Sempre te amei. escrita por AnaClaudiia


Capítulo 75
Rip


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Por Eduarda

Nessas duas semanas que se passaram, Lucas realmente cumpriu o que prometeu. Cada dia ele passa mais tempo em casa, sai para trabalhar mas volta na hora certa, as vezes até mais cedo, janta conosco, conta historinhas para nossos filhos dormirem, fica comigo jogando conversa fora e, ontem mesmo ficamos horas no vídeo game.

Nos últimos dias eu venho preparando o terreno para meus filhos, dando a entender que terão mais alguém, que é legal ter irmãos, incentivando-os a ficar mais juntos... Tudo isso para que a notícia seja mais fácil!

Agora os dois estão aqui, sentados na minha frente, preste a saber da chegada de mais um irmão ou irmã. Lucas chegou cedo do trabalho e está do meu lado segurando minha mão. Acho que a reação de Alfredinho será boa, quem me preocupa mesmo é Martinha.
JL: Vocês dois sabem por que os chamamos aqui para conversar?
A: Vai da blonca? - Meu filho pergunta.
M: Bronca por que? Eu num fiz nada, só se foi o Dinho...
Du: Não, não é isso! Nós queremos dar uma notícia pra vocês, uma coisa muito boa vai acontecer!
A: Papai vai leva nós na Disney? - Ele diz animado.
M: Vou ganhar uma new boneca?
JL: Não, é bem melhor que isso! - Meu marido fala com um sorriso no rosto.
M: Você vai parar de trabalhar?

Percebo que ele fica emocionado, Marta deixou claro: Seu pai em casa é melhor que uma boneca nova. Lucas se aproxima de nossa filha e lhe dá um abraço dizendo:
JL: Prometo que vou tirar féria tá?! Ficarei alguns meses só com vocês! Mas não vai ser agora... E isso não é a noticia que temos pra dar!
Du: O que a gente quer contar é que tem alguém chegando para morar conosco. Na verdade, essa pessoa já está nessa sala ! - Coloco a mão sobre minha barriga. - A mamãe já disse que os bebes ficam aqui né? - Eles assentem que sim com a cabeça. - Então, tem um irmão ou irmã crescendo dentro de mim e daqui algum tempo vocês já vão poder conhecer e brincar com ele...

Enquanto falo fico observando suas reações. Alfredinho abre um sorriso e coloca a mão sobre minha barriga, sua irmã porém não faz nada, apenas olha o irmão e em seguida pergunta.
M: Já posso ver TV? - Ela parece tão indiferente com a notícia.
JL: Tu não quer perguntar nada? Tocar na barriga da mamãe?
M: No, eu quero ver TV! - Ela pega o controle da televisão de mais de 60 polegadas, se levanta do sofá e senta de frente para o aparelho.

Sei que Marta quer dizer algo, que pensa em alguma coisa, mas não posso obriga-la a falar.
A: Mamãe, quando que ele chega?

Volto minha atenção para meu filho, ele está com a cabeça sobre minha barriga, talvez tentando ouvir algo.
Du: Vai demorar um pouco!
A: Mais que 2 dias?

João Lucas ri e lhe responde.
JL: Bem mais! Primeiro ele tem que crescer dentro da mamãe, dai quando já estiver maior o médico o ajuda a sair...
A: Legal! - Ele diz.

Dinho faz muitas perguntas, ao contrário de Marta que prefere se calar. Olho para Lucas e ele parece preocupado com ela, tanto quanto eu. Talvez devêssemos leva-la num psicologo, quem sabe isso ajudaria...
Du: Você não quer se sentar no sofá? - Pergunto olhando suas costas arqueadas.
M: Não... - Minha filha responde e então percebo sua voz embargada.

Me levanto e vou até ela, me agacho no chão e ao olhar seus lindos e grandes olhos cor de mel encontro lágrimas escorrendo deles.
Du: Meu amor! - Eu a abraço. - Não chora, vai ser bom ter mais um irmão!

