Amery Liese escrita por Lyo Gray


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/574071/chapter/3

Barbara piscou algumas vezes, duvidando de seus próprios olhos, temendo que sua visão lhe houvesse traído, ou que o homem que se aproximava de sua irmã caçula, sentada no parapeito da sacada do salão Drincore, não fosse realmente Cedrick Wescott James. Ou até mesmo que o fosse, mas as tivesse confundido, caminhando em direção à Amery, quando pensava estar se acercando de Barbara.

Oh, Cedrick, tolo, estou bem aqui, diria ao se aproximar dele, um sorriso divertido brincando em seus lábios finos. Esta é minha irmã. Sou eu quem você quer encontrar. E este, ao perceber o erro que havia cometido, derretiria-se pedindo o perdão da moça, convidando-a para um passeio pelos arredores da mansão dos Drincore na tentativa de compensá-la por sua pequena confusão. E, durante esse tempo, perceberia que estava diante da mulher com quem sempre sonhara em se casar, e pediria a bênção de seus pais para consolidar aquele matrimônio ali mesmo, naquela noite, onde, momentos depois, beijaria seus lábios pela primeira vez, os dois iluminados apenas pela luz da lua e das estrelas.

Barbara sorriu diante do conto de fadas que se desenrolava em sua mente, aceitando a plausibilidade da ideia, acreditando nela, convencida por seus próprios devaneios. Jogou os ombros para trás, corrigindo sua postura e se viu caminhando até a majestosa sacada, seus passos acompanhados por um sedutor movimento de seus quadris que justificava o modo com que a maioria dos homens ao redor tivessem seus olhos voltados para a deslumbrante moça em sua graciosa caminhada.

Antes que pudesse chegar à sacada, cenário de início de suas quimeras amorosas, uma figura alta e grisalha se postou a sua frente, banhada por um caro terno azul-marinho, fazendo com que a atenção dela se desviasse da silhueta que conversava com sua irmã caçula discretamente, ao longe, ambos envoltos na penumbra da noite, e se voltasse para o homem parado a sua frente.

– Barbara. - sorriu-lhe após um leve aceno com a cabeça.

Piscou algumas vezes, tirada de seu transe. Observou os olhos castanhos, envoltos por linhas finas de rugas, que a analisavam, e, gradativamente, sua boca se abriu num sorriso forçado, exibindo alguns de seus delicados dentes.

– Arthur. - cumprimentou-o, espelhando o aceno.

– Importa-se se eu a levar em uma caminhada noturna pelos arredores da propriedade? - questionou, oferecendo-lhe o braço.

Seus olhar alternou entre Cedrick James e Arthur Cotterill por alguns instantes, desejando poder optar pelo primeiro. O que faria, se não lhe tivesse vindo à mente a imagem de sua família, seus pais, que contavam com ela para tirar-lhes todos a chance de viver algo próximo da miséria.

Segurou o braço que lhe fora oferecido, percebendo a satisfação do homem ao sentir o toque suave de seus dedos finos.

– Não, mas é claro que não. - respondeu num tom de voz macio, que combinava com o brando sorriso que oferecia a seu provavelmente futuro marido.

Amery estava concentrada nas incontáveis estrelas espalhadas pelo céu negro quando ouviu passos se aproximando. Questionou mentalmente se Barbara tinha agido com maior rapidez e agilidade desta vez - porque, certamente, a prática leva à perfeição - ou se ela própria havia passado mais tempo ali do que pensava, distraída com a deslumbrante paisagem que a envolvia.

– Já estamos indo embora? - indagou, sem se voltar para a irmã.

Porém, no lugar de Barbara, uma voz masculina se manifestou.

– Se é o que deseja. - proferiu, e a menina pôde sentir, apenas pelo seu tom, o sorriso jocoso que se abria no rosto do homem, antes mesmo de olhar para ele.

Arregalou os olhos, prendendo a respiração, um misto de surpresa e confusão bombardeando sua mente.

– Se me permite perguntar, - recomeçou ele, aproximando-se dela em passadas cautelosas. - o que faz uma tão bela dama aqui sozinha?

Sentiu sua face esquentar, um sinal de que suas bochechas estavam adquirindo um tom ainda mais avermelhado que o normal. Ainda prendendo a respiração, observou Cedrick Wescott James se aproximar mais um passo dela, ao que a luz da lua o invadiu, alumiando seu agradável rosto pálido, este que continha um par de olhos verdes intensos, quase famintos, um nariz reto e extremamente charmoso e perfeitamente delineados lábios levemente ressecados, envoltos por uma barba castanha que começava a crescer.

Tão bela dama. Tão bela... Dama.

