ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 14
Sub-Capítulo 3 - Como fugir de um Ensino Médio de Mortos parte 3


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo é cheio de ação e movimentos rápidos. Trabalhei bastante nele, então espero que tenha valido a pena!



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Num impulso, que misturava susto e medo, puxei com velocidade o braço de Verônica, que veio de uma vez pra cima de mim. No instante seguinte, as caixas enormes caíram com estrondo sobre a figura de boca e braços abertos à nossa frente, chamando a atenção de todos.

As batidas na porta de metal atrás de nós intensificaram-se imediatamente, enquanto a forma vestida num avental branco erguia-se à nossa frente. Ficamos imóveis, pálidos e mudos.

Droga! Ao focarmos nossos pensamentos (eu nem tanto) em sair daqui, nos esquecemos de verificar o ambiente.

E eu conhecia aquela forma feminina.

– Dona Mônica! Até você?! – Exclamou Vítor, surpreso e triste.

Dona Mônica era a merendeira da escola. Uma mulher que costumava estar sempre de bom humor, alegre e sorridente. Era triste vê-la naquelas condições. Fora que... a comida dela era maravilhosa!

– Era ela a melhor merendeira da escola... – Disse Matheus, também com um olhar triste.

– Era! – Respondeu Vítor com uma faca de talhante na mão – Agora, infelizmente... ela é nossa inimiga! – respondeu com pesada determinação.

– Nossa... Como pode falar assim? – Perguntou Matheus, num tom de reprovação e uma expressão chocada – Aliás... Aonde você conseguiu essa faca?

– Na gaveta bem ao seu lado.

Matheus abriu a gaveta mais próxima:

– Tem trezentas dessas por aqui! – disse, arregalando os olhos – De todos os tamanhos!

Dona Mônica olhava ameaçadoramente para nós e ia alternando cada vez que um falava alguma coisa. Depois correu na direção de Matheus, que era o mais próximo.

– Saia daí! – Gritei.

O menino evadiu, e Dona Mônica acertou a bancada, fechando a gaveta. Depois se virou para nós e começou a rosnar.

– Ai, meu Deus! – Disse Matheus em pânico ao encarar aqueles olhos estrábicos olhando para si.

Dona Mônica avançou mordendo o ar e grunhindo sons incompreensíveis. Antes que pudesse alcançar o menino, Vanessa apareceu em sua frente, empunhando duas facas (também enormes) e esfaqueando diversas vezes a merendeira dos mortos.

– Isso! Acaba com essa Dona Morta Mônica! – Disse Vítor cheio de entusiasmo.

Emi apressou-se e tirou Matheus da zona de perigo enquanto Vanessa distraía dona Mônica.

– Vanessa, cuidado com o sangue! Não deixe que atinja seu rosto e cuidado com machucados que ainda não cicatrizaram! – advertiu Matheus.

Olhei ao redor. Com minhas habilidades, não havia anda que eu pudesse fazer para ajudar. A não ser...

Peguei Verônica e a ajudei a subir na bancada enquanto falava para os outros:

– Nathália, Vítor, Matheus, subam nas bancadas!

Eles apenas olharam para mim, mas quando Vanessa chutou Dona Mônica para perto de Nathália e Matheus (que fora levado por Emi até ali já que, segundos antes era um “local seguro”) eles subiram rapidinho.

Emi parecia disposta ajudar, mas estava longe da gaveta de facas.

– Vítor, dê a faca para Emi! – falei.

– Tá maluco? E se ela vier pra cá? – ele respondeu, apertando o cabo da faca.

Emi nos observava apreensiva e ansiosamente.

– Se ela vier você vai saber usá-la? – perguntei a Vítor.

Ele não precisou responder. Apenas se virou para Emi, que disse:

– Não se aproxime, pode jogar!

Ele jogou e a faca quicou no chão uma vez antes de deslizar até os pés da ruiva.

– Desculpe dona Mônica! Você foi a única pessoa legal comigo nesta escola. Desculpe mesmo! – Disse Vanessa, enquanto girava suas facas habilidosamente, cortando impiedosamente nossa adversária.

