Boa Sorte, Katniss escrita por Hanna Martins


Capítulo 12
Delírios de febre


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Gabriele Neves que fez uma bela recomendação para a fic e me deixou sorrindo aqui, cheia de ânimo para terminar o capítulo! Obrigada, sua linda!!!.



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Todo meu corpo dói. Sinto um gosto horrível na boca. Não consigo me colocar de pé direito, porque parece que mundo roda diante de mim. Até mesmo meu estômago dói. Tenho febre. Já tomei vários remédios. Deve ser por isso que estou um pouco fora do ar.

Com muita dificuldade me arrasto até a sala. Sei que devo comer. No entanto, não tenho apetite. Quando eu não tenho apetite isso significa que a coisa é muito grave. Acho que vou morrer!

Me deito no sofá e me envolvo no cobertor (estou com muito frio devido à febre). Apenas quero dormir e dormir. Hoje de manhã, acordei assim, por isso nem fui para o colégio.

Não sei por quanto tempo, eu durmo, só sei que acordo com o barulho da porta sendo aberta.

― Tampinha, você resolveu virar uma rebelde agora e não ir para a aula? ― Peeta entra.

― Você é o rebelde aqui! ― a resposta soaria melhor se eu não estivesse com essa voz, que soa igual a um pato morrendo.

Ele se coloca perto do sofá e me analisa.

― O quê você tem? — pergunta, me encarando.

― Nada... ― fecho os olhos, discutir com Peeta é cansativo demais, apenas quero dormir mais um pouquinho.

― Tampinha?

Sinto a mão de Peeta em minha testa. Abro os olhos e me deparo com os olhos de Peeta bem perto de mim.

― Você está queimando de febre! ― fala de uma maneira que eu até poderia acreditar que ele está preocupado comigo, caso não se tratasse do louro oxigenado.

― Não é nada ― repito.

― Você precisa ir para o hospital! Vou te levar até lá.

― Não! ― me oponho.

― Katniss, você está doente, precisa ir para o hospital! ― insiste.

― Eu já tomei alguns remédios... é apenas uma gripe...

Peeta me olha como se estivesse pensando no que irá fazer comigo.

― Você avisou Effie ou Haymitch?

― Não... não quero que eles fiquem preocupados.

Ele suspira.

― Katniss, você precisa ir para o hospital!

Peeta começa a sair de perto de mim. A ideia de ir para o hospital não me agrada nenhum um pouco. Não quero ir para aquele lugar de jeito nenhum. Só de pensar nisso fico ainda mais doente.

― Katniss, pare de se comportar feito um bebezinho! Eu vou te levar para o hospital, sim!

― Não, por favor, não!

Me atiro sobre Peeta, envolvendo meus braços em sua cintura, tentando impedir que ele se vá.

― O que há de errado com você? ― pergunta, me olhando. Não há raiva em sua voz, nem nada parecido, por eu estar me agarrando a ele feito uma pirralha birrenta.

Eu ainda permaneço com meus braços envolvendo sua cintura. Não quero que ele me leve para hospital algum. Aquele lugar me causa aflição e angustia. Começo a soar frio toda vez que preciso ir ao hospital. Eu odeio hospitais desde os meus cinco anos.

― Promete para mim que você não vai me levar ao hospital? ― suplico.

― Só se você me falar por que não quer ir para o hospital... ― sua voz soa um tanto preocupada.

― Eu odeio hospitais... ― minha voz está fraca, quase um sopro. ― Eu tinha cinco anos quando meu pai morreu de... câncer. Ele ficou vários meses internado em um hospital. Eu vi todo o sofrimento dele... E sempre que eu piso em um hospital me recordo de tudo. Me recordo de sua dor, de sua luta para se manter vivo... da morte o levando em pequenas parcelas... De seu rosto pálido e agonizante... É por isso que eu não quero ir para um hospital.

Os hospitais são uma espécie de território proibido para mim. Tudo neles me traz péssimas recordações. O cheiro de coisas rigorosamente esterilizadas que paira sob todos os lugares. O cheiro que impregna nossas roupas, nossos narizes, nossos ossos. As paredes brancas que são mais opressivas que qualquer prisão existente. Odeio aquele ambiente esterilizado e branco.

