ApocalipZe escrita por Sr Devaneio


Capítulo 11
Sub-Capítulo 3 - Como fugir de um Ensino Médio de Mortos parte 1


Notas iniciais do capítulo

E aqui começa nossa Primeira Odisseia.
Por hora, só uma introdução, mas teremos novidades!
Como por exemplo... ah! Eu quase falei!
Leiam logo senão não vou conseguir ficar calado por muito tempo :
Mais uma vez, espero que gostem :)



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Thiago fechou a porta atrás de nós e a segurou, sem esquecer de trancá-la. Matheus correu para ajudá-lo, e os dois ficaram apoiados na mesma, para evitar que eles entrassem.

– Enzo, Vítor, arrastem aquela mesa até aqui. Rápido! – Matheus apontou com o queixo para uma mesinha de madeira encostada ao lado dos armários.

Arfando, Vítor e eu alcançamos a tal mesa. Nathália, Verônica, e Emi nos ajudaram.

– No três... Já! – Disse Verônica, sem fazer a contagem.

Nossa, que mesinha pesada! Levantamos o suficiente para carregá-la até a porta. Depois, a arrastamos para cobrir a distância que faltava e pronto. Estávamos, em tese, seguros.

Os gritos e gemidos frustrados do lado de fora comprovavam isso. Arrumamos (jogamos) nossas mochilas em um canto qualquer da sala, coloquei o case do violino por cima, para evitar quaisquer danos ao instrumento.

Depois, sentei-me no chão com as mãos para trás. Alguns dos outros fizeram o mesmo. Minha respiração alta parecia insuficiente para refrescar meus pulmões, que ardiam.

Ouvíamos as batidas e gemidos furiosos do lado de fora da porta misturados ao som das nossas respirações pesadas.

Após um tempo, Emi foi a primeira a se pronunciar:

– Agora que estamos seguros, precisamos pensar em um meio de escapar. Imediatamente, para não perdermos tempo. Quando menos esperarmos, o sol irá se pôr e precisaremos estar em um lugar realmente confiável até lá. – Ela se levanta, respirando fundo e adquire uma postura autoritária. Uma postura responsável.

– Tem razão. Mas... Por onde começamos? – Pergunto.

– Seria legal se a gente se conhecesse. Pra, sei lá... Vai que precisamos saber o nome de cada um aqui... – sugeriu Nathália, apesar de praticamente todo mundo ter uma noção de quem era quem ali (com exceção de mim e dos meus amigos).

– Verdade. Bom, acho que todos sabem, mas o meu é Emi. Integrante número dois do Trio, 1º ano A. – Disse A Popular.

Lógico que eu já sabia disso. Éramos da mesma turma desde a oitava série. Inclusive, fora na oitava que eu comecei a reparar de verdade em uma garota. Reparava em como sua pele não tinha espinhas, em como seus olhos não eram pequenos nem puxados demais, em como seu cabelo (na época, preto) caía de forma elegante e bonita sobre seus ombros, em como seus lábios pareciam macios...

Só não sabia se algum dia ela havia se dado conta disso, já que eu era o tipo de aluno que “invisível”, aquele que não costuma aparecer muito. Eu esperava que sim...

Seus cabelos vermelho-vivos estavam presos num rabo de cavalo, deixando escapar apenas duas mechas, uma em cada lado da cabeça, na frente das orelhas, e a franja.

Levantando a mão, Verônica se apresentou:

– Verônica, também do 1º A. – disse, ajustando os óculos cor-de-rosa no rosto e colocando uma mecha de seu cabelo castanho-médio atrás da orelha.

– Enzo, 1º A. – Apresentei-me.

Quando seu olhar encontrou o meu, fiquei com vergonha. Ainda bem que, logo depois de mim, foi a vez do pequeno:

– Vítor, 1º B. – Falou o menorzinho da turma.

E seus olhos foram de mim para o menininho ao meu lado. A vergonha se dissipou um pouco.

– Matheus, 1º A.

– Nathália, 1º A.

– Thiago, 1º D

– É um prazer! – Disse Emi sorrindo.

Ela mantinha uma postura de quem realmente tinha acabado de nos/me conhecer. É, acho que definitivamente não sou muito notável na sala de aula. Não pude deixar de me surpreender com o pequeno desapontamento que surgiu em meu peito.