Nunca pensei que A Excluída tivesse tanta coragem e força. Emi correu para ajuda-la, dando uns bons golpes.

– As meninas não pode ficar ali, se matando enquanto estamos aqui tranquilos! – disse Nathália.

– Tranquila? Você está tranquila numa situação dessas? – perguntou ironicamente Vítor, totalmente tenso.

– Foi modo de falar. De qualquer forma, temos que fazer alguma coisa. Verônica...? – chamou pronta para ouvir alguma boa ideia.

Mas Verônica ainda era uma face chocada, a única coisa que fazia era piscar de vez em quanto seus olhos arregalados.

– Droga. Teremos de fazer o mesmo então. – Falei num misto de sugestão e ordem. Todos olharam boquiabertos para mim quando Vanessa gritou e correu em nossa direção:

– Agora, todos em silêncio!

Obedecemos imediatamente. Talvez o calor e a tensão do momento estivessem nos influenciando para que ficássemos mais compreensíveis e suscetíveis a ordens repentinas. Vanessa havia chutado dona Mônica, que foi em direção à parede, por pouco não atingindo as caixas carregadas de panelas, e caiu de cara no chão.

Depois que todos ficaram quietos, os únicos sons no ambiente eram: o de nossas pesadas respirações (que felizmente foram abafados) e as batidas intensas e insistentes na porta de metal. Dona Mônica levantou-se com dificuldade e deu alguns passos rápidos para frente, parando e encarando tudo e nada à sua frente.

Ambas as partes estavam alertas: nós e a ex-merendeira. Dona Mônica continuava imóvel, como se estivesse esperando que fizéssemos o mínimo ruído para pular sobre nós;

Todos nós estávamos em silêncio, aguardando seu próximo movimento. A ansiedade e a tensão imperavam no ambiente.

Vítor começou a se afastar devagarzinho de nós. Antes que alguém pudesse dizer qualquer coisa, percebi o que ele queria alcançar: os dutos de ventilação. Quando o menino ficou, apesar da certa distância, na mesma reta que a mulher, exatamente nesse instante, a merendeira morta soltou um gemido tenebroso, que ficou mais terrível com o som das pancadas na porta de metal. Vítor foi pego de surpresa e gritou com o susto.

Todo mundo na sala prendeu a respiração neste momento. Dona Mônica que soltou um grunhido semelhante a um som de satisfação e virou o rosto e corpo na direção do meu amigo. Em seguida, ela se preparou para avançar. Quando deu o primeiro e lento passo, voltou sua atenção para outra voz:

– Vítor, cuidado! – Matheus gritou e logo tapou a boca com a mão, percebendo o erro que cometera.

Dona Mônica parou e se voltou para nós.

– Matheus! – repreendeu Nathália, quase gritando.

Não houve resposta.

– Matheus, Nathália! – Chamei – Saiam daí! - Novamente, Matheus não respondeu.

Nathália começou a puxá-lo pelo braço com desespero, mas ele havia travado.

– Droga! – Falou Vanessa, antes de se levantar.

Com movimentos surpreendentemente ágeis, ela se correu até os dois; Emi foi junto. Alcançando-o mais rápido que dona Mônica, Vanessa jogou-se em cima do garoto bem na hora que a merendeira “morta” - com seu passo lento e ao mesmo tempo rápido – tentou investir para a bancada, mas levara um chute lateral de Emi e caía novamente.

Vanessa deu um puxão em Matheus que o fez se levantar na hora.

Dona Mônica gemeu frustrada e furiosa enquanto se levantava mais uma vez. Virou-se na direção dos três adolescentes em pé quase que na sua frente e tentou andar.

E no instante seguinte, simplesmente parou.

Uma faca estava cravada em suas costas. Em seu cabo, uma mão firme a segurava com força.

– Fique longe de nós. Seu monstro! – Disse Emi, mantendo uma expressão de fúria.

Eu nunca havia visto Emi daquela maneira.

Depois ela tirou a faca e deu um novo golpe, atingindo o pescoço de dona Mônica.

