Just a Little Boy escrita por Panda girl


Capítulo 4
As Aventuras de Sexta à Noite


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dedicado a Yu Ackerman, pela recomendação diva.
Não me matem pelo atraso, problemas com a escola ;-;
Boa leitura!



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Na segunda-feira, Brian buscou Taylor em casa para levá-la à escola. E isso se repetiu durante vários dias, até que a menina o convencesse de que estava tudo bem.

Os meses passaram e os dois foram criando uma forte amizade. Taylor conheceu Megan, Paul e Jayden, amigos de Brian.

Os cinco costumavam sair toda sexta-feira á noite e passear pela cidade enquanto tomavam café, que Megan sempre comprava na Pret-a-Manger ao lado de sua casa, com exceção de Taylor, que só tomava chá.

Foi em uma dessas “sextas-feiras mágicas” que aconteceu. Estavam sentados na mureta em frente ao Odeon Cinema, virados para a linda vista do Brayford Pool. A luz dos postes refletia na água e era possível avistar a grande universidade do outro lado. Atrás deles, lá no fundo, como uma confidente das aventuras noturnas, reinava a Catedral.

Megan e Jayden se encontravam um pouco afastados. Os cabelos loucamente coloridos da menina balançavam com o vento enquanto o namorado a beijava violentamente. Formavam um casal bonito, na visão de Brian. Eram universitários, dois anos mais velhos que ele e Tay. Megg, como apelidaram a menina, era alta, meio grunge. Jay, como apelidaram Jayden, era algo parecido com um emo, de rosto pálido e piercing no septo nasal. Taylor o achava bonito, apesar do formato bizarro de seu rosto. Megan, obviamente, concordava.

Paul era o mais novo do grupo, com apenas 15 anos de idade. Não fazia muito o estilo dos amigos com seus óculos quadrados, cabelo bagunçado e touca na cabeça. Também não falava muito e, quando o fazia, usava de sarcasmo. Às vezes, dava a impressão de ser mais uma criança tímida e fechada. Apesar de tudo, era uma pessoa legal e Brian fazia questão de que andasse com eles. Como sempre, estava sentado em seu cantinho, usando o celular para alguma coisa aparentemente inútil.

Tay usava um vestido curto com renda nas pontas. Como todos ali, usava, também, uma coroa de flores na cabeça. Paul as trouxera, dizendo que as havia comprado, mas Megg acreditava que ele mesmo as tivesse feito.

—Bray-Bray.

—Doninha.

—Ela é linda, não é?

—Quem? Megg?

Taylor riu, dando-lhe um tapinha fraco nas costas.

—Ei! Calma! Calma! Vai me derrubar na água desse jeito!

Ela olhou diretamente em seus olhos, ainda sorrindo. Os pés dos dois, refletidos no lago, balançavam levemente.

—Estava falando da universidade. Mas Megan também é linda. Ela tem pernas legais.

—E você é uma grande lésbica!

A garota pareceu ligeiramente ofendida com essa brincadeira boba, mas logo começou a rir de forma forçada.

—Ah, querido, eu sou uma bixinha! —disse enquanto mostrava a língua

—Eu sei que é. —Brian sorriu

Um silêncio assustador tomou conta dos dois. Os únicos barulhos vinham do cinema, dos dedos de Paul digitando loucamente e, claro, dos beijos violentos do casal grunge-emo.

—Ah, a vida. Que bela porcaria, não? —disse, finalmente, a menina

—Como?

—A vida. Cheia de perguntas retóricas estupidamente idiotas que eu não sou inteligente o bastante para responder.

—Talvez ela seja apenas cheia de erros dos quais você não quer se arrepender. —sussurrou Brian

—Não há um erro do qual eu não me arrependa.

Os lábios finos de Tay se moveram lentamente. O olhar dela, antes fixo no horizonte, pousava no rosto do amigo.

O coração do garoto acelerou. Como que em forma de reflexo, moveu as mãos até a pálida e macia pele do rosto de Taylor.

—Bra-Bray?

—Doninha...

E foi tão lentamente quanto as palavras da garota que os lábios dos dois se aproximaram, mas sem se tocarem.

Brian abriu os olhos devagar e viu Taylor se afastar, ainda em estado de choque.

—Brian, você...

Os dedos frios da garota tocavam a boca, como se ela desejasse saber se tudo aquilo havia sido real.

—Talvez deixar-me fazer isso teria sido seu maior erro.

—Talvez eu não me arrependesse dele. —Ela sorriu

—É... Parece que eu sobrei de vela. De novo. —Paul olhava para os dois com um misto de riso e vergonha estampado no rosto

—Não por isso. —Taylor mal conseguia controlar o riso —Brian pode te beijar, então. Que tal?

