Courage escrita por Luna Bergamo


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Aqui mais um capítulo :*



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Rachel

Eu era só uma menina quando ela partiu. Lembro-me da doença tirando-lhe as forças e deixando sua pele pálida como a neve. Mesmo assim, ela continuava tão linda.

Antes de fechar os olhos para sempre, mamãe disse:

–Minha querida Rachel, busque a felicidade e o mundo será seu. Estarei sempre com você. – e com um sorriso, ela voou.

Eu sinto falta da minha mãe. Ainda mais agora.

Parei de escrever e corri os olhos ao redor. Aquele quarto era deprimente, mas eu sabia que era melhor ali do que dormir mais uma noite em uma das camas imundas do abrigo, sentindo medo que algum homem me atacasse de novo. Talvez eu pudesse comprar uma colcha para a cama ou cortinas novas. Um jarro de flores também faria maravilhas naquele local. Mas sabia que não podia gastar o pouco dinheiro que ainda me restava com bobagens. D. Clotilde parecia ser uma senhora muito rígida e se eu não conseguisse um emprego até o final do mês, eu iria ser obrigada a passar as noites naquele lugar horrível ou na rua.

Apesar de tudo, não me arrependi de ter saído de Jackson. Eu tinha tudo à minha disposição, menos a minha liberdade. E em Nova York, eu era livre como uma águia, mas precisaria aprender a viver sozinha.

Olhei para o chão e peguei minhas malas para coloca-las no armário. Fazer isso me custou um esforço inacreditável e sentei-me novamente na cama para controlar o ataque de tosse. Cuspi um bolo de catarro e fiquei aliviada ao ver que não tinha sangue.

–Graças a Deus. – sussurrei, pegando o jornal de dentro de uma das malas e limpando o chão. Deixei tudo como estava e deitei-me sobre a colcha da cama, com a pele suando por conta da febre.

Naquela noite, em meus devaneios febris, vi mamãe. Ela estava sentada na ponta da minha cama e olhava para mim com muito carinho.

Ela disse:

–Você é muito forte, minha menina. Eu a amo muito.

__________________________________________

Eles estavam todos lá quando desci para o café. Um dos senhores tocava uma linda melodia ao piano e os outros realizavam o desjejum ao redor da mesa. D. Clotilde perguntou se eu me sentia melhor e apenas fiz que sim. Acho que ela percebeu que eu estava mentindo, pois pediu que sentasse à mesa e tentasse comer o máximo que conseguisse. Falou que minha pele estava esverdeada e que eu parecia magra como uma criança faminta da África.

–Sente-se aqui. – ela disse, puxando uma cadeira ao seu lado. – Se vai procurar um emprego hoje precisa estar com algo no estômago. Fiz ovos fritos, sanduíches de queijo, panquecas e torta de chocolate. E tem leite e suco de laranja.

–Obrigada, D. Clotilde. – sussurrei, servindo-me de panquecas, um pedaço da torta e suco de laranja. Comi tudo, mesmo sabendo que meu estômago não aguentaria tanta coisa de uma vez. Não demorou muito para que eu corresse ao banheiro e vomitasse todo o meu café-da-manhã.

–Santo Deus! Será que minha comida é tão ruim assim? Ou é essa garota que não retém mesmo nada no estômago? – ouvi D. Clotilde gritar da sala e encostei-me a parede enquanto tentava não desmaiar. O rapaz da pensão apareceu no banheiro acompanhado de uma das senhoras, mas só ela se aproximou de mim.

–Querida, o que está sentindo? – a senhora perguntou com uma voz muito doce. Sem razão aparente, comecei a chorar e ela me abraçou. – Ela está com febre, Finn. Vou pedir a D. Clotilde que prepare algumas compressas com água morna. Leve-a para o quarto enquanto isso.

O rapaz me levantou nos braços e me levou até o quarto em que eu estava instalada. Colocou o meu corpo na cama e perguntou se eu sentia frio. Quando fiz que sim, ele me envolveu com os cobertores e ficou olhando para mim, sem saber mais o que fazer para me ajudar. É só um menino, pensei.