Quando foi dar o terceiro, dona Mônica ergueu um braço e o girou de uma vez. O braço atingiu a ruiva em cheio e ela, com o impacto, soltou a faca e cambaleou para trás até bater com a cabeça na outra extremidade de bancadas, exatamente na minha frente, e cair desacordada.

Dona Mônica pareceu nem notar o sangue escuro que escorria de seu pescoço e costas, apenas parecia estar mais furiosa com a audácia da menina, indo dar o troco numa Emi estirada sobre o chão, mas foi interrompida novamente por uma faca.

Uma faca e um Vítor de aparência medrosa, mas decidida. Encarando-o com um ar de desprezo, dona Mônica foi para cima de meu amigo, que reagiu com um chute no rosto da mulher gorda. Um chute que a fez cambalear para trás. Antes que ela pudesse fazer qualquer outra coisa, Vítor avançou, pulou e chutou novamente, dessa vez parecendo usar um gole marcial. A mulher caiu sobre a pilha de caixas, espalhando as panelas.

– Um fato que eu venho mantendo escondido sobre mim: eu tenho aulas de kung-fu desde o início do ano! – disse Vítor, aparentemente numa posição ofensiva que devia representar algo para o kung-fu, mas meio cômica.

Vanessa pulou para perto da mulher que tentava se levantar uma outra vez e pegou uma das panelas, cobrindo a cabeça de dona Mônica logo em seguida.

– É agora! Alguém faça alguma coisa! – Gritou para nós.

Vítor olhou em volta, avistando a faca caída de Emi, pegou-a e, aproveitando a adrenalina, correu:

– Morra! – Falou, cravando a faca no peito de dona Mônica.

Dona Mônica parou de se debater e caiu de joelhos no chão. Vanessa acompanhou com velocidade e segurou a cabeça da mulher, tampando-a com uma panela. Por um segundo, todos ficamos aliviados.

Pronto, acabou!” – pensei. Mas assim que Vanessa relaxou as mãos, Dona Morta Mônica levantou-se. Com o impulso do chão, acertou o rosto de Vanessa com o cotovelo. A menina soltou a panela para tapar o nariz e Vítor arregalou os olhos, ficando imóvel:

– Foi uma facada... No coração. Bem no lugar onde minha tia disse que não tem como a pessoa escapar... – O menino parou de falar quando dona Mônica urrou furiosa e se jogou sobre ele.

– Vítor! – Gritou Nathália com desespero ao vê-lo caído no chão, debaixo do corpo de uma coisa que não morria com um ataque direto ao coração.

Se não fosse a panela tapando a cabeça de dona Mônica, o menino estaria sendo mordido agora. Dona Mônica mexia-se arranhando o chão ao lado dele que, por sua vez, tentava afastar a panela se seu rosto.

– Ai! – gritou quando a faca cravada no peito da mulher comprimiu sua barriga, entrando-se mais fundo.

Um líquido espesso escorreu da faca para o uniforme branco de Vítor, tingindo-o de vermelho-escuro.

– Caramba! – quase gritei ao descer da bancada.

Se a faca entrasse, seria o fim de Vítor!

Matheus, finalmente recuperado do choque, se aproximou e pegou uma panela também. Ao alcançar o corpo de dona Mônica no chão, descarregou um forte golpe em suas costas, evitando a área do peito.

A mulher rolou para o lado, se levantando no exato momento em que Matheus descarregou outra panelada. Desta vez, acertou a panela que cobria a cabeça de dona Mônica.

Um “TUM” soou alto e surdo e a panela começou a tremer vigorosamente. Quase podia sentir aquele zunido no ouvido.

Tomara que esteja zunindo bastante em seu ouvido, sua peste!” – minha consciência disse, furiosa e alerta.

Dona Mônica caiu novamente (desta vez para o lado), corri e puxei Vítor do chão, que soltou a faca e se afastou daquele monstro. Matheus jogou a panela para o lado e correu também, ajudando Vanessa a se levantar. A mão da menina estava pintada com um tom de vermelho, mais claro que o tom do sangue de dona Mônica na camisa de meu amigo. Matheus levou o dedo indicador aos lábios e fez um sinal de silêncio para todos.

