Karen olha para seu professor com uma certa admiração. Era mais charmoso do que pensava...a maioria dos professores de matemática não tinham cara de nerds de óculos? Coisa que, aliás, Karen não era muito fã. Mas aquele ali na frente, na opinião dela, dava bem pro gasto.
- Boa tarde - diz o professor se apresentando - Sou o Marcelo. Quem está precisando de ajuda?
- É ela. A minha filha aqui - diz a mãe das meninas, apontando para Karen.
- Você é a mãe dela? Se me perguntasssem diria que são irmãs
- Hahaha. Para. Até parece - diz a mãe, lisonjeada com a gentileza do rapaz.
Desirée também olhava o professor interessada. Não que ela fosse muito de ficar olhando essas coisas, mas ela também era uma adolescente e era absolutamente normal sentir esse tipo de atração. "Ai, nessas horas eu até queria que minhas notas em matemática estivessem ruins"
- Oi. Então é você a aluna? - diz Marcelo, se aproximando de Karen.
- Sou eu, sim - diz ela sorrindo - Prazer. Karen.
- Oi, Karen. Então...sua mãe falou que você está com um pouco de dificuldade em Matemática, não é?
- Um pouquinho
- Um pouquinho vírgula - diz a mãe, já explicando a verdade toda - Ela tá quase precisando de um milagre pra passar na próxima prova
- Mãe! Ele vai achar que eu sou uma retardada!
- Não, ele vai achar que você é preguiçosa mesmo
Marcelo ri, mas tenta apaziguar a situação.
- Relaxe. Vamos ver tudo com calma, está bem?
Ele olha para o lado e vê Desirée, que, por sua vez, desvia o olhar rapidamente.
- E você? Também tá precisando de aulas?
- Bem, eu
- Não, não. Essa aí já é cdf de nascença - diz a irmã, já esculachando - É a minha irmã, Desirée
- Desirée? Nossa, que nome diferente
- Todo mundo diz isso.. - diz a mocinha encabulada e mostrando um sorriso tímido
- Mas é bonito
- Obrigada
- Tá bom, Dê. A gente precisa estudar. Vai brincar no seu quarto, vai!
- Brincar? Você fala como se fosse criança!
- Você é - diz ela, bagunçando o cabelo da pobre Dê - Aproveita que essa idade passa logo
- Ai! - reclama Desirée, tirando a mão da irmã do seu cabelo - Falou a adulta. Tá. Eu vou. Já vou. Tô indo
Marcelo dá risada. Logo, os dois vão para a mesa da sala e começam a estudar a matéria.
- Geometria, é? Isso dá trabalho mesmo
- Não é? Como eles complicam tanto um triângulo! Ele só tem três lados
- Hahauha. Tudo bem. Vamos ver isso com calma
Desirée vai para o quarto, deita na cama e fica alguns instantes olhando o teto. Nossa, aquele rapaz era mesmo bem bonito para um professor. Será que ele já era formado? Ele não tinha aliança...então, casado também não era. Se conhecia bem a irmã, sabia que ela faria um monte de perguntas pra ele no meio do estudo. Naquela hora mesmo, ela já devia ter soltado a matraca. Desirée vê o Livro dos Segredos de capa dourada bem ali na sua frente. Uma olhadinha só...iria fazer diferença? Ela se levanta e se aproxima do objeto, lentamente sua mão direita se dirigia na intenção de pegá-lo, mas, no último momento, ela volta a si. "Não, não. Não vou usar para uma bobagem dessas. Até parece!"
Ela resolve esquecer e fazer outra coisa. Ao invés de pegar o livro dos segredos, pega um outro livro qualquer e começa a ler. Mesmo assim, sua cabeça ainda ficava dando voltas no tal professor. Não que estivesse apaixonado ou fortemente atraída. Com 12 anos ela até que controlava bem esses impulsos. Na verdade, aquilo se chamava outra coisa: curiosidade. Normalmente ela sempre foi muito indiferente para com a vida pessoal das pessoas. Ela mesma se orgulhava de afirmar que odiava fofocas e intromissões desnecessárias. Mas, por alguma razão, naquele dia ela estava curiosa. Desirée se lembra das palavras daqueles bibliotecários sobre o elo com o Livro dos Segredos. Ela estaria com aquela curiosidade por influência do livro? Teria sido uma má ideia trazer o livro para casa? Estranho...mas era fato de que, naquele instante, a garota estava com uma sensação de curiosidade muito intensa.
