Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 24
Diagnóstico: azar crônico


Notas iniciais do capítulo

Olha só, desta vez eu não demorei! Milagres acontecem!
Leiam as notas finais, tenho uma surpresinha para quem gosta de "Tempo de estrelas".



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Eu tenho uma gravíssima doença, uma doença sem cura, azar crônico. Minha sorte nunca ajuda. Nunca.

— Como? Eu ficar no seu apartamento? — falo perplexa com o inusitado convite. Será que Peeta bateu com a cabeça na parede?

— Você está precisando de um lugar para fica, e meu apartamento está livre.

Peeta? Um bom samaritano? Acho que vim parar em uma realidade alternativa.

— Não, obrigada, Peeta. Eu me viro.

Ele me encara.

— Tem certeza, Katniss? Encontrar um apartamento nessa cidade é quase uma missão impossível.

— Tenho — falo secamente. Eu não vou aceitar ajuda desse louro oxigenado. Não mesmo! E a minha dignidade como fica?

— E a onde você irá ficar?

— Isso é problema meu.

Ele pousa seus olhos em mim com tranquilidade. Argh! Por que ele consegue ficar tão calmo?

— Realmente, isso é problema seu — diz calmamente. — Mas é um grande problema.

Muito engraçado, Peeta. Muito engraçado.

— Katniss, se você está preocupada com o fato de morar comigo, não se preocupe. Amanhã, estou voltando para Paris, tenho negócios a resolver. E eu não costumo vir aqui com frequência, Lavínia é uma ótima administradora — suspira, parece um tanto cansado. — Você terá o apartamento todo para você...

Um apartamento todo para mim? Dignidade, volte aqui!

— Olha, Peeta, eu agradeço sua ajuda, mas...

— Antes de você mais uma vez rejeitar minha oferta, peço que vá até meu apartamento — Peeta pega um pequeno bloco de papel e uma caneta e anota algo. ­— Aqui, esse é meu endereço — estende o papel para mim.

Olho desdenhosa para o papel.

— Vamos, Katniss. Eu também estou precisando de alguém para cuidar do meu apartamento, quando estou ausente — sua mão continua estendida. — Vamos nos ajudar mutuamente... Você com um lugar para morar, e eu com alguém para cuidar do meu apartamento.

Meu cérebro começa a ter pensamentos realmente estranhos. Conhecer ou não conhecer o apartamento de Peeta? A resposta é óbvia, nem sei o porquê de estar pensando nisso.

— Meu apartamento fica há dez minutos daqui... — acrescenta.

— E daí? — ele está muito enganado se pensa que isso me fará mudar de ideia.

— Dez minutos a pé.

Pego o maldito papel! Isso foi golpe baixo.

— Estou te esperando ao meio dia — fala, enquanto sai da sacada.

Como se eu fosse aparecer no apartamento dele. Senta lá, Peeta! Ele que espere sentando, ou melhor deitado!

Olho para o papel... Obviamente que eu não irei... Esse endereço é bem perto daqui... Não, isso seria confraternizar com o inimigo... Ótimo bairro...

— Katniss, por que você está andando em círculos, de um lugar a outro, murmurando coisas desconexas? — pergunta Annie, se aproximando de mim. — Eu sei que nossa chefe é louca, mas você não precisa ficar louca também... Isso seria mais do que dar o sangue pelo trabalho.

— Ah, fica quieta, Annie! — falo rindo.

— Hum... Esse bairro é ótimo — pega o papel da minha mão. — Realmente, ótimo! Algum cliente mora aí?

— Sim — respondo vagamente.

Annie me olha, esperando que eu prossiga.

— Ele pediu... Ele quer uma reunião... por isso me deu o endereço... — tento me justificar. Aliás, por que eu estou me justificando?

— Certo — assente Annie, que parece um tanto desconfiada.

— Ei, vocês duas! — Johanna aparece subitamente. — Temos um monte de trabalho! Venham logo!

Annie e eu seguimos os passos apresados de Johanna.

— Ela está muito empolgada — cochicha Annie, dando uma piscadela para mim. — Alguém está muito interessado em nossa nova parceria... Deve ser o fato dele ser um louro com incríveis olhos azuis e muito sexy! — sorri de modo travesso.

Pronto, minha chefe foi arrebata pelo charme Mellark.

— Só não tão sexy quanto eu! — Finnick cochicha, me dando um pequeno susto. As pessoas dessa empresa têm um sério problema em chegar sem avisar.

— Com medo de perder seu posto, Finnick? — Annie provoca.

Finnick lança um olhar desdenhoso.

— Como se ele pudesse?

— Ele pode sim — rebate Annie. — E como pode!