Minha filha passa suas mãos por meu pescoço e me aperta, seu choro aumenta.

Queria entender o porquê, saber o que tanto lhe aflige e trás medo, mas não sei e nem compreendo. Me sinto a pior mãe de todas, eu deveria entender tudo sobre ela.
M: Eu num quero irmão! - Ela diz em meio aos soluços. - Devolve ele mamãe, dá pra alguém...

Olho para Lucas e ele faz sinal de que vai se retirar, essa é uma conversa de mãe e filha, Alfredinho não precisa ficar aqui, isso só confundiria sua cabeça.

Me levanto do chão e levo Marta até o sofá. Ela deita em meu colo e eu faço carinho em seus cabelos até sentir que minha filha está ficando mais calma.
Du: Fala pra mim, o que você tem?
M: Eu disse! Num quero irmão...
Du: Mas por quê?

Ela tira a cabeça de meu colo e se senta no sofá me encarando.
M: Você não ama mais a gente?
Du: Claro que amo! Não é porque vou ter outro filho que vou deixar de te amar...
M: É só 1 né? - Marta aponta para minha barriga. Lembro do dia em que lhe expliquei que seu irmão e ela ficaram aqui, juntos, esperando pra nascer. Minha filha entendeu muito bem.
Du: Eu acho que sim... - Sorriu. - Mas mesmo que forem 2 ou 3, eu vou amar todos vocês igual! Coração de mãe sempre cabe mais um!

Ela me dá um abraço e eu dou um beijo em sua testa. A aperto mais um pouco e sussurro em seu ouvido: "Você e seus irmãos são a coisa mais importante da minha vida!" Ela sorri e fica agarradinha em mim assistindo TV.

Depois de algum tempo Lucas volta e ao ver que a situação está mais controlada trás Dinho para assistir televisão conosco. Felizmente agora não passa Peppa, apenas mais algum desenho bobinho, mas esse é assistível...

A hora do jantar chega então sentamos a mesa e somos servidos pelos empregados. O dia passou voando hoje, rápido demais... Começamos a comer e de repente a campainha toca. Quem será? Deve ser alguém conhecido, nem foi anunciado pelo porteiro... Talvez seja Maria, ela não veio aqui pela tarde como sempre costuma fazer.

Rose abre a porta e vejo Alzira entrando em minha casa, espero minha ex vizinha entrar também mas isso não acontece, a porta se fecha...
JL: Ta tudo bem? - Meu marido pergunta. Ela nunca veio aqui sozinha, sabe que não vamos muito com sua cara.
A: A dona Maria acabou de morrer! - Alzira diz calmamente, como se aquilo não fosse nada.
M: Morrer? - Marta pergunta. - Como assim?
A: Ué? Não sabe o que é isso? Ela deixou de existir, vai dormir o resto da eternidade, foi embora pra sempre! Todo mundo morre um dia Martinha, eu vou morrer, seu pais vão morrer, tu vai mor...
Du: Cala a boca! - Eu a corto.

Meus filhos estão chocados, nós não lhes explicamos sobre isso, eles nunca sentiram a dor de perder alguém, nem mesmo um bichinho de estimação, a morte é um mistério ainda maior para os dois.

Pedimos pros empregados tirarem as crianças da sala e assim que os dois saem começamos conversar com Alzira.
JL: Qual o seu problema? Não vê que eles ainda não entendem...
A: Só falei a verdade, fui sincera!
Du: Sinceridade extrema é maldade! - Eu lhe digo. - Mas dane-se, agora não interessa... Que história é essa? Cadê a Maria?
A: Morreu... - Ela puxa uma cadeira e se senta. - Foi assim do nada! Não sei o que fazer, precisava falar com alguém.

Eu não acredito, ela estava ótima até ontem, como isso pode acontecer... Se bem que, ter uma aparente saúde não é garantia de vida, as pessoas se vão quando menos esperamos!

