Sempre te amei. escrita por AnaClaudiia


Capítulo 76
Aeroporto.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Por João Lucas.

Eles já estão trocados e prontos para essa viagem de mais de 9 horas. Meus filhos são acostumados a andar de avião, nem sentem mais medo, mas hoje vejo em seus olhos uma insegurança e tristeza tão grande que doe até a alma. Os dois não queriam estar indo pra lá, não que prefiram New York ao Rio de Janeiro, mas é que o motivo não trás nenhuma satisfação.

Martinha está com o seu cabelo castanho escuro preso em um rabo de cavalo, seus olhos cor de mel estão tristes, o nariz que ela puxou da mãe vermelho de tanto chorar. Há um brilho labial em sua boca, dissemos que ela ainda era muito nova para usar maquiagem, mas Marta insistiu tanto que demos isso a ela. Apesar de meus filhos serem gêmeos, os dois não são muito parecidos. Tão diferentes por fora, quando por dentro... Os seus olhos são a única coisa igual, ambos da mesma cor que o meu. Dinho tem a boca parecida com a minha, e ainda um corte de cabelo igual ao que eu usava quando pequeno. Minha mãe diz que somos uma cópia. "Nem precisa de exame de DNA" Ela me disse uma vez. Acho que isso também deixa minha filha enciumada, ela não é uma cópia da mãe. A pele é tão branca quanto, mas fora isso e o mesmo nariz, Martinha não se parece com Du... Lembra um pouco sua avó Maria Marta, não sei...
M: Papai, posso pedir uma coisa? - Eu que estava distraído buscando encontrar de que quem ela herdou suas semelhanças físicas, volto minha atenção para minha filha.
JL: Claro, o que você quiser...
M: A mamãe ta com neném na barriga, pede pra ela por o name de Maria se for menina? É que eu não quero que ela morra, tenho medo de esquecer... - Seu irmão a encara em silêncio, ele parece ter gostado da ideia. - Se minha irmã tiver o mesmo name que o dela, eu never vou esquecer...
JL: É uma ótima ideia meu amor! - Eu dou um beijo em sua testa. - Se for menina e sua mãe topar, esse vai ser o nome!
Du: Eu já topei... - Escuto a voz de minha esposa e ao busca-la com meus olhos a encontro na entrada da sala, escorada na parede. Du devia estar ouvindo a conversa. - Adoro esse nome meu amor!

Não tenho preferencia pro sexo do bebe, mas confesso que se fosse uma menina seria mais fácil... Quem sabe isso não ajudaria Martinha a aceitar e amar a irmã!
JL: Tá todo mundo pronto? Não esqueceram de nada? - Olho em volta, todas as malas ainda estão na sala.
Du: Não, pode ficar tranquilo que eu mesma cuidei para que eles não esquecessem...

Peço para que os empregados levem nossas malas até o carro e então descemos todos juntos.

Nunca pensei que fosse tão difícil levar um corpo pra fora do país, tive que pedir ajuda pra embaixada Brasileira, não fazia ideia do que fazer. Felizmente deu tudo certo, e vamos conseguir cumprir o último desejo de minha querida ex-vizinha...

E no final, aproveitaremos para tirar umas férias mais do que merecidas!

Fiquei surpreso comigo mesmo, a semanas atrás jamais deixaria a Botticelli assim, do nada. Tive que colocar minha secretária no comando de tudo, dei poderes para ela resolver os problemas por mim. Paola, esse é seu nome, nunca administrou nada, mas confio na sua capacidade, ela sempre viu como eu administrava, deve conseguir fazer igual! Porém, ainda assim é uma loucura deixar alguém inexperiente à frente de uma empresa tão grande. Estou adorando voltar a ser louco...

Ainda falta um bom tempo pro nosso voo, mas mesmo assim já vamos embora. Prometi que passaríamos no McDonald's antes de ir, meus filhos adoram os brinquedos que vem com o lanche.

