Courage escrita por Luna Bergamo


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Feliz Natal, leitores lindos!! :))



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Finn

A chuva havia piorado na manhã seguinte, mas consegui chegar na hora certa na faculdade. O tempo permanecera fechado até o final das aulas e peguei um táxi até a pensão para trocar de roupa e colocar o uniforme do restaurante. Para a minha surpresa, Rachel estava sozinha na sala de estar, sentada ao sofá e tentando desesperadamente controlar o ataque de tosse que sofria.

–Rachel, você está passando mal? O que posso fazer para ajudar você? – perguntei, ajoelhando-me perto dela. Seu rosto estava tão pálido que achei que fosse desmaiar a qualquer momento e suas vestes molhadas eram evidências de que ela desobedecera Sra. Walters e saíra para as ruas em busca de algum emprego.

–Meu peito dói... ah meu Deus, como dói...

–Onde estão os outros?

–Eu não sei... quando cheguei, eles não estavam aqui. – ela sussurrou, começando a ter outro ataque de tosse. Acariciei suas costas, preocupando-me de verdade com ela. Talvez não fosse apenas uma gripe, como a Sra. Walters havia dito. Toquei em sua testa, que estava ardendo em febre.

–Rachel, acho que é melhor levá-la a algum hospital. Vou ligar para o trabalho avisando que não posso ir. – eu disse, antes de correr até o telefone fixo. George, meu patrão, fora compreensivo quanto à minha falta, mas pediu que eu tentasse ao máximo não faltar no dia seguinte. Voltei com um cobertor para Rachel, que havia se deitado no sofá. – Tudo bem se eu chamar uma ambulância?

–Não! Não vou de ambulância!

–Tudo bem, tudo bem. Eu a levo de táxi. – o ponto de táxi ficava logo no final da rua e saí com Rachel enrolada no cobertor até ele. Um taxista logo se prontificou em nos deixar até o hospital mais próximo e acomodei-me com Rachel em meus braços no banco traseiro. Sua expressão de dor me assustou, mas tentei manter a calma para não agoniá-la.

Como sempre, o trânsito estava infernal e demoramos quase dez minutos apenas para dobrar a esquina.

–Finn... meu peito dói e minha cabeça também.. – Rachel sussurrou, enquanto seu rosto ficava cada vez mais pálido. Apertei-a mais forte ao meu corpo, protegendo-a do frio, e falei que chegaríamos ao hospital em breve.

–Senhor, não tem como cortar caminho? – perguntei, aflito.

–O tráfego nesse horário é horrível em toda a cidade, não adianta cortar caminho. Aguentem mais um pouco. – disse o taxista, sem olhar uma vez para trás. De repente, Rachel desmaiou em meus braços.

–Ah, merda! Rachel acorda! Rachel! – gritei, perdendo o pouco de calma que ainda me restava. Passaram-se quinze minutos e ainda estávamos presos no trânsito. A essa altura, Rachel havia recobrado a consciência e chorava de dor em meus braços. Percebendo que continuar dentro do táxi seria inútil, paguei o motorista e saí do carro com ela em meus braços, correndo em direção ao hospital.

–Acha que consegue andar até lá dentro? – perguntei quando chegamos a frente ao hospital. Ela fez que sim e andou apoiada em mim até a mesa da recepção. A mulher atrás do balcão nos olhou sem muita vontade e falou:

–Em que posso ajuda-los?

–Precisamos de um médico imediatamente. – falei, abraçando Rachel fortemente.

–Primeiramente precisam preencher esse formulário. – a mulher disse, passando o papel do formulário para mim. Sem paciência, amassei o papel e joguei-o no chão.

–Escuta, não temos tempo para isso. Ela está ardendo em febre e mal consegue se manter acordada. Eu literalmente tive que correr com ela nos braços até aqui.

–Mas o senhor precisa preencher esse formulário para que ela...

–ELA PRECISA DE AJUDA, PELO AMOR DE DEUS! - gritei, interrompendo a mulher. Percebi que todos olharam para mim e logo apressei em abaixar o tom da voz. – Ela está muito doente e não acho que tenha muito tempo sobrando.

Quando a mulher finalmente pôs os olhos em Rachel, percebeu que a situação era mesmo de urgência. Pediu que eu a deitasse em uma maca no corredor enquanto chamava a equipe médica. Fiz o que ela disse e sorri timidamente para Rachel. A consciência dela oscilava, mas vi que tentava agarrar-se às únicas forças que lhe restavam.

Antes de perder a consciência novamente, ela disse:

–Eu achei que você fosse apenas um menino. Nunca em minha vida estive tão enganada.

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Deixaram-me esperando no corredor do hospital por duas horas até que me passassem alguma notícia de Rachel. O médico dissera que ela estava magra e pálida como uma tuberculosa, mas que seus exames deram negativo para a doença. Sua enfermidade era uma gripe forte, mas Rachel também apresentava um quadro de subnutrição, por isso estava tão mal. Disse que ela precisaria ficar no hospital por alguns dias até que ganhasse um pouco de peso e ficasse completamente curada da constipação.

