Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 7
Corra, Katniss, corra


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Petniss, que fez uma recomendação linda para a fic e que me deu bastante animo para terminar o capítulo. Muito, muito, muito obrigada!!!



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Um som ensurdecedor vem das caixas de som, ligados a potência máxima. Meus pobres ouvidos! Será que algum dia vou voltar a escutar direito?

Olho ao meu redor. Claramente, não é um lugar para mim. Estou em uma espécie de bar. Uma garota bem bêbada praticamente tropeça em mim.

— Ah, desculpa! — diz a garota que mal consegue manter-se em pé. — Preciso de um banheiro...

Bem, ela não precisa mais, já que vomita praticamente perto dos meus pés.

— Disponha! — digo. — Agora as pessoas estão me confundindo com um banheiro.

— Katniss! — Peeta pega o meu pulso e me puxa. Eu mereço!

Ok, me deixe explicar desde o inicio, já que você deve estar mais perdido do que pessoas que pegam um filme bem no meio da sessão.

Meu dia começou como sempre. Tudo parecia o mais normal possível. Fui para o colégio. Eu e Madge estávamos ajudando na exposição de plantas. Não era uma tarefa muito difícil. E era até legal, já que quase ninguém visitava a exposição de plantas, não tínhamos muitas coisas para fazer.

As horas passaram rápido. Como tínhamos o show de talentos para assistir, fechamos a exposição de plantas mais cedo.

O show acontece no ginásio (aliás, eu decorei o ginásio também! Aquele idiota do Peeta só ferra a minha vida). Quando chegamos lá, já estava lotado. Eu e Madge conseguimos um lugarzinho com muito esforço, nos esprememos entre o clube de física e o clube de arte.

Como todo ano, nenhuma novidade, algumas pessoas cantaram, outras dançaram, outras recitaram poesia. Mas ninguém estava muito interessado, o que todos estavam aguardando era a apresentação dos vídeos. Tinha até torcida organizada para o vídeo do Peeta. O fã-clube do idiota fez faixas e camisetas. Com tanta coisa para fazer, ficar lançando a linha “Peeta, o meu ídolo” é algo muito desnecessário de se fazer.

Na hora de passar os vídeos, as garotas gritaram tão alto na vez do vídeo de Peeta dançando Macarena, que cheguei a acreditar que estávamos próximos de um apocalipse Zumbi ou algo semelhante.

— Sou sua! — gritou uma garota que estava duas fileiras em minha frente. É ela realmente parecia querer ser de Peeta, pelo modo como gritava e fazia menção de tirar a blusa. — Peeta, me pega!

Nem preciso dizer que Peeta ganhou o prêmio. Isso é totalmente desnecessário. Ele subiu no palco de um modo totalmente “sou demais, e daí?”. Naquele instante acreditei que uma grande quantidade de oxigênio foi poupada já que a maioria das garotas deixou de respirar naquele momento.

Peeta fazendo o gênero garoto legal demais para proferir qualquer palavra, pegou o troféu e o ergueu. Mais uma vez, foi economizado uma grande quantia de oxigênio.

— Peeta! Peeta! Peeta! — começaram a gritar em coro.

Ficar assistindo a adoração a Peeta Mellark não era algo que eu queria. Cutuquei Madge.

— Vamos embora daqui!

Ela assentiu. Saímos do ginásio. Ainda era possível ouvir os gritos do lado de fora do ginásio.

— Alguém deveria me pagar por isso — disse. — Fui eu que descobri a grande estrela!

Estava com muita raiva. As coisas sempre dão errado para mim.

Eu pensava que nada mais poderia acontecer no meu dia. Mas é claro que estava enganada. Após o show de encerramento, eu e Madge fomos devolver a chave da sala que estava sendo usada para a exposição de plantas. Era nossa última tarefa no festival do colégio, depois disso podíamos ir embora.

Chave entregue. Peguei minhas coisas. Madge precisou sair antes de mim. Já estava quase no portão do colégio, quando dois garotos do primeiro ano passaram correndo por mim.

— Cato e Marvel vão acabar com ele! — disse um dos garotos.

— É claro, Marvel nunca vai perdoar ele ter pegado a Glimmer! E todo mundo sabe que o Cato não gosta que ninguém fique com a Clove!

Quem seria idiota o suficiente para pegar as duas populares do colégio? Todo mundo sabe que Glimmer é (era) a namorada de Marvel e Clove é a ex de Cato. O cara estava pedindo para morrer. Devia ter cansado de viver e precisava de ajuda para deixar esta vida, só poderia ser isso.

