Lucy saiu correndo com a bola nas mãos ate seus amigos, porém, eles já estavam indo ao encontro dela.

– O que houve? Por que a demora?

– Desculpe Dennis, é que...

– Que rosa bonita, onde você achou?

Perguntou Rachael querendo tocar na rosa de Lucy, mas ela se desviou rapidamente.

– Ah! Isso aqui? Foi um senhor quem me deu.

– Um senhor?

– Sim! Foi ele quem achou a bola e me deu essa rosa.

– E como ele era?

– Estava bem vestido.

– Hum... Ah! Será que não foi um segurança?

– É dever ser.

Lucy deu um sorriso meio disfarçado, ela achou melhor não dizer para eles que aquele ‘’segurança’’ não tinha rosto. Ela tinha a esperança de que não fizessem mais perguntas e se esquecessem disso, com certeza, ela voltaria a vê-lo, apenas se perguntava como iria fazê-lo sem que Rachael, Elisa ou qualquer outro suspeitassem de algo, elas provavelmente não aprovariam aquela amizade.

– Bom, então vamos jogar ou não?

– Vamos!

Na mesma hora o sinal toca.

– Ah não, ainda faltava mais uma partida...

– Tsc...tsc...

Todas as crianças se reuniram e voltaram para suas salas de aula. Enquanto isso na aula de Elisa.

– Elisa!

– Hã? Klaus?- ela virou-se rapidamente.

– Você está tão distraída, o que esta acontecendo? Não prestou atenção em nenhuma aula.

– Não é nada, eu só estou meio indisposta.

– Vamos! Pode contar pra mim!

– Hum... Não dá pra contar aqui durante a aula.

– Vish! Você tem razão! Depois a gente conversa.

As aulas seguiram de forma monótona. Elisa estava se perguntando se deveria falar sobre essas coisas com Klaus, no fundo ela achou que seria bom para desabafar um pouco e ele também parecia preocupado com ela, por isso, esperaram ate dar a hora do intervalo para poderem conversar melhor. Quando o sinal do intervalo tocou, os dois procuraram um lugar para sentarem juntos.

– Então Elisa, pode me contar o que esta te chateando?

– Sim, bom...você assistiu aquele noticiário que passou ontem na TV?

– Vi! Vi sim.

– Você não achou estranho?

– É isso que está te preocupando?

– E não é só isso, eu também tive um pesadelo.

– Entendo. Sabe, eu também preciso confessar que tudo que foi mostrado lá me deixou bastante desconfortável.

– Fico feliz que me entenda, eu morro de preocupação com Lucy e você deve sentir a mesma coisa com seu irmãozinho que está no hospital.

– Ah é...

Klaus desviou o olhar.

– Como ele esta?

– Olha... Vamos mudar de assunto?

Elisa sentiu que havia tocado em um ponto muito delicado e para não contrariar Klaus, eles começaram a falar sobre outras coisas e ficaram assim ate que o intervalo acabasse. Eles se levantaram para ir, mas Klaus ainda disse algo para Elisa.

– Cuide bem da Lucy, ninguém esta seguro aqui.

Elisa engoliu seco, o tom de voz dele saiu muito sério como se fosse um alerta. Os dois não falaram mais nada

Quando a última aula terminou, Elisa despediu-se de Klaus e de seus outros colegas e foi pegar Lucy no lugar de sempre. Lucy estava sentada em um banco igualzinho aqueles de parque pintado de branco esperando a irmã e quando a viu, correu ate ela e lhe deu um forte abraço.

– Maninha!

– Hey Lucy! Como foi a aula?

– Muito divertida!

A pequena sorriu.

– Que bom! E...

Elisa parou de falar quando reparou a rosa no cabelo da irmã.

– Que linda! Quem te deu? Foi um coleguinha?

– Hum... Digamos que foi um colegão!

– Ah! Já entendi, foi o seu namorado quem te deu?

Elisa começou a rir.

