Uma mistura de surpresa e raiva tomou conta do corpo de Niko quando ele viu Eron parado em sua frente. Aquela não era a primeira vez que Eron viu Niko depois de tudo o que aconteceu entre os dois, mas aquela era a primeira vez que ele teve a coragem de ir falar com o loiro. Eron tinha um sorriso enorme no rosto, depois de anos teve coragem de ir falar com ele e vê-lo assim tão de perto lhe trazia uma felicidade imensa. Por outro lado, Niko não estava nem um pouco contente em vê-lo e Eron pode comprovar isso com a resposta dele.

– Nossa Nicolas eu... eu não to acreditando! É você mesmo que está aqui comigo?

– Não é o papai Noel, você foi um bom menino esse ano?... Não ta vendo que sou eu.

Niko respondeu friamente, pois não estava nem um pouco feliz de ter encontrado ele. Mesmo estando obvio que o loiro não queria continuar aquela conversa, Eron insistia em falar com ele.

– Você ta tão diferente.

– As pessoas mudam... Olha eu to aqui pulando de alegria por dentro por ter te encontrado Eron, só que agora eu tenho que ir... – Niko foi claramente irônico, mas Eron não ligou e segurou em seu braço quando ele tentou ir embora.

– Faz tanto tempo que a gente não se fala... – Niko se soltou do agarre dele.

– Pra minha felicidade sim.

– Não fala assim, eu queria muito conversar com você Nicolas.

– Niko... Eu gosto que me chamem de Niko.

– Eu sei que talvez você guarde alguma mágoa de mim, mas...

– Talvez? – O loiro sorriu. -... Melhor você trocar o talvez por certeza, e não é uma não... são várias.

– Porque você ta falando desse jeito? Eu sei que você ta com raiva, ta no seu direito. Mas você ta tão diferente.

– Eu mudei, deixei de ser aquele garotinho apaixonado e doce que todo mundo fazia de idiota.

– E-eu senti sua falta Niko. - Afrimou Eron tentando se aproximar mais de Niko.

O loiro deu um sorriso não acreditando no que ele disse.

– Deixa de ser mentiroso Eron, eu acho que não teve um dia sequer que você tenha sentido a minha falta.

– Eu senti a sua falta sim, é verdade.

– Eu duvido muito.

– Apesar de tudo... você sabe que eu te amava.

– Imagina se não me amasse o que será que você faria comigo hein?

– Eu sinto muito pelas coisas terem terminado daquele jeito, eu não tive escolha você sabe...

– Você não teve escolha? – Agora sim Niko estava visivelmente irritado, aquilo foi a gota d'água. Sua voz que até pouco tempo estava calma ficou alterada. - Pelo contrário Eron... você tinha escolha e você escolheu me largar.

– Você sabe como meu pai era... eu não tive coragem de enfrentar ele.

– Você sempre foi um covarde... só agora eu entendo o porque de você não querer andar de mãos dada comigo em público, ter me ignorado tantas vezes quando estava com seus amigos... e principalmente fingir que eu não existia quando estava do lado do seu pai... Você é um covarde Eron. E mesmo assim eu fiquei com você, porque eu achava que você me amava de verdade. Olha eu mereço o troféu de idiota do século.

Niko pensou que aquela conversa tinha acabado ali já que ele permaneceu calado e não o olhava nos olhos. Niko olhou na direção em que Félix estava e viu que ele estava vendo aquela discussão de longe, Niko estava pronto para seguir seu caminho quando Eron se pronunciou.

– E as coisas que eu te disse, todas as declarações que eu fiz... não valeram nada pra você?

– Eu prefiro interpretar as suas ações não as suas palavras.

– Niko eu queria ir com você.

– Eron você tem que entender que são suas ações que fazem a diferença não o que você deseja. Olha eu... – Niko olhou novamente para Félix. – preciso ir agora.

Niko deu apenas alguns passos quando Eron o chamou.

– Niko.

– Que é? – O loiro já estava perdendo a paciência por não conseguir encerrar aquela conversa.

– Nunca duvide do amor que eu sentia por você... - Eron se aproximou dele, mas Niko se afastou.

– Jura que você quer ir por esse caminho?

– Você me perdoa?

