ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 13
Sub-Capítulo 3 - Como fugir de um Ensino Médio de Mortos parte 2


Notas iniciais do capítulo

*A partir desse capítulo o Enzo vai responder os comentários comigo!*
Ele reclamou que sempre fica com tédio enquanto tem que esperar eu terminar de responder vocês e reclamou de ter ideias pras respostas e que como a história é DELE, ele também tem que participar.
Fazer o que né... Se eu não fizer o que eles querem, eles me amarram na cadeira e continuam por si mesmos. E isso REALMENTE NÃO PODE acontecer.
De qualquer forma, vamos prosseguir com nossa "Odisseia Zumbítica" u.u
Ah, e FELIZ 2015 GALERAAAA!!!!!



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Na verdade, todos estavam aliviados; uma vida fora salva. Mais uma possível força somada no time. E eu fora o responsável por isso.

Como é gratificante salvar alguém!

– Certo. Foi muito bom gente, mas agora é nossa vez: Como vamos sair daqui? – Emi perguntou de novo, nos trazendo de volta à realidade.

– Precisamos pensar em algo que envolva chegar até a cozinha e voltar em segurança, mas o que poderia ser? – Falou Thiago.

– Gente eu não sei vocês, mas... Quando o Enzo falou no microfone eu notei certo... hã... comportamento diferenciado da parte deles. – Observou Matheus.

– É verdade. É como se, quando ouviram o som vindo dos alto-falantes, eles... – Disse Vítor.

– Fossem atraídos pelo som. – Concluí.

– É. – Disseram Matheus e Vítor juntos.

– Bem... É uma hipótese. Mas infelizmente agora não podemos comprová-la. Temos que sair daqui o quanto antes, vai que eles se lembrem de que estamos aqui... – disse Verônica.

– Se é que eles se lembram de algo, mas é verdade. – concordou Thiago.

Emi assentiu. Em seguida, continuou:

– Agora, o plano. Como vimos mais cedo, essas coisas são completamente agressivas. Sendo assim, não podemos sair desarmados.

– Sim, mas aonde vamos conseguir armas numa escola mesmo? – perguntei.

Emi olhou bem nos meus olhos e disse mais uma vez:

– Educação Física.

– Mas como...

Ela fez uma expressão do tipo “pense um pouco”. Arqueou uma das sobrancelhas e torceu um dos cantos da boca.

A confusão em minha cabeça era completa. Aos poucos, a névoa foi se dissipando quando entendi o que ela queria dizer.

– Mas é claro! Gente...

– O arsenal do professor. – Disse Matheus, entendendo também.

O professor de Educação Física, assim como Emi, era um nipo-brasileiro. Viciado em jogos online, animes e videogames, era otaku e nerd. Em um evento de cultura japonesa, comprou duas réplicas de uma espada e lanças do sucesso mundial “Madhora Online”, um jogo de RPG medieval.

– Mas como vamos pegar as armas? O arsenal sempre fica trancado. – Perguntou Thiago.

– Teremos que meter o pé na porta. – Matheus falou como se fosse muito fácil arrombar duas portas de aço.

– Arrombar o armário do professor? Está maluco? – Perguntou Nathália, no tom que alguém usa quando descobre que uma pessoa bem próxima vai roubar um banco.

– Não temos alternativa. – Finalizou Emi.

– Mas COMO vamos fazer isso? – Insistiu Nathália.

– Isso a gente vai descobrir quando chegarmos lá.

– Só mais uma coisa... – Nathália disse novamente.

– O que é? – Perguntou Emi.

– Não podemos sair pela porta. – Observou.

Emi considerou. Passando os olhos em volta do recinto, pousou-os na parede situada atrás de onde eu estava.

– Vamos empurrar a mesa até ali, depois tiramos a tampa e entramos. – Explicou gesticulando em direção ao duto de ventilação – Os dutos devem passar por toda a escola.

Sem pensar duas vezes, todos exceto Verônica empurramos a mesa. Ela fora até sua mochila jogada perto do armário de arquivos e tirou uma chave de fenda de dentro enquanto estávamos com trabalho duro.

Em seguida, voltou-se para a mesa, onde Emi, Vítor e Matheus haviam subido e encaravam a tampa do duto, pensativos.

– Com licença.

– Verônica! Onde você... – Perguntou Matheus, claramente a respeito da chave.

– Hoje tivemos aula no laboratório. E eu disse que estava trabalhando em um projeto. – Respondeu.

– O.k., o.k., mas é estranho. – ao que parecia, ele resolvera não insistir.

Passando pelos três, Verônica começou a destravar os parafusos da tampa metálica, que caiu com estrondo na pesada mesa de madeira.

– Shiiiiu, não queremos que eles voltem. – Avisou Matheus.

