Amery Liese escrita por Lyo Gray


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oie, estou postando o capítulo rápido porque já tinha escrito e deixado ele salvo ahaha mas costumo demorar um pouco mais. Logo logo vou ter que mudar a classificação da fic pra +18 :p Espero que gostem, beijoss!!



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Um amontoado de corpos elegantemente vestidos bailava, em perfeita sintonia, pelo Salão Drincore, numa valsa suave e agradável, a música pairando harmoniosamente sobre o sofisticado ambiente.

A anfitriã recebia os convidados com um sorriso ensaiado que exibia grande parte de seus dentes amarelados, escancarando seus lábios exageradamente polpudos e rosados. Sua postura, como tudo nela, fora cuidadosamente calculada a fim de se adequar à requinte da ocasião. Tinha suas mãos unidas num entrelace de seus dedos finos, junto de seu corpo pálido, este banhado por algumas camadas esbranquiçadas de vestido. Ao seu lado, repousava o sério Abraham Drincore, acompanhando a esposa em suas agradáveis recepções. Recebiam seus convidados com um cumprimento rápido e um olhar satisfeito, gratos pela presença destes. Mas não os Hayden.

– Lisbeth! - exclamou, saudando-a com entusiasmo, abraçando-a. - Oh, que bom que você chegou - finalmente. Já fazem meses que não a vejo, querida. Temos muito a conversar, minha cara amiga, nem imagina!

– Ethel. - sorriu-lhe a outra. - Claro, suponho que sim.

Voltou-se à Abraham, cumprimentando-o com certa discrição, uma chama cúmplice acesa no tímido sorriso de ambos.

Os grandes olhos azuis de Amery encaravam a irmã com certa curiosidade, suas quase imperceptíveis sobrancelhas descoradas erguidas.

– Você quer mesmo se casar com o senhor Cotterill? - indagou, num adoravelmente infantil tom de surpresa.

Barbara bebeu de um gole de vinho, levando a taça cristalina aos lábios com certo cuidado.

– Não, Amy. - afirmou, certa de si. Seus lábios, agora avermelhados, moviam-se de forma discreta, impossibilitando a compreensão do assunto por qualquer olhar curioso de passagem. - É claro que não. Mas é o que devo fazer, pelo bem de nossa família.

– Com quem você quer se casar, então?

A irmã mais velha suspirou, seu olhar pairando por todos os cantos do salão até encontrarem uma figura determinada, o instantâneo foco de sua atenção.

– Com ele. - admitiu, mordiscando o lábio inferior, num tom devaneador.

Amery olhou por cima do ombro, seus olhos encontrando o que deveria ser o mais próximo do primeiro homem - e não, pois, um menino de sua idade - que, aos seus olhos pueris, mostrava-se atraente. Prendeu a respiração, analisando-o com intensidade, até que o olhar do sujeito se voltou para ela, em todo seu verde penetrante, fixando-se na menina, possuindo-a, hipnotizando-a.

– Amery! - bradou a irmã, num sussurro repreensivo. - Pare de encarar!

Voltou-se à Barbara, carregando uma expressão de espanto em sua face.

– Ele é lindo! - exclamou, num suspiro. - Quem é?

Barbara arregalou os olhos. Ele está olhando para cá, fez com os lábios, sem produzir som algum. Colocou atrás da orelha uma mecha de cabelo ondulada que havia sido derramada sobre sua face, escapando do refinado penteado. Uma coloração rosada dominou suas maçãs do rosto por alguns segundos.

– Cedrick Wescott James. - anunciou baixinho, apenas após se assegurar de que a atenção do homem não mais estava voltada para elas.

– Quantos anos ele tem?

Barbara tomou mais um gole de vinho.

– Trinta e... Alguma coisa. Não importa.

– Ele parece ser mais novo.

A irmã retribuiu com um olhar que significava "nem pense nisso", mas, segundos depois, sorriu, divertida.

