Prós e contras de Gabriel McAdams

PRÓS:

1- É da Califórnia. Não necessita maiores explicações, porque sim.

2- É muito bom com computadores. Tanto que ele é o responsável pelo visual do Masterson News (Acho que me esqueci de mencionar, mas o jornal da escola era digital).

3- Ele é um ótimo escritor. Sério, vocês tinham que ver as coisas que esse garoto escreve! Eu já disse para ele escrever um blog, mas ele é tímido (Consultar item quatro dos “contras”) e acha que ninguém vai ler. Bobagem! Eu leria!

4- Adora ler. Não sei quantos livros ele lê por ano, mas aposto que são muitos. Quase sempre eu o encontro com um livro na mão.

5- É um ótimo amigo. Não é do tipo que te dá “lição de moral” toda hora, mas quando precisa ele sabe fazer isso muito bem.

CONTRAS:

1- É lerdo. E isso me irrita às vezes. Principalmente quando eu preciso explicar a mesma coisa CINCO vezes!

2- Ele sempre está tropeçando em alguma coisa, parece que tem um imã.

3- Ele tem mania de dar respostas curtas. Por exemplo, eu faço uma explicação toda elaborada sobre determinada coisa e ele responde apenas “Entendi”. Outras frases como “Aham” e “Ah, sim” também são muito ditas por ele.

4- É muito tímido. Sério, ele nunca vai conseguir uma namorada desse jeito. A sorte é que ele tem uma ótima amiga que vai ajuda-lo com isso. É, estou falando de mim.

***

Na semana seguinte, mas precisamente na terça-feira, eu estava na sala do jornal da escola com Gabe durante o intervalo. Maddie havia ido à diretoria para levar uma cópia do Masterson News deste mês. Ele só poderia ser publicado depois do diretor aprovar o conteúdo.

E isso me dava mais ou menos dez minutos sozinha com Gabe. Tempo suficiente para falar com ele sobre eu bancar o “cupido” e lhe ajudar a conquistar a sua ruivinha.

— Stef, eu não sei isso é uma boa ideia... — Gabe parecia um pouco preocupado, após eu contar o plano que tive.

— Claro que é! — protestei. — Minhas ideias sempre são boas!

Ok, nem sempre. Mas ele não precisava saber disso. Afinal, era só um pequeno detalhe.

— Mas você nem tem certeza se a festa de natal vai ser mesmo um baile.

— Gabriel! Pela terceira vez, e eu estou contando, eu já te disse que ouvi a Kacey e a Avery falando sobre isso no carro hoje! — expliquei pausadamente para que ele não me fizesse falar isso pela quarta vez.

— Ok, eu entendi isso. Mas e se as outras garotas do time não aceitarem a sugestão?

— Claro que vão — disse convicta. — Elas apoiam tudo que a Avery fala.

— É, eu acho que sim... — ele parecia um pouco incerto.

— Mas você tem que cumprir a sua parte: vai convidar a Maddie para ir ao baile com você.

— E se ela não aceitar?

Revirei os olhos. Gabe sempre era tão pessimista.

— E se ela aceitar? — retruquei.

— Acho isso um pouco difícil. Ela me vê apenas com amigo, ou como ela mesma diz: “Um irmão emprestado muito melhor que os meus de sangue”... — ele suspirou, triste.

Maddie tinha dois irmãos mais velhos. Eles eram gêmeos e já estavam na faculdade. Pelo pouco que ela me contou, parecia que ela já sofreu muito na mão nos dois, que adoravam aprontar com ela. Ter um irmão mais velho que te incomoda já deve ser ruim, agora quando são dois, o pesadelo deve em dose dupla mesmo. Ainda bem que tenho uma ótima irmã mais velha.

— Isso só aconteceu por sua culpa — falei.

— Ah, agora a culpa é minha?! — ele debochou. — O que eu fiz?

— Você deixou ela te colocar na “zona da amizade”! E uma vez lá, você sabe como é difícil de sair.

— E como sei... — suspirou.

— Então, é por isso que você precisa tomar uma atitude logo e convidá-la!

Eu estava muito animada com isso. Eu queria muito que esses dois se acertassem.

Quem sabe se eu juntasse um casal, a vida tivesse pena de mim e acabasse com o meu carma de só encontrar caras idiotas.

— Ok, ok. Eu... Eu vou fazer isso — Gabe coçou a nuca, ficando nervoso. ­— Mas e se ela dizer “não”? Pior! E se ela rir da minha cara?

— E por que ela faria isso? Não tem motivos.

— Claro que sim! Eu poderia te dizer vários — ele estava pronto para começar a listar os tais motivos.

— Não precisa! — o interrompi. Ele assentiu. — E você já deveria aproveitar e dizer o que sente por ela.

— O quê? Não! — ele ficou apavorado só de pensar na possibilidade de se declarar para ela e começou a soar frio. — Uma coisa de cada vez, por favor.

