Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 6
O que foi visto jamais será desvisto


Notas iniciais do capítulo

No capítulo passado Katniss, nossa brava heroína, sempre lutando com sua falta de sorte, bolou um plano para dar uma pequena lição em seu inimigo número um, que também atende pelo nome de Peeta Mellark, agora descobriremos no que deu tudo aquilo...



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Fracasso.

Esta é a palavra que define o que aconteceu. Quando eu penso que finalmente terei sorte, o que acontece? Meu plano fracassa. Por que ainda acredito que algo pode dar certo, se sei o tamanho da minha falta de sorte?

Passo meus olhos pela tela do computador da biblioteca. Estou na página de Panem. E adivinhem qual é o destaque? O vídeo de Peeta dançando Macarena.

Então, você me pergunta, mas isso não é ótimo? Seria ótimo, pequeno gafanhoto, se o vídeo não fosse um completo sucesso.

E, você, em dúvida, me questiona, mas não era isso que você queria? Era.

Há esta altura você já deve estar me achando a maior louca da face da terra e me indaga indignado, qual é o problema? O problema aqui é que todos simplesmente amaram ver Peeta dançando e não é do tipo amor ruim, eles adoram sua dança. Ele até se transformou em uma espécie de celebridade do colégio.

Basta ler alguns comentários do vídeo para saber o tamanho do sucesso de Peeta:

“Peeta Mellark, meu corpo é todo seu”.

“É isso aí, Peeta, meu chapa.”

“Quero seu corpo nu na minha cama.”

“Meu Deus, que rebolado! Não consigo parar de assistir este vídeo.”

“Oh, lá em casa.”

“Peeta é perfeito, é lindo, gostoso e ainda sabe dançar!”

“Peeta para presidente.”

E, para completar, o vídeo está ganhando o concurso. Não só eu não fiz Peeta passar vergonha, como fiz sua popularidade aumentar. Estou com muita raiva. Tanta raiva que poderia explodir. Sabe o que é planejar até os mínimos detalhes, passar horas e horas analisando todas as possiblidades e as coisas saírem completamente do jeito que você não esperava? Ai, ai, nada nesta vida dá certo.

Pego minhas coisas e vou para a casa, já tive muitas decepções hoje. Hoje é o penúltimo dia do festival do colégio. No festival os alunos fazem diversas atividades, como exposição dos trabalhos de artes, campeonatos, apresentar peças de teatro. Amanhã é o grande dia. No último dia, há o show de talentos em que nós podemos apresentar alguma coisa, seja uma dança, uma música ou qualquer coisa, se você faz alguma coisa em que acredita ser muito bom, esta é a chance de mostrar ao mundo, ou você se torna uma celebridade em Panem ou estará fadado ao fracasso e banido (para sempre) de chegar perto do grupinho dos populares. O que não é uma má ideia. Quem em sã consciência iria querer andar com eles? Só alguém sem cérebro, tipo Peeta Mellark. É também neste evento que o vencedor do concurso de vídeos é anunciado.

Preciso de um banho urgente. Talvez isso alivie minha dor da humilhação a qual estou fadada. Aquele idiota deve estar se divertindo muito com meu fracasso. Por que tudo que eu faço não dá certo?

Largo minhas coisas na sala e vou direto para o banheiro. Abro a porta.

― O quê? ― grito. ― Você...

― Eu sei que sou gostoso, mas você precisava vir conferir pessoalmente?

Peeta está do jeito que veio ao mundo em minha frente. Onde eu me enterro?

― Vou começar a cobrar, sabia? ― fala, se envolvendo em uma toalha.

Sem uma palavra, estou abalada demais, fecho a porta.

Meus pobres olhos! Nunca mais poderei tirar isso da minha mente. Nunca mais. O que foi visto não pode ser desvisto.

Vou para o quarto e olho para o pôster da Mockingjay. Só Josh, Sam, Liam e Alex podem me acalmar.

― Josh, a sorte adora me ferrar!

― A sorte adora te presentear! ― a voz de Peeta me surpreende. Não disse que a sorte é uma vadia comigo. ― Admita que ver meu corpo nu era o que você estava querendo ver desde que eu me mudei para cá! Se você queria tanto ver, era só ter me pedido, faria um desconto especial para você! ― zomba.

― Cala boca! Foi um acidente e seu corpo não é tudo isso!

― Não? Não é o que os seus olhos me disseram ― prossegue com sua cruel brincadeira.

Estou tão envergonhada que nem consigo olhar para Peeta direito. O que eu faço? Resolvo apelar para uma retirada estratégica. Pego algumas peças de roupa e vou para o banheiro, sem olhar uma única em vez em direção a ele.

