Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 26
Dia de sorte... Talvez


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Luana Mellark e Ronny que me presentearam com recomendações que me deixaram cheia de ânimo para terminar o capítulo. Obrigada!



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Sabe aquele momento que parece ter sido congelado no tempo, que nunca mais vai acabar? É o que estou vivendo agora. Até parece se passaram dias e dias que estou aqui e não apenas alguns segundos.

Meus olhos vagam de Peeta a Ren, de Ren a Peeta.

Peeta nos observa, sem pronunciar uma única palavra, com ar raivoso, como se acabasse de descobrir que fez um bolo que saiu muito errado. Ren tem uma expressão confusa. E eu aqui, sem saber o que fazer. Espera, por que eu estou assim? E daí se Peeta me flagrou beijando Ren, quem deveria estar brava aqui sou eu, certo? Foi ele que me impediu de prosseguir com um belo de um beijo. E, aliás, que explicação devo dar a Ren? Tenho certeza que falar para ele que esse cara é um fantasma que habita o apartamento não vai colar.

— Eu conheço você! — exclama Ren repentinamente. — Você é Peeta Mellark, não é? O chef que está fazendo parceria com a Sinsajo! É você mesmo, tenho certeza!

Peeta nada responde. Apenas o encara com um olhar nada agradável. Ren olha para mim, esperando por uma explicação.

— Ren, ele é um... velho conhecido...

Ele me olha me pedindo por mais explicações. Uma explicação mais detalhada, claro.

— Nossas famílias são amigas... Peeta me emprestou o apartamento dele por um tempo... — falo, desviando os olhos de Ren. — Ele agora está resolvendo alguns assuntos, por isso está aqui...

Ren e Peeta se olham. Repentinamente a expressão de Peeta muda e um sorriso aparece em sua face.

— Não pensei que meu apartamento iria ficar nesse estado — diz Peeta, olhando para Ren, seu tom é suave. — O que você fez com meu apartamento, Katniss?

Peeta tem um doce sorriso no rosto. Mas, sei que ele está fingindo. Por trás desse doce sorriso, ele está furioso, muito furioso.

— Eu saio e quando chego encontro isso? — seu tom é brincalhão.

Quem vê o louro oxigenado dessa maneira, pode pensar que ele é um cara muito agradável. Como alguém pode fingir tão bem? Porém, eu sei quando ele está fingindo, afinal tive um curso intensivo e sou pós-graduada em louro oxigenado.

— Nem me convidou para a festa, Katniss?

Peeta se senta entre eu e Ren, no chão. Esse cara é inacreditável.

— Então, vocês dois se conhecem há muito tempo? — indaga Ren.

— Sim, há muito tempo! Não é mesmo, Katniss?

Ele passa a mão por meus ombros e me puxa para ele. Dá para acreditar nisso? Tento me safar de suas garras. No entanto, sua mão segura firmemente o meu ombro. Essa seria uma boa hora para certo alguém receber um bom soco em seu narizinho perfeito.

— É claro! — resolvo entrar nesse joguinho. Seja qual for esse jogo. — Há muito tempo!

— Ah! — os olhos de Ren nos avaliam, como se procurasse saber qual é exatamente nossa relação.

— Katniss e eu moramos um tempo juntos — Peeta sorri, me trazendo ainda mais para perto dele.

O que este cara está pretendendo me agarrando desse jeito? Fazer suco de Katniss Everdeen?

— Juntos? — Ren indaga, sem recuar o olhar sobre nós.

— O pai de Peeta resolveu dar uma lição e mandou ele para nossa casa — me apresso em esclarecer. Meu tom é divertido, mas esconde uma boa dose de veneno. — Foi realmente uma boa lição...

— Foi mesmo! — concorda Peeta, apertando meu ombro.

Essa é primeira vez em seis anos que nossos corpos estão próximos. Muito próximos...

— Sabia que Katniss não mudou nada desde aquela época?! Nem cresceu um centímetro sequer! — Peeta continua a sorrir.

O sorriso dele está me causando escalafrios.

— Ei! — protesto.

Ren se levanta do tapete.

— É melhor eu ir... acho que exagerei um pouco na bebida... E amanhã tenho que acordar cedo.

— Mas já?! — a voz de Peeta está cheia de sarcasmo, embora somente eu consiga identificar.

Ren me olha.

— Katniss... — passa a mão pelos cabelos negros, fazendo os fios ficarem todos bagunçados. — Amanhã... conversamos...

Assinto. Ren vai rapidamente até a porta. Assim que ele sai, trato de sair das garras do louro oxigenado, o empurrando para longe de mim com todas as minhas forças.

— O que você pensa que está fazendo?

— Esse cara é seu namoradinho, Katniss? — a máscara de bom moço que ele usou a segundos atrás acaba de cair. Peeta já não sorri mais.

— O que você tem a ver com isso? — falo secamente.

Peeta me encara. É impressão minha... ou sua expressão é de alguém ofendido. Sério?

— Argh! Por que você é assim? — retribuo seu olhar.