– Não importa mais, em dez minutos essa sala estará vazia. – Respondeu ela, descendo da mesa e correndo até sua mochila. – Podem ir entrando – Avisou quando todos só sabíamos olhar para ela.

Vítor encarou a escuridão à sua frente enquanto Verônica voltava com uma lanterna em mãos, a qual entregou para Emi.

– O que está fazendo? – Perguntou quando Verônica tornou a sentar-se de frente ao computador.

– Já vou. Só preciso achar uma coisinha... – ela sentou-se novamente à mesa do diretor e começou a mexer no computador.

– Ah, gente... – Thiago chamou – Temos um problema.

– O que foi? – Perguntei.

– Os dutos... São... Pequenos demais. – Ele fez um gesto com a mão indicando sua barriga.

Entendi na hora.

– Droga! Isso vai acabar com o plano! – Praguejou Matheus.

– Teremos de ir sem ele. – Vítor falou com tanta naturalidade que parecia ser rotina deixar uma pessoa presa na sala do diretor de uma escola. Como se fosse algo que fizéssemos semanalmente.

– Não! Sem ele não! – Alarmou-se Verônica.

Todos a encaramos.

– Quer dizer... Como vamos deixá-lo aqui sozinho e desarmado? – Verônica corrigiu-se com um leve tom de vermelho em suas bochechas.

Uma ideia surgiu em minha mente:

– É só ele ficar quieto e em silêncio. Vamos até a sala de Ed. Física, pegamos as armas, salvamos a garota e voltamos aqui para resgatá-lo. É simples.

– Como pode dizer isso? Ele é seu amigo! – Verônica pareceu querer discutir.

– Verônica, ele tem razão. Não temos muitas opções e estamos perdendo bastante tempo aqui. – Assentiu Thiago – Por favor, não demorem.

– Certo. Obrigado por entender. – Falei. Verônica olhou de mim para ele, bufou e tornou a fazer o que estava fazendo no computador.

– Desde que vocês voltem mesmo. – Thiago disse, preocupado.

– É claro que vamos voltar. Não se preocupe. – Falou Matheus.

O som da impressora tomou conta do recinto. Dez segundos depois, Verônica tinha um papel nas mãos.

– Nosso guia. – Disse meio aborrecida.

Analisei o papel. Tinha um monte de linhas pretas ligadas a formas geométricas, a maioria quadrada.

– A planta dos tubos de ar. – Disse, ao notar nossa confusão.

– Nossa... – Disse Emi impressionada.

– O quê? – Perguntou Verônica.

– Você é muito eficiente. – Respondeu.

Aquilo pareceu agradar Verônica, que apenas disse com um ar cheio de si:

– Obrigada.

E dirigindo-se à frente do tubo, pegou gentilmente a lanterna de Emi; analisou o papel – dobrando-o em seguida –, respirou fundo e entrou com a lanterna entre os dentes e o pedaço de papel no cós de seu short-saia.

Quando praticamente todos já estavam dentro do tubo, subi na mesa e me virei para dar um último recado para meu amigo:

– Não acenda a luz, e lembre-se: Silêncio total. Isso vai facilitar bastante quando voltarmos para te buscar.

– C-certo. – Ele assentiu, mexendo nervosamente as mãos.

A ficha que teria de ficar sozinho sabe-se lá por quanto tempo, trancado e cercado por coisas que mais pareciam mortos-vivos, deve ter caído.

Percebendo seu nervosismo, tentei lançar lhe palavras de conforto:

– Não vamos demorar cara. Qualquer coisa é só nos acompanhar pelas câmeras. – Fiz um gesto de cabeça, na direção do computador.

– Sim, farei isso... – ele respondeu rapidamente.

Assenti e me virei preparando-me para subir quando o escutei:

– Pelas câmeras... O.k. – Disse baixinho, mas suficientemente audível. Sua voz transbordava tristeza, medo e apreensão.

Sem mais uma palavra, entrei no tubo metálico e segui atrás dos outros, sentindo certo peso no coração.

O sistema de dutos da escola era enorme. Os dutos, tão grandes que se alguém entrasse poderia ficar na posição de engatinhar. Isso se, claro, a pessoa não tivesse claustrofobia.

O espaço, apesar de grande, ainda era pequeno para um ser humano e muito apertado, de forma que o topo do duto pressionava bastante minhas costas. A falta de espaço também só nos permitia olhar para frente. Tive de pensar em outras coisas para não ter um surto repentino e agonizante de claustrofobia, apesar de não sofrer com a doença.

Devido à corrente de ar constante que havia ali, o metal gélido esfriou bastante minhas mãos, joelhos, costas e nuca, apesar de eu não sentir vento algum.