"Espere...curiosidade não é de todo ruim, é?", ela pensa, "Quer dizer...não é pecado querer saber um pouco mais sobre o professor, é? Ele não falaria nada de constrangedor para a Karen que também não pudesse falar pra mim, afinal, os dois se conheceram hoje". Desirée olha para seu livro dourado mais uma vez. "E ele também não me proibiu de ficar na sala...foi minha irmã que me mandou pra cá porque é uma chata! E...eles estão na sala de jantar...minha mãe também pode passar por lá a qualquer hora. É um local de livre acesso dentro dessa casa", ela continua pensando e tentando se justificar para o que estava prestes a fazer. "Além do que...além do que minha irmã vive se metendo na minha vida...ela não tem nenhuma moral pra reclamar de eu ver o que ela está fazendo. É...é isso...uma olhadinha...só uma olhadinha não vai fazer mal". Desirée abre o Livro dos Segredos numa página qualque e pensa no rosto da irmã. Não demora muito para aparecer uma imagem imediata da irmã estudando com o professor. Lendo a descrição do livro ela vê o nome da irmã, seu endereço e o que ela está falando. Naquele momento, pareciam estar mesmo estudando. Feito isso, ela pensa no professor e vê o nome dele logo abaixo "Marcelo Conrado de Freitas". Então esse era o nome dele? A cena que aparecia à sua frente era a mesma da irmã, mas o texto do livro que ia sendo escrito logo abaixo muda o sujeito para o professor. "Esse livro é mesmo muito eficiente", ela pensa, "Ele sabe mesmo em quem eu estou pensando...muito sinistro, muito sinistro mesmo". Nisso, ela percebe que o assunto da conversa de aluna e professor começou a mudar
- É assim? - pergunta Karen após terminar de resolver o problema
- Isso. Isso mesmo
- Puxa. É mais fácil do que eu pensei
- Sabendo o que fazer é tranquilo. Mas tem que treinar bastante
- Ai, ai. Treinar que é chato
- Não, não é chato, não. É só ter paciência
- Você é bem novinho, né? Quantos anos você tem?
- Vinte e três. Estou no último ano da faculdade
- Onde você estuda?
- Ali na faculdade do centro. Mas esse semestre só tenho algumas aulas à noite
- Aah. E você vive só de aula particular?
- Não, não. Também dou aulas numa escola de outro bairro
- Sério? Você podia dar aula na minha escola...você explica tão bem
- Hahuha. Ainda tenho muita coisa pra aprender. Tem muitos outros professores experientes.
- Ah, mas aposto que você vai ser um bom professor
- Espero
- Sua namorada deve ter muito orgulho
- Que nada. Só tô trabalhando e estudando. Nem namorada eu tenho
- Hmm? Sério? - diz Karen, bem animadinha por sinal
- Mas...vamos para o próximo, vai - diz ele, tentando fugir do assunto.
Desirée, que via e ouvia tudo isso por seu novo livro, balança a cabeça e se espanta de ter uma irmã tão atirada. Poxa, ele era novinho mas ainda era bem mais velho que a Karen. O que ela queria? Nisso, Desirée fecha o livro imediatamente e se assusta consigo mesma. "Credo..mas..o que eu tô pensando? Não ganhei nada vendo isso...", ela pensa, olhando tensa para o livro bem à sua frente. "Quer dizer...eu descobri o nome completo do professor, sei que ele faz faculdade, tem vinte e três anos, trabalha em outra escola e que minha irmã é bem safadinha...apesar de que dessa última eu já sabia bem antes...foi só isso, mas...e agora? Isso não muda em nada a minha vida...bah, Desirée, sua idiota...nem parece você!", ela reflete sobre sua ação, se culpando. "Como eu sou boba...falei para o Carlos e a Maria que usaria esse livro só quando precisasse e já usei ele para bobagens. O que eles vão pensar?", ela pensa, enquanto se levantava e deixava o livro de volta ao lugar.
Ela vai para o computador e abre seus e-mails e recados. Nisso, ela acaba sendo envolvida por outro sentimento de curiosidade. Desirée se lembra do nome completo do professor e resolve fazer um rápido teste. "Marcelo Conrado...Marcelo Conrado...será que ele tem algum perfil?". Não demora muito e ela descobre o perfil do professor, mas, na descrição de seu estado civil ela encontra: namorando. Imediatamente ela assume uma expressão de espanto.
- Namorando? Espera aí...mas ele não disse que...não tinha namorada?
Estranho...no mínimo, estranho.