Stiles dormiu por menos de uma hora.
Lydia começou a falar durante o pesadelo conturbado, repetindo a palavra "não" por diversas vezes, o que deixou completamente desperto.
O garoto segurou a mão da namorada e começou a beija-la, passando os lábios por cada um de seus dedos e indo até a palma, enquanto fazia um carinho em seu ombro, tentando a tranquilizar.
Depois de alguns minutos, Lydia se aquietou na cama e parou de falar, o que ele considerou um bom sinal. Mesmo assim, foi incapaz de dormir, permaneceu acordado, olhando a menina, sentindo algumas lágrimas surgindo.
Quando seu celular começou a vibrar, considerou a ideia de não atender. Afinal ainda era muito cedo e seus amigos sabiam que ele estava hospital, mas quando viu o nome de Scott na tela, atendeu imediatamente.
— Oi— Ele cumprimentou baixo para não atrapalhar Lydia.
— Oi! E-eu não sei como dizer, o que vou fazer, mas eu estou tão feliz, eu...— Scott claramente se atrapalhou com as palavras e estava tão nervoso e feliz ao mesmo tempo, que não percebeu a tristeza na voz do amigo, se esquecendo momentaneamente de Lydia no hospital.— Eu vou ser pai, Stiles!
O garoto não respondeu, a garganta subitamente fechou. As lágrimas, que eram poucas, aumentaram sem que pudesse controlar.
— A Kira está grávida! Era por isso que estava estranha, da para acreditar? Eu não sei como vou falar com minha mãe, estou tão nervoso, ainda não estou raciocinando direito.— O lobisomem falava se atropelando no que dizia, tinha acabado de sair da casa de Kira, ainda estava na frente da porta da garota, até que com um "clique" em sua mente, ele percebeu o silêncio de Stiles e lembrou de Lydia.— Stiles? Está tudo bem?
— Oi.— Falou sem ar, as mãos largaram a namorada e agora ele batia os dedos contra as pernas, desviando os olhos para todo quarto, aflito.— Ela ficou estéril, Scott, o útero foi rompido.
— Oh meu Deus! Stiles, me perdoa, se eu soubesse...
— Está tudo bem.— Mentiu e respirou fundo, tomando coragem para encontrar a voz— Eu vou ajuda-lo, não fala com a Melissa antes de conversar comigo, se não vai acabar falando besteira. Vem aqui para o hospital e eu penso com você.
— Mas Stiles, você...
— Você é meu melhor amigo e essa vai ser a coisa mais importante da sua vida, é o que importa.
— Eu amo você.
— Eu sei, Scott. — Falou apesar de desconcertado, o amigo não era de demonstrar com palavras o afeto daquela forma— Eu estou muito feliz por você. — E aquelas palavras, antes de se despedir e terminar a ligação, foram completamente sinceras, apesar da dor escruciante que o atingiu.
O humano não queria sair e deixar Lydia sozinha, mas não conseguia respirar. O desespero que sentiu na hora que a doutora falou que a menina estava estéril, voltou com uma força insuportável e dessa vez, não tinha por quem ser forte, já que a namorada dormia profundamente, graças a quantidade de remédios.
Suplicando internamente que a Martin não acordasse, saiu cambaleando do quarto, ele só precisava tomar um pouco de ar.
— Stiles! Ei, como você está? Ninguém quis dizer o estado de Lydia. — Era a voz de Derek.
Stiles virou em direção ao lobisomem, com o rosto abatido e desolado.
— O que...— Derek suspirou no meio da frase e foi até o garoto, agarrando seu braço. — Vamos dar uma volta.
— Não, L-lydia, ela não pode ficar sozinha.
— Callie, pode ficar um pouco com a Lydia? — O lobisomem disse para a caçadora que o humano nem tinha percebido que estava ali.
— Claro!
— Vem.— Assim que Callie respondeu, Derek não deixou Stiles dizer nada.