– O que é um namorado?

Lucy perguntou da maneira mais pura e inocente de uma criança que ainda desconhece certas coisas sobre a vida. Elisa começou a coçar a cabeça disfarçadamente e tentou pensar numa maneira para desviar o assunto.

– Hum... Não é nada de interessante, é coisa boba, sabe?

– Sei.

Elisa deu graças por Lucy não ter dado tanta importância para aquele comentário. Ela segurou na mão da irmãzinha.

– Vamos! Papai logo vem nos buscar.

– Espera!

– Algum problema?

– Você já se esqueceu?

– Me esqueci do que?

– Do meu sorvete!

Elisa deu um ''facepalm''.

– Eu achava que você tinha se esquecido disso...

– Hah! É claro que não!

Lucy estava rindo muito.

– Ai! Esta bem, mas vamos rápido!

Elisa levou Lucy até a cantina onde havia uma máquina de sorvete. Ela pediu uma casquinha de chocolate para a senhora de idade que estava em frente a máquina e esta deu o sorvete a Lucy que o lambia alegremente.

– Você também vai querer uma casquinha, jovenzinha?

– Não obrigada, eu só vim comprar para minha irmã.

– Você gosta muito dela, não é mesmo?

– Sim!

A senhora começou a rir e isso assustou um pouco Elisa, ela tinha uma risada rouca quase engasgada.

– Faz bem! Muito bem! Você sabia que ele também adora... Crianças?

– Quê!? De quem a senhora tá falando?

– Eu disse que ele adora Ⓧ em crianças.

A velha começou a rir descontroladamente e suas feiçoes foram ficando bem assustadoras. Elisa tapou os ouvidos com as mãos para não escutar mais aquela gargalhada sinistra e gritou:

– Para!

Todos ficaram olhando para ela.

– Algum problema menina?

Elisa olhou novamente para velha e viu que na sua frente estava uma mulher bastante diferente da que havia visto antes, esta parecia bem mais simpática e bonita do que a velha louca que vira antes. Elisa ficou realmente assustada, o que estava acontecendo com ela?

– Eu perguntei se também queria uma casquinha, você não me respondeu e depois gritou, esta tudo bem?

– E-Eu...eu...

– Qual o problema maninha, por que voce gritou daquele jeito?

Perguntou Lucy com o sorvete nas mãos.

– Vamos embora daqui!

Elisa pegou na mão de Lucy e nem se importou com essa estar toda melecada de sorvete derretido e nem mesmo com a senhora que observava as duas se afastarem sem entender nada.

As duas foram ate o carro do pai que já estava estacionado esperando por elas.

– Olá minhas princesas, como foi a aula?

– Muito legal!

– Boa...

– Ah! Estou vendo porque foi tão legal, é por causa desse sorvetão aí, neah?

Lucy começou a rir.

– E essa flor bonita, quem te deu?

– Não é flor pai, é uma rosa!

– Ah é mesmo? Achei que fosse todas iguais.

Lucy deu cada risada gostosa.

– Não seu bobo, você sabe que as flores não são todas iguais!

– Bem então você pode me ensinar depois, professora Lucy?

– Sim!

– Certo! Então vamos entrar logo no carro, porque depois de deixar vocês em casa eu ainda tenho que voltar para o trabalho e...Algum problema Elisa?

– N-Não é nada pai.

– Tem certeza?

– Tenho.

– Então está bem, entrem logo e Lucy cuidado para não sujar o carro do papai com sorvete.

– Ok!

Durante o trajeto, Elisa não parava de se perguntar o que estava acontecendo com ela, será que estava ficando paranoica? Será que algo de ruim iria acontecer? Ela não sabia. Olhou para Lucy que estava vendo despreocupadamente as árvores passarem com o sorvete quase no fim. Elisa não sabia o que estava acontecendo, mas tinha certeza de uma coisa, precisava proteger Lucy do que quer que fosse.