— Tudo bem — resolvi não insistir no assunto, era capaz dele ter um troço bem na minha frente. — Então você vai falar para ela durante o baile.

— Isso se ela aceitar ir comigo... — murmurou.

— Gabriel! — o repreendi.

— Ok! — ele jogou as mãos para cima. — Já entendi. Pensamentos positivos.

— Vai dar tudo certo — cruzei os dedos.

A porta for aberta e Maddie entrou com um tablet na mão.

— Voltei! Sobre o que vocês estavam conversando?

— Hm... Nada. Quer dizer, estávamos conversando, mas não era nada de interessante — Gabe começou a se enrolar. — Você não ia querer saber... — ele riu para descontrair.

Maddie olhou confusa para ele. Se eu não intervisse esse garoto iria acabar botando tudo a perder.

— Então — mudei de assunto, — tudo certo com a edição deste mês?

— Ah! Quase. Tem que arrumar algumas coisinhas só — ela entregou o tablet para Gabe, juntamente com um papel com observações. — Nada de mais.

— Vou fazer isso agora mesmo! — acho que Gabe nunca ficou tão feliz em trabalhar só para fugir de algo.

— Que horas é a sua reunião com as meninas? — Maddie perguntou para mim.

— Hm... — conferi as horas no meu celular. — Daqui a quinze minutos.

— Acho melhor você já ir. A Avery não gosta de atrasos — franzi o cenho, pensando como Maddie sabia disso, já que ela não estava no time de vôlei. — Ela já organizou a peça da escola uma vez. Foi uma experiência... Cansativa. — explicou, parecendo ler meus pensamentos.

Assenti.

— Depois nos conte todas as novidades sobre a festa! ­ — Maddie pediu. — Eu adoro a época do Natal — ela disse com um ar de sonhadora no rosto.

— Pode deixar — garanti. — Vou trazer ótimas notícias.

Gabe olhou para trás e me lançou um olhar esperançoso, como se quisesse dizer “espero que sim”. Lhe lancei um olhar de volta, do tipo “pare de ser pessimista”, mas ele me olhou confuso, sem entender. Revirei os olhos. Estava demorando muito para ele dar uma de lerdo.

Me despedi deles com um aceno e saí da sala com uma expectativa boa para essa reunião.

Vai dar tudo certo!

***

Deu tudo errado!

Eu não consigo acreditar nisso! Meu plano foi por “água abaixo”. Como eu posso me considerar um Cupido se não sirvo nem parar pegar informações direito?

Espera. Eu vou contar o que aconteceu.

Eu havia dito para Gabe que ouvi Kacey e Avery falando no carro sobre a festa ser um baile, correto? Correto. Mas o problema é que eu não ouvi a conversa até o final e, se eu tivesse feito isso, saberia que não era apenas um simples baile de natal.

Era um Sadie Hawkins. Sim, aquele baile que são as garotas que convidam os garotos.

Ou seja, o meu plano já era! O Gabe não vai poder convidar a Maddie!

Eu sempre achei Kacey uma garota muito legal, mas ela arruinou tudo! Quer dizer, ela não sabia do meu plano, tudo bem. Só que foi ela que deu a ideia desse baile. E como a Avery a apoiou, todas as outras garotas do time adoraram a ideia também. Exceto eu, claro.

Na hora que Kacey falou eu não entendi direito o motivo dela ter sugerido isso, mas depois me lembrei da “noite das meninas” e dela ter dito que gostava de um garoto da escola. E tudo fez sentido: Ela iria convidá-lo para o baile.

Ela era uma garota corajosa, admito. Não sei se teria coragem de convidar um garoto que eu estivesse a fim para ir ao baile.

Mas ainda estava um pouco chateada com ela por estragar meu plano. Caramba, tinha tudo para dar certo! Eu acho.

O pior de tudo foi ver a cara do Gabe quando eu contei as novidades para ele. Sério, foi de cortar o coração. Mas eu disse para ele que nem tudo estava perdido! Eu iria pensar em outra coisa para ajudá-lo. Afinal, eu sou uma pessoa muito teimosa. E quando eu coloco uma coisa na cabeça, não costumo desistir facilmente!

Durante o trabalho na loja, fiquei pensando em um jeito de concertar isso. Mas não conseguia pensar em nada útil! Estava tão focada em arrumar uma solução para isso que até vesti um manequim com a roupa do avesso.

Sorte que a minha gerente, a sra. Donahue, não viu. Ela detestava quando ficávamos “viajando” em vez de trabalhar.

Aparentemente, eu estava cumprindo a minha função tão bem que fui promovida. É, agora além de organizar as roupas nas araras, eu também vestia manequins. Viva! Eu adoro o meu trabalho!

