Sabe quando você não consegue tirar algo da cabeça? Pode ser uma música, uma cena de um filme, uma pessoa...

Então, está acontecendo comigo.

Queria muito poder dizer que não consigo parar de pensar em uma música chiclete da Taylor Swift, por causa de Avery, mas seria mentira. A questão é que não consigo parar de pensar em um garoto, no qual, eu achava completamente irritante até alguns meses atrás.

Ele até havia voltado a aparecer em meus sonhos e, diferentes dos outros, ele não era um simples estranho que me impedia de fazer algo. Agora, ele realmente me conhecia. No último sonho, ele estava me incomodando e me perseguindo por aí, mesmo que eu continuasse o ignorando, não desistia. Isso até podia soar bem parecido com a nossa situação atual, mas não se enganem: estávamos em um filme. E não era qualquer filme bobinho, mas um dos meus preferidos da vida. Eu era Kat Stratford e ele, Patrick Verona. Talvez ter assistido “10 coisas que eu odeio em você” pela milésima vez e lembrar do que Avery e Kacey me falaram em relação a isso na “noite faz meninas” tenha colaborado para o surgimento deste sonho.

Eu estava em negação até então. Não queria admitir a mim mesma que poderia sentir algo por ele. Por isso, sempre tentava me lembrar dos seus defeitos e de como ele era idiota em muitas ocasiões. Mas o problema era que, conforme eu fui o conhecendo melhor, parei de reparar tanto nas coisas ruins e comecei a ver as coisas boas. Ele até podia não ser tão charmoso e bom de papo como James, ou engraçado e bondoso como o Carlos ou até mesmo tão inteligente e fofo com o Logan, mas Kendall tinha suas próprias qualidades que o faziam ser único. 

Confesso. Eu não queria estar tendo esses sentimentos novamente, não assim tão cedo. (Principalmente depois do que passei no meu último relacionamento, era difícil de confiar novamente em um cara). Queria que as coisas fossem mais simples, que pudéssemos agendar quando vamos querer gostar de alguém — porque eu marcaria para isso só acontecer quando eu já estivesse formada na faculdade. Mas as coisas nem sempre são do jeito que queremos.  

Savannah havia voltado para New Haven no último fim de semana. E as aulas retornariam hoje.

Eu deveria estar feliz, afinal, já estávamos na metade do ano letivo. Mas eu estava nervosa, como se fosse o primeiro dia de aula. A questão não era voltar à rotina escolar, mas reencontrar Kendall.

Eu sabia que a qualquer minuto poderia esbarrar com ele pelos corredores. E isso me deixava ainda mais apreensiva. Não sabia como as coisas iriam acontecer a partir de agora.

As possibilidades eram:

Um: Ele viria falar comigo sobre aquele dia.

Dois: Ele fingiria que nada aconteceu e me trataria normalmente.

Três: Ele pararia de falar comigo (o que eu achava improvável)

Então, só me restava duas possibilidades prováveis. E eu não sabia qual delas eu temia mais.

***

O meu primeiro encontro com ele não foi como eu esperava. Só o encontrei no corredor, junto com os meninos, enquanto ia para a primeira aula. Eles apenas me cumprimentaram e seguiram adiante. Isso aconteceu outras vezes durante a manhã. Estava começando a achar que seria impossível falar com ele, até que lhe avistei completamente sozinho.

Passei reto pelo meu armário e fui em direção ao dele. Meu coração estava batendo mais rápido do que o normal.  Ele estava de costas para mim, procurando algo dentro do armário e não percebeu quando eu me aproximei.

— Oi — falei.

Ele se virou e parece um pouco surpreso em me ver, ali na sua frente, mas sorriu.

— Oi — ele respondeu.

Ficamos alguns segundos em silêncio. Com certeza ir falar com ele, sem ter assunto algum em mente, não foi um dos meus melhores planos.

— Tudo bem? — ele perguntou, puxando assunto.

— Sim, sim — respondi rapidamente, com as mãos no bolso e me balançando para frente e para trás. Tinha costume de fazer isso quando estava tentando disfarçar algo (que neste caso era nervosismo). — E... E você?

— Estou bem.

— Isso é bom... — olhei para todas as direções possíveis, exceto para ele. De repente, lembrei-me de algo. — Ah!

Tirei a mochila das costas e a abri, procurando o que queria.

— Queria te devolver isso — estendi o cachecol para ele. — Obrigada

— Ah, claro — ele balançou a cabeça e estendeu a mão para pegá-lo. — De nada.

Ficamos ali, cada um segurando em uma ponta do cachecol, enquanto nos encarávamos. 

Queria que ele falasse algo, de preferência sobre aquele dia. Não queria ser a primeira a falar sobre isso, principalmente porque não saberia bem o que dizer. 

— Olha, eu quer... — ele começou.

— Kendall, amigão! Você poderia me emprestar... — Carlos apareceu, sorridente como sempre, mas ao ver a cena fez uma expressão confusa. — O que está acontecendo aqui?

