Amery Liese escrita por Lyo Gray


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oie, essa é uma história um pouco diferente das minhas outras fanfics, porque, pra começar, ela não vai ter só um capítulo, como dá pra notar ahaha não tenho muita experiência no gênero, mas espero que gostem, e acompanhem, e comentem, não sejam tímidos haha beijos e boa leitura ♥Obs: Ela foi postada também no socialspirit, então, por favor, não denunciem, porque sou eu lá também haha



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Olhou-se no espelho mais uma vez, admirando a singularidade da graça refletida. Sua face lívida, parcialmente escondida pelas pesadas mechas de seu cabelo - este que oscilava, aveludado, entre um tom louro, quase branco, e o níveo propriamente dito - contrastavam com suas maçãs do rosto coradas integralmente e seus lábios carnudos, naturalmente avermelhados. Um arranjo escandaloso, não fosse por sua neutralização pelos seus olhos esbugalhados, cercados por espessas pestanas amarronzadas, suas íris de um incansável azul celeste, acompanhados de um nariz delicado que, de perfil, seguia em uma curva suave.

Ergueu a barra do vestido rosado e girou em torno de si mesma, divertindo-se com o movimento da saia rodada. Sorriu, deleitando-se do pensamento sobre a possibilidade de se revelar a presença mais encantadora no Baile de Aniversário de Ethel Drincore.

– Abbey, veja! - exclamou. - Eu estou lin-da.

– Sim, claro. - concordou a outra, de maneira automática.

A menina franziu o cenho, fazendo bico.

– Abbey! - esbravejou, ao que chamou a atenção da criada. - Você sequer está olhando.

A mulher se voltou a ela, obediente.

– Está deslumbrante. Tenho certeza que vai atrair os olhares de muitos cavalheiros.

A bajulação fez com que a boca da menina se abrisse num sorriso largo, vitoriosa, que se desfez logo que a irmã mais velha, Barbara, entrou no quarto.

Dona de uma beleza invejável, tinha os cabelos banhados no mesmo tom lácteo - estando estes presos por grampos discretos, num refinado coque, penteado escolhido para a ocasião -, a mesma pele pálida e as bochechas igualmente coradas, porém seus olhos eram uma miniatura dos da irmã caçula, apertados entre suas longas pestanas, que lhe atribuíam um ar delicado, mas que nem por um momento deixava de ser também sedutor. Seus lábios eram finos e rosados, diferentes dos da outra. Usava um corpete que salientava seus agradavelmente volumosos seios, abrindo-se numa saia de tecido azul turquesa, que bruxuleava a cada movimento de sua hospedeira, como uma chama gris.

– Amery, venha. Papai está nos esperando. - chamou.

Assentiu, odiando a irmã em silêncio, no segredo de seus pensamentos mais involuntários e mais pecaminosos. Odiou-a por destruir qualquer possibilidade que tivesse de ser a mais bela no salão da família Drincore naquela noite, e por ser mais velha, mais bonita e mais cortejada pelos homens. Odiou-a por ser a presença altruísta e agradável que era, por toda sua detestável bondade. E, acima de tudo, odiou-a por ser sua irmã, e por amá-la o suficiente para ignorar o fato de não ser correspondida em seu admiráveis sentimentos.

Voltou-se à criada.

Auf windersehen, Abbey! - despediu-se, deixando o quarto e sendo recebida pelo olhar severo de Barbara.

– Papai já não te mandou parar de falar alemão com Abigail? - repreendeu-a, segurando-a pelo braço enquanto desciam as escadas, as tábuas rangendo com o peso de ambas. - Somos inglesas agora, que nem ele.

Amery abriu a boca para protestar, mas foi interrompida.

– Entenda, querida irmã, somos a família Hayden agora, e não mais Brinkerhoff. *

Sua boca se fechou num bico, e permaneceu assim durante todo o percurso do pé da escada à porta da frente; da porta da frente à velha carruagem, imersa em seus próprios devaneios, ruminando sobre como preferia ser Amery Liese Brinkerhoff à Amery Liese Hayden.

Rejeitava, em suas íntimas meditações, a ideia de chamar de papai o marido de sua mãe, o homem que as acolhera em sua casa, na Inglaterra, numa operação secreta para transformar em Hayden a família Brinkerhoff. Aquele não era seu progenitor, apesar de se irrevogalmente afirmar como tal a qualquer um que ousasse perguntar.