— Peeta vai levar uma surra! — os garotos riram.

Peeta? Eu já deveria saber que ele era sem cérebro o suficiente para fazer uma besteira deste nível. Sem perceber, comecei a seguir os garotos.

No pátio do colégio havia uma pequena multidão, formando uma espécie de círculo, e pessoas gritando coisas. Entre alguns empurrões consegui entrar no meio do tumulto.

Cato estava furioso, vermelho de raiva e gritava palavras obscenas.

— Você é uma merda! — gritava, enquanto um garoto tentava não deixar que ele se aproximasse de Peeta. — Peeta Mellark é uma merda!

Acredito que o vocabulário de Cato está precisando de mais palavras, já que estas eram as únicas palavras que ele proferia.

Marvel também estava sendo segurado para não partir para cima do idiota do Peeta. No que ele estava pensando em pegar Glimmer e Clove? Por falar nelas, não havia nem sinal das duas no local.

— Glimmer e Clove são muito gostosas! — provocou Peeta com um sorriso sarcástico. — Elas mereciam conhecer um homem de verdade. E elas conheceram, como conheceram!

Nem um exército inteiro seguraria Cato e Marvel depois daquelas palavras. Tudo o que pude ver, antes de ser empurrada (as pessoas amam uma briga e querem ver do melhor ângulo), foi Peeta levando um belo de um soco bem no queixo. Depois não vi mais nada.

Resultado da briga, vários olhos roxos, narizes sangrando, hematomas... foi um milagre que ninguém ter quebrado algo, embora o nariz de Cato parecesse um pouco torto. A briga só foi terminar devido a forças maiores, isto é, a chegada de um professor. Quando alguém disse que o professor de educação física estava vindo, foi como jogar água em gatos, em um instante as pessoas desapareceram.

É claro que eu também estava no grupo das pessoas que estavam correndo. Todo mundo sabe que Panem tem uma regra bem severa quanto a brigas. Se você é apanhado brigando ou presenciando uma briga, seus pais são convocados a aparecer no colégio. E eu não fazia nenhuma questão de minha mãe vir ao colégio. O lado Effie, a furiosa, é medonho. Corri como se minha vida dependesse disso, na verdade, dependia sim. Apenas fui parar de correr quando tive certeza que estava a salvo de qualquer professor.

Por alguns instantes (breves demais para meu gosto) respirei aliviada. No entanto, meu alivio foi interrompido quando Peeta surgiu não sei de onde e veio em minha direção. Ele estava correndo. E sem que eu pudesse impedir, ou fazer qualquer coisa, ele pegou em meu pulso e me arrastou junto com ele. Que situação era aquela?

— Ei, oxigenado! O que você está fazendo? — falei tentando me livrar de sua mão.

— Quieta, tampinha! — falou, é claro que ele não iria me dar qualquer explicação. Seria esperar demais.

Ele olhava para todos os lados. Fomos parar no refeitório.

Peeta me empurrou para debaixo de uma das mesas. O que estava acontecendo? Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Glimmer e Clove entraram no refeitório. Aquilo estava mais agitado do que filme de ação.

— Ele veio por aqui? — perguntou Clove, que olhava para todos os lados.

— Ele veio... estava com uma garota — resmungou Glimmer.

Olhei para Peeta. Era óbvio que ele era o tema da conversa. Ele apenas fez sinal para que ficasse calada. Aquilo me irritou. Tive vontade de denunciar a localização dele para aquelas duas, que aliás, não pareciam nada, absolutamente nada amigáveis. Porém, eu sabia que se fizesse isso, poderia estar encrencada. Sei lá, mas aquelas duas são malucas, e como eu estava com Peeta, poderiam acreditar que eu tinha alguma coisa a ver com aquilo tudo. E eu era apenas uma pobre garota jogada na jaula de leões assassinos. Mas vai dizer isso para duas garotas furiosas, primeiro seus cabelos são arrancados e depois elas perguntam.

Glimmer batia seu salto no chão de forma impaciente.

— Você o seduziu não foi? Já não bastava ter seduzido o Cato, quando eu e ele estávamos saindo? — disse Glimmer que parecia estar ao ponto de ter um colapso nervoso.

Aquilo era uma fofoca e tanto! Cato e Glimmer saíram?

— Escuta aqui, queridinha, não tenho culpa se todos os garotos gostam de coisas melhores! — falou Clove, que não estava menos raivosa do que Glimmer.

