Histórias de outros universos - Terras Geladas escrita por Alessandro Costa


Capítulo 7
Memória CINCO




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*

Entro na pequena cabana do velho. Não tem janelas. Algumas velas cinzento-azuladas estão sobre a mesa. Iluminam o lugar de modo suave. As chamas das velas trepidam.

Vejo algumas pequenas prateleiras de madeira. Alguns frascos de vidro. Algumas ervas dentro dos frascos.

Velhos livros. Estão enfileirados. São grossos e das mais diversas cores.

Gorudo senta-se em uma cadeira. Ela range. Ele se levanta.

— Você me conhece? — pergunto.

O velho segura os óculos e me olha bem de perto. Sinto sua respiração em meu rosto.

— Sim. Claro que te conheço criança.

Ele se vira. Vai até a prateleira. Meche em alguns livros. Pega um.

É bastante grande. Vermelho. O segura com um pouco de dificuldade. Coloca-o sobre a mesa em um forte baque.

Abre-o já na metade. Aproxima bastante seu rosto. Parece, mesmo com os óculos, enxergar com dificuldade.

Tento ver o que ele está olhando.

Ele passa algumas folhas.

Aproxima o rosto novamente.

Aproximo meu rosto do livro.

—Achei! — grita.

Assusto-me, puxando a cabeça para trás rapidamente.

— Achou o que? — pergunta Gorudo.

— Vejam vocês mesmos. — diz.

Arrasto o livro em minha direção. Pesado.

— Leia. — diz.

“Aquela de pele como a neve e cabelos como o vento juntará os povos e os moverá para liberdade”

— O que quer dizer? — pergunto.

Gorudo respira fundo.

— O Reino Gelado já foi um ótimo lugar para se viver. A comida não faltava. Podíamos beber sem nos preocuparmos com o amanhã. Caçar não passava de um esporte entre os homens.

Depois da morte do antigo rei, seu único filho assumiu o trono. Não era algo para se preocupar. Ele sempre foi um bom garoto. Frequentava nossa antiga cidade com bastante frequência.

Mas, com o passar tempo, sua personalidade mudou bastante. Ele alegava pertencer a uma raça superior a qual nós não fazemos parte.

Dizia também que o Reino Gelado não poderia ter suas terras sagradas manchadas pela nossa imunda presença.

— Que horrível...

— Sim. Ele nos caçou incansavelmente. Matou centenas de nós.

Homens, mulheres, crianças e velhos foram capturados, torturados e mortos sem piedade alguma.

— Porque não se juntaram e lutaram contra ele? — pergunto.

— Nós e o povo das Planícies Geladas somos os únicos a serem caçados. Acredito que seja por termos um distante parentesco. Porém, o povo das Planícies Geladas é contra qualquer tipo de violência, mesmo que para defesa. Preferem se esconder. São uma raça de intelectuais e não de guerreiros.

No final, nossa única opção foi a de nos escondermos também. Viemos para o meio da Floresta Negra e construímos nossa pequena cidade com os sobreviventes.

Eles não se atreveriam a vir aqui. É um lugar bastante perigoso até para nós que o conhecemos desde crianças. Também se torna uma muralha natural para nos proteger.

Foi realmente um milagre você ter sobrevivido.

O velho aproximou-se de mim.

— Agora você nos guiará para liberdade.

— Eu?

— Sim. Olhe para si mesma. Sua pele é branca como a neve. Seus cabelos são leves como o vento. Seus olhos são tão claros que são quase violetas. Nunca vi alguém como você em todos os meus anos de vida.

— Pode ser outra pessoa. — insisto.

O velho vira a página.

Um desenho.

Uma garota.

Sou eu.


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