Neva no Coração escrita por Wendy


Capítulo 4
Luz Pálida do Alvorecer


Notas iniciais do capítulo

Esse foi um dos capítulos mais trabalhosos até agora, e o próximo, o último, ainda está em produção. Boa leitura ;)



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Ela estava envolta por branco de novo. O nevoeiro a envolvia como um véu. Mas ela continuava a andar, sem direção, apesar de seus sentidos a chamarem para um lugar certo. O brilho tímido do sol se misturava a névoa, e tudo que ela podia enxergar era luz. Então, ela correu. Correu até as pernas fraquejarem. Até a boca ficar seca e a respiração pesada. Fechou os olhos. E quando abriu novamente, havia escuridão. Por todos os lados. Ela piscou algumas vezes. E havia uma chama, uma chama solitária iluminando o escuro. Ela sentiu conforto. Moveu as mãos por um tecido grosso, segurou com força. Juliana havia despertado de seu sono profundo. E então ela sentiu, o calor emanando, a sua mão buscou pela fonte de calor e encontrou pele. A pele dele, ela sabia. Pele grossa e calejada mas estranhamente, macia. Era dele, e apenas dele, essa textura. Ela segurou na mão dele, como se fosse a única coisa que a ligasse a esse mundo. Respirou fundo, enchendo os pulmões de ar. Um sopro de vida a preencheu.

–x-

Zelão estava sentado numa cadeira velha de balanço próximo a cama, seu tronco reclinado sobre a cama, em direção à sua amada. Devia ser manhã por agora, bom, ele não sabia, porque ainda estava escuro. Abriu, as pupilas se adaptando a iluminação fraca. Sentia uma dor incomoda nas costelas e nas costas, a posição na qual ele adormeceu não era das melhores. Mas o mais estranho era um peso incomum sobre sua mão direita. Os olhos se moveram na direção. A mão de Juliana. Tão pequena e clara contra a dele. A luz fraca mal iluminava o quarto, mas ainda sim, ele podia ver. Nesse exato momento, sentiu o peso que estava sobre seus ombros desaparecer, e o coração parou de doer. Ele ergueu a mão da jovem, levando-a a contra seus lábios. E beijou a pele macia que nem veludo. Passou a pele rude e a barba espinhosa contra a mão delicada. A venerou como se fosse sua própria santidade. E então, muito baixinho, quase inaudível, ele a ouviu dizer, um murmuro perdido entre o vento que soprava lá fora:

– Zelão...

–x-

– Juliana, Juliana! – ele falou rapidamente, sentou ao lado dela na cama, e inclinou seu tronco para olhá-la nos olhos. – Ocê pode ouvir, minha flor?

– Hum... – ela murmurou, e sorriu, um sorriso fraco mas para Zelão significou o universo.

– Eu tive tanto medo de perder ocê... – começou, emocionado.

– Por que está escuro? – perguntou, um tanto confusa.

– As porta e janela tão fechada.

– Zelão...

– Diga, minha flor.

– Você está mesmo aqui... – Juliana se desvencilhou dos lençóis, erguendo os braços na direção do amado, para tocar o rosto dele. – Eu sonhei com você... mas eu não consegui ver o seu rosto.

– Eu tô aqui – virou o rosto para beijar a palma da mão dela. – Ieu tô aqui.

– Me abraça... – pediu, ainda com a voz fraca.

Ele concordou com a cabeça. Se afastou, movendo os lençóis para que ele pudesse sentar, e com movimentos ágeis a colocou em seu colo, ficando os dois no meio da cama. Juliana encostou a cabeça entre o ombro e pescoço de Zelão, e a envolveu em seus braços como um cobertor. E então ela se moveu de lado, se acomodando entre as pernas dele. Encostou a bochecha no peito, sobre o tecido macio da roupa negra e colocou a mão sobre o peito esquerdo dele. O capataz, levou sua mão sobre a dela, sentindo o calor voltar a tomar conta da pele dela, e o sangue fluir com toda força. Ainda frágil, ela falou baixinho, contra o peito dele: - Eu senti saudades... tanto, tanto... tanto.

Ele inalou o cheiro de flores do cabelo dela, sorriu emocionado, beijou o topo da cabeça dela, sussurrou, como uma súplica, como uma prece, como um juramento: - Ô lhe amo, amo, amo muito.