Assim que saíram do hospital, Stiles começou a chorar de verdade, lutando para controlar, mordendo a boca, envergonhado, mas não conseguiu.
— Não tenta prender, Stiles. — O homem forte e imponente, surpreendeu o garoto magricela, quando o abraçou. — Aqui você pode chorar, não tem ninguém vendo, não precisa ser forte comigo.
E então, Stiles desabou. Toda armadura, que criou para o bem estar de Lydia, desapareceu, ele simplesmente desmoronou nos braços amigos e deixou que o choro preso fluísse livremente.
Derek não perguntou o que aconteceu, apenas sustentou o corpo do garoto e não o soltou do abraço, aproveitando o contato para tirar a dor presente em cada músculo do menino, que nem sequer percebia a dor física, concentrado apenas no quebrar de seu coração.
— Eu preciso beber. — O humano disse repentinamente, se afastando de Derek, sem coragem de encarar seus olhos, constrangido.
— Você por acaso tem idade para beber?
Stiles olhou emburrado para Derek, se surpreendendo novamente ao perceber que ele apenas aliviava o clima com uma provocação boba.
— Eu vou comprar para você. O que vai querer?— Completou com uma expressão suave, fazendo Stiles agradecer internamente por não ter que comprar de forma ilegal.
— O mais forte que encontrar.
Assim, andaram em silêncio pela rua, em busca de um lugar que vendesse bebidas alcoólicas. Stiles, com o rosto vermelho e inchado de tanto chorar e Derek, com um olhar preocupado em sua direção.
Assim, compraram a bebida e cambalearam até achar algum lugar para o menino beber.
— Ela ficou estéril.— Só teve coragem de dizer, ao desabar no banco de uma rua completamente deserta.
— Eu sinto muito. — Apesar das palavras aparentemente vagas, a sinceridade transbordava de tal forma, que reconfortou Stiles.
— E Kira está grávida, Scott me ligou, contando. Não sei como Lydia vai reagir quando souber. — Novamente, Stiles ignorou a própria dor que sentia e Derek arregalou os olhos, mas decidiu se preocupar mais tarde com o pensamento do que surgiria na mistura de uma Kitsune com um Alfa Genuíno.
— E como você está?
— O pior possível.
Stiles pronunciou um palavrão quando não conseguiu abrir a garrafa da bebida e Derek, imediatamente, abriu para ele.
— Sempre quis saber se realmente ajuda ficar bêbado.
— Lobisomens não conseguem né?
Derek concordou e novamente Stiles xingou com um riso sem humor e derramou a bebida na garganta, sentindo o fogo descer até seu estômago. Fez uma careta pelo sabor em sua língua, mas sorriu logo em seguida e mesmo sabendo que não faria efeito para o Hale, ofereceu a garrafa para ele, que aceitou.
Permaneceram ali por um tempo indeterminado, cada um bebia um gole, fazia uma careta e passava a garrafa para o outro. Para Derek, não fazia diferença, a não ser pela sensação desagradável na garganta, mas para Stiles, pareceu fazer efeito, já que começou a rir sem nenhum motivo aparente.
— Acho que já está bom para você, Stiles. — Derek murmurrou, arrancando a garrafa das mãos do garoto, antes que ele decidisse tomar tudo.— Tem que estar sóbrio o suficiente para ficar com Lydia, lembra?
Ele respondeu algo incoerente que Derek julgou como um sim. O lobisomem ajudou o humano a andar em linha reta e só então, se perguntou como deixariam Stiles ficar com Lydia naquele estado.
— Derek, Stiles!— Scott chamou assim que eles cruzaram a porta do hospital, o lobisomem abraçava Stiles de maneira desajeitada.
— Você deixou ele beber?
— Olhe para ele, Scott, não achei que teria problema deixar ele esquecer um pouco o que passou.
Stiles riu em resposta, encarando os amigos e o Alfa deu um suspiro derrotado. Era muita coisa para o humano absover e apesar de ter certeza que Stiles ia conseguir suportar tudo, também sabia o quanto seria doloroso quando deixasse de se preocupar somente com Lydia e tivesse que encarar a volta de Malia, invadida pela morte.