Descemos do elevador juntos e caminhamos até o carro, assim que coloco a chave na ignição meu celular começa a tocar. Não é o telefone reservado pro trabalho, esse eu deixei em casa, o que chama é o pessoal. Atendo, mas me surpreendo com quem está por trás da linha.
P: Desculpa incomodar, sei que está indo viajar... - Diz, com seu fortíssimo sotaque mexicano. Minha secretária não é da América, a escolhi justamento por isso, espanhol é mais fácil de compreender do que inglês, as vezes tenho preguiça de pensar. Além disso, Paola aprendeu um pouco de minha língua. - Tu me deu seu teléfono móvil, caso yo precisasse falar com usted urgentemente! Então, você pode vir aqui na Botticelli?
JL: Não, claro que não... - Respondo. - To indo pro aeroporto daqui a pouco!
P: Mas é importante, tu não assinou um papel essencial, assim no voy poder cuidar ta empresa por usted!
JL: Jura? Caramba, pensei que tinha feito tudo... Mas se é só isso acho que dá tempo, vou aí rapidinho, assino e vou pegar o avião!
P: Sí, sí! Te espero...

Desligo meu celular e só então percebo o silêncio no carro. Olho para minha esposa que está sentada a meu lado, ela parece me xingar com os olhos.
JL: Se eu não for lá assinar um papel, não vai dar pra ficar muito tempo longe daqui... To fazendo isso pela gente! - Digo, mesmo Du não tendo falado nada.
Du: Lucas, por favor... - Ela começa a dizer. - Nem pensei em se atrasar!
JL: Vai ser rápido, nessa hora não tem muito trânsito, assino lá rapidinho e encontro vocês no aeroporto!
A: Pensei que você fosse come com a gente... - Meu filho diz.

Me viro para ele e digo:
JL: Lá no Brasil eu vou com vocês, dai a gente aproveita e vai na praia também!
A: Jula? De dedinho? - Ele estende seu mindinho. Eu faço o mesmo e, entrelaço nossos dois dedos.
JL: Juro de dedinho, mas agora tenho que correr!

Saiu do carro e Eduarda faz o mesmo, agora é ela quem vai dirigir. Dou um selinho em minha esposa e quando já estava indo em direção ao elevador, para buscar a chave do outro carro em casa, ela me grita.
Du: Não demora!
JL: Confia em mim! - Respondo alto suficiente para que ela me escute. As portas se fecham e então o cubículo de metal me leva até meu andar.

Os empregados estranham a minha volta, perguntam se esqueci algo, mas eu logo lhes explico tudo. Dei férias para todos, apenas Rose virá uma vez por semana para não deixar a casa muito empoeirada. Após pegar as chaves desço novamente até a garagem, corro pro meu carro e o ligo. Ele vai ficar um bom tempo parado no estacionamento, assim como o que Eduarda dirige, quando voltarmos as baterias vão estar totalmente descarregadas...

Corro o máximo que é permitido e pra minha sorte quase não há transito, na verdade encontro pouquíssimos carros pela rua. Chego na empresa e lá vejo todos trabalhando, mas não acho minha secretária em canto algum.
JL: You saw Paola? - Perguntei a Max, um de meus funcionários, se tinha visto Paola.

Ele responde que ela está no meu escritório então vou até lá. Eu não dei permissão para que entrasse ali, no fundo tenho ciumes da minha cadeira, mal começou e já está se achando...

Abro a porta e a vejo sentada em cima da minha mesa, olhando para as fotos de meus filhos.
P: Tão hermosos, puxaram el padre! - Ela diz, assim que me vê.

Essa é a primeira vez que ela é tão atrevida comigo, nunca dei confiança...
JL: Obrigada, cadê os papeis? - Pergunto, parecendo indiferente ao elogio.

Ela se levanta e vai até o cofre pegar os documentos, tive que dar a senha... Paola me entrega todos eles e, eu me sento para lê-los. Apesar de estar com pressa, nunca assino algo sem saber do que se trata. Ao ver que tudo está certo, começo a distribuir minhas assinaturas, não é 1 e sim vários papeis... E na realidade, eu não me esqueci deles, simplesmente não sabia da existência. Ninguém me avisou...
P: Gracias... - Ela me diz, assim que termino que assina-los.
JL: Magina, eu que agradeço! - Me levanto da cadeira.
P: Não é só por ter vindo aqui assinar, e sim por confiar em mim!
JL: Eu sei que você é competente, que vai fazer o melhor pra Botticelli!
P: Si, yo vou fazer o melhor... Pra provar que consigo, e também pro senhor se orgulhar de mim!

