Querido Papai escrita por Nightnyu


Capítulo 2
Capítulo 2 - Sentimentos escondidos




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Depois do meu primeiro beijo com o meu papai, quando eu tinha seis anos, ele nunca mais me beijou novamente. Ele me tratava normalmente, com seus instintos superprotetores, mas a nossa relação se manteve nos padrões de ''pai e filha''. E ela se mantém assim até hoje. Quando eu era pequena, eu não entendia o que aquilo significava, talvez eu achasse até uma demonstração de carinho normal. Talvez pela minha forma natural de encarar aquela ação, eu não percebi o desvio do ''padrão'' que tivemos naquele dia no parque, e não toquei mais no assunto. Muito menos papai, que agiu como se nada de mais houvesse acontecido.


Mas conforme eu fui crescendo, e aprendendo mais sobre as relações entre as pessoas, percebi que aquele beijo foi realmente algo incomum. Mas papai, aparentemente, havia esquecido, então, por medo de talvez trazer um assunto delicado demais à tona, fingi que também havia esquecido. Atualmente, estou com treze anos. E ainda me lembro perfeitamente daquele dia, como se um vídeo se repetisse todas as noites na minha cabeça. Na minha idade, as garotas já começavam a ter interesse pelos meninos, mas eu sempre fui muito fria em relação a isso. O único garoto que era próximo de mim era Miroku, já que nos conhecíamos desde pequenos. Eu não precisava da companhia de outros garotos, quando a única companhia masculina que eu realmente apreciava entrava pela porta de casa todas as noites, próximo à hora de jantar.



- Rin, estou em casa. – Ele havia chegado mais cedo naquele dia. Eu estava no sofá, assistindo desenho animado. Apesar de estar cedo, eu já vestia o meu pijama azul. Me virei, olhando para ele que se aproximava com um leve sorriso no rosto. Acabei sorrindo também.


- Chegou cedo hoje. – Comentei, enquanto voltava a me sentar normalmente no sofá. Ele jogou suas coisas em cima de uma cadeira e sentou-se ao meu lado, olhando de relance para a tevê.


- Pois é, terminei os meus compromissos antes do horário. – Ele se explicou. – Vejo que ainda gosta desses desenhos... – Ele sorriu de canto. Fiquei levemente corada, um pouco constrangida por ainda ter os mesmos gostos da infância.


- Eles são divertidos, mas podemos ver outra coisa, se você quiser... – Peguei o controle remoto, e quando ia apertar um botão qualquer, senti a mão grande e suave dele sobre a minha, impedindo a minha ação.


- Está tudo bem. Eu quero assistir o que você gosta de assistir. – Ele disse, olhando para mim docemente. Senti meu coração bater um pouco mais forte, mas ignorei, voltando a minha atenção para a televisão e me concentrando nos personagens do desenho. Ficamos em silêncio, eu ria das cenas engraçadas, enquanto sentia o olhar discreto do papai sobre mim. Eu estava tão distraída que, apenas quando o desenho terminou, eu percebi que ele não havia tirado a sua mão de cima da minha, apesar do controle remoto já não estar em meu poder.



Me espreguicei, enquanto passava as mãos pelo meu cabelo, que estava preso em um rabo de cavalo. Eu tinha um certo orgulho dele, havia conseguido ficar com os cabelos tão longos quanto os do papai, apesar das cores serem bem distintas. Ele tinha longos cabelos prateados, que me lembravam a luz das estrelas, enquanto os meus cabelos escuros lembravam barras de chocolate. Apesar de chocolate ser algo delicioso, não era nada comparado à luz das estrelas. E havia muito tempo que eu não sentia aquela luz das estrelas. Olhei de canto para meu pai, que prestava atenção em uma propaganda na tevê.



- Papai... – Eu disse num tom de voz tão baixo que nem eu mesma ouvi. Mas ele ouviu. Virou imediatamente seus olhos âmbares para mim, esperando que eu continuasse. Não tive como escapar agora. – Eu... posso pentear o seu cabelo? – Acabei fazendo um leve beicinho, sem perceber, devido ao meu receio dele não gostar muito da ideia. Mas ele abriu um leve sorriso.