#Abertura#
Lydia foi liberada do hospital somente uma semana depois, pois os médicos queriam ter a certeza de que ela estava bem não somente fisicamente, mas que era capaz de se manter emocionalmente estável, sem precisar da ajuda de sedativos.
Stiles passou todos os dias dormindo no hospital, no quarto com a Banshee, mas foram os pais da garota que a levaram para casa e apesar do humano estar aflito para vê-la, ele estava no quarto de Scott, encarando o garoto.
— Scott, faz uma semana que você sabe da gravidez, precisa ter coragem e falar logo com sua mãe.
— Eu sei, é só que...
— Ela vai enlouquecer.
O lobisomem concordou, encarando as olheiras enormes de Stiles e se perguntando como ele tinha coragem de estar o ajudando e ouvindo tudo sobre a gravidez de Kira, ignorando as proprias lágrimas que surgiam em seus olhos toda vez que conversavam sobre aquilo.
— Vai ajudar se eu ficar do seu lado?— O humano tentou novamente.
— Talvez.
Stiles respirou fundo, agarrou os ombros de Scott e precisou o empurrar para fora do quarto, obrigando o amigo temeroso a descer as escadas e ir até a sala, onde Melissa estava deitada no sofá.
— O que aconteceu agora? — A mulher perguntou assim que viu a expressão culpada dos meninos. — Vocês fizeram alguma coisa?
— Eu não, Scott fez sozinho, quer dizer, ele e...
O lobisomem socou a costela do garoto para que parasse de falar e ele gemeu em resposta, empurrando as costas de Scott com uma expressão indiguinda.
— Fala então, senhor coragem.
— Scott.— A mãe já estava de pé, a expressão séria e desconfiada na direção do garoto.
— E-eu meio que, sabe, hum... — Ele não sabia como dizer e encarou Stiles em um pedido mudo de socorro.
— Foi estúpido e não usou camisinha?— Assim que Stiles respondeu, com a sobrancelha levantada em sinal de desafio, Scott se arrependeu amargamente de ter aceitado a ajuda dele.
— Como assim não usou camisinha? Olha se você veio falar da sua vida sexual, eu realmente não quero ouvir, a não ser que você tenha contraído uma...
— Não, não! Mãe não é nada disso!— Scott praticamente gritou, completamente constrangido.
Stiles, por sua vez, tinha um sorriso sacana no rosto, parecendo satisfeito com a situação constrangedora.— É que Kira, ela meio que, sabe, está grávida.
O rosto de Melissa passou por vários estágios. Ficou pálido, vermelho, roxo, a expressão mudou de surpresa, incredulidade, raiva, emoção e choque.
— Grávida?— Foi a única coisa que falou.
— Parabéns vovó, está prestes a ter um netinho meio raposa, meio lobisomem!— Após o comentário provocativo de Stiles, o silêncio durou por alguns minutos e então, Melissa surtou.
A enfermeira gritou, brigou com Scott, brigou com Stiles, chorou, abraçou os dois, falou um discurso sobre como o filho foi irresponsável e sobre como precisaria amadurecer, disse as dificuldades de ser pai e de assumir uma criança. Perguntou sobre Kira, sobre como estava a gravidez e depois teve consciência que seria avó.
— Eu sou muito nova para ser avó!
— Não mais do que ele para ser pai — Scott lançou um olhar mortal para Stiles, que forçou uma tosse, percebendo que estava piorando a situação — Eu também não consigo me imaginar sendo tio.
— Tio?— O lobisomem falou, ele não tinha pensado no que Stiles seria.
— Claro, você é meu irmão, certo? O mínimo que eu mereço ser é tio e padrinho.
Ambos os Mccal conseguiram sorrir com a fala do menino, que mesmo que momentaneamente, foi capaz de esquecer as preocupações ao pensar no bebê que estava por vir.
