Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 21
Batalha


Notas iniciais do capítulo

Heeey pessoal, último capítulo!
Espero mesmo que vocês gostem do final e agradeço a todos que acompanharam a história até aqui, de verdade. Essa foi a primeira história que escrevi, há alguns anos, e esse reconhecimentos é muito importante para mim.
Amanhã postarei o epílogo, e já posso dizer que ele traz uma surpresinha esperançosa para todos! Haha



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Era isso. A noite da minha formatura. Depois de tantas brigas, tantos problemas, tantos momentos tristes... E também felizes, o ano letivo finalmente acabaria de vez. Por algum motivo, eu sentia que aquela noite seria o fim de um ciclo.

Coloquei o vestido que eu havia comprado há muito tempo: ele era curto, de cetim, cor de creme, com uma renda preta com glitter na parte de baixo e um laço preto de cetim na cintura. Coloquei sandálias pretas de salto, arrumei meu cabelo e coloquei o colar que Tristan havia me dado.

A primeira parte da formatura era a missa, que foi bem tranquila, na igreja anexada à escola. Passei essa parte da cerimônia com Thaís. Mia não havia passado de ano, mas eu pude vê-la na porta da igreja.

Já na parte da colação, fiquei sentada ao lado de Bel. Ela usava um vestido roxo de cetim, com sandálias prateadas.

Comecei a pensar sobre o ano letivo seguinte. As coisas mudariam muito. Thaís iria mudar de escola, algo que havia acabado comigo há meses, mas que agora não me afetava tanto. Eu agora teria o horário do primeiro ano, o que significava mais tempo com o pessoal do atual terceiro - ou seja, mais tempo vendo Tristan e Chelsea se pegando - e menos tempo com Mia. Isso sem contar que não tínhamos ideia da distribuição de salas do ano seguinte. Eu podia acabar numa sala sem nenhum amigo meu.

Uma lágrima começou a se formar no canto do meu olho, mas enxuguei-a rapidamente. Não iria de jeito nenhum estragar minha maquiagem.

Olhei para trás discretamente, enquanto a colação não começava. Na mesma fileira, estavam Mia, Tristan e Rique. Na fileira de trás, estavam meu pai, minha tia e meu avô.

A diretora anunciou que a cerimônia começaria e eu virei para frente. Um a um, os alunos foram sendo chamados, em meio a gritos de amigos e familiares, para pegar os diplomas. Uma música tocava a cada sala que subia no palco, e entre cada uma, havia um discurso.

Quando chegou a vez da minha sala e ouvi “Viva La Vida”, do Coldplay, tocando nos auto-falantes, a vontade de chorar voltou e eu fiz o possível para me controlar.

Porém, quando a professora Renée chamou meu nome, eu subi no palco e olhei para a platéia, não consegui segurar as lágrimas: Tristan e Rique estavam ambos me aplaudindo em pé, no meio de cerca de trezentas pessoas sentadas. Ninguém nunca tinha feito uma coisa dessas por mim. Por sorte, Bel veio logo depois de mim e me acalmou.

Quando a colação acabou, veio aquele momento todo sentimental de agradecimentos, congratulações, abraços e choros.

Abracei absolutamente todo mundo, mas alguns me marcaram demais: o abraço de Mia, que estava chorando por não ter passado de ano; o do meu pai, que expressou todo seu orgulho de mim; o de Rique, que finalmente me considerava uma irmã; e, é claro, o de Tristan.

O pessoal foi se dispersando aos poucos. Eu ia aproveitar para conversar com Tristan, mas vi Carol puxando-o para um canto e achei sensato não ir atrás. Então, acabei indo conversar com Vitória e Marina.

Em pouco tempo, só havia restado eu e os espectros no salão.

Foi quando eu comecei a me sentir mal. Era aquela sensação da força novamente, mas isso era impossível, afinal eu estava com a minha alma. Mas ela estava lá, mais forte que nunca.

– Emilia, você tá bem? Tá meio pálida. – Vitória perguntou.

– Eu...

– Ei, meninas, vocês viram meu irmão? – perguntou Carla, aparecendo de mãos dadas com Rique. Os dois acabaram ficando e começado a namorar mais ou menos na mesma época que Tristan e Carol. A diferença é que os dois se amavam e eu estava muito feliz por eles.

– Ele deve estar se pegando com a Carol em algum canto – Marina respondeu, revirando os olhos.

Normalmente eu teria concordado e feito algum comentário maldoso, mas parecia que eu ia vomitar meio mundo se abrisse a boca naquele momento.