Em seguida, guiou-me até o quarto onde Rachel estava internada. Ela dormia pacificamente enquanto recebia soro intravenoso. Sentei-me ao seu lado e olhei para a menina adormecida.

–É a sua namorada? – perguntou o médico, examinando a paciente cuidadosamente. Fiz que não, com o olhar fixo em Rachel. – Você sabe o que aconteceu com o rosto dela?

–Não. Ela não disse o que aconteceu.

–Sim. – o médico sussurrou, olhando penosamente para Rachel. – Ela certamente passou por alguns maus bocados, mas vai ficar bem agora. Ela vai dormir por algumas horas e traremos o jantar mais tarde.

–Sim, obrigado.

O médico saiu do quarto e permaneci ao lado de Rachel. Ela ainda dormia tranquilamente e seu rosto continuava com um aspecto doentio, mas não estava tão mal como antes. O peito dela subia e descia normalmente e um vislumbre de um sorriso em seu rosto. Ela estava sonhando.

–Mamãe já está pronta para a missa de Natal? A senhora está linda, mamãe! Linda! – Rachel falou ainda de olhos fechados. Fiquei observando-a, encantado ao vê-la demonstrar uma afeição alegre. Era a primeira vez que eu a via assim.

De repente, Rachel acordou. Institivamente levantei da cadeira e toquei levemente em sua mão enquanto a menina recuperava a percepção.

–Finn. – ela sussurrou ainda tonta por conta da medicação. Olhou para as nossas mãos e esperei que ela se desvencilhasse do toque, mas Rachel não fez nada. O sorriso que antes ocupava todo o seu rosto havia desaparecido. – Água.

–Você quer água?

Ela balançou a cabeça em afirmativo e fui pegar água. Levantei sua cabeça, ajudando-a a tomar o líquido.

–Eu vou morrer Finn? Estou com tuberculose, não estou?

–Não. – sorri. – Você contraiu uma gripe muito forte. Também está subnutrida, por isso ficou tão mal.

–Ah... vou ficar aqui por muito tempo?

–Até conseguir ganhar peso.

Ela tentou se sentar na cama, mas estava tão fraca que desistiu.

–Obrigada, Finn. Não vou esquecer o que fez por mim.

–Não foi nada, Rachel. Fiz o que qualquer um teria feito.

–Ninguém fez nada assim por mim antes. Apenas a minha mãe, mas ela morreu há muito tempo. – ela falou, com os olhos terrivelmente tristes. Toquei em sua mão de novo, penalizado. Talvez ela não tivesse mais ninguém.

–Sinto muito, Rachel.

Ela começou a chorar, esgotada. Fiz carinho em seu cabelo, tentando acalmá-la, mas acho que não adiantou muito. Fiquei aliviado quando ela mergulhou novamente no sono.

–O horário para visitas acabou senhor. – disse uma enfermeira ao entrar no quarto, deixando o jantar de Rachel em cima da mesa. – Venha aqui amanhã às nove e poderá visita-la.

–Sim. – eu disse, fazendo carinho no cabelo dela. Dei uma última olhada em Rachel e saí do quarto.

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Clotilde e os outros hóspedes já estavam lá quando voltei para a pensão. Contei-lhes o que tinha acontecido enquanto jantávamos na mesa da sala de estar.

–Rachel é muito teimosa. Falamos para ela descansar e mesmo assim a menina saiu no meio dessa chuva. Claro que iria acabar dando nisso. – D. Clotilde falou seriamente, amassando a comida com o garfo como sempre fazia antes de engolir.

–O médico falou quanto tempo ela ficaria internada? – perguntou a senhora Walters, preocupada de verdade. De todos ali, ela era a mais cuidadosa e carinhosa. E percebi que ela se afeiçoara à Rachel quase que instantaneamente.

–Até ganhar um pouco de peso. Seu corpo estava tão fraco que uma gripe já a derrubou.

–Tadinha. Se já é difícil ficar sozinha nessa cidade, imagina sozinha e doente! – continuou a senhora Walters.

–A propósito, onde vocês estavam? - perguntei, colocando mais do ensopado de carne no meu prato.

–Estavam gravando um filme e precisavam de figurantes idosos. Inscrevemo-nos faz uma semana. – disse D. Clotilde.

Não consegui conter a risada.

–Essa é boa.

–Era com aquele ator famoso, que fez um filme com a Marilyn Monroe. De lindos olhos verdes. –continuou D. Clotilde, sorrindo empolgada. Parecia uma adolescente, cheia de sonhos na cabeça. - Parece ser um filme grande, levando em conta o número de figurantes que precisaram. Quem sabe um dia você estrele em um filme como esse, Finn?

–Quem dera.

Os outros continuaram conversando, enquanto eu apenas ouvia sem prestar muita atenção. Ao voltar para o quarto, exausto, deitei-me na cama e caí em um sono profundo.


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Notas finais do capítulo

:))