Ele dá os ombros. Suspiro. Eu juro que ainda vou queimar todos os meus neurônios por causa desse cara, nunca vou o entender. Nunca. Se alguém conseguir compreender o que se passa por trás desses fios louros merece ganhar um Nobel! Porque essa será a descoberta do século.

— Esse apartamento está mesmo uma bagunça! — reclama, enquanto apanha uma latinha de cerveja.

A pobre latinha é amassada pelas mãos de Peeta em instantes. Não sabia que ele ficaria com tanta raiva devido ao estado do apartamento. Afinal, ele nem vive aqui.

Me levanto do chão. E o ignoro. Estou com raiva dele por ter interrompido meu beijo com Ren e depois ele ainda ficou fazendo aquele joguinho de bom moço. Eu mereço! Em minha vida passada devo ter incendiado uma cidade. Isso deve ser carma.

Peeta permanece sentado no chão, um tanto emburrado.

— Você não vai ajudar? — falo, terminando de recolher o lixo que está espalhado pela sala.

— Eu não participei da festinha! — sua voz tem uma alta dose de sarcasmo. — Não fui convidado, já que você não gosta de falar que vive em meu apartamento e... comigo.

— Hã? — o que esse cara está falando? — É claro que devo confessar a todo mundo que estou vivendo no apartamento de Peeta Mellark! Que por acaso está fazendo uma parceria com a Sinsajo... — rebato cheia de ironia.

Peeta dá os ombros.

Termino de limpar o apartamento (sozinha, porque o senhor não sou obrigado a te ajudar, resolve que seria uma ótima diversão ficar me observando, enquanto eu faço o trabalho duro).

Vou para meu quarto e deixo Peeta na sala. Ele que fique com seu mau humor, até parece que foi picado por um bicho.

— Ei, Cenourinha, Ren e eu nos beijamos! — conto, enquanto dou comida para meu coelho. — Você também gosta dele, né?

Cenourinha me olha. Acredito que isso foi um sim.

— Pena que aquele idiota chegou bem na hora! Ele sempre estraga tudo. Se eu pudesse... se eu pudesse aquele idiota iria ver só!

Acaricio Cenourinha.

— Por que ele tinha que voltar para minha vida depois de tantos anos? Argh! Estou ficando maluca pensando nisso! Melhor eu ir dormir!

Minha cabeça está preste a explodir quando eu acordo. Não estou acostumada a beber, por isso a ressaca. Meu humor definitivamente não é dos melhores hoje. E tudo piora quando sou recepcionada por um sorrisinho sarcástico de Peeta, ao entrar na cozinha.

— Dormiu bem? — indaga.

Nem me incomodo em responder.

Peeta coloca um pouco de café na xícara.

— Iria fazer pão hoje... mas estou atrasado... — se justifica. Mas algo me diz que essa justificava é muito falsa.

Ele toma um grande gole de café. Pego a garrafa e descubro que ela está vazia.

— Ops, esqueci de avisar que tomei todo o café! — diz, dando um último gole em seu café.

O que há com esse cara? Ele resolveu tirar o dia para abusar de minha paciência?

— Tchau, Katniss! — fala bem alto, enquanto sai da cozinha. — E acho que você está... um pouco atrasada...

Olho para o relógio. Quase tenho um infarto. Eu não estou um pouco atrasada, eu estou totalmente atrasada. Johanna vai arrancar minha pele e depois para vai expô-la para servir de exemplo a funcionários que chegam atrasados.

Literalmente, vou correndo para o trabalho. Quando chego ao prédio da Sinsajo, estou totalmente banhada em suor e sem folego.

Johanna está analisando alguns papéis, quando chego na sala. Acho que posso passar despercebida por ela. Me coloco nas pontas dos pés e vou em direção a minha mesa.

— Katniss! — Johanna diz, sem retirar os olhos dos papéis. — Você está atrasada... — praticamente cantarola.

Finnick passa a mão pelo pescoço, indicando que eu estou bem encrencada e Annie solta um suspiro, sinalizando que está com uma ressaca daquelas.

— Você precisa terminar esses relatórios para mim — ela me estende a pilha de papéis que estava examinando. — Quero isso... agora.

Vou para minha mesa. Tenho um longo, longo, longo dia de trabalho pela frente.

São quase cinco horas da tarde, quando entrego os relatórios para Johanna, e eu nem almocei! Eu tive que me contentar um sanduiche que encontrei na geladeira.

Resolvo comprar alguma coisa para comer, antes que meu estômago resolva me processar.

O elevador está vazio, quando eu o apanho. Porém, no próximo andar, ele recebe mais um passageiro... Ren.

— Oi, Katniss — cumprimenta um pouco sem jeito.

— Oi, Ren...

Droga. Eu não havia pensando nisso. Eu não havia pensando como seria constrangedor ver Ren no dia seguinte após o beijo. Mil pensamentos passam por minha cabeça. E eu não consigo articular uma palavra sequer. Por que as palavras têm a incrível capacidade de sumirem quando eu mais preciso delas?