— Vadia! Se faz de santinha para pegar todos os garotos.

— Piranha! Dá em cima de todo mundo!

— Pelo menos eu não sou falsa! — Glimmer praticamente gritava. — Pelo menos não fico fingindo coisas que eu não sou!

— E você é mais rodada que roda de caminhão!

Glimmer largou sua bolsa rosa no chão e partiu para cima dela. Foi um emaranhado de puxões de cabelo e gritos. Aquilo parecia a terceira guerra mundial.

Peeta me puxou. Aproveitamos para sair debaixo da mesa. Quando já estávamos a uma distância segura da terceira guerra mundial, consegui soltar meu pulso da mão dele.

— Eu pensei que você era um pouquinho mais inteligente e que tinha ao menos um neurônio funcionando. O que foi isso? — disse.

Um sorrisinho irônico surgiu no rosto do Mellark. O caso era mais grave do que pensava.

— Aquilo foi divertido.

— Você é louco! E idiota — falei dando as costas para ele. Se Peeta quisesse se ferrar, ele iria se ferrar sozinho, eu que não iria fazer companhia para ele. — E ainda me arrasta para o meio de suas idiotices! O que deu em você? — resmunguei cheia de raiva. Não esperei por uma resposta de Peeta.

Mas como a sorte não é lá muito minha amiga, assim que dei o primeiro passo para me afastar de Peeta, vi Glimmer e Clove (elas estavam uma beleza de se olhar, todas descabeladas, maquiagem borrada e roupa rasgada). Novamente, senti a mão de Peeta se fechando ao redor de meu pulso. Por que aquele idiota fazia questão me meter em suas furadas? Eu não tinha nada a ver com aquilo.

— Me solta! —falei, enquanto tentava sair de suas garras.

— Olha só, elas viram você junto comigo. Posso te deixar aqui se você quiser, mas não garanto sua segurança.

Peeta poderia estar muito bem mentindo. Mas... — era difícil admitir isso — ele podia ter um pouquinho de razão. Aquelas duas eram malucas, quem sabe o que poderiam fazer comigo?

A contragosto — que fique registrado — deixei que Peeta me levasse.

Saímos do colégio. Glimmer e Clove ainda estavam nos perseguindo. Me senti como se estivesse em um filme de ação, em que eu era a pobre e inocente vítima que estava no meio do fogo cruzado entre os bandidos.

Não muito longe do colégio há uma espécie de bar. Foi justamente neste local que entrarmos para despistar Glimmer e Clove.

Peeta, o senhor sem cérebro, pediu uma bebida.

— O que pensa que está fazendo?

— Acabei de fazer dezoito anos! Preciso comemorar! — disse, acabando com todo o seu drink de um só trago. Pediu mais outro drink.

Ele começou a beber sem parar. Aquilo me assustou um pouco. Porém, eu tinha outras coisas com que me preocupar como o fato de Clove e Glimmer poderem descobrir nossa localização, do que ficar controlando Peeta beber.

— Acho que elas já foram — disse, já não estava mais suportando o som alto.

— Ah, docinho! — sim, ele me chamou de docinho, acredita? Eu fiquei totalmente chocada. Peeta estava bêbado, muito bêbado. — Hoje é meu aniversário e não tenho ninguém para comemorar. Vamos comemore comigo!

E o dia só ficava mais surreal.

— Você está bêbado. Vamos embora daqui!

— Não, docinho! As pessoas não gostam de mim... Ninguém gosta de mim.

Céus! O garoto havia pirado de vez.

— Escuta aqui, se você não quer ir embora eu quero!

Sai da mesa em que estávamos. Foi neste momento que esbarrei naquela garota que vomitou perto de mim. E aqui estou.

Peeta tenta me impedir de ir embora, segurando o meu pulso. O que foi que fiz para merecer isso? Eu sou apenas uma garota perdida no meio disso tudo e com muita falta de sorte.

— Me solta! — tento me livrar de suas mãos. — Peeta! — grito. Consigo me soltar.

— Katniss...— sua voz me soa tão triste.

Noto um corte na testa dele. Estava tão agitada com todas estas coisas que aconteceram, tipo ser perseguida por duas garotas malucas, que nem havia observado o estado de Peeta direito. Parece que a briga causou alguns estragos nele também e não apenas em seus adversários. O corte em sua testa sangra um pouco e seu olho direito parece um tanto inchado, também há um hematoma em seu queixo.

