Acordo cedo no sexto dia em que estou na capital, Neithan aparece no meu quarto me avisando que hoje será o dia mais importante antes dos jogos, a entrevista com Ceasar. Ele parece preocupado comigo e eu realmente sinto um enorme carinho ao saber isso. Ele diz que vai passar o dia inteiro comigo e com Chady para me treinar para a entrevista.

– Mas e Erick? – eu pergunto – não vai treiná-lo?

– Erick se vira bem meu docinho – ele disse com um sorriso tímido para mim – e além do mais se eu não ensino-a a andar de salto e a ter bons modos quem mais ensinará? Esse seu mentor que não sabe nem mesmo como usar uma gravata do jeito certo?

– Obrigada Neithan – eu agradeci sinceramente – obrigada por querer me ajudar.

– Por mais que você possa me achar ridículo, como todos os outros da capital, quero que saiba que me importo com você – Neithan estava sendo tão sincero que eu não conseguia mais velo com um morador da capital, eu apenas o via como alguém comum, como eu. A única diferença é que ele viveu na capital e eu no sete. Mas ai penso e se fosse diferente? E se eu Johanna Mason não tivesse nascido no distrito sete, se eu fosse uma moradora da capital, como eu seria? Eu seria a garota que ajuda a família e os coloca em primeiro lugar sempre ou seria como a idiota da minha estilista que só se importa com o seu cachorro?

– Eu não te acho ridículo – disse para Neithan que veio me dar um abraço forte.

– Eu sinto tanto – ele começou a falar com lagrimas nos olhos – eu sei que tudo isso é tão injusto com vocês. Mas eu prometo ajudar ao máximo o Chady para que você tenha bons patrocinadores.

Eu senti um nó na garganta. Eu tinha me apegado a minha equipe de preparação sem nem mesmo notar isso. Meu mentor, era de poucas palavras mas eu sabia que ele estava me ajudando em tudo. Neithan havia me surpreendido com tudo que havia falado desde que entrou no quarto. Acho que as única pessoa que eu realmente não me importaria mais de ver na minha vida seria minha estilista.

O dia passou voando. Neithan me ensinou a usar salto alto e a andar da maneira correta, não que eu soubesse como é andar da maneira errada, mas tudo bem. Ele e Chady conversavam em como eu deveria ser para Ceasar, mas nada funcionava.

Eu não sabia ser carismática, sexy ou romântica, e ser sagaz ou forte estava fora de cogitação.

– Então faremos o seguinte, seja você mesma – eu pensei que se eu fosse eu mesma na entrevista com Ceasar o mandaria tomar no cu, mas sabia o que Neithan estava querendo falar.

– Tudo bem – eu disse.

Dei um abraço em Neithan que me prometeu que eu ficaria bem, e que eu me sairia bem na entrevista porque não tinha como ser pior do que na apresentação individual. Eu ri porque sabia que era verdade.

Chady me desejou boa sorte, e disse que não era para eu me esquecer quem eu realmente deveria ser. Nos despedimos e eles saíram do meu quarto, na mesma hora minha estilista entra com meu vestido.

Ao mesmo tempo que minha equipe de preparação trabalha em me corpo, pés mãos e cabelo. Minha estilista arruma minha roupa em meu corpo.

Depois de algumas horas ela fala “Está pronto” batendo palma e dando alguns pulinhos. Me sinto uma boneca, que serve apenas para ficar bonitinha, trocar de roupa e passar maquiagem.

Ele me leva na frente do espelho e vejo que estou realmente linda.

A saia do meu vestido é feita de um tecido parecido com madeira e vai até acima do joelho, e a parte de cima é incrível. É toda trabalhada com pedrinhas brilhantes verdes, e a coroa de flores que eu uso dessa vez é delicada. Eu não uso salto o que fez minha aula com Neithan quase inútil. Uso uma sapatilha marrom de bailarina, a fita dela é enrolada até na minha canela.

Estou parecida com uma princesa, aposto que quando a pequena Julia me ver na televisão hoje à noite vai adorar minha roupa, e perguntar se algum dia vai poder ter um vestido tão bonito assim. Mas logo me desfaço desse pensamento, porque se ela usar um vestido desse isso significa que ela seria sorteada para os jogos, e a ideia de ver minha pequena irmãzinha passar por isso me faz tremer.