Depois, sua expressão ficou séria.

– Agora, preciso saber: alguém aqui teve qualquer tipo de contato com algum daqueles bichos lá fora?

Ficamos em silêncio.

– Gente, é sério. Preciso saber para o bem e segurança de todos.

Fui o primeiro a responder:

– Não.

Emi olhou para mim. Só agora pareceu perceber minha presença ali. Fiquei envergonhado com seu olhar direto.

– Não. – Nathália esfregava as mãos uma na outra de maneira nervosa.

– Não. – Thiago e Vítor disseram ao mesmo tempo.

– Nada! – Declarou Matheus.

– Não! – Declarou Verônica com seu típico tom de irritação.

Emi respirou aliviada.

– Ótimo. Espero que não estejam mentindo. Agora, temos que pensar em como vamos sair daqui.

– Antes disso, o que são aquelas... Coisas... Lá fora? – perguntou Verônica.

– Mortos-vivos! – Vítor respondeu rapidamente.

Verônica lançou lhe um olhar desdenhoso.

– Vítor, poupe-nos de suas idiotices agora. Por favor!

– É verdade! Não viu o modo como eles andam? De forma imbecil e gemendo. É como nos filmes! – Vítor tentava argumentar. Percebo certo tom de pavor em sua voz.

– Não vou discutir suas idiotices com você.

Vítor bufou, mas antes que pudesse responder Thiago assumiu:

– Eu não duvido nada. – declarou pacientemente.

– Ah meu Deus. Não comecem com essas babaquices! – Intrometeu-se Matheus.

– Gente, calma, por favor. – Emi esperou todos se calarem e continuou – Mortos-vivos ou não, mais importante que isso agora é: Como vamos sair daqui.

Para ser sincero, devido a tantos filmes, jogos e conversas com zumbis com Vítor e Thiago, apoiava a teoria dos mortos-vivos. Isso é... Eles têm tudo o que a mídia diz que devem ter. Era minha vez de falar:

– Teremos que passar por eles.

Todos me encararam imediatamente.

– E como vamos fazer isso? Nem sabemos se são perigosos... – disse Nathália.

– Como assim? Não viu o que houve no pátio mais cedo? – Falou Matheus – Não viu como aquela menina morreu?

– Se é que morreu... – Completou Vítor.

Verônica lançou-lhe um olhar de reprovação.

– Não vou discutir isso de novo.

– Mas Verônica... – Matheus não terminou a frase, pois Emi o cortara.

– Gente, por favor. CHEGA! – Disse, elevando a voz. - Primeiro: como especificamente vamos sair daqui?

As batidas intensificaram-se. Gelei quando um forte “TUM” fez a porta tremer.

– Temos que ser rápidos. A porta não vai aguentar por muito tempo. – Alertou-nos séria.

– Vou dar uma olhada na situação de fora. – disse Verônica, sem tirar os olhos do monitor sobre a mesa do diretor.

Nem percebi quando exatamente ela tinha sentado à mesa e começado a mexer no computador da Direção.

– E como vai fazer isso? - Perguntei.

– Câmeras. – Ela responde, lançando-me um olhar e usando um tom de quem tem de explicar a mesma coisa sete vezes.

Tá legal, considerando que estávamos na Direção – o único lugar com monitoramento total da escola -, era meio óbvio e bem útil. No quesito utilidade, Verônica sempre surpreendia.

– Ei, o computador do diretor! – exclama Vítor.

Olho para ele com um olhar de obviedade.

Vítor fica ao lado de Verônica.

– Você bem que podia dar uma olhada no gabarito da prova de exatas... – disse ele, lançando um olhar malicioso para a tela brilhante.

Verônica o encarou com o mesmo olhar de pouco tempo atrás, quando os dois discutiam.

– Foi só uma sugestão... – completou Vítor, dando de ombros e se afastando.

– Muito bem, agora temos que nos organizar. – Emi dirigiu-se à mesa do diretor e pegou uma prancheta com uma caneta que encontrara por ali – O que vocês sabem fazer?

Vejo minha expressão confusa se repetir no rosto dos outros. Ela especifica:

– Habilidades, técnicas...?

Com cara de quem entendeu alguma coisa, Thiago falou:

– Eu faço um macarrão com molho de alho que é um espetáculo!