Niko não respondeu nada, apenas o olhava de um jeito que Eron não conseguia identificar o que ele estava sentindo em relação a esse pedido de desculpas. Como a resposta não vinha, ele perguntou de novo.

– Você aceita as minhas desculpas?

– Sabe... Eu vou fazer o seguinte... – Ele respirou fundo antes de completar. – Vou pegar a suas desculpas e juntar com as outras desculpas que também não adiantaram de nada na minha vida.

– Niko...

– Vou juntar tudo isso com as suas falsas promessas junto com as decepções que você me causou. Que tal?

– Não fala assim, isso me destrói. – Eron tentou tocar em seu rosto, mas Niko se afastou mais ainda.

– Você não sabe o que é se sentir destruído, não sabe como é perder tudo que era importante pra você.

– Tudo que eu posso fazer é pedir desculpas pelo o que eu fiz. – Ele então pensou em algo. – Niko... se apesar dos anos o que eu fiz ainda te machuca tanto assim é porque você ainda sente algo por mim, não é?

– Como é? – Niko não conseguiu controlar a risada ao ouvir o que ele falou. – Você ta brincando comigo né? Olha eu não sou tão idiota assim.

– Meu coração diz que ainda resta um pouco daquele nosso amor aí no seu coração também, me diz... Diz que você sentiu falta do nosso amor tanto quanto eu.

– Não dá pra sentir falta de algo que eu nunca tive Eron.

– Niko, por favor...

– Sabe de uma coisa. – Niko abriu o melhor sorriso que poderia dar naquele momento. – Isso é uma sensação ótima.

– Qual? – Ele perguntou intrigado.

– Olhar pra você... E não sentir mais nada.

Niko saiu dali sem esperar alguma palavra do outro, deixando um Eron atordoado para trás. Niko o deixou ali, parado e sem lhe dar a chance de dizer algo mais.

Quando Eron o viu naquela praça conversando com as pessoas, pensou várias vezes se devia ou não ir falar com ele. Aquela já era a terceira vez que tinha esbarrado nele depois de muito tempo, ele chegou a conclusão de que não fazia nenhum sentindo esperar mais tempo para ter aquela conversa.

O que não passava por sua cabeça era que a conversa seria tão difícil como havia sido. Eron sabia que Niko era o tipo de pessoa que não guardava mágoa, podia comprovar isso nos tempos de namoro. O próprio loiro dizia que não havia espaço em seu coração para raiva. Mas o que viu em Niko hoje tinha lhe assustado, não havia mais nele aquela voz doce, não havia mais aquele brilho em seu olhar, até seu sorriso, sua postura e seu jeito de falar tinha mudado. Eron decidiu deixá-lo seguir seu caminho, mas ainda não tinha desistido de conversar com o loiro.

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Niko voltou e se sentou ao lado de Félix. Niko apenas se sentou e não disse nada, não fez nenhum comentário sobre o acontecido. Félix viu que ele segurava com certa força o dinheiro que tinha conseguido em suas mãos. Félix pós a mão na dele fazendo um leve carinho nela, depois de um longo suspiro Niko parecia mais calmo.

– Você ta bem? – Félix perguntou calmamente.

– Claro que estou... Porque eu não estaria? – Ele sorriu para afirmar que estava bem, mas o sorriso não o convenceu.

– Não sei... Você parece está nervoso.

Niko olhou para mãos unidas e Félix intensificou mais aquele aperto de mãos.

– Eu to ótimo Félix... Eu to bem. - Ele tentou novamente usar seu melhor sorriso para convencer Félix de que o que falava era verdade, só que visivelmente tinha falhado.

– Esse sorriso aí no seu rosto não ta me convencendo nem um pouco.

– E por acaso existe uma prova maior de que você está bem do que um sorriso?

– Mesmo sorrindo por fora... o coração pode está sofrendo por dentro. Sorrir não significa necessariamente que você está feliz. – Félix disse olhando fixamente em seus olhos.

– Eu não gosto quando você faz isso.

– Quando eu faço o que? - Perguntou sorrindo do jeito que ele falou.

– Quando você me olha dessa maneira, quando você me deixa sem ter o que dizer... eu não gosto da maneira frágil que eu fico quando eu estou do seu lado.

– Engraçado... quando eu estou do seu lado eu sinto que você é pessoa mais forte desse mundo.