A menina sabia que a razão de suas ações visavam nada mais que a segurança e a boa reputação de sua mais nova família, mas não o amava. Seu amor era unicamente dedicado a seu falecido pai, seu verdadeiro ascendente. O homem alto de cabelos dourados, olhos azuis - arregalados como os dela - , voz rouca e um abraço macio e reconfortante que habitava suas mais prazenteiras memórias de infância.

Do tempo que passava em casa, grande parte dele era gasto com livros, culto como era. Fora ele quem a ensinara a ler e escrever, paixão esta mantida pela menina até então, com seus plenos treze anos completos; ao contrário de seus livros, cuja esmagadora maioria havia ficado em sua casa na Alemanha, quando, às pressas, a ex-família Brinkerhoff deixou seu lar, para a estimada Inglaterra, onde Benjamin Hayden as receberia, não apenas em sua morada, mas em sua vida.

Da biblioteca pessoal de seu pai, só trazia consigo quatro livros, estes que, até aquele momento, já havia lido e relido diversas vezes, de forma que recitava longas passagens contidas nestes de cor. Não deixava, porém, de mentalizar a profunda voz de seu pai, lendo para ela num tom pacífico e tranquilizante, dentro de sua cabeça.

– Soube que Arthur Cotterill está interessado em desposá-la. - falou a mãe, quebrando o silêncio que regia o interior da carruagem, e tirando Amery de seus típicos devaneios. Exceto pelo som produzido pelo impacto dos cascos dos cavalos no chão, nada mais se ouvia há alguns segundos.

– Não. - resmungou Barbara. - De maneira alguma me casarei com aquele velho tenebroso.

Lisbeth Hayden comprimiu os lábios em uma linha fina de desgosto pelas palavras da filha.

– Esse rostinho bonito não durará para sempre, e você não está, - fez uma pausa e se endireitou no assento. - quero dizer, nós não estamos em posição de perder uma oportunidade como esta a fim de satisfazer os seus caprichos.

– Do que vocês estão falando? Que oportunidade? - interrompeu Amery, em sua ingênua e petulante curiosidade.

O senhor Hayden pigarreou, atraindo todos os olhares presentes.

– Os membros da família Cotterill seguem uma linhagem de significativos prestígios econômicos. - anunciou, em um tom baixo e sério. - É sabido que o sobrenome possui, também, grande influência política.

Ele analisou a expressão da menina, suas feições infantis refletindo toda a sua incompreensão.

– Você não acreditaria - prosseguiu. - na absurdeza do valor que Arthur Cotterill está disposto a pagar por esta aliança.

Amery piscou algumas vezes, confusa. Sua mente infantil processava com certa dificuldade as informações que acabara de receber.

– Estamos falidos, Amery. - explicou a mãe. - Precisamos do dinheiro.

E, subitamente, a realidade lhe atingiu, no adoravelmente deturpado ponto de vista de uma garota materialista de treze anos. Ergueu as pálidas sobrancelhas, arregalando os olhos enquanto refletia sobre os vestidos e livros que não poderia mais comprar.

– Barbara, você tem que casar com ele! - exclamou, pasma.

– O quê? Não! - olhou para a mãe, dirigindo-se a esta agora, sua voz adquirindo um tom mais respeitoso. - Não é possível que não haja outras opções, outros rapazes mais agradáveis.

As palavras "como Cedrick James" pairaram sobre o ar que os envolvia, implícitas no fim da frase.

– Se há, eu desconheço. - informou, seu semblante e sua voz demonstrando a mesma frieza cortante.

– O que tiver de ser feito para o bem de nossa família, será. - imiscuiu-se novamente o senhor Hayden, decisivo.

Por favor, Barbara! Eu não quero ser pobre! - choramingou Amery.

A moça respirou fundo, o ar adentrando seus pulmões jovens enquanto sua delicada face adquiria um misto de mágoa e seriedade.

– O que tiver de ser feito, será. - repetiu, repleta de tácita amargura, pronunciando as palavras como se estivesse fazendo um brinde.


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Notas finais do capítulo

*Brinkerhoff é um sobrenome tipicamente alemão, enquanto que Hayden é inglês.