–Como se chama mesmo? – perguntei baixinho. Consegui vê-lo abrindo a boca para falar, mas fechei os olhos antes que pudesse ouvir seu nome.

Não sei quanto tempo se passou até que eu acordasse. Mas lembrei-me do rapaz, e vi que ele não estava mais lá. Na verdade, não tinha mais ninguém comigo.

Alguém havia colocado toalhas úmidas na minha testa e nos meus pulsos e tirei-as. Não me sentia mais febril e meu estômago implorava por comida. Levantei da cama, sentindo-me disposta o suficiente para sair do quarto e descer as escadas até a sala de estar da pensão. Fiquei assustada ao ver que já era de noite.

–Olhem só, a menina Rachel acordou. – um senhor falou, enquanto jogava bridge com D. Clotilde. O rapaz estava sentado à mesa, comendo seu jantar silenciosamente. A senhora que me ajudou mais cedo se aproximou de mim e tocou a minha testa.

–Não está mais com febre. Sente fome?

Meu estômago roncou alto antes que eu respondesse. Todos caíram na gargalhada, menos o rapaz, que apenas sorriu.

–Bem, acho que isso foi um sim. – D. Clotilde se levantou e disse que pegaria meu jantar na cozinha. Mortificada, sentei-me à mesa com a senhora, que se apresentara como Charlotte Walters, e esperei D. Clotilde vir com a comida. O rapaz continuou lá, comendo o seu jantar.

–Você precisa se cuidar. Já vi muita gente ficando doente durante essa época de chuvas. – falou D. Clotilde, assim que colocou o prato com pedaços de frango e salada na minha frente. – Precisa se alimentar bem para ficar forte de novo. Ainda mais que nenhum homem gosta de mulheres magras demais. Olhe só para você. Parece um cabo de vassoura.

–Não estou à procura de um marido, D. Clotilde. – falei, sem pensar. – Não estou.

Clotilde arqueou as sobrancelhas, mas não disse nada.

–Bem, mas mesmo assim precisa comer tudo para ganhar um pouco de peso, não acha? – falou a senhora Walters.

–O que a senhora acha que tenho?

–Apenas uma gripe. Quando era enfermeira, vi muita gente no seu estado chegando ao hospital durante essas chuvas. Você precisa de descanso e comer bem.

–Tenho que sair para procurar um emprego.

–Sim, é claro, mas você pode descansar antes disso. – a senhora disse, colocando a mão em meu ombro e levantando-se da cadeira. – Agora converse com Finn. Minha novela já está quase começando.

Finn... , repeti o nome do rapaz em minha mente. O nome combinava com ele.

–Então... que tipo de emprego você procura? – ele perguntou timidamente. Seu rosto tinha uma aparência cansada, mas percebi que ele tentava ser gentil.

–Qualquer um que eu puder arrumar.

–Tem muitos restaurantes na vizinhança. Eu trabalho em um deles depois da faculdade. Também tem lojas de departamento e livrarias. Eles sempre estão procurando alguém.

–Obrigada, Finn. Eu passo por lá, quando puder.

–Também fiquei doente quando cheguei aqui.

–De onde você veio?

–Ohio. Vim para cá para começar a minha graduação na NYU.

–Legal. O que você estuda?

–Teatro. – acho que ele esperou alguma reação negativa minha, pois respondeu sem olhar para mim.

–Seus pais o apoiam?

–Ah, sim. – ele sorriu, com os olhos brilhando. – E você? Por que veio a Nova York?

–Acho que para alcançar a minha liberdade. Aqui é o lugar perfeito para fazer isso, não acha?

–É, é sim. – ele terminou de comer e se levantou da mesa, com o prato nas mãos. – Vou descansar agora. Boa-noite, Rachel.


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Notas finais do capítulo

comentem e posto amanhã mesmo! :*



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