- Claro. Desde que eu possa pentear o seu depois. Não fazemos isso há muito tempo, não é? – Eu acabei abrindo um largo sorriso, há quantos anos papai não penteava o meu cabelo? Eu nem me lembrava mais de como era o seu toque. Pulei do sofá e fui até o meu quarto em passos rápidos, buscar um pente. Estava com um misto de ansiedade e alegria em meu peito. Ao voltar, papai estava sentado no chão, me esperando, da mesma forma que fazíamos quando eu era criança. Eu me aproximei lentamente dele, e deixei o pente no chão. Iria sentir a luz das estrelas antes de organizá-las. Fiquei de joelhos, e ficamos quase da mesma altura. Passei a mão direita sobre a extensão dos fios prateados e peguei uma mecha aleatoriamente. Fiz com que minha mão seguisse seu comprimento, alguns fios escapavam lentamente, até chegar ao final. Era lindo.


- Papai, seu cabelo é muito bonito... desde criança eu achava que eles possuíam o brilho das estrelas, e o meu pensamento continua o mesmo. – Escutei uma leve risada, mas ele não disse nada. Dessa vez, resolvi juntar os fios, trazendo para trás os que estavam caídos na frente, sobre o tórax dele. Estiquei os meus braços, colocando as minhas mãos em cada lado do pescoço do papai, e puxei delicadamente as mechas de cabelo. Meus dedos encostaram levemente no pescoço pálido dele, e eu pude sentir que ele estava quente. Mas já estava acostumada. Apesar da aparência fria, papai tinha uma temperatura corporal bem elevada. Me lembrei que quando eu era pequena, ele me abraçava quando eu sentia frio, e funcionava perfeitamente.



Depois de alguns minutos, o longo cabelo prateado estava perfeitamente alinhado. Era, naturalmente, extremamente liso e sem volume algum, diferente do meu, que apesar de também ser liso, tinha um certo volume. Logo, me lembrei que só faltava uma parte: A franja. Me levantei e o contornei, ficando de frente para ele. Seus olhos estavam fechados. Tive curiosidade em saber em que ele estava pensando, mas permaneci em silêncio. Fiquei de joelhos novamente e me aproximei, ficando a poucos centímetros do seu rosto. Minha mão esquerda acariciava e organizava delicadamente os curtos fios da franja, enquanto a direita, com o pente, deixava-os alinhados. Quando terminei, encostei no nariz do papai com a ponta do dedo indicador, que o fez abrir os olhos.



- Terminei. – Sussurrei, encarando sorridente aqueles olhos dourados. Estava um pouco orgulhosa do meu trabalho, papai ficou mais bonito do que já era. Ele abriu um sorriso discreto e se levantou, andando até um grande espelho que havia na sala.


- Meu cabelo já está tão grande... – Ele murmurou, talvez pensando em tirar alguns centímetros. Era realmente surpreendente, faltava pouco para seus cabelos alcançarem os joelhos. Mais surpreendente ainda era que eu havia deixado o meu cabelo crescer daquela forma. Sinceramente, não me lembro quando foi a última vez que alguém aproximou uma tesoura dos meus fios. – Obrigado, Rin. – Ele disse calmamente, enquanto se aproximava de mim. Era a minha vez. Abri um sorriso infantil, não conseguia esconder a minha alegria, e acho que papai percebeu. Me sentei na mesma posição que ele estava anteriormente, enquanto ele se sentava atrás de mim.



Ele desfez o rabo de cavalo com cuidado. Inicialmente, seus dedos percorreram o comprimento do meu cabelo, como se estivesse penteando com os dedos. Às vezes, seus dedos encostavam nas minhas costas, o que me dava leves arrepios. Depois de um tempo, ele aproximou o rosto da minha orelha esquerda, e sussurrou.



- O seu cabelo também é muito bonito, Rin. É um castanho perfeito pra mim. – Fiquei um pouco corada com o elogio, e mais ainda, pela proximidade do seu rosto. Ele se afastou um pouco, e dessa vez começou a passar o pente pelos meus fios, acariciando-os ao mesmo tempo. Era uma sensação doce. Eu fechei meus olhos, desejando ficar daquele jeito por muito tempo. Será que papai sentiu a mesma coisa? Eu estava tão perdida naquelas doces sensações e pensamentos que não percebi quando papai parou de pentear os meus cabelos. Quando percebi, seus braços já estavam em volta dos meus ombros, num delicado abraço.


