Manhattan, Nova York.

Will estava com Nico no aeroporto, para recepcionar a prima dele. Will e Thalia eram muito amigos, e inclusive foi ela quem lhe apresentou o di Angelo. Will se lembrou daquilo enquanto lia um livro de uma autora famosa chamada Rachel Elizabeth Dare. O livro era de contos biográficos de autores consagrados, e ao lado dos contos, fotos dos homenageados. Will não sabia o porquê dele se lembrar dessas memórias.

Nico ouvia música enquanto observava o portão de desembarque, ansiando por Thalia, pela vontade de tocar de novo com ela. A última vez que tivera essa oportunidade foi alguns dias antes dela sair em turnê pelos Estados Unidos pela primeira vez.

Thalia tinha sido gravada cantando aos doze anos por algum membro da família, que resolveu soltar um video na internet, e alguns meses depois o vídeo fez sucesso. Thalia foi pra Tevê, e então várias gravadoras apareceram para sugar parte da sua vida. Na visão de Nico ela não se daria bem e voltaria pra casa assustada com o mundo da música. Thalia já fazia sucesso há algum tempo, e quando fez dezoito começou a planejar uma turnê mundial para quando fizesse dezenove.

— Já está ficando chato. — Nico falou para Will, que levantou os olhos do livro. — Um ano sem ela aqui. Muito chato.

— Acalme-se Nico, daqui a pouco ela chega. — Will falou. — E o velório, como foi?

— Pesado. — Nico respondeu e se calou durante alguns segundos. — Hazel chorava quando via o Frank chorando. Ela estava triste por ele estar triste. Acho que ela se apaixonou por ele.

— Conheço bem esse sentimento. — Will falou e retornou os olhos para o livro. — A paixão é a doença do amor. — Um pequeno silêncio aconteceu e logo foi quebrado pelo mesmo Will. — Eu te amo.

Nico suspirou, e viu Thalia saindo pelo portão. De súbito ele correu até a prima gritando o nome dela pelo aeroporto. Thalia procurou a voz, e ao encontrar Nico, o olhou assustada, e depois sorriu e abriu os braços correndo ao encontro do primo.

— Nico, quanto tempo! — A garota arfou ao abraça-lo. — Como você cresceu. Nem parece um adolescente de catorze anos.

— Quase quinze, Grace, quase quinze. — Will chegou ao lado dos dois, e foi abraçar a menina.

— Will, você realmente faz tempo que não vejo. — Thalia correspondeu ao abraço. — Então, como estão as coisas por aqui?

— Tensas. — Nico respondeu de imediato. — Especialmente com Percy.

— Me conte no caminho, Nico! — Thalia saiu andando com o primo e Will. — Quero saber de tudo, hein!

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Hazel cochilou depois que chegou em casa, e acordara mal, estava cansada do enterro de Emily Zhang, e ainda por cima sua mãe teve que correr para falar com um cliente que estava morrendo. Ela esperava essa ser a pior véspera de Natal da sua vida, ou pelo menos ficar no top 3.

Hazel ainda tinha como grande campeã à noite em que seu pai passou com ela e sua mãe há muito tempo. Tanto tempo que nem se lembrava mais de seu rosto. No fim da noite ele e a mãe acabaram brigando e ele saiu da casa todo furioso. Hazel tinha mágoas nessa lembrança e sempre se questionava do por que do pai não visitá-la.

A garota sabia que a mãe ainda era apaixonada por ele, e que inclusive guardava algumas fotos. Nunca soube o porquê deles não ficarem juntos, nem como se conheceram. Só sabia que ele era seu pai, e que gostava dela, de um modo meio estranho, mas gostava dela.

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Grover e Percy sentaram na cama do segundo, e ali voltaram a falar sobre o Primoradial e incluíram detalhes sobre a ceia de Natal de mais tarde.

— O mais medonho é que você não pode mais passar a vida em paz, Percy. — Grover balbuciou olhando para a janela.

— Posso, e vou, especialmente depois de acabar com o Primordial! — Ele se levantou irado. — Tenho medo dessa ceia, pode ser que algo muito ruim aconteça. Não me sinto bem sobre isso.

— Você tem alguma suspeita de quem possa ser? — Grover perguntou ao amigo. — Pistas? Suposições?

— Leo descobriu que o Primordial é canhoto, mas isso coloca um bocado e gente no saco, por incrível que pareça: Nico, Tyson, Annabeth, Jason e Hazel são os canhotos que eu conheço. Na verdade, Nico, Tyson e Annie são ambidestros, como você sabe.

— Esse Leo parece mesmo obcecado com essa história. — Percy assentiu a fala de Grover, se sentando novamente na cama.

— Desde que fomos quase metralhados, desde aquele dia ele persegue o Primordial, e agora, está em uma cadeira de rodas. — Percy se recordava da fixação do garoto. — Mesmo assim, parece que ele não desistiu.

— Vamos pensar na ceia Percy, muitas pessoas vão vir. — Grover resolveu tirar o foco do Primordial. — Júniper já deve estar chegando com a minha roupa inclusive.