As palavras ecoaram em sua mente uma infinidade de vezes, até começarem a se distorcer, como se viessem com uma data de validade, e após a expiração desta, perecessem, tomando a forma de zumbidos ininteligíveis. O modo com que o homem havia se referido a ela lhe causara arrepios em seus pelos do braço, resultado de tal lisonjeira loquela, somada à inexperiência da menina.

– Estou observando o céu. E suas estrelas. E a lua. E as árvores perto das casas. - respondeu, um tanto desconcertada. - Estou observando tudo.

Ele se aproximou mais um passo, sua expressão agora indecifrável.

– É realmente uma vista incrível. - observou, porém seus olhos estavam voltados para ela, carregados de malícia.

Seu olhar causou nela um arrepio que lhe percorreu a espinha numa velocidade impressionante. Ele estava cada vez mais próximo, sua postura intimidadora.

– Qual o seu nome? - questionou o homem num tom cauteloso.

– A-Amery. - balbuciou.

Ele coçou o queixo, seus dedos longos fazendo um barulho suave ao se arrastarem pela barba por fazer. Amery, fez com os lábios, sem produzir som algum. Suas sobrancelhas estavam erguidas, e sua expressão era divertida.

– Só isso?

A menina engoliu em seco.

– Amery Liese Brinkerhoff. - ela proclamou, como se tivesse lido aquelas palavras. - Quero dizer, Hayden. Amery Liese Hayden. - atrapalhou-se, sem jeito.

Ele riu.

– Estou confuso. O que aconteceu com Brinkerhoff? - sua pronúncia inglesa do sobrenome desencadeou a sombra de um sorriso tímido em Amery, que a considerava um tanto engraçada, mas de uma forma encantadora.

Ela apertou os olhos, elaborando uma resposta tão simples quanto possível, sem vontade alguma de falar sobre a morte de seu pai ou de sua mudança para a Inglaterra, assuntos estes delicados para a menina.

– Eu só... Queria que fosse Brinkerhoff. Mas é Hayden.

Ele assentiu, compreensivo, sem mais insistir no assunto, como se sentisse o desconforto de Amery. Tornou a se aproximar dela, postando-se a sua frente, a uma distância perigosamente pequena. Os joelhos da menina roçavam nas laterais do corpo dele, ela ainda sentada sobre o parapeito de mármore, um toque deliciosamente desconcertante.

– Eu acho - começou ele, dando mais um passo a frente, infiltrando seu corpo esguio por entre as pernas de Amery, semi-cobertas pelo tecido do vestido. - Que deveríamos poder escolher quem queremos ser.

Ela concordou com a cabeça, sentindo-se desconfortável com tamanha proximidade, ao mesmo tempo que sua curiosidade infantil lhe atiçava a gostar dela.

– A propósito - acrescentou ele, após alguns segundos de silêncio. - o meu nome é Cedrick. - outra pausa. - Cedrick James.

Amery esboçou um sorriso acanhado. Mesmo já sabendo quem ele era, gostara do modo como ele pronunciava seu próprio nome, cheio de experiência em fazê-lo. Cedrick, ela fez com os lábios, imitando-o, o que pareceu enchê-lo de algum prazer oculto e narcisista.

Num precatado movimento, apoiou suas mãos no parapeito, cercando Amery, seus polegares roçando nas pueris coxas macias da menina, algumas camadas de vestido o impedindo de sentir o quão eriçados ficaram os descorados pelos das pernas dela em reação ao seu toque suave.

Seus rostos separados por apenas alguns centímetros agora, ela respirava fundo, com alguma dificuldade, seu peito subindo e descendo, uma nova e estranha sensação de formigamento se apoderando de sua barriga e da parte interna de suas coxas, que impulsionava a dominação de seu corpo por um nervosismo pouco contido.

– E-eu acho melhor... Eu ir. - gaguejou Amery. - Meus pais devem estar me procurando.

A expressão no rosto de Cedrick se tornou indecifrável mais uma vez, que, após alguns segundos, deu espaço a um suspiro cansado. Devagar, recolheu as mãos e se afastou, apenas o suficiente para que a menina pudesse descer do parapeito.

Desvencilhou-se dele e começou a caminhar na direção oposta.

– Adeus, Amery. - despediu-se, imóvel, sem se virar. - Espero revê-la em breve.

Ela ergueu a barra do vestido novamente e deu mais alguns passos preguiçosos, adentrando o salão Drincore. A sacada escura, o céu, a lua, as estrelas, as árvores, as casas e Cedrick, todos deixados para trás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E é isso por enquanto, espero que estejam gostando, estou postando rápido assim porque to empolgada com essa historia ahahaha postarei mais capítulos assim que possível, beijoss!