Me sento novamente e algumas lágrimas descem de meus olhos. Choro por ela, por mim, por meu filhos... Eu já havia lhe contado sobre o novo bebe, Maria estava tão animada com a chegada mais um netinho!
JL: Como foi isso? - Lucas pergunta.
A: Não sei, ela acordou um pouco mal hoje, resolveu ficar em casa o dia todo... Foi dormir quando o sol ainda estava no céu, agora a noite eu fui ver se ela estava precisando de alguma coisa e quando encostei no seu corpo percebi que havia morrido...
Du: Tu nem chamou um médico?
A: Não adiantava mais nada!
JL: Cacete... - Lucas se lamenta. - A gente nunca sabe quando uma coisa dessas vai acontecer, que barra! - Ele olha pra mim. - O que fazemos agora Du?
Du: Temos que providenciar o enterro, avisar a fami... - Corto minha frase ao meio, nós somos a única família dela.
A: Tem mais uma coisa, ela queria ser enterrada no Brasil, do lado dos pais... Vocês podem fazer isso?
JL: Acho que sim, eu não sei que providências tomar mas se esse era o seu ultimo desejo, assim o faremos!
A: O Corpo ainda está lá, você vem comigo me ajudar?
JL: Sim, claro! - Meu marido me olha e dá um beijo em minha testa. - Tu vai ficar bem?
Du: Vou sim, vai lá!

Ele sai e eu fico encaro a comida em cima da mesa, ela não desce mais...

Tenho uma difícil tarefa agora, conversar com meus filhos e lhes explicar o pouco que sei sobre a vida e a consequência dela... A morte.

Assim que chego no corredor que dá acesso aos quartos logo escuto o choro de Marta e Dinho. Meu coração aperta ainda mais, isso será muito difícil! Sigo os soluços e eles vem do quarto de Alfredo.

Abro lentamente a porta e vejo uma cena até bonita: Os dois sentados na cama se abraçando. Um parece consolar o outro... Nessas horas apenas o amor prevalece, eles nem entendem o que estão fazendo, mas estão se ajudando, mostrando que na dificuldade todas as diferenças são postas de lado.

Entro no quarto e fecho a porta, olho os brinquedos espalhados pelo chão, o papel de parede do homem de ferro e, tento pensar em alguma coisa para falar, mas nada me vem em mente.
A: É veldade? Ela não vai volta? - Meu filho pergunta assim que me vê.
Du: É sim Dinho, é verdade! - Digo, caminhando até eles.
M: Mas por que mamãe? A gente fez alguma coisa?
Du: Não, isso é normal... - Tento controlar minhas lágrimas, preciso parecer forte. - Todo mundo vai morrer um dia.
A: Polque? - Ele me encara.
Du: Eu não sei... Não somos feitos para durar a eternidade, não aqui nesse mundo, quer dizer, eu não sei...

É isso! Não sei... Como vou explicar uma coisa que nem eu mesma compreendo? É difícil admitir, mas não posso desenhar e lhes fazer entender tudo!
Du: Tem pessoas que acreditam que esse mundo é passageiro, que a gente vive aqui por um tempo e se formos bons temos uma recompensa, vivemos eternamente em um lugar lindo é tranquilo... Outros pensam que morremos e logo em seguida renascemos em outra vida, com outro corpo, e isso acontece até evoluirmos o suficiente pra ir pro céu. Mas há outros que acham que a terra é o começo e o fim. Aqui nascemos, crescemos, morremos e então tudo acaba!
M: E no que você acredita mamãe?
Du: Acho que na primeira opção, ela é mais fácil, viável, menos dolorida... Além do mais não faria sentido viver a vida toda, passar por todos os problemas desse mundo e no fim virar apenas pó! E outra, me dá um pouco de preguiça só em pensar em nascer e crescer tudo de novo. Viver uma vez só já é complicado demais!