— Ok, vou deixar você aí, ainda tenho que fazer uma coisa antes de tudo começar. — Percy saiu corrido, deixando Grover intrigado.

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Thalia entrou em seu antigo quarto, e colocou as malas no chão. Não levara muitas coisas para sua turnê, por isso não precisou da ajuda de Nico e Will para trazer as malas para o seu quarto. Os dois saíram dali para algum lugar, enquanto prometeram de se reencontrar na ceia de Natal da família, que esse ano seria na casa de Percy.

A garota aproveitou que estava só em casa. Seu pai deveria ter saído para a Olimpo, afinal, ele nunca se cansava de trabalhar, e não seria a véspera de Natal que impediria Zeus de dar uma olhada nos balanços de sua poderosa empresa.

Thalia não tinha uma das melhores relações com o pai. Brigavam muito desde a morte da mãe, que não era um dos melhores exemplos a ser seguido, que havia sido uma atriz com certa relevância e problemas alcoólicos.

A cantora pensava, enquanto guardava as malas, em como as mulheres naquela família não eram sortudas. A mãe dela e de Jason morreu num acidente, a mãe dos primos Nico e Bianca teve um ataque no coração e morreu no meio da missa, e a avó de todos eles, uma costureira de Nebraska, chamada Réia, foi assassinada pelo próprio marido, Cronos. Aparentemente as únicas que escapavam eram Sally, a esposa de seu tio, e Héstia, que se converteu ao catolicismo junto com Hades, e resolveu virar uma freira em Baltimore.

Thalia não queria o mesmo destino para ela.

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Percy voltava da rua, e enquanto entrava no prédio, viu o carro de Will Solace estacionado e logo sabia que Nico estava em casa. Precisava desabafar com o garoto, além de pegar o trabalho de história com ele.

O jovem de olhos azuis subiu os degraus até chegar na porta de madeira e tocar a campanhia. De imediato, Bianca di Angelo surgiu e o cumprimentou. Desde a volta da garota eles tinham se falado pouco, mas Percy precisava do outro di Angelo para desabafar.

— Ele está no quarto com o Will, o loiro. — Ela sorriu para Percy, que entendeu o motivo da alegria.

Nico era um garoto até que comunicativo, mas depois da morte da mãe, só ele e Thalia que o ajudavam e conversavam com ele além da irmã. Jason tinha ido para um internato na Califórnia, perto de Nova Roma, e ficou por lá até o ensino médio. Bianca sempre tentou enturmar o primo com alguns amigos, mas só Thalia, e depois de algum tempo, Percy, que conseguiram o feito.

Percy parou na porta entreaberta do quarto do mais novo de seus primos. Ele ouvia a voz de Nico surtando, e Will tentando acalmá-lo.

— Eu ouvi Solace, eu ouvi alguém mexendo no incenso! — Nico escarrou depois da fala, e Will tomou o controle da situação.

— Se acalme! Você não pode afirmar que o incenso estava envenenado, e mais, como alguém envenenaria o incenso, para afetar sua mãe, sem ninguém mais morrer! — O loiro fez uma pausa. — Você está delirando Nico.

— Eu não estou, essa pessoa sabia de alguma alergia, ou intolerância da minha mãe, não é possível. Mas, mesmo que não seja pelo incenso, eu sei que alguém estava sussurrando na sacristia vazia: Maria di Angelo, de hoje não passa. — Nico se encolheu. — Pior, é que essa pessoa me encarou e me disse que era pra ficar quieto, e muitas ameaças depois disso. E pior que esse pior é eu ter só flashes desse dia. Eu sou um egoísta Will, um egoísta.

— Que egoísta que nada Nico, você estava com medo de perder toda a sua família nesse dia. Você queria proteger Bianca e seu pai, depois de ver a sua mãe morta em frente ao altar da Catedral. — Percy ouvia atentamente, e percebeu que Will devia estar sentado na cama improvisada de Bianca, pois ele se levantara de algo macio. — Você não é e nunca foi egoísta, meu amor, muito pelo contrário, ajudou seus primos, sempre que pode, e preenche o meu coração de uma forma que ninguém nunca faria, e por isso eu sou teu diário, e você é meu confessor.

Percy abaixou a cabeça já imaginando o que estava acontecendo, mas resolveu bater na porta, e conversar logo com Nico.

— Quem é? — Perguntou Nico com uma voz árida.

— Eu, Percy! — O garoto de olhos azuis escutou Will se sentar de novo na cama de Bianca.

— Entra logo! — Nico gritou e logo Percy era mais um corpo naquele quarto.

— Desculpe atrapalhar a conversa, mas eu preciso conversar com você Nico, no particular. — Percy virou o rosto na direção de Will. — Sem ofensas Solace, mas é sério.

— Vai ser rápido, pois eu tenho que fazer uma última coisa antes da Ceia. — Nico falou encarando Percy com uma face que mostrava alívio e apreensão.

— Vai, vai ser rápido sim. — Percy disse se sentando na cama de Bianca, enquanto Will ficava de pé.

O loiro se retirou e fechou a porta atrás dele. Percy respirou fundo.