Hikara dispensa a sua equipe e pede um momento a sós comigo.

– De uma voltinha – ela me pede – você parece um anjo.

– Pareço mesmo – eu digo sabendo que aquilo é verdade – obrigado por me deixar bonita.

Hikara me surpreende se aproximando de mim e segurando minhas mãos e depois fala.

– Johanna, você é linda – e pela primeira vez não me senti como um cachorrinho para ela, ou como uma boneca – nunca pense o contrário, você talvez não saiba, mas a sua beleza é tão única que me dá vontade de trabalhar em você pelo resto da minha vida – e então ela volta a me ver como um objeto.

– Obrigado – eu disse sabendo que ela estava se esforçando para ser sincera e agradável.

Sou levada para o elevador do meu andar e lá encontro o resto da equipe. Estão todos lá, Blight e Erick o estilista dele, Neithan, Hikara e Chady. Todos que nos acompanharam todos os dias desde que chegamos na capital.

– Você está realmente linda Johanna – Erick me falou

– Você também está – tentei retribuir o elogio

Quando descemos do elevador já vejo todos os tributos sendo enfileirados para subir no palco. Vinte e quatro jovens ao todo.

Neithan aparece uma última vez antes da entrevista para desejar boa sorte a Erick e então me abraça.

– Sabe doce Johanna – ele começou a falar em meu ouvido – eu nunca tive filhos, mas se um dia eu tiver, gostaria que fossem doces e gentis como você – sinto meus olhos arderem e lagrimas se formarem e sei que isso é bom para o meu papel. Mas nesse momento não estou fingindo, nesse momento estou sendo sincera com meu melhor amigo na capital.

– Você seria um pai incrível – eu disse ao sentir uma lagrima rolar pelo meu rosto.

Neithan vai sentar-se na plateia e os tributos começam a ser chamados. Ceasar está tão assustador. Seu cabelo e lábios estão vermelhos e mais parecem sangue. É uma aberração e não uma pessoa. Mas não posso negar que ele é simpático e consegue sempre ganhar o público e ajudar os tributos ao máximo.

Sou chamada para a entrevista primeiro que Erick. Estou tremendo e minhas mãos estão suando. “Relaxa” tento dizer a minha mesma, mas meu coração está a mil.

Subo no palco e agradeço a Deus por não estar de salto. Ceasar me pega pela mão e me leva até o centro do palco onde tem duas poltronas, ele senta em uma e eu em outra.

– Então Johanna, todos nós vimos que foi um choque para você e para sua família quando seu nome foi chamado na colheita. Estou certo?

– Sim – eu apenas respondi com os olhos úmidos.

– Mas eles foram se despedir de você? – ele perguntou como se não soubesse a resposta

– Sim eles foram

– É claro que foram, e qual foi a última coisa que você falou a eles?

Eu não podia ser cem por cento sincera agora, não podia falar que estava tramando para engana-los então tentei ser o mais frágil possível.

– Eu prometi que tentaria ganhar – comecei – prometi que tentaria ganhar para voltar para eles, para voltar para casa

Ouço um coro de pessoas na plateia falando Own.

– Você não gostou da capital? Por isso senti tanta falta de casa? – Ceasar me pergunta

Não dava de ser sincera de novo, eu odiei a capital, não via graça naqueles prédios e mansões que todos diziam que era lindo.

– Eu adorei a capital, as pessoas foram tão gentis comigo, todos cuidaram de mim e a cidade é enorme e linda. Mas sinto falta da minha família e dos meus amigos.

– E eu tenho certeza que eles também estão sentindo falta de você. Mas quer saber? Faz o seguinte, você vai lá e ganha os jogos. E viverá para sempre em paz com sua família e com seus amigos sem se preocupar com nada.

– Isso parece ótimo para mim – eu digo e muitas pessoas riem não sei por qual motivo.

Uma campainha soa avisando que eu devo deixar o palco

– Então minha doce Johanna, sinto muito mas nosso tempo acabou – Ceasar me abraça – eu desejo para você toda a sorte. Johanna Mason, distrito sete – ele fala levantando minha mão direita para o publico que me aplaudi enquanto eu sorrio com lagrimas nos olhos.