Foi a vez de Emi ficar confusa.

– Não... Quero dizer, não esse tipo de habilidade. Coisas como... Correr bem rápido ou ser um ótimo nadador ou... Sei lá, fazer esgrima... Habilidades nas quais precisamos treinar muito para sermos bons.

– Tinha que ser gordo! – Vítor disse baixo o suficiente para que todos pudessem ouvir.

– Então... – Concordou Matheus, igualmente “baixo”.

Não pude segurar o riso, apesar de ter rido discretamente. Se ouviu alguma cosia, Thiago não se importou.

Mais um “TUM” sonoro ouviu-se na porta. Aquele som fez meu sorriso desapareceu na hora.

– Eu sei atirar! – Falou Vítor com ar de orgulho e tentando disfarçar o susto que acabara de levar.

– Bolinha de papel não vale! – Rebati. Ele só me encarou de olhos semicerrados.

Emi tirou uma folha da prancheta, jogando-a a para o lado e anotou alguma coisa em outra. Dei uma rápida olhada no papel que ela arrancara. Estava todo escrito com uma letra trabalhada e tinha alguns cubos em 3D espalhados.

– Agora, você. – Disse apontando a caneta para Matheus.

– Bem, eu sou ótimo no paintball.

– Muito bom. - Emi tornou a anotar. Depois olhou para mim.

Respondi rápido:

– Eu sei dançar!

Emi fez uma rápida expressão estranha, deu de ombros e anotou mais alguma coisa. Depois olhou para Thiago, que dessa vez respondeu “direito”:

– Ninguém joga jogos de tiro melhor que eu.

– Eu jogo! – Disse Vítor, sendo totalmente ignorado.

– Tem simulador? – prosseguiu Emi.

– Tenho.

– Bom. - E tornou a anotar.

– Não joga nada! – brincou Matheus.

– Jogo, sim. – respondeu Thiago, sem muito caso.

Logo depois, Emi vira-se para trás.

– Verônica?

– Sim.

– E você?

– Estou trabalhando em um projeto. Mas fiz um curso de autodefesa. Então...

– Autodefesa incluindo?

– Artes marciais... Além de pontos vitais do corpo humano.

Emi arqueou ligeiramente as sobrancelhas, surpresa.

Apesar de provavelmente estar se perguntando quem ensinaria tal coisa a uma adolescente, deu de ombros, voltando-se à prancheta.

– Também sei me virar no paintball. Sou a segunda melhor, para ser mais precisa, e sei algumas coisas básicas sobre informática. – Falou Verônica com uma pose orgulhosa, antes de se voltar à tela do computador.

Pensei em revelar que, na verdade, Verônica era um hacker de primeira, mas preferi deixar quieto.

Depois foi a vez de Nathália, que disse calmamente:

– Eu não sei fazer nada.

– Emi terminou de escrever o que quer que fosse e arrancou novamente a folha. Em seguida, deixou a prancheta sobre a mesa e sacudiu a folha arrancada na nossa frente.

– Eu tenho uma ideia. E para isso, vamos precisar de cada habilidade aqui escrita. Ou seja, vamos precisar uns dos outros para sair daqui. Só iremos precisar de umas coisinhas.

Olhei para o papel, que tomei consciência de ser uma lista. Estava escrita com nossos nomes e - segundo nós mesmos disséramos – o que sabíamos fazer:

Emi- Esgrimista

Vítor- Atirador

Matheus-Atirador

Enzo- Auxiliar de Sobrevivência

Thiago- Atirador

Verônica- Atirador

Nathália- Auxiliar de Sobrevivência

– Auxiliar de sobrevivência? – perguntou Nathália.

– Desculpe, mas as habilidades que vocês dois me disseram não serão muito úteis para o que tenho em mente.

Engoli em seco.

Ouvi um som estranho ao fundo. Parecia algo do tipo metálico chocando-se várias vezes no chão.

– E...? – perguntou Nathália, novamente.

– E apesar de tudo, vocês terão um papel crucial para a sobrevivência de todos nós. Iremos precisar da coragem e disposição de vocês para sair. Em outras palavras, vocês serão nossas iscas.

Espera... O quê? Isca? O que isso significava?

“Significa exatamente o que você acha que é! Seu tonto!” – minha consciência acordou.