***
Stiles chegou ao quarto de Lydia com várias sacolas na mão e um olhar preocupado. A menina estava com o cabelo molhado, vestindo apenas um conjunto de sutiã e calcinha rendados, em frente ao armário, quando o garoto entrou sem bater.
— Desculpa, sou eu.— Ele disse inseguro após a menina se assustar.
— O que é tudo isso?
— Comprei algumas coisas para você.
Lydia ficou claramente curiosa, andando até o garoto, olhando para as sacolas em suas mãos, sem perceber que Stiles se controlava para não ficar encarando seu corpo.
— Primeiro, veste isso. — De uma das sacolas, Stiles tirou uma camisola cinza, extremamente curta, com um gatinho branco na altura do peito.— Pensei que podia gostar, é fofo.—A Banshee sorriu em resposta, colocando imediatamente a camisola. — Comprei três livros grandes e entediantes que com certeza você vai amar, chocolate, passei no fast food para gente comer agora e o mais importante — Stiles fez uma parada estratégica, para fazer suspense — Trouxe meu vídeo game com meus jogos favoritos e todos os filmes de Star Wars.
— Ual! Era tudo o que eu queria!— Stiles fechou a expressão com a ironia de Lydia, que encarava tudo o que o garoto trouxe e espalhou por sua cama.— Eu estou brincando, Stiles.
O garoto fez um bico e a menina revirou os olhos, puxou o rosto do humano e o encheu de beijos, passando a boca repetidas vezes por suas pintas até que ele começar a rir e a empurrar com delicadeza.
— Você é muito bom para mim, Stiles. Eu não ia conseguir enfrentar tudo isso sem você.— O garoto apenas a abraçou e beijou o topo de sua cabeça.
— Vamos comer, você está ficando muito magra!
Assim, os adolescentes sentaram na cama e comeram com satisfação o sanduíche enorme, as três porções de batata frita e um litro de refrigerante. Depois de uma semana comendo as refeições sem sabor do hospital, os dois engoliram com voracidade a comida gordurosa.
— Só para você saber, eu vou dormir aqui até você ficar bem, já falei com meu pai e ele concordou na hora.
— Tudo bem — A garota concordou, sabendo que precisava dele — Mas eu não quero ir para escola e de qualquer forma, já tenho nota para passar, mas você não vai faltar nenhum dia e precisa seguir sua vida, não vai parar tudo para ficar comigo. — Stiles abriu a boca para falar, mas Lydia o impediu— Eu também preciso de um tempo sozinha e você precisa se distrair, então só vai passar a noite aqui.
— Mas eu quero ficar com você.
— E eu não vou deixar que sua vida gire em torno de mim, eu vou ficar bem sozinha.
— A minha vida já gira em torno de você, sempre girou. — Ele sussurou e Lydia não soube o que responder— Eu preciso falar uma coisa para você.
A garota abandonou o resto da batata frita e o encarou, com os olhos verdes atentos e preocupados.
— Não quis dizer enquanto você estava no hospital. Queria esperar até que estivesse um pouco melhor — Ele observou a menina, como se esperasse que ela concordasse que estava melhor, mas Lydia não disse nada e as olheiras em seu rosto o lembraram dos momentos horríveis que passou com ela no hospital — Kira está grávida.
— Ah!— A exclamação soou seca e rapidamente Lydia desviou o olhar— Há quanto tempo você sabe disso?
— Pouco depois que você acordou da cirurgia.
— Eles estão bem? Scott está feliz?
— Sim, ele está muito nervoso, mas feliz, eu o ajudei hoje a contar para Melissa e Kira está muito preocupada com tudo, ainda não a vi depois que soube disso.
Lydia concordou com a cabeça e apesar de não querer, um sentimento egoísta brotou silenciosamente nela e a única pergunta que teve foi "por que não podia ser eu?", não era justo que na mesma época que descobriu que nunca seria mãe, Kira engravidasse.
— É muito egoísta se eu disser que ainda não consigo ficar feliz por eles?
