Espadas de prata escrita por Someone
Notas iniciais do capítulo
Boa noite aos tripulantes..
O barco deslizava pelas águas cristalinas cortando como papel a força das ondas. Em pé na proa estava uma figura que segurava nas cordas, um sorriso fácil nos lábios.
Os cabelos loiros e curtos soltos ao vento, assim como a camisa folgada que era sacudida violentamente.
– Pronta? – A pergunta soou com um leve sotaque espanhol.
Olhou por cima do seu ombro a mulher de pele queimada, cabelos grossos com um leve ondulado e olhos negros e profundos como a noite.
– Estou louca para voltar para casa. – Respondeu com um sorriso confiante.
O barco atracou no porto e logo as duas mulheres pularam para fora da embarcação. Um homem alto de cabelos loiros bem cortados ás esperava.
– Pai. – A loira abriu os braços sendo recebida por um abraço caloroso.
– Finalmente está em casa. – O homem a recebeu com um aperto forte. – Não deixarei mais que se afaste por tanto tempo.
Afastaram-se com sorrisos satisfeitos, os olhos azuis do homem marejados ao encontrarem os verdes confiantes da filha.
– Senhor Fabray. – A latina curvou a cabeça.
– Santana. – Ele deu um aceno satisfeito, percebeu a filha se afastar olhando em volta. – Ela não veio querida.
– Por quê? – Franziu as sobrancelhas perfeitas.
– Vamos para casa e lhe explicarei tudo. – Ele tinha um ar mais pesado e triste.
Subiram na charrete deixando os empregados cuidarem das bagagens.
As ruas de pedras portuguesas desniveladas, as construções rústicas se misturando aquelas mais refinadas. As pessoas paravam para verem a charrete passar, alguns reconhecendo a menina que já não era mais tão menina assim.
Ela estava com 17 anos quando saiu daquela cidade tinha 13 e não colocara mais os pés naquele chão. Seu pai, o irmão do rei, tinha lhe enviado para ser educada longe daquela terra, ele dizia que o seu futuro era diferente daquele das mulheres que ali estavam. Tinha algo diferente reservado para ela. Diferente e grande.
Finalmente entraram na propriedade da família, ela já se sentia em casa olhando envolta pelo pátio. As empregadas correndo para se perfilarem na sua frente e a mulher que vinha sorrindo alegre com os olhos verdes tentando conter as lágrimas.
– Graças a Deus. – Ela pousou uma mão sobre o peito. – Está vindo uma grande tempestade.
Ela saltou da charrete com graciosidade antes de beijar as mãos da mãe.
– Sua benção. – Curvou a cabeça.
– Que Deus te abençoe. – Murmurou lhe beijando no alto da cabeça.
Levantou a cabeça olhando envolta quase afoita, mas não a encontrou. A senhora Fabray trocou um olhar de pesar com o marido, ambos sabiam o que a filha tanto esperava encontrar.
– Vamos querida vamos entrar. – A abraçou pela cintura a puxando para dentro. – Vamos acomodar vocês e almoçar, Santana os seus pais já enviaram um mensageiro não irão demorar a chegar.
*
Trocou as vestes por algo mais fresco, se lavou brevemente antes de se dirigir a sala de jantar. Estava arrumada caprichosamente com os empregados prontos para servir.
– Vamos querida se sente. – A senhora Fabray sorriu para ela, mas a garota permaneceu parada no portal.
– Pai eu poderia falar com o senhor? – Perguntou calmamente.
– Vamos comer primeiro Quinn. – A senhora Fabray continuou tentando convence-la.
– Pai, nós poderíamos? – Tornou a perguntar.
– Com licença. – O homem se levantou. – Podem almoçar sem a nossa presença.
Os dois se dirigiram para o gabinete privativo do homem, assim que a porta de madeira maciça se fechou ela se virou para encara-lo.
– Onde ela está? – Perguntou sem querer fazer rodeios. – Cadê ela?
– Filha vamos nos sentar. – Indicou as cadeiras de espaldar reto.
Sentaram-se a mesa coberta de papéis, o homem tomou a cabeceira enquanto ela se sentou à sua direita.
– Aconteceram alguns problemas. – Ele começou esfregando a sobrancelha grossa.
– Quais problemas e por que não fui informada? – Arqueou uma sobrancelha.
Ele lhe atirou um olhar irritado, sabia do gênio forte da filha e se orgulhava daquilo, mas ela já estava começando a passar do limite.
– Problemas recentes. – Ele respondeu com calma, respirou fundo. – A família Berry teve alguns problemas financeiros.
– Como assim? – Sua postura ficou ainda mais reta.
– Eles perderam a fazenda e algumas outras posses. – Suspirou, seu olhar recaiu em um papel timbrado. – Não pude fazer nada quando percebemos já era muito tarde.
– Não estou entendendo. – Seus dentes estavam bem apertados uns contra os outros. – Como era tarde demais.
– A questão é que Hiram foi ludibriado em alguns negócios com um homem que chegou recentemente a cidade.
A sobrancelha clara se arqueou.
– O negócio não deu certo e ele acabou se endividando.
– E por que o senhor não o ajudou? – Retorquiu.
– O negócio não deu sinais de que iria afundar, pelo contrário. – Ele continuou calmo. – A questão é que o plano foi muito bem armado.
