Regis em busca de si mesmo escrita por Celso Innocente


Capítulo 1
Coração alma


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos à última trama do pequeno Regis, que teve seu destino alterado para sempre por um certo senhor Frene.Serão apenas 10 pequenos capítulos para resolvermos de vez, criarmos um mundo feliz para esse jovem menininho de setenta anos de idade.



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E assim, depois te ter sido submetido a uma delicada cirurgia no cérebro, apagando alguns de meus neurônios, voltei à grande residência, palácio oficial do grande senhorio daquele mundo tão diferente da pequenina Terra azul, onde nasci e vivi por alguns anos, antes de ser levado de vez, com a missão de manter uma espécie em extinção: a criança.

E com isto, apesar de já contar mais de setenta anos de idade... Quer dizer: mais de cento e doze anos de idade, minha obrigação, tal qual, a de Arthur, era a de ter a fisionomia infantil, sem nunca ter chegado à puberdade e manter nosso espírito peralta, de moleque saudável.

Então, felizes, saltando na bela e profunda piscina, no mesmo ambiente da grande residência, em dia de, como sempre, muito calor, podíamos ouvir ao longe Leandra que se aproximava gritando:

— Regis! Arthur! Hora do banho!

Mas que banho? Já estávamos no banho!

Contudo, saímos os dois da convidativa água morna e já seguíamos de volta pelo jardim, quando ela, se abaixava para apanhar nossas sandálias, próximo à piscina.

Arthur, sem que eu percebesse, puxou o laço de minha bermuda, desamarrando-a e piscou o olho direito, na insinuação de peraltice. Dei leve sorriso e voltei correndo até Leandra, empurrando-a fortemente, fazendo-a cair desajeitadamente sobre a água esverdeada.

— Seu moleque safado! — Gritou ela nervosa, se refazendo do grande susto, por um banho inesperado.

Arthur voltou correndo e saltou bem alto, caindo bem próximo a ela, em forma, a qual as crianças chamam de bomba, deixando-a apavorada com a água sobre seu rosto.

Repeti a mesma façanha do outro menino e assim, como não tinha como nos vencer, ela acabou entrando na brincadeira, permanecendo na piscina, mesmo estando usando blusa branca e saia até aos joelhos, nos mostrando assim, pela transparência de suas roupas molhadas, um corpo muito belo e perfeito, longe de ser cobiçado pela inocência de duas crianças sapecas.

Aproximando-me, ela me segurou pela cintura e em ato de brincadeira, como antigamente fazia me levantou com os dois braços abertos, acima do nível da água. Mas... Alguma coisa estava errada. Na pressão da água, minha bermuda desamarrada, acabou indo parar nos pés.

— Oh, owh! — Balbuciei envergonhado.

Ela, sabendo de minha timidez em ser exposto despido, me soltou imediatamente, fazendo com que caísse de volta às águas, enquanto a poucos metros, Arthur, protagonista da travessura, ria exageradamente.

Levantei a bermuda, protegendo meu corpo e ainda de cara amarrada, segui até as escadas de saída da piscina, sentando-me à sua margem, do lado de fora.

— Mas o que era isso, Regis? — Perguntou-me Leandra, de jeito sério.

— Safadeza do Arthur — reclamei. — Mas eu desconto.

— Não é isso que eu quis dizer! — Negou ela, enquanto se aproximava — Levante os braços.

Sem saber o porquê, levantei bem alto os dois braços; ela, já estando à minha frente esfregou um dedo sobre minhas axilas, me fazendo rir pela cócega provocada. Porém esta não seria sua intenção, pois, como percebeu que estavam lisas iguais às de uma criancinha, disse:

— Não! Baixe só um pouquinho seu short.

— Eu? — Me espantei — Acha!

— Vai lá! — Insistiu ela — Não é pra ficar pelado! Nem pra mostrar seus documentos de macho! É só um pouquinho.

Baixei minha bermuda, apresentando a púbis, sem, contudo, despir meus genitais. Ela passou o dedo indicador sobre a região e insinuou:

— Pêlos!

— O quê? Pêlos! — Admirei.

Arthur, mesmo dentro da água, forçou sua bermuda, verificando sua região pubiana e conferindo com os dedos, exclamou:

— Pêlos!