– Eu já procurei ele pelo salão todo e pelo quarteirão. As entradas pra escola estão trancadas, não tem muito pra onde eles irem. – Carla comentou.

– Não, mas eu tenho certeza que eu vi... – resmunguei, reunindo forças.

– Emilia, você tá bem? – Rique perguntou, parecendo realmente preocupado.

– Não... Eu... É o Tristan.

– O que aconteceu? – Carla perguntou. Eu podia ouvir seu coração batendo rapidamente de onde estava.

– Ele... – esfreguei minha testa. Meu pingente queimava no meu pescoço – Ele está em perigo! – exclamei.

Eu devia estar com uma cara realmente muito estranha, por que todos me encaravam assustados e preocupados.

– Como você sabe? – Rique perguntou.

– Eu só sei, tá bom? – praticamente gritei.

– Chamem o Chris. – Vitória segurou minha mão e sentou ao meu lado _ Calma, Emi, vai ficar tudo bem.

Rique foi atrás de Chris e logo eles apareceram, abrindo caminho na multidão. Chris respirou fundo e segurou minha mão, como havia feito quando nos conhecemos, mas logo a soltou, apavorado.

– Deus, eu nunca havia sentido algo assim. Como você está suportando?

– Eu não sei! Só, por favor, me fala o que tá acontecendo! – gritei. Eu havia começado a tremer e chorar.

Chris se virou para falar com o pessoal:

– Emilia tem razão. Tristan está em perigo.

– O que vamos fazer? – perguntou Rique.

– Não sei, não sabemos onde ele...

– Eu sei onde ele está. – respondi e todos olharam pra mim. Apontei para o meu colar.

– Ótimo. – Chris afirmou e eu pude sentir a tensão que foi gerada em todos.

Chris nos dividiu em trios para melhor segurança. Liguei para o meu pai e ele logo chegou com minha tia, meu avô e uma série de pistolas de lágrimas. No meu trio estavam Rique e Carla. Iríamos na frente, já que meu colar nos guiava.

Saímos do salão direto pra rua e demos a volta na escola. Entramos na Igreja onde havia sido a missa e saímos para o corredor ao lado. Havia uma porta no fundo.

– Eu sempre quis saber o que tinha por aqui. – testei a maçaneta, mas a porta estava trancada.

– Com licença, deixa eu mostrar meu novo truque. – Rique me puxou para o lado e apontou a mão para a fechadura da porta. Ele fechou os olhos e girou sua mão. A fechadura fez um clique.

– Telecinese? – perguntou Carla.

– Aham! – ele sorriu, todo metido. Era incrível como ele conseguia se distrair numa hora daquelas.

Entramos na sala. Era basicamente um cubículo branco vazio, com uma escada para baixo num canto.

– Vamos. – eu disse e fui para a escada.

No andar de baixo, havia uma sala cheirando fortemente à tinta, com duas portas ao fundo.

– Direita. – comentei, indo na direção da porta da direita.

Atrás dela havia uma capela. Como se já não houvessem capelas o suficiente na escola. Só havia uma porta ao fundo, que dava para uma escadaria para o subsolo. Perdi a conta de quantos lances de escada descemos. No final deles, havia uma porta.

– Estamos perto. – comentei e saiu fumaça da minha boca quando falei. Estava muito, muito frio. Isso me acalmava um pouco, por que espectros ficavam mais fracos no frio.

Estiquei minha mão para a maçaneta, tremendo, e abri a porta.

A sala era enorme, provavelmente do tamanho do salão onde ocorreu a colação de grau. E preta, completamente preta e escura. A única luz vinha de uma lâmpada fraca pendurada no centro da sala. Embaixo dela, pude reconhecer Tristan, de cabeça abaixada, acorrentado a uma cadeira de metal.

– Tristan! – gritei e corri na direção dele. Ele levantou a cabeça ao me ver, mas quando eu estava chegando perto, trombei numa parede invisível e caí no chão – O quê? Um campo de força?

– Vão embora, é uma armadilha! – Tristan gritou.

– É, nós temos noção disso. – Rique comentou, me ajudando a ficar de pé.

De repente, mais algumas lâmpadas se acenderam, formando um caminho que levava até uma porta no alto de alguns degraus. Parada no último dos degraus, estava Carol.

– Era você, não é? Esse tempo todo. Foi você quem roubou minha alma, não foi, Carol? – perguntei.

– É, foi sim.

– E por quê? O que eu te fiz?

– Nada. Você não é o centro do universo, Emilia. Mas com você fora da jogada, ficava mais fácil chegar aos espectros. E veja só! Você mesma os trouxe até nós.