Se Haymitch ou minha mãe o virem neste estado, alguém vai levar uma bronca... E, infelizmente, não vai ser apenas Peeta. É, vou levar uma bronca também, tenho certeza que eles vão acreditar que eu poderia ter impedido a briga (em que mundo eles vivem? Eu impedir uma briga? Conte outra).

Solto um longo suspiro. Peeta está bêbedo e não consegue se cuidar por si mesmo.

— Vem, vou te levar para a farmácia, precisamos fazer um curativo neste corte.

Peeta assente. Olho um tanto surpresa para ele. Até que ele bêbado é mais suportável do que sóbrio.

Saímos do local barulhento e a medida que nos afastamos dele, o barulho começa a ficar mais e mais longe — como eu amo o silêncio!

Encontro uma farmácia depois de andarmos por uns cinco minutos. Compro as coisas necessárias para um curativo. Agradeço o fato de Peeta estar na fase “bêbado calado”.

Levo Peeta para uma pequena cafeteria. Acredito que um café possa fazer alguma coisa a respeito da bebedeira dele. Peço um café bem forte para ele. Enquanto esperamos pelo café, começo a fazer o curativo (não é lá muito bom, mas é o que sei fazer).

Limpo o corte.

— Ai! — reclama.

— Fica quietinho, você foi idiota suficiente para brigar, então deve aguentar isso!

Prossigo com o curativo, ignorando os resmungos dele, saudades da fase “bêbado calado”.

— Pronto, bebê chorão! Agora tome este café! Não vamos querer que você chegue em casa bêbado — e eu leve uma bronca porque deixei o inocente Peeta beber.

Empurro a xícara de café para ele. Porém, Peeta não pega, apenas fica me olhando.

— O que foi? — digo irritada. Não sou nenhuma Mona Lisa para ele ficar me olhando desse jeito.

— Todos me odeiam!

— Vai começar de novo! — paciência onde está você? Por que comigo?

— Ninguém gosta de mim! — diz choramingando.

— Fala sério! Toma logo este café!

Peeta me olha e pega em meu cabelo. Ai, meu Deus, o que é isso?

— Me lembre de nunca mais te deixar perto de qualquer coisa com álcool! Não vou te deixar comer nem bombom de licor! — tento me livrar de suas mãos, porém isso só complica as coisas.

— Katniss... — dessa vez a voz dele soa ainda mais triste.

— O que está acontecendo com você, hoje?

— Eu... apenas desperto ódio nas pessoas.

Sei lá porque que raios, mas ver Peeta deste jeito é tão deprimente, sinto a necessidade de dizer algo para confortá-lo. Hoje é o aniversário dele. E o que Haymitch disse sobre a mãe dele ter morrido no parto não sai da minha cabeça. O garoto pode ser um chato, um idiota, mas poxa, ninguém merece passar pelo o que ele passou.

— Não, você pode ser alguém bem irritante, que eu quero matar muitas vezes, e também alguém que faz muitas burradas como a de hoje... Mas... não acho que desperte tanto ódio assim. Você deve ter um coração escondido aí — digo cutucando o seu peito com meu dedo indicador.

Peeta pega meu dedo.

— Mesmo? — indaga me olhando igual a uma criança que está diante de um super-herói.

Assinto.

Ele sorri e aproxima-se de mim. É a primeira vez que eu vejo um sorriso assim em seus lábios. Não há nada de falsidade nele, é um sorriso verdadeiro. E que sorriso!

De repente, estamos próximos demais. Tento me afastar dele, porém, ele me impede. Ainda tem meu cabelo preso em suas mãos. Ele fica me olhando.

Me olhando...

Me olhando...

Nunca havia percebido como seus olhos são tão azuis, ou como seus cílios são extremamente longos.

Os lábios de Peeta vão parar nos meus. Eles são macios e quentes. Perdi meu raciocínio. Estou tão surpresa que não consigo pensar.

Alguém me ajude! Tragam meu juízo de volta!

Os lábios dele acariciam os meus. A ponta de sua língua umedece meus lábios e, sem que eu possa impedir, entra em minha boca. Ela toca em minha língua e a acaricia suavemente, provocando um arrepio em mim.

Peeta é o bêbedo aqui, mas neste momento, eu é que estou bêbada.

O que eu estou fazendo? O que ele está fazendo?

Recupero minha racionalidade e me afasto dele.

Peeta acabou de roubar meu primeiro beijo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Peeta é um senhor encrenqueiro, hein! Olha só a confusão que ele aprontou e ainda colocou a pobre Kat no meio! E depois deste final? O que será que vai acontecer?