Tomo um demorado banho. E bota demorado nisso. Se eu pudesse me mudava para o banheiro e não saía mais daqui. Até que não é uma má ideia... Porém, uma hora eu preciso sair do banheiro, o que só faço depois de respirar fundo várias vezes e dizer para mim mesma que tudo o que vi foi apenas um corpo qualquer, igual a um daqueles da minha aula de biologia que vi nos livros. É isso, não vi nada demais! Tenho que me convencer bastante sobre isso, já que os corpos que vi nos livros não se comparam nenhum um pouco com o corpo dele, principalmente a parte do abdômen tablete de chocolate de Peeta (sim, aquilo parece um tablete de chocolate prontinho para uma mordida). Ai, ai, ai, é cada coisa que me acontece!

Peeta está sentado no sofá, assistindo TV. Ele levanta os olhos quando passo por ele.

― Então, se divertiu muito no banheiro? Vejo que sim, agora você tem um verdadeiro homem em que pensar ao fazer suas coisas. O banho ficou muito, muito mais divertido, não é mesmo?

― Seu pervertido! ― estou tensa demais para pensar em uma resposta adequada. Até as palavras me abandonaram, já que não suportam mais passar vergonha comigo.

― Não, eu não sou o pervertido desta história ― debocha. ― História errada. Aqui eu sou apenas a vítima de suas fantasias pervertidas. Você é a pervertida aqui. Invadir o banheiro quando alguém está nele... tsc, tsc, tsc. Olha, até onde você é capaz de ir para realizar seus desejos... — diz de modo sarcástico.

Eu não vou aguentar mais isso, tudo tem um limite, até minha paciência.

― Você vai ver só quem que é pervertido aqui!

Parto com tudo para cima de Peeta. Ele vai sentir tanta dor que nunca mais vai pensar em me importunar.

No entanto, em vez de Peeta receber um soco caio em cima dele. Isso mesmo, eu caí em cima de Peeta. Quero chorar! Olha só minha situação, com a minha queda acabei fazendo Peeta deitar-se no sofá, e eu estou em cima dele. Sério, cada centímetro de meu corpo está em cima do maldito corpo deste idiota.

― Tampinha, sua queda por mim já está indo longe demais! O que vai ser da próxima vez?

Trato de sair de cima dele.

― Você é tão idiota!

― Tampinha, vai ter que entrar na fila! Pegue a sua senha o mais rápido possível! Por causa do vídeo, as garotas estão fazendo fila atrás de mim, devo lhe agradecer por isso!

― Só porque elas têm sérios problemas! ― contesto.

Nesse instante, a porta se abre e Haymitch entra.

― Tendo uma conversa amigável, crianças?

― Ei, eu não sou criança! ― protesto.

― Para mim, você sempre será uma criança, docinho! A começar pelo tamanho.

― Ei!

Peeta ri.

― Effie pediu para adiantarmos o jantar ― diz Haymitch. ― Eu não sou lá muito bom em fazer o jantar, mas pelo menos sou melhor que a docinho.

O que há com Haymitch hoje? Por acaso ele combinou com o Peeta de praticar bullying contra mim? Estou de olho nestes dois.

― Eu posso fazer o jantar ― oferece o bom moço Peeta. É tanta falsidade que os falsificadores deveriam ter umas aulinhas com ele.

― Isso é ótimo!

― Minha espacialidade são doces e pães. Mas posso fazer um bom trabalho com o jantar.

Haymitch sorri.

― Vai lá, garoto! Não saberíamos o que fazer sem você, não é mesmo, Katniss?

Bufo.

― Tenho dever de casa para fazer ― digo indo para o quarto.

Este é um daqueles dias que tudo parece dar errado, por mais que você se esforce para que dê certo. Uma dica, não vai dar. O vídeo é um sucesso, vi Peeta do jeito que veio ao mundo, cai em cima dele (de novo). Será que falta mais alguma coisa para o dia ficar perfeito?

Começo a sentir o cheiro que vem da cozinha. Adoraria dizer que é o cheiro mais insuportável que já senti, mas não posso. Por quê? Porque meu estômago está quase fazendo as malas e indo para a cozinha pessoalmente, já que estou fazendo bastante esforço para me convencer de que posso ficar sem o jantar. Mas é óbvio que esta é uma batalha perdida, constato, ao me ver praticamente correndo para a cozinha quando Haymitch avisa que o jantar está pronto. Batalha perdida, eu me rendo!

Peeta fez espaguete para o jantar. E preciso de muito empenho para não repetir. Não quero que o louro oxigenado fique se achando ainda mais por aí. Já não basta ele ser a reencarnação de um dos deuses do Olimpo, não, ele precisa cozinhar bem também.

― Amanhã, é seu aniversário, Peeta, não? ― fala Haymitch.

Ora, ora, amanhã é aniversário do louro oxigenado. Peeta apenas assente com a cabeça e não faz nenhum comentário do tipo, “esta data deveria ser feriado internacional”, isso sim é surpreendente.

― Meus parabéns, querido, podemos fazer uma festinha. Você pode chamar alguns amigos para vir aqui ― sugere minha mãe toda empolgada.