— Não, Lydia, está tudo bem. Scott nem acredita que estou o ajudando e você não precisa vê-los até que esteja pronta.— Stiles abraçou a namorada, que se encolheu em seus braços — Você vai se recuperar, é forte o suficiente para isso e quando perceber, já vai sorrir com a possibilidade de um bebê Mccal.
A garota não respondeu, só choramingou, jogando todo o corpo por cima do de Stiles, agarrando sua blusa e ajeitando a cabeça em seu ombro.
— Eu estou aqui com você, vai ficar tudo bem.— Lydia dormiu com os sussuros de consolação de Stiles, agarrada a ele, recebendo beijos no cabelo e carinho nas costas.

Stiles Stilinski
Estava no último tempo de aula, o professor explicava alguma conta, reclamando com os alunos que não prestavam atenção. E eu? Nem sequer tinha ideia de qual era a matéria, apenas encarava meu celular, esperando uma resposta de Callie.
" Vem depois da aula ", sorri quando finalmente recebi a resposta e logo em seguida, a caçadora enviou uma carinha piscando que eu respondi com um " Ok" e um sorriso.
— Lydia está bem? Ela faltou a semana toda, não veio hoje e você está com essa cara de acabado.— Assim que tocou o sinal, sai depressa da sala e me deparei com Emily.
— Está. — Menti com facilidade e Lily estreitou os olhos.
— Você está me escondendo alguma coisa, Stilinski.
— Desculpa, eu só, realmente não quero falar sobre isso.
Ela não ia desistir facilmente. E como se lesse meus pensamentos, Emily segurou meus braços, me fez ir para um corredor menos movimentado e me encarou com um olhar que eu conhecia muito bem.
— Eu ainda sou sua amiga, não sou?— Concordei com a cabeça — Então não entendo porque está tão estranho, é quase como se fosse outra pessoa, Stiles. O que aconteceu com você?
— Muita coisa.— Falei desviando o olhar, eu realmente queria que Lydia não tivesse me obrigado a ir todos aqueles dias para a escola, tive que ir até mesmo na semana que passou no hospital.
— Por que você não fala para mim? Eu posso ajudar, Stiles, mas você só fala coisas confusas sobre perca de memória, uma mulher que aparece do nada e agora está assim, com olheiras enormes, calado e essa tristeza no olhar.
— Desculpa, Lily, mas dessa vez você não pode me ajudar, ninguém pode. — Antes que ela falasse novamente, abracei a garota de olhos castanhos, sendo preenchido por uma nostalgia da época que a ignorância me protegia do mundo sobrenatural e eu podia falar tudo para Emily.— Eu amo você, ok? E falaria se pudesse.
— Só quero que fique bem novamente, sinto falta do velho Stiles.— Quando ela disse aquilo, senti meus olhos arderem, eu tinha que sair antes que chorasse. Estava cansado de chorar.
— Eu também sinto.— Falei completamente sincero— Preciso ir, tenho um compromisso.
Emily suspirou, mas não disse nada, me soltando do abraço e beijando meu rosto.
— Até mais, Stiles.
No Jeep coloquei uma música qualquer do rádio, tentando calar meus próprios pensamentos e dirigi até o loft, prestando atenção apenas na estrada a minha frente.
— Oi.
— Stiles! — Callie respondeu meu cumprimento receoso com um sorriso enorme.— Você está nervoso.—Concordei rindo um pouco e entrei no loft.
— Mesmo dizendo que já treinei, eu não lembro.
— Mas seu corpo lembra, vai ser fácil!
— Só quero ver.
— Você estava indo muito bem, Stiles. — Olhei incrédulo para Derek, que entrou no cômodo com um sorriso estranhamente amigável.
— O Hale está mesmo me elogiando ou estou tendo uma alucinação?
— Comigo ensinando, é claro que você está se saindo bem.
— Ok, professora, então me ajude a lembrar.
— Eu vou falar o básico enquanto Sabrina não chega.