Olho para meus dois colegas de trabalho. Seria possível pedir ajuda para eles? A resposta é um grande não. Annie mora com os pais. Finnick divide o minúsculo apartamento com Ren e mais duas pessoas. O apartamento deles é mais pequeno que o meu, tem apenas um quarto e uma sala/cozinha. Morar com eles, seria trazer problema para eles. E eu não desejo ser um incomodo para ninguém. Hotéis? Minha conta bancária está tão ruim que nem consigo alugar um quarto de hotel de beira de estrada. Sério, estou falida. E, não, não estou sendo dramática, nem exagerando a situação. Hotéis aqui não são uma solução viável.

Meu salário na Sinsajo é muito pequeno, mal dá para pagar as despeças. Sem falar, que tenho várias dividas estudantis para pagar. Se um mendigo me visse, ele se oferecia para me dar dinheiro ao ver o saldo da minha carteira. Não tem jeito, eu preciso morar debaixo da ponte.

Noto que ainda estou com o papel com o endereço que Peeta me deu. Respiro fundo. Não, eu não vou aceitar a oferta de Peeta. Não vou mesmo! Não, não, não...

Ao meio-dia, depois de uma mortífera batalha interna, me vejo em frente ao prédio de Peeta. Um prédio muito bonito, diga-se. Aí! Sinto uma pontada em minha consciência, o que eu estou fazendo?

Levo a minha mão até o interfone, mas recuo. Não, eu vou embora. Mesmo que tenha que morar debaixo da ponte, não vou aceitar a oferta de Peeta, onde foi parar meu orgulho?

— Katniss, não faça buraco em frente ao prédio! — a voz de Peeta faz quase eu dar um pequeno salto.

— Eu só estava passando... fica no caminho para minha casa — minto descaradamente.

— Ok — ele sorri, fingindo acreditar em minha mentira. — Já que está aí mesmo, que tal conhecer o apartamento... — indica com a cabeça o prédio. — Fui ao supermercado — mostra as sacolas. — Vou fazer o almoço...

— Você, indo ao mercado sozinho? — não posso evitar fazer esse comentário, já que me lembro de certa ocasião.

— Eu sou um chef, Katniss, preciso comprar minhas ferramentas de trabalho — fala divertido. — Então... — arqueia a sobrancelha.

— Tudo bem — devo ter batido com minha cabeça em algum lugar.

Peeta abre o portão do prédio.

O prédio é ainda mais bonito do lado de dentro. Que é isso? Sendo traída por mim mesma?

Não conversamos durante o trajeto até o seu apartamento.

Peeta sai do elevador no oitavo andar. O apartamento dele não deve ser lá estas coisas, não? É...

Ele abre a porta do apartamento.

— Pode entrar, Katniss... — convida.

Uau... posso começar a chorar? O apartamento dele é muito bonito. Não é muito grande, claro se comparar com meu apartamento, é enorme (mas meu apartamento não conta). Janelas amplas filtram uma luz suave que ilumina o apartamento decorado com simplicidade e bom gosto.

— Vou preparar o almoço, fique a vontade para olhar o apartamento — diz, indo para a cozinha.

Peeta não está pensando que irá me impressionar com esse numerozinho ou está? Se ele pensa que vou ficar impressionada com seu apartamento... ele (oh! Droga!)... está certo. Mas isso é segredo, viu? E não há nada de errado em admirar um apartamento bonito. Nada.

Constato que o apartamento tem dois quartos. E dois quartos bem grandinhos. Há também uma área de serviço. Meu apartamento não tem nenhuma área de serviço. Quando preciso lavar roupa é um verdadeiro malabarismo.

A sacada tem uma visão muito bela da cidade. Há diversas plantas suspensas, espalhadas pela sacada.

Tudo nesse apartamento é tão perfeito.

Observo que ele transmite uma certa impessoalidade. Parece que Peeta não vem muito aqui, não há nada que identifique este apartamento como seu. Nenhuma foto, nada fora do lugar. Tudo é extremamente limpo e organizado.

— Então, gostou do apartamento? — parece que alguém andou aperfeiçoando a técnica de se aproximar sem ser notado.

— É legalzinho... — nunca vou admitir que o apartamento dele é incrível.

— Estou terminando o almoço, quer comer?

Um cheiro delicioso vem da cozinha. Sossega, estômago! Não me faça perder ainda mais o meu orgulho.

— Não, obrigada, eu já almocei — minto. — Tenho que voltar para a Sinsajo! — coloco bastante urgência em meu tom de voz.

— Certo... — assente.

— Então, é isso... — falo, sem saber como despedir ao certo.

— Você vai ficar com o apartamento?

Eu mentiria se respondesse que não quero. Quem não quer morar em um apartamento desses? Mas há o meu orgulho. Morar nesse apartamento, me faria dever um favor a Peeta, e eu não quero dever nenhum favor a ele.

— Considere isso como uma troca — fala subitamente. — Você cuida do meu apartamento, enquanto eu estiver fora. Rega as plantas... Aliás, estou pagando uma fortuna para regarem as plantas...

Olho para ele duvidosa, Peeta não é desse planeta!

— Desse jeito, sou eu que vou ficar em desvantagem! Vou regar as plantas para você de graça! — protesto.