Estranho a conversa e o seu jeito de me olhar pra mim... Paola é uns 5 anos mais nova que eu, tem olhos angelicais mas se veste um tanto quanto inadequadamente.
JL: Boa sorte! - Respondo e caminho até a porta.
P: Espera, quero hablar mais uma coisa com você!
JL: Desculpa, mas eu to com pressa! Preciso chegar no aeroporto...
P: Você no esqueceu, eu que escondi esses papeis de usted! Precisava me despedir, dizer adios. - Ela me abraça. - Vou ficar morrendo de saudades!

Eu a afasto e tento não ser rude.
JL: Acho que você ta confundindo as coisas, não é porque te deixei no comando que gosto de você... Quer dizer, tu é uma ótima funcionaria, mas é só isso! - Me sinto um pouco mal por essas palavras, devem ter a magoado, mas não quero dar brechas para ela nutrir algo por mim.
P: Então sólo porque o senhor é o dono, acha que pode me tratar assim? Me rebaixar?
JL: Não, não to te rebaixando! Só não quero que você pense que pode rolar algo entre a gente, sou casado e amo minha mulher, você é apenas a minha secretária...
P: Yo pensava que era pelo menos amiga... - Ela me olha com raiva. - Mas fica tranquilo, vou cuidar muy bien de tu empresa, faça buen viaje!

Paola sai e bate a porta, fico me sentindo culpado, acho que a humilhei sem querer. Droga, será que sou um carrasco e não percebi? Não queria magoar ninguém, só tento me livrar de qualquer problema aparente.

Guardo os papeis no cofre novamente e saiu da sala, todos meu funcionários estão me esperando, vieram se despedir. Minha culpa passa, acho que sou um bom patrão, eles parecem ter carinho por mim.

Quando consigo sair da empresa corro até meu carro, demorei muito aqui, espero não chegar atrasado. Ligo o automóvel e dirijo em alta velocidade, se eu não correr vou perder o avião. Depois de alguns minutos dirigindo, percebo algo entranho em meu veículo.

Acho que um dos pneus furou... É só o que me faltava, ter que troca-lo justo agora! Paro em um acostamento e ao olhar o estado deles tomo um susto. Dos 4, 3 estão furados!

Não posso troca-los, só tenho 1 estepe... "Mas que merda de vida" Penso, enquanto chuto meu carro com força. Ao fazer isso, logo me arrependo, acho que quebrei algum de meus dedos! Me sento na rua, encostado as costas na lataria do automóvel e tiro meu sapado. Meu dedão dói e parece começar a ficar inchado, que bosta!

E agora? O que faço?

Me levanto do chão mancando um pouco e, ao olhar fixamente para um dos meus pneus vejo um papelzinho grudado nele.

Me abaixo e o pego: Buen Viaje!
JL: Filha da mãe! - Grito.

Nunca duvide da capacidade de vingança de uma mulher rejeitada... Deveria estar com ódio dela, mas a única coisa que penso agora é: O que vou fazer?

Pego meu celular e aperto o botão de desbloqueio da tela mas nada acontece, está descarregado. Hoje definitivamente não é meu dia... Tudo que podia dar errado está dando! Mas também, isso não é azar, apenas a prova de que os celulares de hoje em dia tem tudo, menos uma bateria que preste.

Olho no meu relógio, tenho alguns minutos, será que consigo encontrar um táxi?

Por Eduarda.

Já fizemos o checking e despachamos as malas, mas ainda não entramos no portão de embarque, estou esperando Lucas aparecer. As passagens estão comigo, se eu entrar mesmo que ele chegue a tempo não conseguirá pegar o avião.

Daqui a pouco os portões fecham, não acredito que ele vai fazer isso comigo, conosco... Nossos filhos precisam tanto de seu apoio agora, não quero que eles se sintam trocados, que pensem que aquela é empresa é mais importante que nós. Ele parecia mudado, por que está fazendo isso?