— Vocês têm o costume de se reunirem para me ver passar vergonha?— Callie riu tão abertamente, que ponderei se tinha acertado na minha teoria.
— Não, seu bobo, ela é sua principal parceira de treino, já que também está aprendendo a lutar.
Quando Derek sentou no sofá com uma expressão interessada e Callie começou a demonstrar alguns movimentos que, segundo ela, eu já tinha aprendido, precisei lembrar a mim mesmo o motivo de ter perguntado para a caçadora se podíamos voltar a treinar.
Lydia estava completamente fragilizada e indefesa, a morte certamente voltaria a atacar, Scott estava girando em torno de Kira e isso nos tornava mais expostos, eu não podia ser um peso morto.
Enquanto Callie demonstrava, eu fiquei calado e parado, observando, tentando ter alguma lembrança, querendo obrigar a minha mente a ter algum flash como tive quando sangrava e sabia que era por causa da Lydia e lembrei dela me orientando em como nos conectar.
Esse era outro motivo para treinar, tinha esperanças de ter alguma lembrança, além de é claro, tentar me distrair dos únicos pensamentos perturbadores que rondavam minha cabeça: Nogitsune, Malia, Morte e minha Lydia estéril.
Eu ia enlouquecer se não fizesse nada para me distrair.
— Você está bem, Stiles?— Só percebi que Callie tinha parado de se movimentar e me observava, quando falou comigo.
— Sim, estou ótimo.— Respondi automaticamente.
— Não preciso nem escutar seu coração para saber que está mentindo.— Derek comentou com um suspiro que fez com que eu o olhasse.
— Eu preciso estar bem por Scott e por Lydia, então vou ficar.
— Mas não precisa ficar bem perto da gente, sabe disso né?
Concordei com a cabeça, atordoado com a doçura na voz de Callie que falou quase as mesmas palavras de Derek no hospital, quando pude chorar e me lamentar com ele.
— Se quiser que eu compre uma bebida é só falar. — Sorri com a ironia de Derek.
— Eu realmente amo sua namorada, ela deu um jeito em você.— Callie riu e me abracou, passando os braços por meu pescoço.
Ela me deu um beijo estalado no rosto que foi completamente inesperado. Senti meu rosto corar de vergonha, mas tive a sorte de Sabrina entrar pela porta do loft segundos depois.
— Oi, meninos. — Assim que ela cumprimentou, escapei dos braços de Callie, levemente desconfortável.
Sorri para a garota de cabelos curtos, nós tínhamos nos visto poucas vezes na última semana e ela estava claramente preocupada comigo após todos os acontecimentos, então sempre que me via ela sorria daquele jeito doce e me analisava como se buscasse em meu rosto algum sinal de tristeza.
— Seja delicada comigo, não esqueça que eu perdi a memória. — Foi a única coisa que murmurei, feliz por algo leve para me preocupar e para preencher a minha mente, me distraindo de meus verdadeiros problemas.
— Estava com saudades de treinar com você.
E assim, depois de Sabrina rir, me abraçar e Callie dizer mais algumas coisas, a caçadora e o Hale sentaram em lados opostos, como se para analisarem em diferentes ângulos e Sabrina e eu ficamos no centro da sala.
Eu não sabia o que fazer, meu coração estava disparado e me sentia desconfortável por saber que estavam me observando.
Você já fez isso, Stiles. Seu corpo lembra, é só relaxar.
Observei Sabrina, ela parecia tranquila e não fez mensão de se transformar, permaneceu com o mesmo olhar doce e o rosto de traços delicados.
Fechei os olhos.
Vamos, Stiles, esvazie a sua mente, não pense em nada.
Por um segundo, Malia invadiu minha cabeça, seu corpo decomposto e os olhos negros, mas não permeti que me perdesse naquela lembrança, pois todas as vezes que deixei aquela imaginava horrenda em minha mente, chorei descontroladamente e precisei ficar trancado por horas no banheiro do hospital, para poupar Lydia do meu sofrimento.