Erick sobe no palco e ele é realmente muito bom, é engraçado e as pessoas adoram ele. Quando Ceasar pergunta se ele tem alguma namorada em casa, ele diz que tem uma garota. Que eles não namoram mas que ele gosta dela. Ceasar o encoraja dizendo que se ele ganhar os jogos ele poderia ter qualquer garota que ele quisesse e o público vai a loucura.

O resto das entrevistas acabam, somos levados para nosso andar e Neithan nos manda ir deitar. Sei que agora acabou. Amanhã as dez horas seremos levados para a arena, e os jogos finalmente irão começar. Mas não consigo dormir, estou muito ansiosa. Vou para a cozinha e lá encontro um pacificador falando com Neithan. Ele fala que o presidente quer ter uma audiência com ele agora mesmo e que está o esperando. Neithan parece nervoso, mas acompanha o pacificador. Eles entram em uma sala fechada que eu nunca tinha entrado antes, eu estou espiando pela fechadura da porta quando tudo acontece. É tudo tão rápido, mas tão lento e eu fico confusa.

Vejo o presidente Snow acenando com a cabeça para o pacificador que pega uma arma e aponta para a cabeça de Neithan. Eu não estou entendendo nada até ver Neithan no chão deitado em sua própria poça de sangue.

Eu solto um grito sem querer e o pacificador corre pela porta, antes mesmo de eu tentar fugir ele me pega pelos braços e me arrasta para a sala.

– Quem é essa? – Pergunta o presidente.

Eu estou tremendo, não consigo nem mesmo olhar para Neithan que esta morto bem ali na minha frente, sinto lagrimas em meu rosto e não consigo controla-las. Ele está morto, meu melhor amigo desde que sai de casa esta morto bem na minha frente. Ele nunca mais poderá ser um bom pai por que ele morreu.

– Johanna Mason – o pacificador responde

Eu estou tremendo, tenho certeza que eles irão me matar, ou cortar a minha língua e me fazer uma avox por ter visto algo que eu não deveria.

– Tributo do distrito sete, madeira – fala o presidente – tudo bem pode solta-la, venha aqui minha querida sente aqui – ele falou apontando para a cadeira na frente da mesa dele.

Eu passei pelo corpo sem vida de Neithan que estava no chão e eu estava chorando, chorava de tristeza e raiva e medo. O pacificador atrás de mim fechou a porta e ficou em pé na frente dela. Eu vou morrer, pensei.

– Doce Johanna – eu já estava cansada de ser chamada de doce Johanna, se eu tivesse um machado aqui ele veria o quão doce eu sou – o apresentador Neithan que representa o seu distrito foi acusado de traição, você sabe o que ele fez?

Eu fiz que não com a cabeça.

– Ele veio até mim para pedir que mudasse algumas leis de Panem – ele começou a falar com um sorriso medonho no rosto e eu senti um cheiro de rosas e... sangue? Que vinha dele – mas você é uma garota esperta não é? Você sabe que para Panem sobreviver nós precisamos dessas leis não é?

Eu fiz que sim com a cabeça

– O que você fará comigo? – eu perguntei tremendo até os ossos.

– Eu não farei nada minha criança – ele disse parecendo se divertir com meu medo – você não irá falar nada do que houve aqui para ninguém e nós dois seguiremos nossas vidas.

– Na verdade, acho que você seguirá sua vida enquanto eu morro na arena não é? – eu falei brava me levantando e logo depois me arrependi por ser tão explosiva com a pessoa errada.

– Não sou eu quem decide quem vive e quem morre naquela arena, não tenho o poder de fazer isso lá – eu sabia que era mentira – mas prometo a você não fazer nada que lhe machuque ou que machuque as pessoas que você ama se você prometer não falar nada sobre esse acidente a ninguém.

Eu não estava mais com medo, e sim com ódio. Mas não podia falar nada, apenas concordei com ele e voltei para meu quarto. Não consegui dormir à noite toda tendo pesadelos com a morte de um dos unicos amigos que eu fiz na capital e com o um monstro que era real, o homem que eu queria mais que qualquer outro matar. Presidente Snow.