— Leo acha que você quer me ver enterrado numa cova. — Percy começou. — Ou de camisa de força num hospício.

— Hm, ele acha que eu sou o Primordial, ser maligno que quer ver a ruína de Percy Jackson por, aparentemente, nada. — Nico empregou uma dose alta de sarcasmo na voz.

— Em resumo sim, ele acha que você é o Primordial. — Percy tentava escolher as palavras que sairiam de sua boca. — Eu não devia estar te falando isso, mas é porque eu confio em você Nico, não tem como você ser esse carrasco. Você é gentil, centrado, e eu nada fiz de mal com você. — Percy tentou se esquecer de Nico com a voz surtada minutos atrás.

Nico riu.

O riso do di Angelo foi num tom de deboche. Logo com o ar recuperado, Nico tentou retomar a compostura.

— Nada de mal? — Nico riu mais um pouco. — Você tá um palhaço hoje.

Percy ficou confuso com a situação.

— Bem, saiba que eu não sou esse vilão de série, ok? — Nico falou se levantando, e pegando o casaco de aviador.

— Nico, espera... — Percy ainda estava sentado na cama de Bianca.

— Desculpe Percy, eu tenho que ir. — Nico se despediu enquanto Percy estava atônito pensando em que mal tinha feito para o primo.

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Piper estava se arrumando no banheiro quando Drew entrou, olhou e saiu. Piper achava estranhas certas ações da irmã, mas sempre deixava ela fazer o que quisesse, desde que não prejudicasse ninguém em volta.

Depois de pronta, ela se sentou no sofá da sala. Na noite de Natal, cada um dos irmãos saídos de Afrodite ia passar a festa com o pai. Se ainda estivesse viva, Silena iria para França com o pai. Lacy e Mitchell, os gêmeos, já estavam em Baltimore desde o dia 22, e Drew esperava o pai, que geralmente se atrasava.

Piper não ia passar o Natal com o pai. Tristan McLean estava internado com uma infecção estomacal desde o dia 23. Piper pensou de ficar com a mãe, mas ela já havia marcado um compromisso. Entre ficar em casa sozinha e comer miojo e ir passar o Natal com a família de Jason, ela escolheu a segunda opção.

Ela resolveu se vestir de rosa, algo raríssimo, apenas por ser o seu vestido mais ajeitado para a Ceia de mais tarde. Com os cabelos presos, ela se levantou quando a campainha tocou, e Jason estava do outro lado.

De mãos dadas e com um casaco forte, parecia que Nova York teria um Natal Branco, algo que não acontecia já há alguns anos. O frio vento tinha bagunçado um pouco os cabelos de Piper, e Jason quase teve seus óculos arrancados pelo mesmo. Ele estava melhor, depois de uma manhã agitada.

Com os relógios marcando oito e meia, eles estavam entrando no apartamento de Poseidon, onde, além dos residentes, já se encontravam Annabeth e sua mãe; Hades e Perséfone, com a sogra do mesmo, a ambientalista Deméter; Thalia já tinha chegado de turnê e bebia algo no minibar da gigantesca sala do lugar, enquanto o sogro de Piper aparentemente não tinha chegado.

— Eu estou com um péssimo pressentimento. — Piper sussurrou a Jason.

— Nada vai sair errado, meu amor. — Jason segurou a mão de Piper mais forte, o que deixou a meio-cherokee surpresa e contente. Há tempos que Jason não falava aquelas duas palavrinhas.

Piper se assustou quando viu duas figuras descendo a escada, até notar que eram Juniper e Grover, muito mudados desde a viagem que fizeram no último ano. Parecia que vários resolveram retornar para comemorar o Natal. Isso deixou Piper alegre. O Natal era uma época onde a inocência voltava, onde a felicidade e o sentimento pelo próximo também.

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Hazel tinha apagado todas as luzes, e deixou a mãe dormindo. Ela permitiu que Hazel fosse passar o Natal com Nico, afinal, ele ajudava muito sua garotinha na fase que ela estava passando, além de que, ia ser na casa de Percy Jackson, de quem Hazel gostava muito, e considerava um de seus grandes amigos, mesmo que estivessem um pouco afastados ultimamente.

Nico e Will a buscaram na porta, e protegida ela entrou no carro, para irem para a Ceia no apartamento de Percy. Enquanto iam, Will observou que esse poderia ser um Natal Branco.

Ao chegarem no edifício, Hazel e Will ficaram na sala de estar dos di Angelo, enquanto Nico terminava de se arrumar. Bianca tinha ido um pouco antes deles chegarem.

— Eu estou ansiosa, só vou conhecer vocês, da minha idade. — Hazel termia um pouco. — É um frio na barriga sem tamanho.

— Eu entendo Hazel, eu me sinto assim muitas vezes. — Will falou aproveitando para ligar a tevê e sintonizar num especial de Natal.

Depois que Nico se aprontou, o trio se pôs a subir as escadas. Depois de tocar a campainha, entraram. Bianca abraçou Nico, que cumprimentou a todos, e Hazel cumprimentou os conhecidos primeiro, para depois conhecer os outros.

Mas não notou a cara de desespero que Hades fez ao vê-la.