Amery Liese escrita por Lyo Gray


Capítulo 4
Capítulo 4




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Amery subiu as escadas velhas de madeira, ouvindo as tábuas rangerem, gemendo em protesto ao serem pisoteadas por uma magricela menina de treze anos.

Caminhou pelo longo corredor carregado de portas, cada qual um quarto. Não havia membros da família Hayden suficientes para todos aqueles cômodos, nem que contassem com Abigail, a criada. Como era de praxe, a menina já havia questionado o excedente de dormitórios. São quartos de hóspedes, respondia a mãe, de forma impaciente, irritada com a persistente curiosidade da filha mais nova. Amery engolia suas dúvidas, mantendo-as consigo, enquanto não conseguia se recordar de uma única vez em que os Hayden receberam em sua casa um hóspede.

A penúltima porta à direita pertencia a ela. Sentia-se já tão familiarizada com o caminho que percorria desde o primeiro degrau da escada até lá que estava certa de que conseguiria encontrar seu quarto até mesmo de olhos fechados.

Ao entrar, desabou em sua larga cama, seus olhos azuis encarando o teto e seus braços finos abertos, esparramados pelo lençol. Amery gostava de ter seu próprio quarto. Ao contrário da irmã, que carecia de atenção constante, ela apreciava sua privacidade e se sentia mais confortável na companhia dela mesma do que na de qualquer outra pessoa.

Despiu-se de suas sapatilhas e as chutou para longe, sua face ainda voltada para cima, seu olhar fixo no teto, enquanto sua mente vagava pelos mais diferentes cenários, parando, por alguns instantes, naquele em que conhecera Cedrick Wescott James, algumas horas atrás. Sentiu um leve formigamento subindo por sua barriga quando acessou tal memória, uma imitação parcial do que ele a fizera sentir na sacada do salão Drincore. Flagrou-se com os cantos da boca ligeiramente erguidos num sorriso quando percorreu mentalmente suas palavras, já distorcidas na fragilidade de suas lembranças. Tão bela dama.

Não se recordava de homem algum ter antes se referido a ela de tal forma, e tão logo se pegou pensando no quão injusto era que Barbara escutasse cortejos como aquele todo o tempo, enquanto que o mais próximo disso que Amery ouvia vinha de amigos de seus pais, surpresos com o quanto ela havia crescido desde a última vez em que se viram, comentando sobre a linda mocinha que ela estava se tornando.

Tirada de seus devaneios, ouviu alguém bater à porta.

–Amy? - chamou a voz abafada da irmã. - Posso entrar?

Ela respondeu enquanto bocejava, sonolenta, um sim arrastado de cansaço.

Barbara se sentou ao seu lado na cama, observando-a.

Hallo. - a voz fina de Amery se alongou preguiçosamente, o esboço de um sorriso pairando em seus lábios.

– Você quer conversar? - a irmã perguntou, com certa cautela.

– Eu quero dormir. - gemeu, enterrando o rosto no lençol. Conhecendo a irmã, ela sabia que sua resposta pouco importava naquele momento. - Você quer conversar. O que foi?

– Cedrick.

Barbara mantivera o tom de voz baixo, quase num sussurro, mas a pronúncia de tal nome fora o suficiente para despertar Amery. Sentou-se na cama, ignorando o formigamento em sua barriga que a simples menção dele lhe causara.

– Eu não tenho nada para falar sobre ele.

A outra ignorou a obviamente falsa afirmação, os pequeninos olhos encarando seus próprios joelhos agora.

– Ele... Falou algo sobre mim? - indagou, mordendo o lábio inferior.

– Não. - até então, Amery não vira motivo para mentir para a irmã.

Barbara deixou suas delicadas mãos caírem pesadamente sobre seu colo, suas feições suaves se contorcendo numa melancólica expressão, falhando ao tentar esconder a decepção que a resposta lhe proporcionara.

– Então... Sobre o que vocês conversaram?

A mais nova suspirou.

– Nada demais. Não foi uma conversa longa. - um sentimento de culpa a invadiu ao ver a languidez nos olhos da irmã. - Ele só estava dizendo que uma garota nova como eu deveria estar na companhia de meus pais, e não sozinha naquela sacada escura. Foi só isso.

Rezou para que Barbara não sentisse a mentira em sua voz, mas, pelo brilho esperançoso que viu cintilar em seu olhar, concluiu que soara convincente o suficiente.

– Ele não a cortejou?

Amery piscou algumas vezes.

Nein. - arfou, fingindo-se chocada pelo pensamento ter sequer passado pela cabeça da irmã. - Claro que não!

A outra tentou disfarçar o sorriso satisfeito que se formava em seus lábios delgados.

– Então tá. - levantou-se da cama e beijou a testa da irmã com suavidade. - Boa noite, Amy.

Deixou o quarto em passadas largas e silenciosas, um dos cantos de sua boca arqueados, carregando, em seu rosto, uma expressão vitoriosa.

– Boa noite. - sussurrou a outra em resposta.

Naquela noite, por mais que se revirasse na cama, experimentando tantas diferentes posições, Amery não conseguia, de forma alguma, pegar no sono. Tentou contar carneirinhos, como certa vez sua mãe lhe sugerira, mas não adiantava. Os números não a traziam paz. Nada mais faziam do que contar o tempo que passava insone. Levantou-se do confortável ninho de cobertores que fizera para si mesma na cama e abriu sua janela, esperando se deparar com alguma paisagem semelhante à que se desenvolvia ao redor da mansão dos Drincore, mesmo já familiarizada com a vista sem graça que a fenestra em seu quarto proporcionava.

Seus olhos procuraram pela lua e estrelas no céu negro, mas não as encontraram devido à espessa camada de nuvens negras que agora as eclipsava. O ar frio da noite lhe percorreu os braços nus, causando-lhe arrepios.

Fechou a janela e voltou a se deitar em seu ninho. Fechou os olhos, não mais na tentativa de cair no sono. Ensimesmada, mentalizou a cena que protagonizara junto de Cedrick há algumas horas, concentrando-se no tom esmeralda de seus olhos e em seus convidativos lábios que aparentavam tamanha macieza, entreabertos. Viu-o ali, diante dela, enquanto focava em tudo que ele a fizera sentir.

Tão logo, a imagem dele beijando seus lábios tomou toda sua atenção, dominando sua mente. Fazia-o inicialmente com suavidade, até ser tomado pela urgência em possuí-la. Então, beijava-a com desejo, esfomeado pelo seu toque. E, revivendo a cena uma centena de vezes mentalmente enquanto imaginava serem as suas mãos as de Cedrick, enfiou uma delas por debaixo de sua camisola, subindo pela parte interna de sua coxa pálida, até alcançar, com a ponta dos dedos, o tecido úmido de sua calcinha.


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Notas finais do capítulo

Bom, eu não sei se esse vai ser o último capítulo por enquanto ou se ainda vou postar mais um antes de viajar (o que é provável, porém não prometo nada haha), mas, caso seja o último, peço que sejam pacientes e não me abandonem haha porque eu vou voltar a postar mais logo que voltar pra casa. Espero que tenham gostado desse e continuem
acompanhando, beijosss