Ela podia sentir a pulsação resistente do garoto se debatendo contra o aperto de suas mãos, isso fechava sua garganta, lhe dava a vontade de vomitar, mas precisava ser forte.

— A culpa é minha, se você morrer a culpa é minha! Não faz isso comigo, eu preciso de você!

As lágrimas de Lydia despencavam no peito de Stiles, ela se curvou sobre o garoto, aproximando seus rostos para se concentrar unicamente no menino. “Vamos, se conecte com ele, Lydia! ”, ordenou a si mesma, desejando sentir a dor que ele sentia, desejando morrer em seu lugar.

— Vamos, por favor. — Implorou e ao desviar os olhos do garoto, se deparou novamente com a faca e percebeu que se ele morresse, só teria uma solução. — Eu não vou ficar sem você, Stiles, se você ... — Ela não teve a coragem de dizer a palavra morte— Eu me mato. Não importa como, nós vamos ficar juntos.

Os segundos passaram em uma lentidão torturante, Lydia esmagava o pescoço ferido do humano, se engasgando com as próprias lágrimas, desesperada. Por mais que tentasse, não conseguia unir a sua mente com a de Stiles, não tinha concentração o suficiente, era impossível manter a calma para conectar-se com ele.

— Eu devia ter deixado você me matar. — Falou para si mesma, tremendo. — Era melhor, eu nunca concordei mesmo com essa droga de plano, eu só pensei que... — O humano arquejou, a coluna saltou do chão e desabou novamente, interrompendo o monologo da menina. — Stiles?

Ela esperou em silencio que de alguma forma, ele respondesse, se recuperasse, mas em vez disso, a pulsação contra seus dedos gelados, parou. A veia que se contorcia no pescoço do menino, desistiu de lutar, deixando Lydia paralisada, sem acreditar no que tinha acontecido.

— Não! Não! Stiles, você não pode morrer! — Ela berrou as palavras, ainda segurando o pescoço do garoto. — Você não pode me deixar dessa forma!

Contrariando suas palavras, Lydia sentiu sua garganta se espremer e um calor devastador subiu de seu peito, rasgando-a por inteiro e esse fogo, insuportável, que fez sua cabeça latejar, só se dissipou através de seus lábios, onde surgiu um grito agoniado, alto, desconcertante.

Ela não queria gritar, não queria sentir aquilo, mas seu coração desobediente estava acelerado, sua pele transpirava, as pupilas se contraíram. O grito que escapou, previu a morte do humano que tanto amava.

— Não! Outra pessoa vai morrer, é outra pessoa, não é você, meu amor, vai ficar tudo bem. — Foi o que ela disse, apesar de não acreditar nas palavras, arfando.

Lydia finalmente soltou o pescoço de Stiles e colocou a mão em seu peito.

Nada.

Nenhum batimento.

Sem desistir, a Banshee segurou o pulso do garoto, na esperança que o nervosismo a impedisse de sentir seu coração.

Nada novamente.

A mão tremula, suja de sangue, foi abaixo das narinas do humano, buscando sentir o ar saindo de seus pulmões.

Nada.

Stiles Stilinski estava morto.

***

Scott McCal

Abri os olhos e encarei o teto escuro do meu quarto.

Fiquei paralisado na cama, confuso, meu corpo tremia e eu não podia controlar esses espasmos, minha cabeça doía e eu estava completamente sem sono, sentindo meus músculos rígidos como se tivesse acabado de correr uma maratona.

Acendi a luz do abajur e encarei o relógio, três da manhã, mas que diabos está acontecendo?

Uma dor repentina, aguda, atingiu o centro de minhas costelas, sem esperar por aquilo, gritei. Sentei na cama, arranquei a blusa e procurei alguma ferida em meu tronco, mas não tinha nada, apenas a dor excruciante.

— Scott, o que aconteceu? — Isaac, que dormia no quarto ao lado do meu, entrou assustado. — Está tudo bem?

— Tem alguma coisa errada, aconteceu alguma coisa.

Arfei. A dor caminhou por meus órgãos, atingiu meu estomago, alcançou meu peito, subiu pelo pescoço, se tornou insuportável na cabeça, junto com um presságio aterrorizante, era como se tentassem arrancar uma parte de meu corpo, como se alguém tentasse me esquartejar.

— Ei, cara, calma, fica calmo, você está quase se transformando. — Isaac se abaixou a minha frente e com dificuldade, fiquei de pé, cambaleando tonto pelo quarto. — O que você está sentindo?

— Dor, muita dor. — Respondi sem folego, grato por minha mãe estar de plantão e não ter que presenciar aquilo. — Aconteceu alguma coisa!

— Como assim, Scott? — Só parei de andar, com a cabeça baixa, quando tombei com Isaac, que já estava parado bem a minha frente— É algo com a Kira? Ela falou alguma coisa?