— Puberdade! — Gritei, rindo forte, exageradamen-te, deitando-me sobre a lateral externa da piscina, parecendo que a chegada a tal fase pré-adolescente seria a coisa mais feliz de tal mundo. E acho que era.

Leandra saiu da água, sentando-se à meu lado. Sentei-me próximo a ela e então sério, um pouco nervoso, lhe disse:

— Leandra, eu te amo!

— Tá — riu ela — Já sei disso! Eu também te amo.

— Não! — Neguei ainda nervoso — Não é assim! Eu te amo mesmo!

— Cale a boca, Regis! — Gritou Arthur — Eu é quem amo Leandra, muito antes de você.

— Mentira! Eu estou aqui muito antes de você! Eu a amo desde que a conheci.

— Calma — interferiu ela. — Eu amo vocês dois, meus peraltinhas. São meus dois filhinhos especiais.

— Não é assim! — neguei trêmulo. — Eu te amo como homem!

— Tá! — riu ela — Um homem que mal começou a entrar na puberdade.

— Não sou apenas criança! Já tenho cento e doze anos.

— Isso! Cento e doze anos e está chegando à puberdade. Quando estiver com duzentos, talvez seja um adolescente, com trezentos um jovem e lá pelos quatrocentos possa se apaixonar.

— Estou apaixonado agora. Não me abandones.

— Nunca abandonarei vocês dois — se levantou — meus filhinhos.

©©©

Já em nosso dormitório, após um demorado banho juntos, enrolado em toalhas, penteávamos os cabelos castanhos enquanto meu irmão clone me abraçava caçoando:

— Ai, Leandrinha! Eu te amo!

— Sai de mim oh! — Gritei tentando me livrar do carrapatinho.

— Que isso, Leandrinha! Não parta meu coração cheio de amor por ti!

— Me larga, moleque! Tá parecendo viado!

— Que isso meu amor? Me de um beijinho gostoso na boca! — Fingia tentar me beijar.

Empurrei-o com força e ele caiu de costas sobre a cama.

— Ai, sua bruta! Não sabe o quanto dói um coração apaixonado.

Calei-me. Porém, enquanto me vestia com roupas leves e confortáveis, devido o calor de quase quarenta graus centígrados, voltei a imaginar uma vida distante, perdida no tempo.

Eu, morando então no planeta Suster não era nativo deste lugar.

Embora não lembrasse quase nada do pequeno planeta Terra, a oitenta e sete anos luz distante, fôra em tal lugar que nasci a mais de setenta anos e assim que completei nove anos de idade, fui raptado por dois astronautas ou que seja viajante do espaço: Tony e Rud e então trazido a tal lugar imortal, porém, habitado apenas por humanos adultos.

Hoje com setenta anos de idade; cento e doze ao medirmos em anos susterianos, que é diferente do ano terráqueo, continuo com a aparência de tal criança que está prestes a chegar à puberdade e até poderia me apaixonar por uma garota que tivesse minha idade e aspecto físico, mas neste mundo comandado pelo todo poderoso senhor Frene, não existe uma menina assim. Leandra, a menina por quem sou apaixonado, apesar da linda aparência de uma jovem escultural, com seu corpo bem definido, têm quase cinco mil anos de idade e com certeza jamais poderá se tornar a rainha de meus sonhos encantados.

Na grande mansão deste poderoso susteriano, além dele, mora apenas Leandra, eu, meu irmão clone Arthur e Erick, outro jovenzinho terráqueo, prestes a completar setenta anos de idade, um a menos do que eu, porém com aparência de dezessete e também está conosco a dezenas de anos.

— O que foi, Regis? — Quebrou o silêncio Arthur, se levantando para também vestir roupas. — O coração está doendo de verdade? Eu estava só brincando.

— Não se brinca com o sentimento das pessoas!

— Desculpe. Eu também sou apaixonado por Leandra.

— Por quê?

— Somos iguais! Lembra? O que você sente eu sinto.

Pensei um pouco e pedi:

— Arthur... Me leve de volta!

— O quê? — Estranhou ele. — De volta pra onde? Pra piscina?

— Não! Pra Terra.

— Tá biruta, moleque? Você sequer se lembra da Terra.

— Por isso quero ir lá! Quero conhecê-la de novo.

— Tá biruta mesmo! Você não tem ninguém por lá! O máximo que ainda existe seus lá, são alguns sobrinhos e filhos deles que você nunca conheceu.