“Nosso gênio deve ter desligado. Ela sempre pensa em todos os detalhes”.

De fato, Verônica era incrível no quesito detalhe. Esse pensamento me fez sorrir, e por um momento, me permiti sentir-me um pouco mais à vontade com aquela “segurança”. O que me fez lembrar que ela também morria de medo de lugares fechados... Será que estava bem? Até agora, a fila estava andando normalmente, mas... esperava que o que quer que a estivesse ajudando a suportar aquilo, continuasse agindo initerruptamente.

A única luminosidade no recinto era a luz da lanterna de Verônica, que por sinal, ia ficando cada vez mais fraca devido à distância que ia aumentando entre mim e eles. Apressando o “passo” no metal frio, rapidamente alcancei os pés e as costas de Vítor.

– Achei que fosse ficar lá com ele! – Disse ele baixinho assim que o alcancei.

Não respondi. Ele falou mais suavemente:

– E... como ele está?

– Assustado, com medo e se sentindo abandonado. – Respondi meio melancólico.

Nossas vozes soando alto por todos os lados, apesar de praticamente estarmos cochichando.

– Imagino. Naquela situação, com todos aqueles bichos o cercando... – Vítor parou de falar por um segundo. Pensei ter visto suas costas tremerem rapidamente antes de ele continuar – Credo.

– Sim. Agora, foco na missão atual. Quanto mais cedo terminarmos aqui, mais cedo voltaremos para salvá-lo – Falou Verônica do início da fila, deixando claro que todos ouviam a nossa conversa.

Continuamos lentamente e em silêncio. Seguindo para frente, virando nossos corpos desajeitadamente em cada curva ou caminho dividido que aparecia, passando sobre várias telas que mostravam salas reviradas, corredores imundos e, ás vezes, alguma luz forte que vinham das lâmpadas dos banheiros. Mas havia aspectos comuns que todas deixavam transparecer de um jeito ou de outro: morte, sangue, caos e medo.

Era pavoroso ver aquelas coisas se arrastando pela escola quando surgiam. Mais pavoroso ainda era reconhecer alguns antigos colegas, amigos, professores... E ainda mais pavoroso, vê-los com ferimentos completamente expostos em diversas partes do corpo. Isso quando não apreciam cenas deles se devorando voraz e mutuamente abaixo de nós, com o som de carne sendo mastigada soando alto o suficiente para ouvirmos acima do teto.

Algumas vezes (como quando aparecia esse tipo de coisa) tive de evitar olhar para baixo e pensar em outras coisas que me fizessem ignorar os gemidos, sons estranhos e arrastar de pés que as coisas faziam, para poder continuar sem revelar nossa localização com o barulho ou o cheiro de vômito.

Fora o desconforto geral que isso traria a todos, naquele lugar apertado e com o ar mais quente devido às nossas respirações que, sem ter outro lugar para esvair, acabavam se misturando.

De vez em quando, Verônica pedia a todos para parar, a fim de verificar o caminho. Eu apenas escutava o ruído do pedaço de papel sendo dobrado e desdobrado.

Como será que estaria o exterior da escola? O mundo? Minha... família?

Meu coração apertou e meus olhos encheram de água automaticamente ao pensar em meus pais. Estremecia ao imaginá-los da forma patética e assustadora em que aqueles pobres seres abaixo de nós estavam.

Não!

“O que quer que tenha acontecido, sei que estão bem. Eles sempre dão um jeito em tudo. Sempre resolvendo coisas que, aos meus olhos, parecem impossíveis... Sem contar todo o treinamento que eles receberam desde que entraram para o Exército... Se há chances de alguém estar bem, essas chances estão a favor deles.”

Senti-me um pouco melhor ao pensar assim...

Assim que saísse dessa droga toda, iria entrar em contato imediatamente. Sim, do lado de fora deveria estar tudo tranquilo. Tudo normal. Eles nem devem saber o que aconteceu aqui... E é melhor que saibam somente depois; quando eu estiver cercado de bombeiros e policiais, prestando depoimentos, completamente seguro e... do lado de fora.

– Chegamos! – Verônica interrompeu meus pensamentos. Um som de parafusos e uma tampa de ferro caindo depois e logo estávamos todos dentro da cozinha.

O ambiente estava limpo, apesar de tudo. As bancadas de granito cercavam meio cômodo do ambiente, formando um U. Estavam vazias e refletiam o teto de tão limpas. O fogão industrial situado no meio do “U-de-bancadas”, igualmente arrumado.

Como a Direção da escola havia decidido trocar as panelas e os talheres, o carregamento parecia ter chegado recentemente. As caixas de tamanhos variados estavam cuidadosamente organizadas, em fileiras, por ordem de tamanho mantendo-se um pouco de espaço entre uma fileira e outra, paralela às margens, bem no meio das mesmas. Atrás, a portinha que dava para a despensa estava aberta, mas o local, com as luzes apagadas.

