Seguimos por um longo corredor, tudo lá era composto de tons claros, o ar era frio e o cheiro era de álcool. Típico de hospitais. Senti vontade de chorar, não queria estar lá, mas respirei fundo e continuei andando. À medida que passávamos pelas portas, eu lia as pequenas inscrições nas portas. Variados nomes de doutores, psicólogos, enfermarias, salas de exames e quartos para hospedagem de pacientes, mesmo assim vários deles se encontravam ao longo do corredor, alguns com olhos vidrados e insanos, outros gritando ou chorando e alguns até mesmo se contorcendo em camisas de força. Depois de um tempo passei a me concentrar apenas em meus próprios pés para não ter que mais olhar para tudo aquilo. Ao final do corredor passamos por mais uma enorme porta e, para meu alívio, todo aquele barulho cessou como mágica.

    Agora eu encarava uma pequena sala com 3 saídas. Uma á minha frente, outra á minha direita e outra á minha esquerda.

-Este corredor á sua direita leva aos dormitórios masculinos. – Jimmy disse apontando para o escuro corredor repleto de portas. – E o corredor á sua direita leva aos dormitórios femininos. Você não está autorizado a freqüentá-lo, somente enfermeiros e funcionários. Terá sempre alguém vigiando então eu não o aconselho a tentar entrar no quarto de nenhuma mulher. – sorriu de canto. – Por mais que isso pareça divertido.

-Isso não será problema, não se preocupe. – me relacionar com uma mulher que está internada em um hospital psiquiátrico não estava nos meus planos. Meu único plano no momento era sair dali o mais rápido possível.

-Aqui á sua frente está a sala de estar onde você poderá descansar, assistir TV, ler livros, descansar... Depois você dá uma olhada. – disse apontando para a terceira saída, aquela logo á minha frente. – Seu quarto é logo ali, me siga que eu vou levá-lo até lá. - a porta branca com a inscrição 74 de seu lado direito se encontrava na metade do corredor. - Por motivos óbvios de segurança você não tem direito á chave do quarto, somente enfermeiros e médicos. E o quarto estará sempre destrancado. – Jimmy explicou antes de abrir a porta e dar um passo para o lado, me dando passagem para adentrar o lugar.

    O ambiente era claro e a janela aberta me fornecia uma vista agradável de um jardim. O pequeno cômodo era composto por paredes obviamente brancas, com uma cama consideravelmente grande encostada na parede, um criado mudo do lado esquerdo dela e um grande armário de madeira escura á sua frente. Logo ao lado do criado mudo se encontrava a janela e acima dela um ar condicionado. À minha esquerda estava a porta que levava ao banheiro, composto por uma privada, um chuveiro, um grande espelho, uma pia e um simpático e pequeno armário repleto de gavetas.

-E então? O que achou? – Jimmy deixou minhas 2 malas ao lado da cama e apoiou as mãos na cintura.

-È melhor do que eu esperava. – disse, e estava sendo sincero quanto á isso. O lugar cheirava a amaciante e ar fresco, devido ao jardim do lado de fora. Já não havia vestígio nenhum do cheiro de álcool que eu presenciara na primeira ala da clínica.

-Aqui é um hospital de primeira classe! – exclamou sorridente - O tratamento é um pouco caro, então a maioria dos pacientes são ricos, já tratamos até mesmo de algumas celebridades como você! – disse, segundos depois pareceu um tanto sem graça e baixou a cabeça. – Bem, não exatamente como você! Ninguém é tão famoso como você nos dias de hoje, certo?

-Obrigado. – não consegui evitar um sorriso com o comentário.

-De qualquer maneira, o almoço será servido em 40 minutos, ao 12:30. Então esteja pronto, ok? – se recompôs. – O café da manhã é servido ás 8 da manhã e a janta ás 7 da noite.

-E é obrigatório acordar tão cedo? E comer tão cedo também?

-Infelizmente, sim... Com o tempo você se acostuma, um enfermeiro ou enfermeira virá te acordar e te avisar sempre que estiver na hora de alguma refeição.

-Mais alguma coisa que tenho que saber?

-Você terá consultas dia sim e dia não com um psicólogo, ainda não sei quem ele ou ela será e nem o horário, mas você será notificado. Todos devem se recolher para seus quartos ás 22:00, não é permitido transitar pela clínica após esse horário. Há uma programação de diferentes atividades que acontecem de tempos em tempos, o papel com todos os horários está na sala de estar se quiser ver depois.  – pensou por alguns segundos. – Acho que é só isso, qualquer duvida, chame alguém.

    Jimmy saiu e fechou a porta, acompanhei seus passos se distanciando pelo corredor e sumirem do alcance de meus ouvidos. Olhei ao redor, analisando cuidadosamente cada detalhe do que seria meu abrigo nas próximas semanas, ou meses, ou anos...

    Desfiz minhas malas e coloquei uma roupa mais confortável. Trocando minha skinny, jaqueta de couro e botas de salto por um velho jeans, uma camiseta e tênis velhos. Andei até o banheiro, molhei meu cabelo e lavei o rosto até que ele estivesse completamente livre de maquiagem. Eu estava em um hospital agora, devia agir de acordo.

    Olhei meu reflexo no espelho e me assustei com meu próprio estado. Minhas olheiras pelas noites mal dormidas e palidez pelo longo tempo sem tomar sol nenhum me davam um aspecto doentio, que era complementado pela magreza exagerada e a inegável tristeza estampada em meu rosto. Deixei meu corpo cair pesadamente na cama, me senti levemente aliviado dela ser mais confortável do que a do hospital, e abracei minhas pernas, de longe ouvia as conversas que vinham do jardim e do fim do corredor, mas tudo parecia distante, e eu me sentia sozinho... Sozinho como nunca me sentira antes.

              “ A melhor coisa de ser gêmeo é que você nunca está sozinho. ”

     Nunca experimentei ou achei que vivenciaria a solidão de uma forma tão forte como agora. Tinha certeza de que Tom nunca me deixaria sozinho e agora estou enrolado em uma cama, situada em um hospital psiquiátrico, com os olhos banhados de lágrimas implorando pela sua voz, mesmo que não possa vê-lo, mesmo que isso signifique que estou ficando louco, mesmo que ele diga coisas que me machuquem... Eu só não quero me sentir tão sozinho quanto me sinto agora.