- Papai...? – Ele abriu as pernas, colocando uma de cada lado do meu corpo, e me puxou lentamente para perto dele. Eu não impedi nenhum de seus movimentos, apenas sentia meu coração acelerar um pouco ao sentir aquele calor tão próximo de mim. Meu rosto começava a ficar rosado, enquanto eu sentia a leve respiração do papai no meu ombro esquerdo, onde ele tinha apoiado o queixo.


- Sinto sua falta, Rin. Estamos distantes. – Não entendi muito bem o que ele havia dito. Coloquei as minhas duas mãos sobre os braços dele, acariciando-os.


- Distantes em que sentido? – Ele ficou em silêncio. Meu coração batia forte, acho que ele podia até sentir, pela proximidade. Me lembrei que fazia muito tempo desde que eu havia dito que o amava. Será que ele sentia falta disso? Talvez fosse essa a causa da ''distância''? Eu só saberia a resposta se eu tentasse. E seria algo sincero, pois eu realmente o amava. – Eu te amo. – Disse num tom de voz baixo, mas claro, para que ele pudesse ouvir perfeitamente. Ele me abraçou mais forte, e eu nesse momento pude sentir o seu coração. Ele batia rápido, semelhante ao meu... mas será que os sentimentos eram os mesmos?


- Você... – Ele hesitou um pouco, mas continuou. – Quando tinha seis anos, uma vez me disse que casaria comigo. Você ainda tem esse desejo? – Eu corei violentamente. Era impossível eu poder me manter estável depois daquela pergunta. Ele se lembrava. Se lembrava perfeitamente daquele dia. Papai... você sente realmente o mesmo que eu? Você não se importa com o fato de sermos pai e filha? Bem, eu sinceramente não me importo. Não que eu seja infantil demais ao ponto de não pensar nas consequências, mas os meus sentimentos permaneciam os mesmos depois de anos. Se papai também se sentia dessa forma, por que eu deveria agir como se nada existisse?


- Sim. Mas isso não depende apenas de mim... depende de você também, papai. – Sussurrei, respirando fundo para continuar. – Eu fiquei muito feliz naquele dia, quando você me... – Fui interrompida pelo dedo indicador do papai, que havia encostado nos meus lábios. Fiquei em silêncio, tentando adivinhar o que ele iria fazer. Lentamente, ele começou a percorrer a ponta do dedo pelos meus lábios, me deixando arrepiada. Ele soltou os meus ombros e me virou de lado, deixando-me um pouco inclinada, enquanto apoiava as minhas costas em seu braço esquerdo. Finalmente pude ver seu rosto, e ele o meu. Apesar de não estar corado, papai respirava um pouco acelerado, e seus olhos fitavam-me da mesma forma que eu tinha visto quando tinha apenas seis anos. Levantei uma das minhas mãos e encostei no rosto dele, acariciando-o com muita delicadeza.


- Rin... – Ele disse com uma voz rouca e baixa, enquanto aproximava o seu rosto do meu. Eu fechei os olhos, enquanto colocava a minha mão, que antes estava em seu rosto, no seu ombro. Poucos segundos depois, senti seus lábios macios novamente sobre os meus, depois de anos. Mas diferente do simples selinho daquela vez, o beijo ficou, aos poucos, mais intenso. Papai fez com que eu abrisse um pouco a minha boca, e senti a sua língua encostar na minha. Ela era quente e doce, como eu imaginava. A sensação era intensa, mas eu também a achei divertida, e comecei a movimentar a minha língua curiosamente pela língua do papai, explorando cada detalhe dela. Ele percebeu que eu estava me divertindo e apenas me acompanhou. A sua mão livre acariciava meus cabelos, me fazendo experimentar sensações únicas.



Quando precisamos nos afastar para respirar, meus grandes olhos castanhos fitaram, sem receio, os brilhantes olhos âmbares do papai. Aqueles olhos me enchiam de coragem e determinação. Não sabia como seria nossa relação daquele momento em diante, mas eu acreditava que eu estava pronta para tudo. E pelo lindo sorriso que papai me mostrou, eu tive certeza que ele pensava o mesmo.


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Notas finais do capítulo

Peço desculpas pela demora do segundo capítulo. Confesso que tive problemas para escrevê-lo, mas espero que eu tenha feito um bom trabalho.