Ficamos todos quietos. Mais uma vez.

E mais uma vez, dona Mônica se levantou cambaleante devido ao golpe que ainda fazia a panela tremer. Seu avental agora era totalmente pintado de vermelho-escuro e pegajoso como estava, era uma coisa muito nojenta.

“Esta será a última vez! Chega dessa luta estranha e chata!”

O.k., ela não morrera com a facada no coração, então, supondo ridiculamente que ela seja um “zumbi”, comecei a reunir informações sobre o que eu sabia a respeito.

Sei que zumbis são pessoas que morreram e por alguma razão (geralmente vírus ou armas químicas criados em laboratório), voltaram à vida; Sei que o contato com eles é perigosamente mortal e sei que não morrem como pessoas comun...

É claro!

Se ela é um zumbi, e a mídia estiver correta, só há uma forma de ela morrer: Atingindo direta e mortalmente a parte de seu cérebro meio morto.

É isso que farei! Atingirei direta e mortalmente seu cérebro!

Essa coisa, não é mais a alegre e feliz dona Mônica. É um monstro que vai nos matar se não o matarmos primeiro. E eu não vou morrer aqui. E não vou morrer agora!

A pressão contida nesse pensamento me bastou para me encher de uma estranha coragem. Enquanto todos continuavam quietos, calados e imóveis (inclusive o monstro), respirei fundo e me aproximei, evitando pensar muito ou duas vezes na loucura que estava fazendo. Com passos leves e sorrateiros – que aprendi a ter graças às aulas de dança -, fui me aproximando cada vez mais da coisa. Ignorando o olhar confuso e amedrontado que eu sabia que todos estavam mantendo em mim, escutei um leve ruído sob meus pés. Dona Mônica se virou para mim e nesse momento, congelei. Mas logo voltou sua atenção para o ambiente, alerta.

Apesar de tudo, essas coisas são até, de certa forma, fascinantes. Idiotas e meio espertos, vivos e mortos, lentos e rápidos, tudo ao mesmo tempo... Eram criaturas que mereciam ser estudadas.

Olhei para o chão, na direção do ruído e vi a faca de Vítor caída no chão. Era tudo de que eu precisava.

Não pensei no que estava para fazer. Era melhor não pensar muito numa hora dessas. Seria ridículo se eu desse para trás agora. Simplesmente abaixei com cuidado para pegar a faca e olhei para os rostos à minha volta.

Confusão, medo e uma pontada de esperança foi o que encontrei em todos. Vítor olhou de mim para a faca e depois para o monstro. Assentiu, olhando em meus olhos.

Ele entendeu o que eu estava querendo fazer.

Desviei o olhar para Emi. A mais distante de todos, caída num canto, ainda desacordada. Minha motivação voltou ao lembrar que ela estava naquela situação porque havia tentado nos proteger.

Tornei a olhar para frente e com passos leves e cautelosos, me aproximei. A três metros da morte, meu coração disparou e meu sangue ferveu. A dois metros da morte, eu suava incontrolavelmente. A um metro da morte, meus sentidos pareceram aguçar três vezes mais.

Eu podia sentir as batidas rápidas de meu coração, cada gota de suor escorrendo pela minha face e costas e o som de minha respiração começando a se rebelar. Controlei-a imediatamente. Se agora eu me desesperasse ou respirasse rápido demais, seria o meu fim.

Apertando o cabo da faca, levantei a mão direita até na altura de minhas orelhas e preparei-me para o golpe.

Fui subindo minha mão esquerda lentamente até tocar no cabo lateral frio de inox. Antes de levantar, me concentrei nos sons vindos de debaixo da panela. Não havia nenhum. Até mesmo o leve som da respiração estava ausente. O bom, é que minha visão periférica me permitia ver os braços do monstro.

Se ela tentasse alguma gracinha, era só pensar rápido ou pular para trás. Fechei os olhos e fiz uma rápida oração, pedindo remissão de pecados.

