Podemos ficar com ela, também seria uma boa oportunidade para fazermos novos amigos. - Os olhos de Rin brilharam por um momento, dava para perceber que ela tinha interesse em fazer novas amigas.

Kagamine Rin nunca se deu bem na escola. Não era a "nerd zoada e diferente", mas só via necessidade em relacionar com sua única amiga, e ela mesma não estava mais a notando, pois passou a nutrir um amor misterioso pelo irmão. Rin passou a se afastar de Len por causa disso, era como se ele tivesse tirado dela a única pessoa em quem poderia confiar. A chance de viver longe do irmão-gêmeo e de ser feliz com novas pessoas ao redor, todas do mesmo sexo que ela foi tentadora.

– Tudo bem, acho justo. Mas Miki é meio ocupada, fica uma semana em cada Orfanato. Tem certeza que quer ficar com ela? - Falou Rin, não escondendo a esperança de que a resposta fosse afirmativa.

– Sim, irmã, eu tenho certeza que quero morar em um dos Orfanatos... E ela nos adora, vai querer ficar conosco. - Sorriu.

– É... Acho que sim. Bom, já é tarde. Vou dormir. Boa noite, Len.

– Boa noite, irmãzinha...

Len não tinha certeza se conseguiria dormir. Se sentia mal pelos pais, e estava morrendo de alegria pela garota que conhecera na ponte. Se culpou por se sentir feliz com tanta facilidade. Meus pais mereciam um filho melhor do que eu, pensou.

Pegou uma folha de papel e alguns lápis de cor e começou a tentar desenhar Gumi. Não tinha muita prática nisso, mas gostaria de tentar desenhá-la.

Começou pelo rosto, os olhos verdes inesquecíveis, o sorriso maravilhoso, o cabelo delicado e lindo... Tentou fazer o corpo, e depois de inúmeras tentativas, desenhou-a apenas até os ombros. Não estava idêntico, mas gostou muito do resultado. Queria entregar para ela, mas aquilo era o mais próximo de uma foto que teria de Gumi.

Quando finalmente terminou o desenho, sorriu de forma honesta e fechou os olhos devagar, por que tinham que acontecer coisas ótimas em dias horríveis? Amanhã era o velório de seus pais, não queria comparecer. Não ia comparecer. Não tinha coragem de ver seus pais novamente.

E então, deu seu último suspiro e caiu no sono com os braços apoiados na mesa.

No dia seguinte, Len acordou por volta da dez horas da manhã. Não fora à escola, mas sua irmã o implorara que a acompanhasse no velório de seus pais. Após muita insistência, o garoto concedeu ao pedido da irmã, mas avisou que sairia de lá assim que falasse com sua tia.

Miki era irmã de sua mãe, tinha 32 anos, sempre foi gentil e amável com Len e Rin, então ficar num orfanato coordenado por ela não devera ser tão ruim. Seu cabelo era num tom salmão, com uma pequena parte espetada bem acima de sua cabeça. Era bonita, mas Len não se lembrava de algum momento em que a tia entrou em um relacionamento sério com algum cara.

Miki pareceu aprovar a ideia de ter os sobrinhos no orfanato. Deveria pensar o mesmo que Len; Seria uma ótima oportunidade para fazerem amigos novos. Mas o que a preocupava era Rin, sua irmã já havia alertado com sua proximidade com uma única garota e o fato de não se importar estar apresentável para rapazes. O pensamento de como a mãe dos gêmeos reagiria se soubesse que a garota estava namorando alguém do mesmo sexo surgiu pela sua cabeça, mas logo foi ignorado. Mesmo que ela decida fazer algo assim, vou apoiá-la. É minha sobrinha de qualquer jeito, pensou.

Quando deu 13h, Len saiu da funerária e correu até o parque onde encontrou Gumi no dia anterior. Apanhou uma flor para dar para a garota. Seu coração estava batendo acelerado e triste ao mesmo tempo; Queria poder contar aos pais que estava se sentindo apaixonado, mas não tinha mais um pai e uma mãe para quem contar essa novidade. Olhou para o céu e fez um sinal da cruz, retornou a correr o mais rápido que podia em seguida.