E repetiu mais algumas vezes, até a voz se perder no quarto. Ele olhou para o cômodo de cima, onde a mãe dormia exausta, depois para a vela solitária na cômoda, voltou a olhar para sua amada que agora tinha os olhos fechados e estava silenciosa. Fechou os olhos, e permitiu que o sono chegasse embalado pelas batidas do coração dela em sincronia com o seu.

–x-
Ele se sentia envolto por claridade. Uma aura angelical o envolvendo. Um toque leve de dedos na sua pele o acordou. Piscou os olhos algumas vezes, se ajustando a claridade. O quarto estava preenchido pela luz pálida do alvorecer. A janela pequena aberta iluminava o local, mas o branco ainda estava lá fora. Era a mãe dele. Mãe Benta o acordou, com muita pena, mas era preciso, afinal o filho não havia se alimentado bem nos últimos dias. A primeira imagem que se deparou quando acordou foi de Zelão aconchegando a professorinha adormecida nos braços. Ela sorriu. Tão jovens. Haveria um longo futuro para os dois pela frente, e dessa vez, ela não se oporia ao amor dos dois. Ela não confiava muito na professora, no começo, mas o filho respirava ela, precisava dela. E Mãe Benta estava começando a desconfiar que Juliana também.

– Ins dia, mãe... – ele murmurou, sorrindo para senhora.

– Levante, fio, ocê precisa tomar café.

Ele olhou para a jovem em seus braços e em seguida, acenou para a mãe.

– Espera um pouco, mêa mãe.

Com cuidado, ele se desvencilhou da professorinha. Ela se moveu um pouco mas não acordou. Zelão sorriu, observando a sua doce Juliana, a cor rosada estava voltando suas bochechas.

– Eu vejo que a prefessora se recuperou. – Mãe suspirou, e abraçou o filho que agora já estava em pé.

– Nem parece que foi ontem que eu quase perdi ela. – comentou. – Mas graças a ocê, aos seus santos, ou qualquer outra força, ela está ainda entre nós.

– Graças a todos nós, meu fio. Graças a nossa fé.

–x-

Juliana abriu os olhos para encontrar a cama vazia. Zelão não estava mais lá. Aos poucos, foi se dando conta de onde estava. As paredes, os quadros, as imagens de santos, os cobertores acima dela, o tecido grosso porém aconchegante que ela vestia. Começou a se questionar se estava sonhando ou realmente acordada. Mas logo percebeu que estava acordada, de fato, pois ouvia vozes ao fundo. E então, eles se aproximaram. Zelão e sua mãe. Ele trazia uma bandeja consigo, o que parecia ser um pão e uma xícara ao lado dele.

– Oia quem tá acordada, meu fio. – Mãe Benta, aproximou da cama, Juliana sorriu. – Ins dia, prefessorinha.

Juliana abaixou os cobertores na altura da cintura, e com um pouco de dificuldade tentou se sentar na cama. A idosa ajudou a moça, trocaram olhares ternos. Enquanto o capataz colocava a bandeja sobre o criado-mudo.

– Ins dia...

Entregou o pão na mão dela e sentou na cama, de frente, para a jovem, segurando a xícara. Mãe Benta caminhou em direção a uma cadeira de balanço, que agora estava próxima a porta, a idosa recolheu uma cesta do chão que contia lã e agulhas de tricô.

– Você pode chegar mais perto? – falou com a voz fraquinha.

– Ara, porque? – ele comentou, brincalhão.

– Por favor?

Ele atendeu o pedido de sua amada, e sentou bem próximo a ela. Juliana colocou o pão sobre, seu colo. Levou as mãos trêmulas até o rosto dele, explorando a pele e a barba áspera da região e fechou o espaço entre eles com um beijo. Foi um beijo casto, apenas um toque de lábios demorado, mas que aqueceu os corações de ambos.

– Porque eu queria lhe dar um beijinho.

–x-

Preview do próximo capítulo:

"- Eu senti falta dessa boca... – sussurrou, colando a testa na dela.
– E eu senti falta dessas mãos... – a professorinha pegou as mãos do capataz e levou até seus lábios, beijando cada uma.
– Você vai me perdoar, Zelão? – ela perguntou, hesitante."


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