Espadas de prata escrita por Someone


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Boa noite aos tripulantes..



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O barco deslizava pelas águas cristalinas cortando como papel a força das ondas. Em pé na proa estava uma figura que segurava nas cordas, um sorriso fácil nos lábios.

Os cabelos loiros e curtos soltos ao vento, assim como a camisa folgada que era sacudida violentamente.

– Pronta? – A pergunta soou com um leve sotaque espanhol.

Olhou por cima do seu ombro a mulher de pele queimada, cabelos grossos com um leve ondulado e olhos negros e profundos como a noite.

– Estou louca para voltar para casa. – Respondeu com um sorriso confiante.

O barco atracou no porto e logo as duas mulheres pularam para fora da embarcação. Um homem alto de cabelos loiros bem cortados ás esperava.

– Pai. – A loira abriu os braços sendo recebida por um abraço caloroso.

– Finalmente está em casa. – O homem a recebeu com um aperto forte. – Não deixarei mais que se afaste por tanto tempo.

Afastaram-se com sorrisos satisfeitos, os olhos azuis do homem marejados ao encontrarem os verdes confiantes da filha.

– Senhor Fabray. – A latina curvou a cabeça.

– Santana. – Ele deu um aceno satisfeito, percebeu a filha se afastar olhando em volta. – Ela não veio querida.

– Por quê? – Franziu as sobrancelhas perfeitas.

– Vamos para casa e lhe explicarei tudo. – Ele tinha um ar mais pesado e triste.

Subiram na charrete deixando os empregados cuidarem das bagagens.

As ruas de pedras portuguesas desniveladas, as construções rústicas se misturando aquelas mais refinadas. As pessoas paravam para verem a charrete passar, alguns reconhecendo a menina que já não era mais tão menina assim.

Ela estava com 17 anos quando saiu daquela cidade tinha 13 e não colocara mais os pés naquele chão. Seu pai, o irmão do rei, tinha lhe enviado para ser educada longe daquela terra, ele dizia que o seu futuro era diferente daquele das mulheres que ali estavam. Tinha algo diferente reservado para ela. Diferente e grande.

Finalmente entraram na propriedade da família, ela já se sentia em casa olhando envolta pelo pátio. As empregadas correndo para se perfilarem na sua frente e a mulher que vinha sorrindo alegre com os olhos verdes tentando conter as lágrimas.

– Graças a Deus. – Ela pousou uma mão sobre o peito. – Está vindo uma grande tempestade.

Ela saltou da charrete com graciosidade antes de beijar as mãos da mãe.

– Sua benção. – Curvou a cabeça.

– Que Deus te abençoe. – Murmurou lhe beijando no alto da cabeça.

Levantou a cabeça olhando envolta quase afoita, mas não a encontrou. A senhora Fabray trocou um olhar de pesar com o marido, ambos sabiam o que a filha tanto esperava encontrar.

– Vamos querida vamos entrar. – A abraçou pela cintura a puxando para dentro. – Vamos acomodar vocês e almoçar, Santana os seus pais já enviaram um mensageiro não irão demorar a chegar.

*

Trocou as vestes por algo mais fresco, se lavou brevemente antes de se dirigir a sala de jantar. Estava arrumada caprichosamente com os empregados prontos para servir.

– Vamos querida se sente. – A senhora Fabray sorriu para ela, mas a garota permaneceu parada no portal.

– Pai eu poderia falar com o senhor? – Perguntou calmamente.

– Vamos comer primeiro Quinn. – A senhora Fabray continuou tentando convence-la.

– Pai, nós poderíamos? – Tornou a perguntar.

– Com licença. – O homem se levantou. – Podem almoçar sem a nossa presença.

Os dois se dirigiram para o gabinete privativo do homem, assim que a porta de madeira maciça se fechou ela se virou para encara-lo.

– Onde ela está? – Perguntou sem querer fazer rodeios. – Cadê ela?

– Filha vamos nos sentar. – Indicou as cadeiras de espaldar reto.

Sentaram-se a mesa coberta de papéis, o homem tomou a cabeceira enquanto ela se sentou à sua direita.

– Aconteceram alguns problemas. – Ele começou esfregando a sobrancelha grossa.

– Quais problemas e por que não fui informada? – Arqueou uma sobrancelha.

Ele lhe atirou um olhar irritado, sabia do gênio forte da filha e se orgulhava daquilo, mas ela já estava começando a passar do limite.

– Problemas recentes. – Ele respondeu com calma, respirou fundo. – A família Berry teve alguns problemas financeiros.

– Como assim? – Sua postura ficou ainda mais reta.

– Eles perderam a fazenda e algumas outras posses. – Suspirou, seu olhar recaiu em um papel timbrado. – Não pude fazer nada quando percebemos já era muito tarde.

– Não estou entendendo. – Seus dentes estavam bem apertados uns contra os outros. – Como era tarde demais.

– A questão é que Hiram foi ludibriado em alguns negócios com um homem que chegou recentemente a cidade.

A sobrancelha clara se arqueou.

– O negócio não deu certo e ele acabou se endividando.

– E por que o senhor não o ajudou? – Retorquiu.

– O negócio não deu sinais de que iria afundar, pelo contrário. – Ele continuou calmo. – A questão é que o plano foi muito bem armado.

– Pai…

– Me deixe terminar. – Ergueu a mão. – Entre os papéis que Hiram assinou no início do negócio havia uma promissória.