Sentou-se no local onde viu a garota pela última vez. Buscava-a com o olhar, até encontrá-la. Ela estava usando um vestido branco com flores vermelhas desenhadas na saia, um chapéu delicado em sua cabeça e os sapatinhos amarelos destacavam-na em qualquer local. Estava ainda mais linda do que no dia anterior.

Estavam em meio à Primavera, o parque tinha a aparência mais bela do que nunca. Flores com várias cores diferentes por todos os cantos, árvores vivas, um rio lindo... Era o local perfeito para se passear. Gumi logo o viu e correu até Len.

Na mesma hora, o garoto percebeu suas vestes; Um short azul, camiseta de manga curta branca e All Star preto. Com certeza não era digno daquela Princesa, mas gostaria de cuidar dela.

– Você veio! - Gumi se sentou ao lado de Len, sorrindo daquele jeitinho único - Quero te perguntar algumas coisas.

– Oi, ah, tudo bem, vá em frente. - Retribuiu o sorriso de um jeito bobo.

– Quantos anos você tem?

– Dez, faço onze no Verão. E você?

– Onze, sou mais velha. - O sorriso aumentou em seu rosto, cutucou as bochechas de Len com as mãos delicadas. O garoto amava sentir seu toque. - Onde você mora?

– Hum... Eu morava ali antes dos meus pais morrerem - Apontou para uma casa próxima ao parque, um pouco distante de onde estavam, mas visível. - Mas agora irei morar com minha tia em um orfanato.

– Qual orfanato?

Len custou a lembrar o nome do Orfanato que sua tia coordenava. Sabia que era algo relacionado aos quatro elementos da Natureza. Amor de Ar? Paixão de Fogo? Vida de Terra?

Coração de Água. – sorriu de canto. Era um nome lindo para um lugar que escondia histórias tristes.

– Passo em frente deste Orfanato para ir a escola... Sempre adorei o nome, sabe? - Gumi olhou para a água com fixação, estava pensando do mesmo modo que fez no dia anterior. - Posso te contar um segredo?

– Claro - Len se sentiu honrado por saber um segredo da garota, e começou a pensar em algo que poderia falar em troca daquela informação. Eu pensei em você a noite toda.

– Eu só consigo pensar com o coração quando olho para água. - Ela murmurou, o sorriso desapareceu de seu rosto. A expressão era séria.

– O quê?

– É. Eu só consigo saber o que meu coração está pensando quando olho para água.

– Coração pensa?

– Quando sente algo... Acho que isso são pensamentos do coração.

Len ficou em silêncio por alguns segundos, tentando analisar a informação. Logo concordou com a cabeça.

– Faz sentido. Ah é, isso é para você. - E entregou a flor que recolhera no caminho para o parque.

Gumi sorriu, beijou-lhe na testa e segurou a flor com carinho, o sorriso encantador retornou em seu rosto. Len estava apaixonado por aquele jeitinho de sorrir que ela tinha.

– Tenho que ir - Gumi murmurou por fim.

– Mas já? Por quê? - Estampou-se decepção no rosto de Len.

– Isso é outro segredo... Vou te contar na próxima vez que nos vermos. Eu venho aqui todo dia depois da escola. Venha me ver quando quiser. - Fechou os olhos e abraçou o garoto com ternura.

Len retribuiu o abraço, o rosto estava corado. O aperto dela era preocupante, como se não fossem se ver de novo por um bom tempo. Como se aquele abraço estivesse sendo dado no lugar de um "Adeus". Gumi não demorou para soltá-lo, o sorriso já estava parecendo forçado.

– Até algum dia, Loirinho.

– Até... - pensou em um apelido - Princesa...?

– Princesa? Gostei. Até mais, se cuida!

E ela se afastou de Len, correndo para longe. A flor estava em suas mãos delicadas. Ainda podia vê-la quando sentiu um buraco em seu peito, como se algo mais fosse arrancado de seu coração.

Olhou para água e desejou sentir o abraço dela por mais algum tempo. Pensou no que Gumi disse inúmeras vezes. O sorriso não saía de seu rosto.

Ele mal sabia que aquelas palavras seriam as últimas que ele ouviria dela por um bom tempo.


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Notas finais do capítulo

Ah... Eu amo momentos finais que partem o coração.
Demorou dois meses para eu escolher o título final da Fanfict, e agora vejo um sentido maravilhoso para o nome.
E... É, sim, eu também tenho um Coração de Água.