“Exatamente o que eu acho que é!”... Mas que droga era essa? “Isca, atirador, esgrimista”... Qual é a dessa menina?

“E o irônico é que ela nem disfarça. Escreve e escreve mesmo. Na lata.” – continuou ela.

Olhei para Nathália. Ela fitava a menina com olhos arregalados.

– Espera... onde vamos conseguir armas? – perguntou Matheus, cortando o clima de preocupação/revolta.

– Educação Física. – Emi respondeu simplesmente.

– Gente! Vejam isso! – chamou Verônica.

Fomos apressadamente para aonde estava. Paramos de frente para o monitor.

– Caramba! - Vítor falou ao meu lado.

– Está... viva. Mas de um jeito bom. – Falei vagamente ao identificar, pela tela do computador, uma forma humana andando no pátio da escola.

Estava encostada á uma parede e mantinha uma expressão de medo e determinação no rosto.

Era uma menina.

Uma menina de cabelos loiros que corria até uma forma branca no chão, uma forma que logo identifiquei, pois salvara-nos a vida: branca, cilíndrica e devia ter uns 50 cm de comprimento. Tinha uma mancha vermelha em uma das extremidades e agora a garota agachava-se sobre ela.

Segurando sobre a extremidade limpa, ela a ergueu com uma expressão mais determinada ainda. Com o pedaço de corrimão na mão, parecia sentir-se mais segura e dirigia-se para a Área Verde da escola. Peguei-me admirando seu rosto virtual e pensando em como era bonita, enrubescendo logo em seguida.

E, o mais importante (acho): eu conhecia aquela garota.

As batidas na porta pararam de uma vez.

– Essa garota... Falei com ela hoje mais cedo! – Emi arregalou seus pequenos olhos, surpresa.

– Temos que ajudá-la! – Eu disse.

Aquela garota também estudava comigo. Havia entrado na escola há dois meses e não falava com ninguém. Não ria, não se expressava em sala – exceto quando o professor perguntava-lhe algo –. Ela, mais do que eu, era uma invisível, pois nem possuía colegas. Eu sequer lembrava seu nome.

– Como? Não podemos sair! – Respondeu Vítor.

Passo os olhos em torno da sala, depois em torno da mesa e os pousei sobre um microfone, que estava bem ao lado da tela.

– Alto-falante! – Disse, alcançando o microfone.

Apertei o botãozinho vermelho que havia ali.

O aparelho ligou, conectando-se a todas as caixas de som da escola.

– Ei, menina!

Tornei a olhar para a tela, para poder acompanhar tudo. A menina deu um pulo ao ouvir minha voz. Provavelmente a assustei, mas isso não importava agora.

– Está tudo bem. Somos um grupo de alunos e estamos trancados na sala do diretor.

– “Tudo bem?” Qual é o seu problema? – Escutei a voz de Matheus atrás de mim.

– Ei, olhem isso! – Emi mostrou vários grupos de alunos na tela. Todos estavam parados, olhando para todos os lados – São aquelas coisas do lado de fora!

– Porque estão assim? Parecem doidos. – Acrescentou Vítor.

– Ou... Confusos – Concluiu Verônica.

Seja o que fosse a vida daquela menina loira poderia estar dependendo de nós... De mim, mais especificamente.

– Ouça, vou guiá-la para longe dessas coisas. – Voltei-me ao microfone – Não venha para cá, a porta está bloqueada e o lado de fora, infestado dessas coisas.

As coisas na tela começaram a mover-se em direções diferentes.

– Mas o quê...? – Perguntou Matheus.

– Para onde eles estão indo? – Devolveu Thiago.

Tive uma ideia e então me voltei para Verônica:

– Verônica, rápido! Veja a situação da cozinha!

Pude ouvir minha voz ecoando pela escola, guiada pelas várias caixas de som. Com movimentos e cliques rápidos do mouse, a tela do pátio - aonde várias coisas iam em direções distintas – foi substituída por uma cozinha vazia.

– Ótimo! – falei para ninguém em particular, voltando-me para o microfone - A cozinha está livre, corra para lá. Nós vamos tentar despistar as coisas que estiverem no seu caminho.

– Verônica, coloca a tela do pátio e da cozinha juntas! – sugeriu Vítor.