– Que promissória. – Não se conteve.

– Entregar a mão da filha ao sobrinho desse homem caso Hiram viesse à falência.

Quinn se levantou igual um raio, seus olhos coléricos e o pescoço tomado pela vermelhidão.

– Como é? – Rosnou. – Ela é minha prometida há anos.

– Eu sei. – Ele fechou a mão em punho. – Estou tentando de todas as maneiras evitar isso, mas o sujeito é esperto.

Uma batida na porta interrompeu a conversa.

– Entre. – Lançou um olhar de aviso a filha.

– Perdoem-me a intromissão. – Um garoto entrou de cabeça baixa. – Mas a senhorita Quinn tem uma visita.

– Quem? – O senhor Fabray franziu as sobrancelhas.

– O senhor Berry.

*

O homem de pele clara, cabelos encaracolados, os olhos verdes pareciam cansados. Estava montado no único cavalo que lhe restara, o animal já estava velho e não poderia aguentar muito mais.

Observou os dois Fabray que se aproximavam e prontamente saltou do animal.

– É bom vê-la novamente. – Abriu os braços, mas sua expressão não havia mudado, continuava culpada e cansada.

– Senhor. – Acenou com a cabeça, sentiu a mão do pai pesar em seu ombro.

– Ela já está a par da situação Hiram. – O homem acenou.

– Não tenho palavras para dizer o quanto eu sinto. – Hiram levou a mão até o coração. – Eu realmente não tenho.

– Eu acredito no senhor. – Inclinou a cabeça para o lado. – O que eu não consigo entender é como tudo isso aconteceu.

– Este senhor é ardiloso. – O Berry considerou. – Muito esperto.

– E os senhores deveriam ganhar dele em experiência, afinal são dois. – Arqueou uma sobrancelha variando o olhar do Berry para o pai. – Estou enganada?

– Cuidado. – O pai lhe alertou.

– Por que o meu tio não ajuda? – Ignorou o alerta.

– Já levei a questão ao conhecimento do seu tio, mas não tem muita coisa que ele possa fazer. – O senhor Fabray se mexeu visivelmente irritado.

– Nesse caso… - Correu a mão pelos cabelos curtos. – O que devo fazer?

– Trate-a como o que ela é. – Hiram respondeu. – Sua noiva, isso não mudou.

– Onde ela está? – Perguntou já fazendo sinal para o garoto trazer um cavalo selado, ouviu o suspiro do pai.

– Na nossa casa da cidade com a mãe. – Hiram prontamente respondeu.

– Se o senhor não se importa gostaria de ir vê-la. – Içou-se sobre o animal segurando firme nas rédeas.

Não esperou resposta apenas apertou o calcanhar nos flancos e saiu em disparada.

*

A casa era pequena para os padrões da família. O garoto correu para apanhar o cavalo, Quinn lhe afagou os cabelos ganhando um sorriso.

Avançou batendo à sineta próxima a porta, observou o garoto colocar água fresca para o animal.

– Senhora. – A voz ligeiramente rouca.

Virou-se encarando o rapaz que já despontava os primeiros fios do bigode. Os olhos escuros lhe encaravam com uma curiosidade fria, a boca grossa apertada em uma linha fina.

– Boa tarde Miguel. – Curvou a cabeça brevemente. – Sua mãe está?

A sobrancelha grossa se ergueu expressando confusão.

– Ou talvez a sua irmã? – Continuou calmamente.

– Quem deseja? – Retorquiu desconfiado.

– Quinn? – A voz macia levemente musicada veio por trás do jovem rapaz.

Miguel se virou dando uma visão parcial da morena parada próxima à sala.

Os cabelos presos com a franja suave caindo sobre os olhos castanhos. Os lábios grossos como os do irmão eram mais relaxados com um sorriso pequeno.

Quinn se endireitou acertando a postura, sua respiração ficou mais profunda sentindo o cheiro dela lhe preencher deixando seu corpo mais leve.

– Posso? – Olhou para o rapaz.

Miguel ficou tenso antes de dar passagem.

– Senhorita. – Deixou um pequeno sorriso nos lábios enquanto se aproximava.

– Quando chegou? – Seu corpo foi tomado por um frio repentino se retesando, seus olhos buscaram a porta aberta.

– Essa manhã. – Parou sua aproximação sentindo o desconforto dela. – Eu lhe avisei na ultima carta que enviei.

– Perdão eu me esqueci. – Deu um sorriso sem graça. – Meu pai não está.

– Eu sei, ele está na minha casa. – Cruzou os braços atrás do corpo. – Nós poderíamos…

– Não. – Miguel a interrompeu. – E eu pedirei para que saia.

Virou-se devagar para poder olhar o rapaz, ele indicou a porta.

– Perdão? – Arqueou as sobrancelhas.

Miguel olhou para fora nervoso.

– Vou pedir para que saia. – Repetiu apertando as mãos em punhos. – Agora.

– Rapaz estou no meu direito de vir visitar…

– Senhorita Fabray. – A Berry a interrompeu, seus olhos baixos. – Por favor, saia.

Seu sangue gelou, curvou-se para ela antes de sair porta a fora.

Jogou uma coroa de ouro para o garoto e rapidamente partiu.


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Notas finais do capítulo

@just_someone13 e ask.fm/PSomeone



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