"Confia em mim" Foi o que ele me disse antes das portas do elevador se fecharem... Estou confiando, mas sinto que vou ser decepcionada. Liguei várias vezes pra ele, mas só dá caixa postal!
M: O papai não vem mais? - Minha filha me pergunta.
Du: Eu não sei meu amor, não sei...

Olho pelo aeroporto procurando seu rosto, seus pés correndo pra cá, mas não vejo nada.

"Cadê você Lucas?

Por João Lucas.

Meu pé dói ainda mais, caminhei um bom tempo até encontrar um táxi. Larguei meu carro no acostamento e comecei a correr, felizmente minhas malas ficaram com Eduarda, senão teria que carrega-las também.

Estou suado, cansado, mas o que importa mesmo é chegar a tempo... Se bem que, já estou super atrasado.
JL: Voos atrasam o tempo todo... - Tento me acalmar.
M: What? - "O que?" Ele pergunta.
JL: Nothing... - "Nada..." respondo, mas a verdade é que tudo acontece.

Quando finalmente chego, corro o mais rápido que posso pelo aeroporto, procurando minha esposa. Meu dedo dói cada vez mais, vou precisar enfaixa-lo! Não estou com as passagens, elas ficaram com Eduarda, não posso fazer o checking sem ela.

Será que Du já embarcou? Não vejo nenhum pontinho vermelho no meio da multidão.

Encontro um dos funcionários do aeroporto e lhe pergunto do meu voo: Saiu a uns 5 minutos atrás. Ele responde, em inglês.
JL: Meu Deus, a Eduarda vai me matar... - Sussurro.

Apalpo meu bolso, pelo menos meu passaporte e a carteira ficaram comigo, posso comprar uma passagem para o próximo avião que vá pro Brasil.

O que me preocupa mesmo agora é minha esposa, tenho medo do que Du pensa a meu respeito... Ela sabe que mudei, mas deve estar no minimo, muito chateada.

Começo a andar, ainda mancando, a procurar de uma passagem, até que escuto alguém falando em português: Olha como aquele cara caminha!

Viro minha cabeça para olhar quem diz, e me deparo com duas garotas sentadas no chão carregando seus celulares.

Finalmente vejo uma luz. Vou até elas e digo sorrindo.
JL: Vocês são do Brasil né?
G: Sim... Meu Deus, você fala português, desculpa ter dito do seu jeito de andar..
JL: Dane-se, tudo bem! Será que você pode me emprestar seu carregador? É caso de vida ou morte... No caso a minha morte!
G: Tá, tudo bem!

Ela desconecta seu celular, que felizmente é do mesmo modelo que o meu, e eu plugo meu telefone.

Ligo meu aparelho e vejo várias ligações perdidas, todas de Eduarda. "Ela deve estar uma fera..." Penso.

Há uma mensagem na caixa postal, clico para ouvi-la e logo escuto a voz de minha esposa dizendo.

"Eu to entrando no avião agora, você não apareceu... Tive esperanças até o ultimo minuto, mas pelo jeito a Botticelli empresa é mais importante que a esposa. Pode ficar tranquilo, não estou brava, entendo que tu nunca vai mudar, é mais forte que você! Se tu quiser vir no próximo voo tudo bem, mas senão não faz diferença. Já expliquei pros nossos filhos que as vezes temos que escolher uma prioridade e, que você escolheu a sua!"

Não há um espelho na minha frente, mas se tivesse veria um homem pálido, cansado e, agora muito triste.

Como assim nunca vou mudar? E tudo que eu provei nessas ultimas semanas? Ela esqueceu?

Deixei uma coisa que demorei anos para construir de lado só para poder ficar junto dela, e agora Du acha que não é prioridade pra mim? Não pensou na possibilidade de algo ter acontecido? A única explicação é que eu sou uma pessoa egoísta e que pensa em trabalho o tempo todo?

Pois bem, agora quem está decepcionado sou eu...


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Notas finais do capítulo

Sabe quando você se esforça, faz de tudo pra agradar alguém, para ser melhor pra uma determinada pessoa e, sente que ela não reconhece isso? Então, o Lucas ta tipo assim!
Se os dois se sentem decepcionados, quem vai pedir perdão primeiro?