Digo isso e vejo um pequeno sorriso se formar em seus lábios mas ele logo é desfeito, ainda não estão prontos para rir.
A: Eu acledito na plimeira coisa que você falou! Mas eu não quelia que ela fosse embola, vou fica com saudades!
Du: Uma pessoa só morre de verdade quando esquecemos dela e nem sentimos mais sua presença... Vocês são crianças ainda, mas tenho certeza que quando forem grandes ainda vão se lembrar da vovó Maria, aquela que fazia doces caseiros, que assistia desenhos com a gente, que contava histórias... E desse modo, ela continuará viva no nosso coração!

Eles ficam em silencio, talvez digerindo toda a informação. Não é fácil lidar com o que não entendemos.
M: Mamãe, ela foi com o papai do céu né? É isso que quer dizer morrer? - Já havíamos lhe falado sobre Deus, mas as vezes subestimamos a capacidade deles de aprender, não é porque são crianças que não entendem.
Du: Sim, acredito que sim! - Respondo.
M: Mas ela disse que ia me dar uma boneca no meu aniversário! - Minha filha fala olhando pra baixo.
Du: Eu posso comprar pra você!
M: Mas você não é ela mamãe...

Não é um presente que Marta quer e sim o cumprimento da promessa feita! Queria poder tirar toda a dor que vejo em seus olhos e colocar em mim, só para não faze-la passar por isso.

Deitamos na cama de solteiro de meu filho e eu fico ali abraçada com eles até os dois pegarem no sono. Assim que percebo que dormiram profundamente me levanto com cuidado, os cubro, e então me sento em um dos puffs do quarto de Dinho.

Lidar com a vida e a morte no mesmo dia não é fácil nem pra mim, imagina pra eles.

Escuto o barulho de uma porta sendo fechada, Lucas deve ter chegado. Corro até ele e quando vejo seus olhos marejados, sinto os meus se encherem de lágrimas também. No fundo sempre temos esperança de ser mentira, da pessoa simplesmente acordar e dizer que está bem... Mas não, ela realmente se foi.
JL: Me dá um abraço Du?
Du: Eu to precisando tanto quanto você!

É irônico, quando mais apertado um abraço é, mais ele alivia.

Ele me aperta e eu o aperto também, precisamos da força um do outro. Maria havia virado mais que uma amiga! Praticamente uma mãe, uma avó carinhosa e presente... Tudo o que eu não tive.
JL: Eu tenho que providenciar um monte de coisa, o translado do corpo, ligar pro Brasil, avisar o cemitério de lá... - Ele me diz.
Du: Lucas, adianta as suas férias, vamos ficar um pouco lá, o clima não vai estar bom aqui se voltarmos, nossos filhos vão sentir muita falta dela estando nesse país, nesse apartamento...
JL: Não sei, eu precisaria de tempo pra deixar tudo organizado na Botticelli e...
Du: Sério que você ta lembrando dessa droga de empresa nesse momento?
JL: Não Du, não é isso! Mas eu não posso viajar e deixar todos os empregados pra lá, sem explicação!
Du: Ok então, se é assim nem precisa ir! Deixa que eu vou pro Brasil e enterro ela sozinha... Maria não ia querer te atrapalhar nem empatar sua vida! - Digo brava.
JL: Eu não disse que não quero ir! Só to falando que antes tenho que resolver uns problemas... Eu to mudando cada dia mais, to aqui sempre com vocês! Vai brigar comigo por quê?
Du: Desculpa! - Reconheço estar errada. - Deve ser os hormônios ...

Ele sorri e me abraça mais uma vez!

Voltaremos pro nosso Brasil e ficaremos lá por alguns dias, talvez meses... Na verdade, do fundo do meu coração gostaria de voltar a mora lá. Mesmo com todos os problemas que tivemos enquanto vivíamos no Rio, aquela ainda é a cidade do meu coração. Já cansei de me comunicar em inglês e, não to a fim de passar mais um inverno aqui. Maria queria ser enterrada em terras tupiniquins, vamos cumprir sua vontade... Isso é uma coisa triste, não queria estar voltando por esse motivo, mas quem sabe não é um mal que veio pra bem?!


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Notas finais do capítulo

Cansei de NY, Brasil que dá mais ideias!



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