Kira. Meu estomago se revirou com aquela possibilidade, eu odiava não estar a cada segundo perto dela, para a defender, para ter a certeza que nosso bebê estava bem, mas não, de alguma forma, eu sabia que nada tinha acontecido a ela.

— Às vezes, se algo acontecesse com alguém da alcateia, eu sinto.

—Sim, porque você é o Alfa e sente para poder proteger quem estiver em perigo. — Sentia a incerteza na voz de Isaac, mas a dor era tão forte, que tornava minha visão nublada e não podia sequer enxergar sua expressão.

— É mais do que isso, eu sou ligado as pessoas do meu bando.

Uma nova dor me atingiu, gritei novamente e senti minhas pernas cedendo, desabei de joelhos no chão. Lágrimas começaram a despencar dos meus olhos, mas não era por causa da dor, era algo pior, algo que me dava ânsia de vomito, fazia meus órgãos saltarem dentro de mim.

— Scott!

—É como se tivessem me deixando, como se fosse interrompida a ligação! — Tentei explicar, mas era impossível descrever a sensação insana, como se algo fosse arrancando do centro do peito, como se tirassem uma parte de mim. — Eu já senti isso antes, Isaac!

— Quando? — Senti os braços do garoto, me colocando de pé e me arrastando até a cama.

— Quando a Allison morreu.

Bastou eu dizer aquelas palavras, que surraram meu coração, ao lembrar da minha caçadora, meu primeiro amor, que um clique surgiu na minha mente. Era isso, alguém estava morrendo, eu estava perdendo alguém.

Não podia ser simplesmente isso, mesmo com alguém da alcateia morrendo, a dor física não seria tão desesperadora, a não ser que fosse como quando Allison morreu, alguém extremamente próximo a mim, que eu amasse mais do que qualquer coisa, que tivesse no centro da minha vida.

— Stiles! É o Stiles, nós precisamos ir agora até a casa da Lydia!

Algo aconteceu com meu irmão.

***

Terceira Pessoa

Lydia Martin só conseguia berrar e forçar as mãos contra o peito de Stiles, em uma massagem cardíaca insistente, despejando o ar em sua boca inerte, querendo obrigar que seu coração e pulmão voltassem a funcionar.

Foi só assim, sem ter outro pensamento que não fosse Stiles, que ela sentiu a conexão se estabelecendo, mas a garoto não possuía nenhum sentimento, nenhum pensamento, então, a mulher foi invadida por um vazio infinito, uma escuridão eterna, que paralisou seus movimentos e a derrubou no chão.

A Banshee, sentindo o peso da morte de Stiles sobre sua mente, convulsionou no chão, completamente consciente, mas sem controle do corpo que se debatia furiosamente e em pleno desespero, sem poder se mover por escolha, com o peito afundado em uma tristeza indescritível, ela sentiu o humano que amava, ser preenchido.

Lydia sentiu seu pescoço abrindo, exatamente como o de Stiles, a invadindo com uma dor lenta, a torturando, mas no exato momento que começou a sangrar, sentiu não somente Stiles ser invadido, mas ela própria.

Os pensamentos do Stilinski voltaram repentinamente, ele berrava em sua mente e seu grito, inundou a mente da Martin, mas antes que ela entendesse o que acontecia, antes que compreendesse o que era aquela força que se esticava dentro dela e a aprisionava aos poucos, já era tarde demais.

Stiles voltou a vida, mas sem conseguir controlar o corpo, sem conseguir dominar a cabeça com os próprios pensamentos, ele voltou somente por uma força sombria, pelo demônio que tanto o atormentava, ele voltou, para mais uma vez, ser aprisionado em vida.

Lydia, que cometeu o grave erro de se conectar com Stiles, estava completamente exposta quando o espirito imundo invadiu o namorado e assim, os dois, juntos, foram preenchidos pelo demônio, que forçou lugar em suas mentes fracas demais para lutar. Eles estavam tão vulneráveis, que não conseguiram reagir, não conseguiram impedir, apenas assistiram, impotentes, perderem a liberdade, o controle.

Nogitsune os possuiu e por um breve segundo, os olhos do casal se fecharam, seus corpos ficaram inertes e no instante seguinte, em um movimento quase robótico, eles levantaram o tronco em uma sincronia assustadora.

Os olhos castanhos e os verdes, se exibiram e se encararam, mas não tinha nenhuma expressão em seus rostos, eram apenas marionetes que se debatiam internamente, sem conseguir sequer se comunicar um com o outro.

As duas bocas, obedecendo os comandos do Nogitsune, se abriram e proferiram, juntos, a mesma fala, com suas vozes baixas, mortas.

— O caos está de volta.