Niko o olhou novamente sem saber o que dizer, Félix sorriu da carinha de irritação que ele estava fazendo.

– Ta vendo... Você ta fazendo de novo.

– Tudo bem nesse caso vamos mudar de assunto...

– É melhor mesmo.

– E então senhor generosidade, o que você conseguiu?

– O suficiente para comprar alguma coisa boa. – Niko disse ao abrir a mão para olhar o dinheiro que tinha conseguido.

– Que ótimo! Já ta fazendo a sua boa ação do dia.

– Viu como eu tinha razão, eu falei que eles iam me dar dinheiro seu eu pedisse. – Niko falava com um sorriso vitorioso no rosto.

– Desculpa! Eu me esqueci de levar em consideração que ninguém é capaz de negar algo para você quando faz a carinha de carneirinho pidão. – Félix olhou para o homem que Niko estava ajudando. - Eu só não entendo o porquê de você se importar tanto com alguém que você nunca viu na vida.

– Às vezes tudo que uma pessoa precisa é saber que existe alguém nesse mundo que se importa com ela, nem que se seja só por alguns instantes... Bom agora eu vou bem ali comprar alguma coisa, já volto. – O loiro levantou.

– Vai... não esquece de olhar para os dois lados da rua antes de atravessar viu mocinho.

– Engraçadinho, muito engraçado você.

Niko seguiu em uma rua, tudo isso com o olhar atento de Félix que o acompanhou até o ver dobrar em uma esquina. Félix se recostou no banco fechando os olhos e sentindo o vento bater em seu rosto, após alguns minutos assim ele sentiu alguém se sentar do seu lado. Félix pensou que era Niko que tinha voltado, mas ao abrir olhos se deparou com o homem que há poucos minutos atrás estava discutindo com Niko. Eron se pronunciou primeiro.

– Eu vou ser direto... Quem é você e o que você significa na vida do Niko?

– Oi pra você também... – Félix não gostou nada do jeito dele, só por esse mínimo detalhe ele já dava razão ao loiro ter discutido com ele. – Eu não devia dizer nada, mas já que você perguntou com tanto carinho... Eu sou Félix Khoury.

– E você é o que do Niko?

– É educado da sua parte quando alguém se apresenta você fazer o mesmo.

Félix pode ver a frustração no rosto dele, obviamente ele queria respostas na mesma hora que perguntava, mas Félix não daria aquele gostinho para ele. Mesmo não o conhecendo Félix já tinha um desprezo do homem á sua frente pelo simples fato dele ter deixado Niko daquele jeito.

– Meu nome é Eron...

– Eron?

– Sim, sou ex-namorado do Niko... – Félix o interrompeu.

– Você quis dizer o covarde que abandonou ele.

– O que você sabe sobre mim? Ele te contou alguma coisa?

– O Niko não me contou nada. Mas eu sei o bastante pra querer arrebentar a tua cara... então é melhor você sair daqui.

– Pelo visto você gosta dele.

– Isso não é da sua conta.

– Claro que é, apesar de tudo que aconteceu entre eu e ele, eu ainda me preocupo com o tipo de pessoa com que ele se relaciona.

– Pode ter certeza que vai ser muito difícil ele encontrar alguém pior que você.

– To vendo que você não é o tipo de pessoa que sabe conversar sensatamente.

– Não, não sou...

– Então deve ter sido com você que o Niko aprendeu a falar daquele jeito.

Félix não olhava para Eron enquanto ele falava, ele mantinha os olhos nas crianças que corriam ali por perto.

– Olha... – Eron deu um longo suspiro. – eu sei que eu errei feio com ele... e eu sei que nada do que eu fizer vai fazer ele me perdoar. Eu só queria saber se ele ta com um cara legal e que ele não vá sair machucado de mais uma relação.

– Eu gosto muito dele... muito mesmo. Mas acho que ele não sente o mesmo, pode ficar despreocupado. Se tem uma pessoa que talvez sofra com esse relacionamento... essa pessoa sou eu.

Eles ficaram em silêncio por um longo tempo, até que Eron comentou.

– Eu e ele costumávamos vir muito aqui nessa praça... – Eron sorriu ao se lembrar. – Ele adora crianças, adorava as ver correndo e brincando. A gente até tinha um banco preferido... inclusive pelo que eu me lembro é esse aqui, foi aqui que eu o pedi em namoro.