— O senhor Frene disse que poderíamos viajar, eu, você, Erick e Luecy.

— Sei! E eu topo! Mas não pra Terra! Vamos caçar cometas em nosso sistema estelar! Explorar novos lugares...

Eu continuava sério e triste. Nem tanto devido o amor impossível por Leandra, mas sim, por um vazio que sentia em meu ser.

— Quero que você me leve de volta, não apenas pra Terra, mas pra minha verdadeira identidade.

— Identidade? Como assim?

— Quero voltar pra minha verdadeira infância.

Arthur deu leve sorriso irônico, franzindo os lábios e prosseguiu:

— Tá birutinha mesmo, maninho! Você sabe que nem Deus poderá fazer isto por ti.

— Deus não fará — concordei. — Mas nós mesmos poderemos fazer. Nossa nave, estando fora da atmosfera da Terra consegue viajar a uma velocidade de milhões de quilômetros por segundo.

— E o que isso tem a ver com sua infância?

— Vamos até lá e faremos tal viagem em volta da Terra em sentido contrário de sua órbita e com isto você me levará pra minha infância. No dia em que o senhor Frene me sequestrou.

— Maninho, você tá cansado de saber, que a viagem ao passado é impossível.

— Não é! — Neguei convicto. — Se fizermos a viagem com nossa nave, em sentido oposto ao movimento de rotação da Terra, ou melhor ainda, se fizermos em sentido oposto ao da translação em volta do Sol, estaremos no passado.

— Se isso fosse possível, também o seria ir ao futuro. Bastava viajarmos no mesmo sentido ao de rotação da Terra e lá estaríamos nós. Mas como poderíamos ir a um lugar que ainda não existe? Tire isso de sua cabecinha maninho! A viagem ao futuro ou ao passado, só existe mesmo na cabeça de escritores de ficção científica.

— Não! Vamos fazer um teste. Uma experiência!

— Suponha que a gente conseguisse voltar lá no passado e te deixasse lá. Estaríamos alterando todo o destino da Terra, ou pelo menos de sua família e de algumas pessoas por lá.

— Não! Estaríamos corrigindo o destino na Terra. Estaríamos corrigindo o que o senhor Frene alterou, me tirando de lá.

— A história é outra, Regis — alegou meu irmão, um tanto triste. — Lembra-se de Elizabeth?

— Não muito — insinuei triste. — Acho que estudei com ela.

— Ela foi sua namoradinha de brinquedo. Você tinha verdadeira paixão por ela. Ela se casou com outro e teve dois filhos: Letícia e Regis.

— Meus filhos? Outro Regis?

— Não! Quer dizer... Sim, outro Regis. Mas ela se casou com outro eu disse! Você jamais terá filhos! Mas se você voltar... esse será só um exemplo de destino que será alterado. Beth com certeza não se casará com outro. Provavelmente se casará contigo que não lhe dará filhos. O tal outro, se casará com outra pessoa que terá filhos que nunca teve.

— Seja como for Arthur, você há de concordar, que o destino na Terra foi alterado e eu sou de lá. Eu deveria ter me casado e ter tido filhos sim! Se ninguém tivesse mexido comigo.

— Se a gente conseguisse voltar pra lá. Pro seu passado mesmo. Isto não alteraria as consequências causadas em seu organismo. É quase certeza que mesmo estando na Terra, você não envelheceria do mesmo jeito. Assistiria de verdade, todos seus entes queridos morrerem.

— Me leve pra lá, Arthur. Por favor! Você consegue e lá eu estarei consertando meu destino, perdido no tempo.

— Peça ao senhor Frene — deu de ombros — Se ele concordar irei contigo. Veremos o que isso vai dar. Pode ser que eu deixe de existir.

— Não! — Neguei convicto. — Nada a ver! Você é um clone!

— Se você voltar a seu tempo, significa que nunca esteve em Suster. De onde o senhor Frene colheu células que deram vida a este garotinho lindo aqui?

Entristeci-me com o que talvez Arthur pudesse ter razão.

— Não se preocupe, maninho — riu ele. — Peça ao senhor Frene. Se ele concordar irei com você.


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Notas finais do capítulo

E aí? Dizem que o livro conquista o leitor pelas primeiras páginas. Será que consegui conquistar você?Deixe um breve comentário para que eu saiba.



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