No canto de uma parede, uma menina levantou o olhar para nós. Estava ajoelhada e abraçava suas pernas (que logo soltou) antes de levantar-se e rapidamente vir em nossa direção com olhos arregalados.

– Vocês vieram... De verdade... – Falou com um sorriso enorme no rosto. Tinha cabelos loiros que iam até um pouco abaixo das omoplatas (trazia-os presos num rabo de cavalo), olhos castanhos e um sorriso excepcionalmente bonito.

Seu lindo sorriso dissipou-se assim que a distância entre nós diminuiu.

– Claro que viemos. Você está bem? – Emi saiu de onde estava e após analisar a menina rapidamente, abraçou-a – Vanessa, não é?!

– S-sim... – Respondeu a menina, meio sem jeito e parecendo surpresa com o abraço.

– Bom, vou deixar que você se apresente. – Emi falou e a soltou.

A menina passou os olhos por cada um de nós antes de falar:

– Bem... Sou Vanessa Lima. 1º ano A.

– Hei! Ela não é da sua turma? – Perguntou Vítor a Emi.

– Sim. Por isso estava tão preocupada. Além de, como já mencionei anteriormente, termos conversado mais cedo. – Depois, Emi voltou-se para a menina – Está mesmo tudo bem?

– Bem... Graças a vocês, sim.

– Ótimo. – Emi relaxou. – Você já me conhece, mas acho bom falar novamente: Sou Emi, 1º A.

Em seguida seguimos seu exemplo, falando na ordem em que estávamos:

– Enzo, 1º A...

– Vítor, 1º B.

– Matheus, 1º A.

– Nathália, 1º A.

Ela apenas assentiu séria.

– Então, qual é o plano? – A menina perguntou.

– Como? – Emi devolveu a pergunta.

– O plano para sairmos daqui. Vocês têm um plano, não é?!

– Sim. Daqui, iremos até a sala do professor de Educação Física, abriremos seu armário e pegaremos suas supostas armas. – Revelou Vítor.

Pois é, havia rumores de que o professor guardava umas espadas no seu armário de aço super fortificado. Por quê e para que, me desculpem, não faço a mínima ideia.

– Depois voltaremos para salvar nosso amigo que ficou preso na sala do diretor e caímos fora daqui. – Completou Verônica, que tinha se encostado a uma das pilhas de caixas.

– Na sala do diretor? Caramba... É muito longe! – Surpreendeu-se a menina.

– Sim, mas ele está nos esperando. Não podemos deixá-lo. – Falou Nathália, com um tom que reprovava o que a menina tinha dito.

– Certo. Vocês tiveram um trabalho enorme de vir até aqui, e ainda me ajudaram a chegar sã e salva. Eu ajudarei como puder!

– Agradeço em nome de todos. Sinto ter pressa, mas temos de sair daqui enquanto está claro. Não sabemos o que vamos encontrar lá fora e não quero descobrir isso à noite. Por favor, alguém tem horas? – Perguntou Emi.

Após olhar no celular, Vanessa responde:

– 16h21.

– Estamos começando a ficar com pouco tempo. Teremos de pensar rápido!

– Pessoal, tenho uma ideia. – Disse Verônica e logo depois desatou a falar.

Conforme ela ia falando, fui imaginando: um grupo de adolescentes correndo nas entre quadras da W3 Sul; com armas de fogo nas mãos, mirando e disparando de vez em quando para trás, na direção de coisas lentas que avançavam em seu encalço. Não sei por que, mas aquele pensamento tinha um quê de excitação e por um momento aquela sensação foi boa.

– Então, quatro de nós gritam para atraí-los... – Voltei momentaneamente minha atenção ao que Verônica dizia, mas os devaneios logo voltaram.

Dessa vez, o mesmo grupo de adolescentes subia as escadas finais de um grande edifício para alcançar o heliporto, atirando em formas acinzentadas e lentas atrás de si. Um helicóptero com vários tons de verde os esperava a cerca de um metro e meio do chão; a bandeira do Brasil gravada na porta e na cauda do helicóptero com detalhes tornava tudo mais interessante.

Um fato sobre mim: eu tenho o costume de imaginar coisas inóspitas, nas horas mais inóspitas.

Nesse momento, algo atraiu toda a minha atenção. Desviei o olhar de Verônica para uma figura que se movimentava lentamente atrás de si. Quando levantou os braços cinza-pálidos, confirmei instantaneamente o que era.

Ah, meu Deus!


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Notas finais do capítulo

ANO NOVO AGR BAGAÇA!