― Está bem... eu não vou te levar para o hospital... ― sua voz é afável, como se consolasse uma criancinha com medo de agulha.

Uma lágrima escorrega por minha face. Sinto uma pequenina carícia em meu cabelo.

Finalmente, solto sua cintura e volto a me deitar no sofá.

― Você já comeu?

Balanço a cabeça negativamente.

― Vou preparar algo para você comer.

― Não quero comer!

― Escuta, eu não vou te levar ao hospital, mas em troca você vai fazer tudo que eu falar. Você precisa comer! ― seu tom é firme, porém há algo de brandura nele.

Antes que eu possa protestar Peeta vai para a cozinha. Em poucos minutos ele aparece com um prato de sopa, que em outra ocasião eu atacaria sem esperar segunda ordem. Porém, meu estômago fica um pouco embrulhado ao sentir o cheiro da sopa.

― Coma!

― Não.

― Quer que eu te leve para o hospital?

Me sento no sofá. Peeta coloca o prato em meu colo. Com resignação levo uma colher de sopa até minha boca.

Peeta senta-se ao meu lado, como se estivesse se certificando que eu engulo cada colher de sopa.

A sopa está boa, na medida do possível. Porém, tomo apenas algumas colheres.

― Você deve estar mesmo muito doente para rejeitar comida ― fala Peeta, pegando o prato.

Volto a me deitar no sofá. Peeta vai até a cozinha e volta com um copo de água e alguns remédios.

― Tome seu remédio.

Não protesto dessa vez.

― Peeta... você andou fumando algo?

Ele me olha interrogativo.

― Você parece até preocupado comigo...

― Só não quero ser o culpado pela sua morte ― sua voz possui um tom brincalhão.

Peeta realmente é um mistério para mim. Um mistério que só deixa minha cabeça doendo ainda mais.

Ele toca a minha testa.

― Sua febre continua alta... Vou fazer um mingau para você...

― Não, chega de comida! ― eu realmente devo estar muito doente, já disse que estou à beira da morte!

― É um mingau especial... Minha mãe... ela fazia esta receita.

― Sua mãe? ― lembro que Haymitch me disse que a mãe de Peeta morreu no parto.

― Ela tinha um livro de receitas, que escreveu com seu próprio punho. São receitas que ela criou. Um dia eu encontrei esse livro... Foi então que me interessei pela culinária. Não conheci minha mãe... cozinhar me deixa um pouco próximo dela de alguma maneira ― seu olhar é distante, quando me conta essa história.

Penso novamente como deve ser para ele ter-se criado sem sua mãe por perto e o pior fazer aniversário exatamente na data em que ela morreu.

Pego em sua mão. Já entendi tudo, estou delirando.

― Tenho certeza que sua mãe ainda continua com você... Ela te deu a coisa mais preciosa que existe, a vida.

Peeta sorri para mim. Essa é uma rara ocasião em que seu sorriso não é falso. Solto sua mão e ele vai para a cozinha.

Quando ele traz o mingau, me esforço para comer tudo (mesmo sob os protestos de meu estômago), sei lá por qual motivo (deve ser a febre).

Peeta leva o prato de mingau para a cozinha assim que termino e depois me traz uma xícara de chá.

― Você precisa ficar hidratada... Isso irá te ajudar ― diz ao ver minha careta diante do chá.

Tomo o chá e volto a me deitar no sofá, fechando os olhos.

― É melhor você ir dormir na cama.

― Não sei se tenho forças para ir até meu quarto... ― digo um tanto dramática.

Peeta franze o cenho. Sem dizer nada me pega no colo.

― O quê está fazendo?

― Te dando uma carona, mas não se acostume ― avisa.

Nada digo, apenas encosto meu rosto em seu pescoço. Roço levemente meu nariz em sua pele, aspirando sua colônia. O cheiro é agradável, não é doce, nem enjoativo. É um cheiro diferente de tudo o que já senti. Deve ser a febre, mas eu gosto desse aroma.