— Hã... Nada — falei, já que Kendall parecia ter esquecido como se falava. Soltei o cachecol e dei um passo para trás. — Eu preciso pegar minhas coisas e ir para a aula. Tchau, meninos.

— Ok... — Carlos ergueu uma sobrancelha, parecendo um pouco desconfiado. — Tchau, Stef.

Kendall não disse nada, só deu um leve aceno.

Dei meia volta e segui pelo corredor, me controlando para não olhar para trás, e parei ao chegar ao meu armário. Pude espiar os dois, enquanto fingia pegar algo lá dentro. Vi Carlos fazendo várias perguntas, enquanto que Kendall só assentia. Ele fechou o armário e saiu pelo corredor, na direção oposta em que eu estava, com Carlos logo atrás dele.

Encostei a cabeça na porta do armário e respirei fundo. Ele ia me dizer algo. Mas o quê?

Fiquei assim por alguns segundos. Em seguida, peguei minhas coisas dentro do armário e fui para a aula.

***

Parecia que o universo estava querendo zombar de mim. Eu só queria falar com ele por cinco minutos, sem ter interrupções! Mas isso estava parecendo ser praticamente impossível. Ou o encontrava junto com os meninos, ou ele me encontrava com Maddie e Gabe; Quando começávamos a conversar sozinhos, nunca conseguíamos chegar no assunto, pois sempre aparecia alguém para interromper — como o Carlos antes da aula.

E isso se estendeu pelos outros dias da semana.

— Fique calma, Stef — Maddie disse na sexta-feira, enquanto saiamos do refeitório —, vai dar tudo certo.

— Como você sabe? Sabe prever o futuro agora? — debochei.   

— Não — ela riu. — Mas até que seria divertido.

— Se ele realmente quisesse falar comigo, já teria dado um jeito. É, isso. — tentei convencer a mim mesma disso. — Talvez eu tenha interpretado tudo errado.

— Não fale bobagens, ele gosta de você — ela disse com firmeza.

— Você parece conhecer ele muito bem.

Não era a primeira vez que eu pensava isso. Quando estávamos falando algo sobre ele, Maddie nunca começava sua frase com um “Eu acho”. Era sempre uma afirmação, como se tivesse 100% de certeza do que estivesse falando.

— O que você está insinuando? — ela cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha para mim. Definitivamente essa expressão séria não combinava nada com Maddie.

— Nada! — joguei as mãos para os altos. — Mas é estranho você saber tantas coisas assim sobre ele.

— Não é, não.  Eu sei muitas coisas... Sobre... Muitas pessoas.

— Aham — respondi. Sabia que ela estava me enrolando, mas resolvi não insistir nisso.

— E os ensaios? — ela perguntou, mudando de assunto.

— Começam na semana que vem — eu disse. Havíamos dado uma pausa nos ensaios por causa do início da temporada de Hóquei. Mas tínhamos que voltar logo, pois o dia do Show de Talentos estava se aproximando.

— Pena que não é amanhã, seria uma oportunidade perfeita para vocês conversarem.

— Uhum — murmurei. Teríamos que começar só na semana que vem, pois James não estaria na cidade no fim de semana. Tinha algum compromisso com a mãe, ele não entrou em detalhes, mas não parecia muito contente em ir.

Mais uma coisa que o universo colocou para me atrapalhar. Sério, o que eu fiz para merecer isso? O quê? Eu queria que só uma coisinha boa acontecesse. Algo que me fizesse manter a esperança.

Continuamos em silêncio pelo resto do caminho, o que fez parecer que aquele corredor não terminava nunca.

Paramos ao chegar ao meu armário. O abri para guardar meus livros, quando percebi uma folha de papel lá dentro. Ela estava dobrada ao meio e tinha sido arrancada do caderno rapidamente, pois ainda tinha aquele “crespinho” da espiral. Desdobrei a folha e comecei a ler.

Não pode ser. Eu... Eu nem sabia o que dizer em relação àquilo.

— Stef — Maddie colocou a mão em meu ombro, parecendo preocupada —, você está bem?

Não disse nada, apenas dei a folha para ela. Maddie leu atentamente e vi sua expressão mudando conforme ela lia o que havia no papel.

— E agora? — perguntei, totalmente desesperada.

 Eu sei que havia pedido um sinal — por falar nisso, muito obrigada!! — mas realmente não estava esperando por isso.

— Acho que você sabe o que fazer — Maddie deu um pequeno sorriso e estendeu o papel, agora já dobrado por ela, para mim.

— Sim — deixei escapar um sorriso, colocando o papel no bolso do casaco. — Eu sei!

Com as mãos tremulas, me atrapalhei tentando fechar o armário. Maddie colocou a mão na porta e me ajudou.

— Quero saber tudinho depois — ela sorriu para mim. — Agora, vá logo!

— Pode deixar — balancei a cabeça. 

 E saí a passos largos pelo corredor, em direção à saída.