Paul ria descontroladamente e já começava a fazer barulhos estranhos. —Claro! Eu adoraria ter essa vadia só pra mim. —disse enquanto apontava para Brian

Megan e Jay se aproximaram, roubando a touca do garoto e bagunçando ainda mais seu cabelo.

—Um dia eu ainda crio um livro com as pérolas do nosso mascote hipster. —disse Megan

—Sim, sim. “As crônicas da criança hipster viciada em tecnologia”. —Falou Jayden enquanto ria

—Ei!

Paul balançava as mãos para o alto, tentando pegar a touca de volta. Acabaram por brincar de jogá-la um para o outro.

Por fim, sentaram-se todos na mureta, cantando músicas aleatórias e bebendo o café, agora frio.Megg apostou com Jayden quem conseguia beber tudo em menos tempo, o que resultou nos dois praticamente cuspindo café na camiseta velha de Brian.

x.x.x

O tempo pareceu passar muito depressa e, quando se deram conta, estavam os cinco deitados na calçada olhando o sol aparecer. Já deveriam ter voltado para casa ou, ao menos, avisado os pais, mas não se deram ao trabalho de fazê-lo.

Viram a loja do Bem & Jerry’s abrir e decidiram tomar um maravilhoso sorvete no café-da-manhã. Taylor e Brian dividiram um pote, assim como Megg e Jay. Paul ficou com um pote só pra ele, como sempre, enquanto continuava no celular.

—Brian —chamou Jay —, tem sorvete no seu nariz. Você está parecendo um estúpido cachorro de algum estúpido desenho animado que deve passar em algum canal de televisão estupidamente falido.

—E você parece gostar muito dessa palavra, não é mesmo? —respondeu

Todos riram. Inclinando o corpo para frente, Taylor passou o dedo no pequeno pedaço de sorvete, que já começava a derreter.

—Preciso ir. —falou —Minha mãe deve estar preocupada.

—Eu vou com você! —disse Brian, quase implorando

—Okay...

Taylor se levantou para abraçar Megan e Jayden e bagunçar o cabelo de Paul, que continuava entretido com seu celular. Brian fez o mesmo, apesar de não ter abraçado Jay.

—Cuide bem da minha Tay. —ouviu Megg sussurrar

E, então, saíram em direção à casa da menina.

x.x.x

Os passos macios de Taylor no asfalto geravam calafrios em Brian. Apesar de tudo o que acontecera, não havia bem uma definição da relação entre os dois. Então, ela parou. Virando-se para o amigo, olhou no fundo de seus olhos.

—Brian?

—Doninha.

Tay suspirou, parecia estar com raiva.

—O que diabos foi aquilo?

—Aquilo...?

Ela suspirou mais uma vez, agora, parecia mais decepcionada do que raivosa.

—Você sabe muito bem do que estou falando. Diga. Por que diabos você quase me beijou?

—Parece que alguém já está se arrependendo de algo que nem aconteceu.

—Parece que alguém vai levar um tapa na cara se não responder essa mísera pergunta.

Brian passou a mão nos cabelos, sentindo cada fio deslizar por entre os dedos. Mordeu o lábio inferior. Finalmente, resolveu falar.

—Taylor, me desculpe.

Mais uma vez, ela suspirou. Era irritante e, ao mesmo tempo, fazia o garoto se sentir o pior ser vivo do universo.

—Está tudo bem. Apenas me deixe voltar para casa sozinha e fingir que nada aconteceu. E prometa que nunca mais me fará passar por isso novamente. Okay?

—Tem certeza de que está tudo bem?

—Okay, Brian?

—Okay, Taylor.

—Obrigada. Tenha um bom dia.

E a linda silhueta da loirinha foi desaparecendo aos poucos, enquanto ela andava levemente pelo asfalto. Brian a viu olhando para trás algumas vezes. Resolveu seguir seu caminho e deixá-la em paz.

x.x.x

E, assim, Brian seguiu desolado para casa. Os próprios passos ecoando. Os pássaros cantando. O chão se fundindo com as lágrimas que nele caíam. “Cheia de perguntas retóricas estupidamente idiotas que eu não sou inteligente o bastante para responder”. Ah, Taylor. Será que não se dava conta disso? De que ela já era um pergunta retórica em si? De que era tão complicada, a ponto de impedir as pessoas de respondê-la? De que gerava mais perguntas do que a própria vida?

“Apenas me deixe voltar para casa sozinha e fingir que nada aconteceu”. Fingir que nada aconteceu. O que não aconteceu? O quase-beijo? O sorvete? O esbarrão meses atrás? Tudo? Nada?