– Pai…
– Me deixe terminar. – Ergueu a mão. – Entre os papéis que Hiram assinou no início do negócio havia uma promissória.
– Que promissória. – Não se conteve.
– Entregar a mão da filha ao sobrinho desse homem caso Hiram viesse à falência.
Quinn se levantou igual um raio, seus olhos coléricos e o pescoço tomado pela vermelhidão.
– Como é? – Rosnou. – Ela é minha prometida há anos.
– Eu sei. – Ele fechou a mão em punho. – Estou tentando de todas as maneiras evitar isso, mas o sujeito é esperto.
Uma batida na porta interrompeu a conversa.
– Entre. – Lançou um olhar de aviso a filha.
– Perdoem-me a intromissão. – Um garoto entrou de cabeça baixa. – Mas a senhorita Quinn tem uma visita.
– Quem? – O senhor Fabray franziu as sobrancelhas.
– O senhor Berry.
*
O homem de pele clara, cabelos encaracolados, os olhos verdes pareciam cansados. Estava montado no único cavalo que lhe restara, o animal já estava velho e não poderia aguentar muito mais.
Observou os dois Fabray que se aproximavam e prontamente saltou do animal.
– É bom vê-la novamente. – Abriu os braços, mas sua expressão não havia mudado, continuava culpada e cansada.
– Senhor. – Acenou com a cabeça, sentiu a mão do pai pesar em seu ombro.
– Ela já está a par da situação Hiram. – O homem acenou.
– Não tenho palavras para dizer o quanto eu sinto. – Hiram levou a mão até o coração. – Eu realmente não tenho.
– Eu acredito no senhor. – Inclinou a cabeça para o lado. – O que eu não consigo entender é como tudo isso aconteceu.
– Este senhor é ardiloso. – O Berry considerou. – Muito esperto.
– E os senhores deveriam ganhar dele em experiência, afinal são dois. – Arqueou uma sobrancelha variando o olhar do Berry para o pai. – Estou enganada?
– Cuidado. – O pai lhe alertou.
– Por que o meu tio não ajuda? – Ignorou o alerta.
– Já levei a questão ao conhecimento do seu tio, mas não tem muita coisa que ele possa fazer. – O senhor Fabray se mexeu visivelmente irritado.
– Nesse caso… - Correu a mão pelos cabelos curtos. – O que devo fazer?
– Trate-a como o que ela é. – Hiram respondeu. – Sua noiva, isso não mudou.
– Onde ela está? – Perguntou já fazendo sinal para o garoto trazer um cavalo selado, ouviu o suspiro do pai.
– Na nossa casa da cidade com a mãe. – Hiram prontamente respondeu.
– Se o senhor não se importa gostaria de ir vê-la. – Içou-se sobre o animal segurando firme nas rédeas.
Não esperou resposta apenas apertou o calcanhar nos flancos e saiu em disparada.
*
A casa era pequena para os padrões da família. O garoto correu para apanhar o cavalo, Quinn lhe afagou os cabelos ganhando um sorriso.
Avançou batendo à sineta próxima a porta, observou o garoto colocar água fresca para o animal.
– Senhora. – A voz ligeiramente rouca.
Virou-se encarando o rapaz que já despontava os primeiros fios do bigode. Os olhos escuros lhe encaravam com uma curiosidade fria, a boca grossa apertada em uma linha fina.
– Boa tarde Miguel. – Curvou a cabeça brevemente. – Sua mãe está?
A sobrancelha grossa se ergueu expressando confusão.
– Ou talvez a sua irmã? – Continuou calmamente.
– Quem deseja? – Retorquiu desconfiado.
– Quinn? – A voz macia levemente musicada veio por trás do jovem rapaz.
Miguel se virou dando uma visão parcial da morena parada próxima à sala.
Os cabelos presos com a franja suave caindo sobre os olhos castanhos. Os lábios grossos como os do irmão eram mais relaxados com um sorriso pequeno.
Quinn se endireitou acertando a postura, sua respiração ficou mais profunda sentindo o cheiro dela lhe preencher deixando seu corpo mais leve.
– Posso? – Olhou para o rapaz.
Miguel ficou tenso antes de dar passagem.
– Senhorita. – Deixou um pequeno sorriso nos lábios enquanto se aproximava.
– Quando chegou? – Seu corpo foi tomado por um frio repentino se retesando, seus olhos buscaram a porta aberta.
– Essa manhã. – Parou sua aproximação sentindo o desconforto dela. – Eu lhe avisei na ultima carta que enviei.
– Perdão eu me esqueci. – Deu um sorriso sem graça. – Meu pai não está.
– Eu sei, ele está na minha casa. – Cruzou os braços atrás do corpo. – Nós poderíamos…
– Não. – Miguel a interrompeu. – E eu pedirei para que saia.
Virou-se devagar para poder olhar o rapaz, ele indicou a porta.
– Perdão? – Arqueou as sobrancelhas.
Miguel olhou para fora nervoso.
– Vou pedir para que saia. – Repetiu apertando as mãos em punhos. – Agora.
– Rapaz estou no meu direito de vir visitar…
– Senhorita Fabray. – A Berry a interrompeu, seus olhos baixos. – Por favor, saia.
Seu sangue gelou, curvou-se para ela antes de sair porta a fora.
Jogou uma coroa de ouro para o garoto e rapidamente partiu.
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@just_someone13 e ask.fm/PSomeone