Depois, pedi desculpas ao que, um dia, fora dona Mônica. Então, os abri e juntando toda a coragem que eu podia no momento, segurei firme o cabo da panela e a levantei.

O tempo parou. A meu ver, tudo aconteceu muito lentamente, como se o mundo estivesse em câmera lenta. Aí, de repente, da velocidade 1 passou para a velocidade 6, e depois retornou para a 1. Essa alternância temporal durou até a cabeça do monstro estar completamente fora da panela.

Primeiro, apareceu o resto do pescoço. Depois, o queixo, a boca, o nariz... Subindo mais um pouco, os olhos vazios que olhavam para tudo e para nada e no fim das contas, olhavam para mim. Depois minha mão soltou o cabo da panela e ela foi caindo lentamente atrás da cabeça do monstro. O tempo parou novamente e dessa vez, tudo ao meu redor sumiu.

Todos os sons, todas as cores, todas as pessoas. Éramos só eu e aquilo num vazio branco.

Pela minha visão periférica, vi os braços da ex-dona Mônica se movimentarem acompanhando sua cabeça e sua boca aberta. Depois disso, meu corpo reagiu por conta própria, meu braço foi como um raio para frente e meus olhos se fecharam.

Na escuridão, minha respiração descontrolada ocupava todo o espaço. Só ouvia, sentia e pensava nela.

Até que a mesma foi se acalmando lentamente e tive coragem para abrir os olhos. Fui recebido por um rosto inerte, uma boca aberta e olhos de vidro; uma faca com a ponta enterrada um pouco acima dos olhos e uma mão que segurava o cabo da faca como se segurasse sua própria vida. A minha mão.

O rosto chegou um pouco mais perto, afundando sobre a ponta do cabo com um som nojento e gosmento.

– Eca! – Falei, soltando a faca e pulando para trás.

O corpo imóvel caiu de cara, ouvi o som do cabo da faca bater contra o chão e vi a ponta da faca crescer ainda mais, aumentando o corte na touca branca. Pedaços de uma... carne meio rosada meio avermelhada ocupava toda a ponta da faca aparente.

Meu estômago revirou e enquanto meu corpo ia se acalmando, as fichas iam caindo.

Eu corri até a pia e vomitei bastante. Depois, lavei o rosto inteiro. A água fria ajudou a me acalmar um pouco.

Ao terminar de lavar o rosto, voltei-me para outros rostos admirados, surpresos e esperançosos que me rodeavam.

Todos desceram das bancadas, em pulos e vieram correndo até mim.

Vítor foi o primeiro a me alcançar:

– Você conseguiu! Doido, aquilo foi demais!

Em seguida vieram os outros:

– Você nos salvou! – Disse Matheus.

– Obrigada, Enzo! – Nathália me deu um abraço rápido.

Matheus nos olhou como se estivéssemos nos beijando. Fiquei com vergonha de seu olhar.

– Conseguiu! – Completou Verônica, que a essa altura, tinha se recuperado do choque.

– N-não foi nada... Pessoal... – Falei, ruborizando com todos aqueles olhares para mim. Apenas Vanessa não veio falar comigo, pois correra até a pia mais próxima para lavar o sangue de escorria de seu nariz.

Então, ouvimos a voz de Vítor:

– Emi!

Nos viramos. Emi estava sentada sobre a bancada com uma das mãos na cabeça e uma expressão de dor no rosto. Vítor foi o primeiro que se aproximou da menina:

– Você está bem?

Ela o encarou, por um segundo confusa e depois arregalou os olhos:

– Dona Mônica! – Disse, numa expressão de pânico.

Vítor a tranquilizou:

– Está tudo bem! O Enzo deu um jeito nela.

Ela passou o olhar pela sala, viu o corpo no chão e desviou o olhar numa expressão de nojo. Depois, olhou para mim... e sorriu.

– Foi... Você? – Notei o tom de surpresa em sua voz.

– S-sim...

Ela suspirou.

– Obrigada. Você salvou a todos mas... Como fez isso?