Peeta me deita na cama debaixo do beliche, que, aliás, é a sua cama.

― A cama de baixo é melhor... ― porém, como Peeta é Peeta, tem que acrescentar algo desagradável. ― Mas não pense que eu estou a cedendo, só estou te emprestando por hoje, porque você está doente e eu não quero que no meio da noite você caia em cima de mim!

Ele começa a se afastar.

― Peeta... ― chamo. ― O mingau estava muito bom ― falo com minha voz débil.

Fecho os olhos e caio no sono imediatamente.

Durmo por bastante tempo. Apenas acordo quando minha mãe chega. Ela fica toda preocupa e me enche de chazinhos. Juro que se continuar tomando tanto chá assim daqui a pouco virarei uma chaleira.

Minha mãe prepara uma sopa para mim para o jantar. Depois de tomar a sopa volto a dormir.

Acordo me sentindo bem melhor. Nada como uma noite de sono para expulsar a gripe de seu corpo. Porém, ainda não estou totalmente recuperada, por isso não vou ao colégio. Um dia de folga não faz mal a ninguém, não é mesmo?

Sem tirar o meu pijama, me sento no sofá e passo o dia assistindo desenhos animados, programas de TV e séries.

Quando Peeta chega, ainda estou em frente à TV, assistindo um programa qualquer. Ele me analisa.

― Você ficou o dia inteiro em frente à TV?

Dou os ombros.

― Comeu pelo menos algo que não fosse salgadinhos? ― aponta para o pacote de Ruffles que está em minhas mãos. ― Vou fazer um caldo para você! ― diz, jogando sua mochila em um canto qualquer da sala.

O louro oxigenado está agindo muito estranho! Ontem cuidou de mim e agora se ofereceu para fazer um caldo para mim. Coloco a mão na testa para verificar se ainda estou com febre e agora estou delirando. Não, não estou com febre.

Peeta volta da cozinha com um prato de caldo verde, que cheira maravilhosamente bem. Ele coloca o prato em meu colo e se senta no sofá ao meu lado.

― O quê foi? ― indaga ao notar que estou o encarando.

― Oxigenado, você também está com gripe? Está com febre? ― coloco a minha mão em sua testa. Constato que sua pele está com temperatura normal.

― Por que está me perguntando isso?

― Sei lá, mas você não está sendo irritante! O quê há de errado com você?

Ele ri.

― Tem certeza que você está bem? ― insisto.

Ele nada responde. Apenas fico o encarando.

― Você ainda está com febre? ― pergunta de supetão.

Antes que eu responda, ele coloca a mão em minha testa.

― Sem sinais de febre ― retira a mão de minha testa.

Acredito que ele está errado, porque estou sim com febre, porque só assim para explicar porque que vi um vislumbre de preocupação em Peeta.

― O caldo vai esfriar, tampinha! ― adverte.

Olho para o caldo verde, que está com um aspecto ótimo e começo a comer. É um crime desperdiçar comida.

― Aqui está seu dever de casa! ― retira um monte de papel da mochila e me entrega.

Quase tenho um pequeno infarto. Parece que os professores resolveram me enviar o dever de casa do ano inteiro. Dois dias sem ir para o colégio e olha só o tanto de coisa que preciso fazer!

― Sabia que você não seria tão legal assim por tanto tempo e que estava escondendo algo! ― examino os papéis.

― Você me conhece! ― sorri. ― Ah, estava quase esquecendo, hoje vamos começar a trabalhar no vídeo... Gale deve estar a caminho!

Olho para meu estado, ainda nem retirei o pijama! Corro para o banheiro para tomar um banho e trocar de roupa. Bem a tempo, já que Gale não demorar a aparecer.

Nós três ficamos discutindo por um longo tempo sobre o vídeo e não temos nenhuma ideia decente. Gale até sugeri recriarmos uma cena de Romeu e Julieta.