Todos os manequins da loja não tinham cabeça. Era só a parte do pescoço para baixo, o que eu achava um pouco bizarro. Mas por outro lado era até bom, já vi manequins em outras lojas que chegavam a arrepiar, parecia que eles te encaravam com aquele rosto inexpressivo e pintado.

Estava terminando de arrumar o último manequim da vitrine— e ainda tinha mais uns dez manequins pela loja para arrumar — quando percebi, pelo canto do olho, alguém se aproximando de mim.

Ótimo! Adoraria um cliente chato me pedindo opinião agora, por favor.

— Com licença.

Era a voz de um garoto. Achei estranho, pois dificilmente entrava algum aqui. A não ser que fosse arrastado pela mãe. Às vezes isso gerava momentos constrangedores que me faziam rir e não odiar tanto assim o meu trabalho.

Me virei para ver quem era o tal garoto, que estava sozinho. Ele estava usando camisa jeans, calça de sarja bege e sapatênis. O cabelo castanho tinha um topete meio desarrumado. Tinha um início de barba que lhe fazia ficar com um ar mais sério, mas ele não deveria ter mais de 18 anos. Ele era bonito. Bem bonito, na verdade.

Ele me parecia familiar. Mas eu não conseguia me lembrar de onde.

Resolvi deixar isso para lá, devia ser só coisa da minha cabeça.

— Posso te ajudar? — perguntei.

— Você não se lembra de mim, não é? — ele riu.

Ops! Então eu realmente conhecia ele! Mas... De onde? Eu não consigo me lembrar! Isso porque eu tenho uma memória boa. Não disse nada, pois fiquei com vergonha de admitir que sim.

— Nick, da festa de Hockeyween — ele respondeu.

De repente, tudo fez sentido.

— Ah! Claro — bati na minha própria testa, tentando entender como eu podia ser tão tapada. É claro que eu não ia me lembrar dele: ele estava fantasiado no dia que eu o conheci. — Desculpe. Foi difícil de te reconhecer sem a capa e as presas de vampiro.

— Tudo bem. Então... Deixou de ser a Alice? — perguntou, puxando assunto.

— Sim. Hoje eu estou de Cinderela. Antes de ser transformada pela fada madrinha — brinquei.

— Bem, para mim você continua bonita do mesmo jeito — ele sorriu de um jeito encantador.

— Obrigada ­— respondi. Estava começando a ficar sem jeito, então resolvi mudar de assunto. — Hã... Estava procurando algo em especial?

— Você.

— O-o-o quê?! — gaguejei.

Ele riu do meu jeito.

— Calma! Só quis dizer que te vi pela vitrine e entrei para falar com você. Foi isso.

— Ah, sim — respirei aliviada.

— Você gostou da festa naquele dia? Não te vi mais depois.

— Sim, gostei bastante. Estava muito boa! Mas tive que sair mais cedo. — respondi, ele assentiu. — Por falar nisso, você não me disse que era o anfitrião da festa.

— Você não me perguntou — ele sorriu. — E, tecnicamente, eu não era o anfitrião, só cedi a minha casa para a festa.

— Certo — respondi.

— Posso te perguntar uma coisa? — Disse. Assenti. — Como as pessoas costumam te chamar?

— Hm... Stefanie ou Stef — respondi.

Ou Howard, pensei. Mas preferi não mencionar isso, era melhor não dar ideia. Não queria mais um me chamando assim, principalmente porque eu não gostava.

— Não... Muito comum. Eu vou arrumar outra forma mais legal de te chamar — ele torceu o lábio para o lado, pensativo — Ah! Que tal, Fanie?

Ninguém nunca havia me chamado assim, mas eu não achei ruim.

— Gostei — sorri.

— Que bom — ele sorriu de volta.

Por sorte, olhei em volta e percebi que a sra. Donahue estava conversando com uma funcionária perto do caixa. Se ela me visse conversando em vez de trabalhar... Estaria ferrada.

— Algum problema? — ele olhou para trás, tentando descobrir para onde eu olhava.

— Minha gerente está logo ali — disse discretamente, fingindo que arrumava a camiseta do manequim, que nem estava errada. — E se ela perceber que estou de conversinha durante o expediente, vou levar uma bronca.

— Ah! Desculpe, não queria te trazer problemas — ele se desculpou. — Acho melhor eu ir embora e deixar você trabalhar.

— Tudo bem... — respondi um pouco decepcionada. Estava gostando de conversar com ele. Além disso, não queria arrumar mais manequins, isso era muito chato.

— Te vejo por aí, Fanie — ele deu mais um de seus sorrisos.

— Tchau, Nick — acenei, vendo ele se afastar.

Botei o manequim no lugar certo e analisei a vitrine para ver se estavam todos certos. Coloquei a mão na cintura e suspirei. Eu ainda não havia tido mais nenhuma ideia para ajudar o Gabe.

— Ainda bem que vocês não têm cabeça. — falei para os manequins. — É muito difícil pensar em planos que dão certo.