— Considere regar as plantas como o aluguel do apartamento. Trato feito – acrescenta rapidamente. — Você cuida das plantas e pode morar aqui.

Como? O que acabou de acontecer aqui?

Peeta me entrega uma chave.

— Você pode se mudar para o apartamento amanhã. Eu não estarei aqui, vou deixar as instruções de como cuidar das plantas...

— Ainda acho que você está levando toda a vantagem aqui!

Peeta sorri.

Sim, eu acabei de aceitar me mudar para o apartamento de Peeta! Quero me bater, cadê meu orgulho uma hora dessas? Cadê?

Mas se eu vou morar nesse apartamento, vai ser sobre as minhas condições! Hora de comprar um lindo coelhinho...

Estou com um sorriso enorme, quando saio do pet shop com um belo coelhinho cinza.

Mas analisando a situação racionalmente, até que me dei bem, vou morar em um apartamento muito bom e ainda arrumei um animal de estimação. E a melhor parte, Peeta não vai estar aqui.

A minha mudança para o apartamento de Peeta ocorre sem transtornos. Ele cumpriu sua promessa e no dia seguinte voltou para Paris. Depois daquele dia, não precisei mais ver e nem falar com Peeta.

Acredito que fiz uma boa escolha. De garota sem teto a garota que mora em um belo apartamento. Ei, não me julguem! Agora eu não preciso apanhar dois ônibus, nem acordar tão cedo. Vou andando até o trabalho. Tenho um chuveiro que tem água quente. Não preciso mais subir escadas, já que o elevador daqui está sempre funcionando.

— Katniss, como você conseguiu um apartamento tão bom? — pergunta Ren mais uma vez, enquanto liga a enorme TV da sala.

— Hum... segredo!

— Pode me dizer qual é esse segredo, Katniss! Estou precisando! Aquele apartamento está cada vez mais apertado, até parece que estão fazendo magia para ele encolher!

Rio da expressão dramática de Ren.

— Você é muito dramático!

— Katniss, quatro caras dividindo um minúsculo quarto não é a melhor das situações! Se fosse você no meu lugar, tenho certeza, que também estaria assim!

— Não se esqueça que meu antigo apartamento estava literalmente caindo aos pedaços!

Eu e Ren rimos de nossas absurdas situações.

A risada de Ren é tão linda! Maldita queda. Acredito que minha pequena quedinha por Ren está cada vez maior. Tenho que lembrar muitas vezes o fato dele ser meu amigo (um dos meus melhores amigo).

— Katniss... — Ren me olha e aproxima-se de mim.

Meu coração quase salta pela boca. Ele está muito próximo de mim. Próximo demais. Com certeza, essa não é uma distância segura... Ren nem imagina quais são os riscos (muitos).

Sua mão toca delicadamente meu rosto. Seu toque é quente e suave.

Como um garotinho travesso, ele sorri.

— Seu rosto estava sujo de molho de macarrão — se afasta de mim.

E, eu fico tentando me recuperar da perigosa situação a que fui exposta.

— E como está o Cenourinha? — se levanta do sofá e vai até a gaiola em que mantenho o coelho.

Ren começa a brincar com Cenourinha. O coelhinho adora Ren. Parece que não sou apenas eu que me rendi aos encantos de certo alguém. Acredito que algo fofo reconhece outra fofura.

Para evitar outras situações perigosas, trato de manter uma distância segura de Ren.

Depois que Ren vai embora, resolvo tirar o resto do dia para fazer absolutamente nada.

Domingos são extremamente tediosos, principalmente as tardes de domingo. Sei lá, sinto uma preguiça enorme, todos os meus músculos parecem querer uma única coisa, fazer absolutamente nada. Desabo no sofá e fecho os olhos. Acabo adormecendo. Sou despertada pelo som da campainha. Esse som é realmente chato.

— Já vou! — grito, me levantando um pouco atordoada devido ao sono.

Me encaminho aos tropeções até a porta. Abro-a.

— Peeta?! — meu queixo quase cai ao chão.

Não, isso só pode ser ilusão de ótica.

— Oi, Katniss! — diz ele, entrando no apartamento, com duas malas. — Surgiu um imprevisto e eu preciso ficar alguns dias aqui...

Eu sofro de azar crônico. Não há outra explicação. Quando eu penso que as coisas estão perfeitas, sempre surge algo para destruir minhas expectativas de que minha má sorte tenha acabado.

— Espera, isso é um coelho? — ouço um pequeno grito de Peeta.

Sorrio. Peeta também não está em seus dias de sorte.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? E agora o que será que vai acontecer com esses dois? Pobre Cenourinha!
Sobre a novidade relacionada a "Tempo de estrelas", é que eu resolvi transformá-la em original! Fiz algumas várias modificações, e agora a estou postando no Wattpad como original. Se alguém se interessar por ver como estou me saindo nessa minha nova jornada, segue o link. Vou amar ter companhia por lá também!
https://www.wattpad.com/story/45554353