Apertei as mãos em punho, respirei fundo diversas vezes e ocupei meus pensamentos na adrenalina que escorria de meu peito, pingando lentamente para meus membros.
— Podem começar. — Callie falou aquilo e mais algumas palavras que não distingui.
Abri os olhos.
Os olhos de Sabrina brilharam em um dourado vívido e um rosnado desafiador saiu de sua boca, onde surgiu enormes presas. Pelos surgiram em seu rosto e os traços delicados se tornaram animalescos, de suas mãos surgiram garras encurvadas.
Por algum motivo, não tive receio. Esperei que ela atacasse, o que aconteceu segundos depois, quando a garota saltou em minha direção e então, meus braços se moveram por instinto.
Agachei e ergui as mãos para frente, segurando a cintura de Sabrina e impulsionei meu corpo na direção dela. De alguma forma, me lancei para o lado oposto, de maneira que em vez dela me alcançar, rosnou para a parede.
Escutei a risada grave de Derek e não pude evitar de sorrir, o que foi um grave erro, pois com minha distração mínima, a garota conseguiu tacar meu corpo contra o chão. Eu sabia que ela estava controlando sua força, mas ainda assim, o baque da minha cabeça foi dolorido.
Terceira Pessoa
A luta seguiu por alguns minutos.
Stiles tinha movimentos lentos e um pouco atrapalhados, mas a inteligência era a seu favor. Ele parecia saber como se defender, previa os movimentos da garota, que era assustadoramente forte, até mesmo para uma lobisomem e lutava com os instintos.
O humano foi arremeçados diversas vezes, era jogado no chão, o que provocava risadas de Derek e conselhos de Callie, mas quando Stiles conseguia se defender e fazia Sabrina agarrar o ar, bater na parede ou até mesmo cair, o Hale fazia algum comentário irônico, que o garoto sabia que era sua forma de apoia-lo.
Sabrina mobilizou Stiles e sorriu abertamente, o que ficava macabro devido suas presas. O humano suspirou frustado, encarando os olhos dourados que permaneciam doces e racicionou rapidamente o que faria.
Por uma fração se segundos, o menino tentou pensar em como se soltar, mas então, seus olhos ficaram subitamente opacos, sem vida.
O movimento seguro e forte do braço de Stiles foi completamente diferente da maneira que aprendeu a lutar.
Sabrina tentou se desvencilhar, mas quando deu por si, a mão grande de Stiles já estava agarrada ao seu pescoço. Ela pensou em rir e parabenizar o garoto, mas quando encarou a expressão vazia entendeu que tinha algo errado.
Callie e Derek demoraram um pouco mais para perceber que tinha algo estranho, até Stiles erguer Sabrina, a tirando do chão com a força de apenas um braço, os dedos se enroscando em seu pescoço.
Callie foi a primeira a chegar ao garoto, mas ele nem sequer virou, apenas usou o braço livre para atingir a mulher com uma força tão descomunal, que nem ela foi capaz de se defender.
Derek foi agarrar a nuca de Stiles, na intenção de puxa-lo para longe, mas antes que conseguisse encostar no humano, ele desabou.
Sabrina caiu no chão juntamente com Stiles, ela assustada, respirando com dificuldade e ele, apagado.
— Stiles! — Derek gritou o nome do humano, se agachando perto dele, de modo que conseguiria o parar se necessário. — Stiles!
Os olhos do garoto tremiam e ambos as meninas estavam caídas no chão.
— Acorda, Stiles. Acorda! — O lobisomem já tinha ouvido o garoto repetir aquela frase como se fosse uma espécie de mantra e realmente esperava que ele voltasse a si com aquilo.— Acorda, Stiles!
Somente quando gritou, a voz firme e desesperada, que o humano abriu os olhos.
Ele olhou confuso para a expressão de Derek, virou a cabeça para os lados e logo em seguida, riu, parecendo constrangido.
— Sabrina me deu um surra não foi? Acho que bati a cabeça muito forte, nem lembro como cai.