― Gale, eu me pergunto como você sendo um cara tão romântico ainda não conseguiu a garota que quer! ― falo após eu e Peeta recursarmos a ideia, já que ele pensou que eu e Peeta faríamos o papel de Romeu e Julieta.

Eu, Julieta? Estou começando a pensar seriamente que Gale também não pertence a esse planeta.

― Você sabe como eu sou... ― suspira.

― Se você mostrasse a metade de seu romantismo, tenho certeza que Madge já teria te notado...

― Quem teria notado o quê?... Madge? ― interroga Peeta, voltando da cozinha com um prato de salgadinhos.

Essa não, acabei falando coisas que não deveria! Eu e minha maldita boca!

Gale olha para Peeta. Noto que está um pouco encabulado.

― Você gosta da Madge, não é? ― pergunta Peeta com a maior naturalidade (digo cara de pau), dando uma mordida em um salgadinho.

Gale praticamente fica verde.

― Eu... eu... n-não... ― começa a gaguejar. Gale é um fiasco quando se trata do departamento amoroso.

― Eu vi como você olha para ela quando almoçamos juntos essa semana... E acabei de ter a confirmação. Você gosta dela! ― afirma sorrindo.

Pobre Gale. Mas ninguém diga que eu não tentei alertar Gale sobre os perigos de ter Peeta Mellark em nosso grupo.

― Peeta! ― o repreendo. Não quero ver Gale sofrendo por causa do louro oxigenado.

Porém, ele me ignora e continua a olhar Gale.

― É... eu gosto da Madge ― confessa timidamente.

Peeta exibe um sorriso triunfal.

― Sabia! ― dá outra mordida no salgadinho. ― Só não entendo uma coisa, se você gosta dela então por que fica todo... desconcertado perto dela.

― Eu... não consigo lidar com garotas das quais eu gosto...

― Hum... ― Peeta o analisa. ― Esse é um caso para ser estudado! Sabe... ― pega outro salgadinho. ― Eu poderia te ajudar a conquistar Madge...

Eu e Gale olhamos para Peeta perplexos. Eu escutei direito? Será que a febre voltou? Ou será que o oxigenado está com febre? Um de nós está com febre aqui, só pode.

― O que acha?

― Eu... aceito.

Meu Deus! Temos uma epidemia aqui! Todo mundo deve ter pegado minha gripe. Meus olhos vão de Gale a Peeta, Peeta a Gale.

Gale vai embora. E eu ainda não me recuperei do choque. Não mesmo.

― Tampinha, preciso realmente começar a cobrar pelo tempo que você fica me olhando!

Bufo. Peeta vai para a cozinha preparar o jantar. Sigo-o.

― O que você está tramando, louro oxigenado?

― Eu? ― fala com a voz mais inocente do mundo. ― Só estou pensando em fazer um delicioso bife acebolado para o jantar!

― Não se faça de desentendido! Sabe muito bem que não estou falando disso! Quero saber por que se ofereceu para ajudar Gale?

― Ah! ― ele calmamente começa pegar alguns ingredientes na geladeira para preparar o bife.

― Vai! Desembucha!

― Não posso fazer uma boa ação?

― Você? Fazendo uma boa ação? É mais fácil vacas voarem.

Peeta ri e continua a preparar o jantar.

― Talvez, um dia as vacas realmente voem. Mas isso seria um tanto ruim para nós, imagine você na rua e em vez de ver pombos voando se depara com uma enorme vaca... Eu não gostaria disso... Em vez de cocô de pombo, teríamos cocô de vaca... ― fala sugestivamente.

Isso tudo só se torna mais estranho. Peeta ajudando Gale. Gale aceitando a ajuda de Peeta... Aonde tudo isso irá parar?

E, além disso, Peeta até pareceu realmente preocupado comigo. Até cuidou de mim! Melhor eu ir medir minha febre, tenho certeza que ela acabou de voltar e agora estou delirando. Daqui a pouco vou começar a ver vacas voando por aí.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Peeta sendo menos Peeta? Até cuidou da Katniss! E agora? O que acontecerá com Peeta ajudando Gale?