Perguntas e perguntas rodam em minha cabeça. Eu sou um turbilhão de perguntas. Um turbilhão de perguntas sem respostas.

— Hum...— pelo menos estou tentando articular uma frase. — Está frio, hoje, não? — eu não disse que a frase tinha sentindo.

— É... — os olhos de Ren pousam em mim.

Um sorriso (que sorriso!) surge em seu rosto. E toda minha tensão de momentos atrás desaparece. Retribuo seu sorriso.

— Vou tomar um café — explico.

— Posso te acompanhar?

Assinto.

Existe em frente a Sinsajo uma pequena cafeteria. Nós sempre vamos lá fazer um lanchinho (ou fugir da chefe).

Eu e Ren nos sentamos no fundo da cafeteria. Ren pede um café simples e eu um cappuccino e uma torta de morango.

Enquanto eu devoro minha torta, noto os olhares de Ren sobre mim e alguns sorrisos furtivos.

— Sobre ontem... — alguém tem que começar o assunto, e eu resolvo me incumbir dessa não tão fácil tarefa. — Eu... — o que eu falo agora?

— Ontem... foi ótimo, Katniss — Ren sorri para mim.

— E agora? — tento vislumbrar no rosto de Ren algo que me indique o próximo passo. — Esquecemos? — cala a boca, Katniss! O que você está falando? — Você e eu não estávamos em nosso juízo perfeito... — argumento, quando não obtenho nenhuma resposta de Ren. — Eu vou entender, se você...

No entanto, o dedo de Ren pousa em meus lábios me impedindo de continuar.

— Apenas... deixamos acontecer — diz simplesmente. — Katniss, eu gosto de você, gosto de ficar com você... e ontem, ontem foi muito bom.

Como Ren consegue transforma algo que ficou meses me perturbando em algo tão fácil?

— Que tal se fossemos jantar, hoje? — convida.

— Claro! — respondo prontamente.

— Passo em seu apartamento as oito.

Eu vou sair com Ren! Uau! Parece que a sorte mudou. Será que depois de anos de azar, finalmente minha má sorte terminou?

O dia ficou muito belo repentinamente. Por isso, até canto no caminho para a casa. Aliás, ainda estou cantando quando chego no apartamento.

— Mockingjay, Katniss? Sério? — a voz do louro oxigenado interrompe meu momento. Mas eu estou tão animada que nem mesmo Peeta vai tirar isso de mim.

— Mockingjay é vida! — respondo, colocando a língua para fora como uma garotinha do jardim.

Os olhos de Peeta me analisam.

— Você?

Dou os ombros para ele.

— Não adianta me provocar, louro oxigenado!

Peeta ri.

— Louro oxigenado? Por que você está me chamando disso agora, tampinha? — pergunta divertido. Alguém parece ter melhorado seu humor, hoje.

Não respondo.

— Vou fazer cozido de carneiro para o jantar — anuncia, indo para a cozinha.

— Eu não vou jantar em casa hoje — grito do meu quarto.

— Não? Algum compromisso na Sinsajo?

— Não...

Silêncio.

Silêncio.

Silêncio.

— Você vai sair com aquele cara?

— Talvez — respondo vagamente.

Aliás, por que eu estou respondendo Peeta? Não tenho o dever de dar nenhuma explicação a ele.

Me apresso em me arrumar para meu encontro com Ren. Deveria ter ouvido minha mãe, quando ela disse para eu comprar um vestido. Até cogito na possibilidade de usar uma sandália com salto que ganhei de presente de Rue (só mesmo Ren para me fazer ter essa ideia, já que saltos e eu somados é igual a desastre). Porém, acabo deixando a ideia de lado. No final, opto por usar algo casual.

Começo a suar frio ao pensar em meu encontro com Ren. Resolvo tomar um copo da água na cozinha. No entanto, descubro que essa foi uma má ideia ao me deparar com um Peeta seminu saindo do banheiro. Ele só está usando uma micro toalha para cobrir as suas partes.

Pequenas gotas de água caem de seu cabelo e deslizam pelo seu torso, contornando cada barrinha de seu abdômen tabletes de chocolate. Havia me esquecido de como Peeta Mellark tem um corpo de um deus saído do monte Olimpo. Um deus que vem a terra, só para tentar as pobres mortais que tenham a infelicidade de cruzar pelo seu caminho.

Desvio meus olhos dele... tarde demais. Ele notou meu olhar. Não tenho culpa se ele fica desfilando seu corpo por aí! Que droga! Por que eu não desviei meus olhos antes?

Peeta sorri. Um sorriso muito malicioso, como se acabasse de ter descoberto algo realmente interessante. E caminha em minha direção.

Talvez, hoje não seja meu dia de sorte. É, nunca posso acreditar que minha sorte vai melhorar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Notaram que certo alguém teve uma crise de ciúmes? Parece que tentar disfarçar não adiantou muito rsrsrsrsrs. E essas táticas do Peeta, será que vão funcionar? Pobre Katniss!