Não. Estava tudo bem. A própria Taylor dissera isso. Estava tudo bem. Tinha que estar. Brian nunca iria permitir-se chorar em público por uma garota. Nunca iria permitir-se chorar por uma garota em lugar nenhum.

Ele e Tay eram apenas amigos. Melhores amigos. Como dois irmãos. E um irmão nunca se atreveria a namorar a própria irmã. E seria assim para sempre. Limpou as lágrimas e seguiu em frente. Não iria mais chorar. Por nada. Por ninguém. Não nasceu para isso.

Quando já estava chegando em casa, percebeu que seu celular vibrava no bolso. Olhou. Era uma mensagem de Megan:

“Hey, está tudo bem? Eu falei com a Tay e ela parecia bem triste. Você não magoou a MINHA Tay, magoou?”

Sentou-se na calçada, para digitar em paz.

“Não, Megg. Foi só uma coisa idiota que eu fiz.”

O celular vibrou mais uma vez.

“Cara, ela ‘tá’ péssima... Acho que ela nunca mais vai querer ver seu rosto feio. Tipo, nunca MESMO.”

Mordeu os lábios e passou as mãos no cabelo. Não podia chorar, havia acabado de prometer a si mesmo que nunca mais choraria por ninguém.

“Megg, mncontre no Hartsholme Park às três. Eu levo o café. Okay?”

Esperou algum tempo até que, enfim, Megan respondeu.

“Não use ‘okay’ comigo. ‘Okay’ é uma palavra muito forte, sabia? A Hazel usava isso com o Gus. E eu tenho namorado. Bem mais bonito que você, por sinal. Mas sim, eu vou.”

Brian sorriu.

“Não sabia que você lia ‘livros modinha’.”

E, mais uma vez, o celular vibrou.

“Ah, eu sou muito Tumblr pra pessoas como você muahahahahaha (minha risada maligna também é muitoTumblr)! Agora vai pra casa, ates que roubem seu celurar.”

Guardou o celular no bolso e foi embora. Realmente, era meio arriscado sentar-se no meio da rua para usar aparelhos eletrônicos.

x.x.x

Ao chegar em casa, foi preciso responder ao velho interrogatório “você-passou-a-noite-fora-e-eu-quero-meu-filho-virgem-até-os-trinta”.Não que fosse algo muito difícil, já tinha as respostar prontas para cada pergunta que a mãe fazia.

Subiu para o quarto e foi olhar as horas. Ainda era nove da manhã, tinha muito tempo para assistir seus desenhos japoneses e pensar sobre como a vida era estúpida. Levado pelo bom-senso idiota que tinha, resolveu ofender pessoas aleatórias na internet. Principalmente gays.

Não importava o quanto os amigos falassem que era errado. Não importava o que a lei falava. Brian sempre odiou gays, e para sempre iria odiar.*

Houve uma hora em que precisou descer para almoçar. A mãe raramente cozinhava, e nesse dia, ela foi para a cozinha. Incrivelmente, não era um banquete enorme que o esperava. A mãe preparara ‘Fish & Chips’ e um pouco de salada. Provavelmente, haveria alguma sobremesa grandiosa dentro da geladeira.

Apesar de muito comum, ‘Fish & Chips’ era um dos pratos preferidos do garoto. E, realmente, havia uma sobremesa maravilhosa o esperando. Summer pudding, a comboinação perfeita entre o doce e o azedo. Além disso, frutas vermelhas eram fabulosas.

Demorou um pouco para terminar de comer. Geralmente, quando estava triste, ele comia o máximo possível. Afinal, quem consegue ficar triste enquanto come? Isso mesmo, ninguém.

Voltou para o quarto para sentar-se na cama e ficar encarando a branca parede. Quando era mais novo, ela ficava cheia de posters de filmes e bandas de rock. Agora, estava ali, tão vazia quanto a sua alma. Tão branca quanto o leite. Tão deprimente e feliz quanto um vácuo.

E, pela primeira vez, Brian sentiu que esse vácuo precisava acabar. Sentiu que a branca parede precisava encher-se de posters, fotos e tudo o que ali coubesse. Sentiu que precisava preenchê-la mais uma vez e tornar-se novamente uma criança de dez anos de idade que ainda brinca descalça no asfalto e fala que meninos não precisam de meninas.

Ah, a vida. Cheia de sentimentos estupidamente idiotas e nostálgicos dos quais precisava se livrar.


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Notas finais do capítulo

*Obs: Não, gente, eu não sou homofóbica (até porque essa é uma fic gay, então não faria muito sentido). Mas, infelizmente, o Brian é.
P.s.: Não sei se vocês perceberam, mas sim, a maioria dos nomes de empresas, ruas e lugares citados são reais. Então, quem descobrir a cidade onde a história se passa ganha um prêmio!~