– Ele me viu! - comemorou.

Amery assentiu, ainda com a imagem do formoso estranho enfiado num sofisticado terno negro palpitando em sua mente. Recordou-se de seus intensos olhos esverdeados, de seus cabelos castanhos e de sua barba por fazer, e sentiu suas bochechas esquentando.

– Quer que eu vá para outro lugar? - indagou, já familiarizada com os truques da irmã, em seu infalível jogo de sedução.

Pelo que bem sabia, bastava a jovem Amy se afastar por alguns minutos, alguma troca discreta de olhares, e pronto. O predador se aproximava, galante, da suposta presa, sem ter ideia de que era apenas um peão no tabuleiro de Barbara. Um inseto em sua teia, atraído como um ímã por sua beleza e graça, cativado pelo charme da moça, referta de um amplo conhecimento sobre o sexo oposto, que Amery acreditava jamais ser capaz de compreender plenamente.

– Você não precisa. - proclamou, num tom automático, embora sua expressão impaciente dissesse o contrário.

Olhos azuis arregalados percorreram o salão rapidamente, varrendo-o de leste à oeste.

– Eu acho que vou pegar um ar. - informou, focada na enorme e convidativa sacada dos Drincore.

– Tá bem. Não fique sozinha por muito tempo. Se eu demorar, procure por nossos pais. - acrescentou, esboçando um leve tom de preocupação.

A irmã mais velha sorriu, exibindo seus pequenos e delicados dentes numa silenciosa e breve despedida.

Amery caminhou preguiçosamente em direção à sacada, erguendo a barra de seu vestido enquanto o fazia, incomodada com o arrastar do tecido no chão de madeira clara. Observou os casais que dançavam ao seu redor e os homens que conversavam nos arredores do salão, provavelmente discutindo sobre negócios, que, ao seu ver, parecia ser o que mais faziam os homens adultos.

Decidiu que gostava de sacadas quando sentiu a brisa fria contra as camadas de pano que compunham seu vestido, fazendo-o flutuar dramaticamente atrás de seu corpo, como uma cauda cor-de-rosa, e também quando se deparou com o cenário noturno de parte da cidade que aquela vista lhe proporcionava. Debruçou-se sobre o parapeito, maravilhada com os elementos da paisagem, que envolviam amontoados de casas e de árvores, convivendo lado a lado, num acordo plácido. Olhou, então, para o céu, em toda sua imensidão negra, com suas estrelas salpicadas por todo seu domínio. E enquanto o fazia, teve a impressão de que este se esticava, cobrindo o planeta como uma capa preta, para abrigar, em si, todos aqueles pontos brilhantes.

A mansão da família Drincore se impunha no alto de uma colina tranquila, monumental, o que possibilitava tal deslumbrante vista. Amery decidiu, também, que, quando crescesse, queria morar em algum lugar como aquele, no alto, para que pudesse, todos os dias, observar, de uma vez, tudo ao seu redor, e todas as coisas às quais ela normalmente não prestava muita atenção. Sentiu-se subitamente culpada por não reservar um tempo maior de seus dias para dedicar à apreciação da paisagem que a envolvia, por mais desinteressante que parecesse, e prometeu a si mesma que começaria a fazê-lo dali em diante.

Sentou-se sobre o parapeito da sacada, suas pequenas mãos apoiadas ao lado do corpo, sua face delicada voltada para cima, a luz e a escuridão do céu noturno refletidas em seus olhos, ao mesmo tempo.

Dentro do salão, a miniatura de tais olhos testemunhava a aproximação do predador de sua presa, acompanhando com cautela o desenvolvimento do jogo no qual era tão habilidosa. E, tão frustrada quanto incrédula, Barbara assistiu Cedrick W. James se dirigir, não a ela, mas à pequena figura na sacada, envolta na escuridão das sombras pela noite lançadas, com seu rosto infantil voltado para o céu.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, por enquanto é só, beijos!