Com mais alguns cliques e guias aparecendo aqui e ali pela tela, a área verde, o pátio, a cozinha e o refeitório apareceram separados em quadrados no monitor.

A menina, provavelmente sem proposta melhor, acatou nosso pedido. Virando-se para trás, foi em direção à cozinha – estava um pouco mais à frente – em passos rápidos.

Passamos da câmera da área verde para a câmera do pátio. Nela, via-se a menina andar a passos largos e meio distante do corredor das escadas, indo em direção a outro corredor, o que dava para o refeitório.

Ao analisar a visão que nos era fornecida pela câmera do refeitório, voltei-me ao microfone:

– Cuidado quando chegar no refeitório, tem uma quantidade boa deles lá. O corredor também tem alguns.

A parte do corredor não era meio que necessária, pois ela acabara de chegar ali. Mas no calor do momento, falei assim mesmo.

Tinha uns dez ou doze espalhados pelos quatro cantos. Todos embaixo de onde ficavam as câmeras.

Podia sentir o medo que ela provavelmente estava sentindo agora. Iria atravessar um corredor cheio deles.

Assim que entrou, as coisas desviaram a atenção de cima e voltaram-se para a menina.

– Enzo, o microfone! – Nathália lembrou apreensiva.

– Hei vocês aí! – Praticamente gritei.

Estavam a cerca de um metro da menina, que recuava de volta ao pátio. Olharam para trás e, após um instante, começaram a recuar também. Chegando à parede, tentavam em vão alcançar as caixas de som poucos metros acima.

A menina aproveitou e adentrou o corredor. Quanto mais andava, mais atenção atraía para si.

– Heei! Olhem para cá! Para cima seus estranhos! – Eu continuava conversando sozinho.

– Só não grita tanto! Calma ai! – Disse Vítor tapando os ouvidos.

– Calma? A vida dela depende disso! – Retruquei falando com ele e no microfone ao mesmo tempo.

As coisas avançavam para a menina. Falar alto não estava sendo o suficiente. Os que estavam no começo formaram uma espécie de fileira, fechando a passagem.

– Droga! Vítor grite agora! – Falei.

– O quê? – Ele me olhou confuso.

Revirei os olhos impaciente, alcancei seu braço com dois dedos e os girei, colocando o microfone perto dele ao mesmo tempo.

– Ah! – o menininho gritou alto com o beliscão.

Um grito agudo que fez um barulho daqueles e chamou novamente a atenção das coisas do corredor. Eles abriram espaço e a menina (que tampara os ouvidos) aproveitou de novo.

Sem paciência para esperá-los se afastar por completo, foi em cima de um deles.

– O que está fazen...? – Matheus perguntou.

Ele não terminou a frase, pois naquele momento, ela girou a mão que segurava o ferro na cabeça do que estava mais perto. A coisa cambaleou para o lado, fornecendo o espaço que faltava para a pobre menina escapar.

E ela escapou.

Pelo menos, dos que estavam no corredor.

A garota era corajosa...

– Isso! – Vibrei – Agora é só correr para a porta da cozinha, os que estão no refeitório estão ocupados demais com a gente.

Passamos mais duas câmeras. Agora só precisávamos das do refeitório e da cozinha, era como um jogo de fases. Três já foram. Ela iria conseguir. De repente, me lembrei de um detalhe:

A porta da cozinha.

– Você consegue! – Disse, torcendo pela porta estar destrancada.

Chegando ao refeitório, a menina praticamente voou em direção à porta da cozinha. Sem espaço tempo para frear, o impacto foi inevitável. Aquilo deve ter feito barulho, pois as coisas do refeitório viraram-se e foram cambaleantes em sua direção.

– De novo não. – Lamentou Emi.

A menina levantou-se e girou a maçaneta. Por um momento, temi que a porta não abrisse. Que a menina ficasse encurralada do lado de fora, sozinha. Por um momento, temi ser o responsável por sua morte.

Mas a porta abriu. E a menina entrou como um raio, fechando-a atrás de si. Soltei o ar que estava prendendo até então, e uma pontada de felicidade misturada com alívio tomou conta de mim.


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Notas finais do capítulo

Talvez a formatação tenha saído da maneira como deixei. Espero que tenha dado pra entender tudo...



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