– Apenas trabalhei na... Hipótese dos zumbis. Usei a teoria de que eles só morrem se tiverem o cérebro destruído.

– Eu sabia! – Exclamou Vítor, depois se voltou para Verônica, boquiaberta – Eu não disse? E você duvidou de mim! Há-há-há, você está errada!

Ele fez uma espécie de dancinha da vitória muito estranha depois disso. Verônica revirou os olhos.

– Vítor, por favor... – disse Matheus.

– Ai, que dia feliz! – Respondeu Vítor, com um ar sonhador.

– Então, gente... Se não se importam, eu gostaria de sair daqui antes que aquela porta venha abaixo. – Lembrei todo mundo de que tínhamos que salvar um amigo que ficou para trás.

– Mas a Emi acabou de acordar de um desmaio. Seria bom se ela terminasse de se “recuperar”... – avisou Vítor.

– Estou bem. Ele tem razão... Temos que sair daqui agora. – respondeu ela, ainda com a mão na cabeça.

– Em que direção fica a sala de Educação Física, Verônica? – Pergunto, adiantando as coisas.

Verônica tirou o mapa do cós de seu short-saia. Analisando o papel por alguns segundos, apontou em uma direção;

– Para lá.

– Ótimo. Agora... – olho ao redor. Todos assustados, Vanessa tentando estancar um sangramento em seu nariz, Emi acabou de acordar... “A porta aguentou até agora, então pode aguentar mais cinco minutos...” – concluo. - Quem tiver de tomar água, tome. Quem tiver de sentar um pouco, aproveite. Vamos sair em cinco minutos. – Falei.

– Ei, ei, ei... E quem você acha que é para nos dar ordens? – Perguntou Vítor.

– Você me deu uma ideia... Pessoal, temos que votar em um líder. Alguém que fique responsável e dê os rumos de nosso caminho... – Sugeriu Verônica.

– Agora que você falou, também acho. Nossa probabilidade de ter sucesso será maior se tivermos alguém que nos organize. – Concordou Matheus.

– Então, eu sou o líder! – Afirmou Vítor.

– Eu disse alguém responsável, Vítor. – Replicou Verônica.

– Meus votos vão para o Enzo, a Emi e a Verônica! – Começou Nathália.

– Mas... – Protestou Vítor.

– Apoio. Os meus também! – Continuou Matheus. Logo, todos os outros votaram. Eu, Verônica e Emi ganhamos por unanimidade, ou quase... Vítor votou em si mesmo, mas foi o único contra.

– Mas, gente... Emi e Verônica eu também concordo, mas... Em mim? – Perguntei confuso.

– Sim. Para mim, acho que você demonstrou coragem e determinação o suficiente para nos guiar até o lado de fora. – Explicou Nathália – Simples assim.

Eu não sabia o que dizer. Estava feliz com os elogios, mas com medo da responsabilidade que aquilo me traria.

– Também acho. – declarou Vanessa rapidamente, retornando com o rosto molhado e a cabeça erguida de uma forma exagerada - Agora, se não se importam... Acho que descansamos o suficiente... Gente, aquela porta não vai resistir para sempre. Vamos sair daqui, por favor.

– Antes, vamos pegar uma destas belezinhas aqui... Nunca se sabe não é?! – Disse Verônica, indo até uma das gavetas e pegando quatro facas enormes, entregando duas para Emi e duas para Vanessa – São vocês quem sabem usar – explicou -.

– Agora, chega de distrações. – Disse Emi, aparentemente como se não tivesse acabado de acordar de um breve desmaio – Vamos pegar aquelas espadas, o garoto e sair daqui.

– Certo. Mas antes... – alertou Verônica – Tive uma ideia. Prestem atenção, porque agora, irei explicar como fugir de um colegial de mortos!

Dito isto, ela ajeitou os óculos com o dedo em quanto assumia uma postura séria, determinada e confiante.

Aquela foi a primeira postura épica que eu já tinha visto.


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Notas finais do capítulo

Fiquei com receio de não ter conseguido ser suficientemente claro em algumas partes... deu pra entender tudo?
Como nos saímos?



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