Félix permanecia calado. Eron viu que Niko já estava voltando, ele se levantou e se despediu de Félix.

– Eu já vou indo... – Ele estendeu a mão para se despedir do moreno, mas ele o ignorou.

Antes de voltar para onde estava junto com Félix o loiro deixou as coisas que tinha comprado com o morador de rua. Sem nem desconfiar da pequena conversa que Félix teve com Eron, Niko se sentou novamente do lado dele. Niko percebeu que ele estava mais sério e com o pensamento distante.

– Agora eu que pergunto, ta tudo bem com você Félix?

– Ta... Tudo certo. Niko vamos voltar pro seu apartamento.

– Mas ainda ta cedo.

– Eu sei... – Félix se levantou. – mas eu não to muito bem, eu quero voltar pro seu apartamento.

– Ta bom.

Os dois seguiram em direção ao carro, Niko ia logo atrás de Félix. Eles permaneceram em silêncio por boa parte do caminho, Félix atento á estrada, enquanto Niko olhava pela janela do carro o sol desaparecendo por trás das casas.

– Quem era aquele cara que você estava conversando lá na praça? – Félix perguntou esperando que Niko lhe contasse a verdade.

– Ninguém importante.

– Você o conhece?

– Não.

– Eu me surpreendo com a sua capacidade de tentar esconder as coisas de mim Nicolas.

– É Niko.

– Eu sei. – Félix respondeu um pouco mais alto dessa vez.

– Porque você ta falando assim comigo. Do que exatamente você está reclamando Félix?

– Disso Niko... Você sabe que eu vi o que aconteceu, mas não fala e não me explica nada. Eu te contei tudo, falei tudo sobre mim pra você, você sabe mais da minha vida do que qualquer outra pessoa sabe. Eu me sinto um idiota.

– Você ta falando da discussão que eu tive com aquele homem lá na praça?

– Isso também.

– Ele é apenas um cara que ajudou a estragar a minha vida, só isso. Eu não gosto de falar dele, eu quero simplesmente esquecer que ele existe... Não é fácil pra mim.

– Eu sei... – Félix suspirou pesadamente. – Eu só queria que você confiasse em mim como eu confio em você.

– Me desculpa Félix, mas eu não costumo confiar mais nas pessoas, se serve de consolo eu sou assim com todo mundo. Não é só com você. – Niko viu que Félix continuava chateado, ele mantinha os olhos firmes na estrada. – Félix eu...

– Ta tudo bem Niko, se você não quer não precisa se explicar pra mim. Me desculpa! Eu só sou mais um cara na sua vida, não é mesmo? Você não precisa me explicar nada, só eu que to errado.

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Quando eles chegaram ao apartamento Félix foi direto para o quarto, enquanto Niko ficou sozinho na sala.

– Mas o que será que deu nele?

Niko estranhou o comportamento de Félix, alguma coisa estava o incomodado e o que mais lhe tirava do sério era que se sentia mal por ele está assim. Niko decidiu deixá-lo um pouco só, enquanto isso aproveitou para fazer uma ligação.

– Oi é o Niko... sim é a mesma pergunta de sempre. – Niko andava pela sala enquanto falava. – Eu sei que a senhora não o ver a muito tempo, mas eu só queria confirmar que ele não esteve por aí esses dias... Eu já liguei para esse número, mas ninguém atende... Ok, se ele aparecer por aí me avisa, obrigado e desculpe o incomodo.

Depois de terminar a ligação Niko foi até seu quarto, abriu a porta lentamente e viu que Félix estava deitado. Ele não o viu chegar, pois estava de costas para o loiro. Niko se deitou e o abraçou por trás depositando um beijo em sua nuca.

– Posso saber por que você está tão irritadinho comigo?

– Não, não pode. – Félix se virou para olhá-lo. – Deixa pra lá, eu já to bem.

– Tá mesmo? – Félix afirmou que sim com a cabeça, Niko fez um carinho em seu rosto e encostou sua testa na dele. – Algo me diz que tem alguma coisa incomodando você.

– Você se lembra do que eu prometi na primeira noite que a gente ficou junto.

– Me lembro.

– Me desculpa eu falhei, eu não consegui cumprir a minha promessa... eu to perdidamente apaixonado por você Niko.