― Obrigado, Effie, mas não. Não precisa fazer nada. Não gosto de comemorar meu aniversário.

O quê? Sempre pensei que Peeta fizesse o gênero “tudo é motivo para uma festa”. Ou será que ele está chateado com o fato de não poder ter uma festa daquelas, por isso resolveu agir como o cara que não se importa com aniversários?

― Preciso terminar meu dever de casa, com licença ― diz, levantando-se da mesa.

Ele está com febre? (Peeta preocupado com o dever de casa? Conte outra). Ou será que resolveu fugir de lavar as louças? Tenho certeza que é a segunda opção.

Ajudo Haymitch a lavar as louças. Geralmente, nós somos os responsáveis por esta tarefa, já que minha mãe faz o jantar. Nos últimos dias, Peeta também tem participado desta tarefa. É claro que ele faz tudo com uma cara bem engraçada. Ver Peeta lavando a louça é melhor do que assistir a qualquer programa de TV. É uma pena perder este programa hoje.

― Acho que Peeta ficou chateado quando falei do aniversário dele ― diz Haymitch pensativo, enxugando um prato.

― Por quê?

― Amanhã faz dezoito anos que minha irmã morreu... ― lanço um olhar interrogativo em sua direção. Agora que penso nisso, nunca me disseram como a mãe de Peeta morreu.

― Ela faleceu no... ― começo a dizer.

― Parto ― completa Haymitch. ― Ela morreu devido as complicações do parto. Era preciso escolher entre ela e o bebê... Ela escolheu o bebê.

Entrego outro prato para que Haymitch enxugue. A história é bem triste. Por um breve momento, penso como deve ser para Peeta ter perdido a mãe ao nascer, como deve ser triste crescer sem ela por perto e sabendo que a mãe precisou escolher entre ele e ela.

― Katniss, posso te pedir um favor?

― Haymitch, sabe que meus favores custam caro!

― Pode deixar, docinho, eu compro para você uma caixa de chocolates ― é, meu padrasto me conhece muito bem.

― Agora sim, está falando a minha língua.

― Peeta é um bom garoto... Mas ele às vezes pode não demonstrar seus verdadeiros sentimentos. Ele é parecido com minha irmã... Quando ela estava triste, tinha em seus lábios o sorriso mais brilhante. ― diz Haymitch guardando o prato no armário. ― Katniss, tente ajudá-lo ― pede olhando para mim.

Peeta precisando de ajuda? Por acaso estamos falando do mesmo Peeta? Estamos falando do louro oxigenado que todo dia atormenta minha vida?

― Parece que amanhã não é exatamente um dia feliz para ele ― continua Haymitch.

Reflito sobre o assunto por um momento. Peeta pode ser um cara odioso (e como eu o odeio!), mas fazer aniversário no mesmo dia em que a mãe morreu não deve ser uma experiência muito legal.

― Promete que vai tentar ajudar Peeta, Katniss?

― Não sei se aquele cara vai precisar realmente de ajuda, mas... se ele precisar eu ajudo.

Haymitch sorri e me dá um tapinha nas costas.

Terminamos de lavar a louça. Vou assistir TV. Estranhamente, Peeta não aparece na sala. Será que ele está triste pelo aniversário amanhã? Tenho que pensar que embora não pareça, aquele ser deve ter um coração, mesmo que este esteja enterrado em algum lugar no deserto.

Como amanhã tenho que acordar cedo, vou logo dormir. Peeta já está dormindo quando entro no quarto. É incrível como ele parece tão inofensivo quando está dormindo. Uma mecha de cabelo cai sobre sua testa, realçando sua pele perfeita, sem nenhuma espinha ou algo do tipo. Sua respiração é suave. Tento captar em seu rosto algum sentimento de tristeza. Ele parece sereno. Fico pensando no que Haymitch me disse sobre a mãe de Peeta ter morrido no parto e escolhido entre ele e ela. Como será para ele conviver com isso? Será que Haymitch tem razão e Peeta esconde seus verdadeiros sentimentos? Eu sei que ele consegue mentir muito bem.

Ele se mexe na cama. Trato de subir para minha cama rapidamente. Ainda não me esqueci do que vi mais cedo ― como se eu pudesse esquecer ― e se ele acordar comigo o olhando, não quero nem pensar. Aliás, que raios deu em mim para ficar bisbilhotando Peeta dormir? Me mandem para o hospício, porque estou ficando louca. Isso que dá conviver no mesmo ambiente que Peeta Mellark.


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Notas finais do capítulo

Odiaram? Gostaram? Acabamos de descobrir algo sobre o passado de Peeta, um pouco triste, não? E Haymitch deu uma importante dica sobre a personalidade do Peeta... E Katniss vendo Peeta dormir? Esperamos que ele não descubra, porque se ele descobrir, pobre Katniss rsrsrsrsrs



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