Cerrei meus punhos, mas Rique me segurou.

– Espere pelos outros. – ele sussurrou no meu ouvido. Olhei para trás. Ele tinha razão, apenas uns quatro trios tinham nos alcançado.

– Eu sempre soube que você não gostava mesmo dele. – comentei, apontando Tristan com a cabeça.

– Ah, não, eu gosto! Gosto muito. Mas tenho deveres a cumprir.

– Silêncio, Carol. - a porta atrás dela se abriu e dela saiu um homem alto e forte, com um corte de cabelo que lembrava o Wolverine.

– Quem é você? – perguntei.

– Victor. – ouvi a voz de Chris atrás de mim – Eu devia imaginar que você estava por trás disso.

– Vocês se conhecem? – perguntei.

– Mais do que eu gostaria. – Respondeu Chris.

– Boa noite, Christiano. – disse Victor.

Houve um momento de silêncio e tensão.

– Devolva o garoto. – Chris ordenou.

– Por que eu faria isso? Pra que vocês fujam e voltem mais tarde e mais fortes? Eu não seria tão idiota. Agora que descobriram meu esconderijo, todos vocês precisam, bem... Morrer.

O restante das lâmpadas se acendeu, revelando uma sala repleta de espectros. Seus olhos eram vermelho sangue e pareciam famintos. Extremamente famintos. Por almas.

Senti um arrepio de medo. Eles olhavam com um olhar para nós e estavam num número pelo menos três vezes maior que o nosso.

– Preparem-se. – Chris sussurrou.

Olhei para Tristan. Ele nos encarava com um olhar apavorado - não por ele, mas por nós -, que eu retribuí com um semi-sorriso.

– Deixem a Carol comigo. – falei, sorrindo para ela.

Não sei quanto tempo se passou enquanto nós e os espectros do mal nos encarávamos, mas quando Victor gritou “Vão!”, uma explosão de gritos tomou conta do lugar.

Nem me preocupei com a pistola d’água no meu bolso. Pulei em cima de Carol, derrubando-a no chão.

– Você vai pagar, ok? Por ter usado o Tristan desse jeito! – dei um soco na cara dela – Por ter me feito sofrer! – dei outro soco – Por ter armado contra seus próprios amigos! – levantei a mão para mais um soco, mas ela segurou meu pulso.

Carol puxou meus cabelos e eu puxei os dela. Começamos a gritar e puxar cada vez mais. Se não estivesse travando uma batalha mortal entre bem e mal, tenho certeza de que o Rique diria “Legal! Garotas brigando!” ou algo do tipo. Depois de pensar um pouco, concluí que ela matava as pessoas encarando-as, então eu só precisava evitar que ela me olhasse e manter minha alma.

Finalmente, depois de séculos brigando como patricinhas de filmes de Hollywood, eu a imbolizei no chão, de barriga para cima, e apontei minha pistola para a cabeça dela.

– Sabe o mais estranho de tudo, Carol? Eu não te odeio. Nunca te odiei. Eu tenho pena de você, porque você jogou fora tudo que tinha.

A batalha a minha volta começava a se acalmar, mas eu ainda não tinha certeza nem de quem estava ganhando, nem do saldo de mortes.

– Eu também não te odeio, Emilia! Me deixe ir!

– Não vou fazer uma besteira dessas.

– Ótimo, então não tenho outra escolha. – ela abriu os olhos e me encarou.

Uma batida de coração. O mundo estava vazio novamente.

Uma névoa prateada saiu do meu corpo e pairou acima de mim.

Voltei a pistola para a cabeça dela e estava prestes a apertar o gatilho.

– Sua filha da... – parei ao ouvir Tristan gritando. Um grito de terror.

Apavorada, virei para o lado para encará-lo. Dentro do campo de força, ao lado da lâmpada, havia um daqueles alarmes de incêndio que espirravam água quando disparados.

– Isso mesmo, tem lágrimas aí dentro. – ouvi Victor dizer. Ele estava caído no chão, uma mão fazendo um campo de força entre ele e Chris, outra apontada pra Tristan. Esse, por sua vez, arfava, enquanto fumaça saía de seu corpo que aparentava estar intacto – Deixe minha filha ir ou eu mato seu amiguinho.

Filha? A Carol era filha dele?

Hesitei. Minhas mãos começaram a tremer. Eu não podia deixar Carol ir embora, mas ao mesmo tempo não podia, sob nenhuma circunstância, arriscar a vida do Tristan. Antes que eu pudesse pensar mais um pouco, Carol me deu um soco no estômago e eu caí do lado dela. Ela correu em direção a Victor, que a abraçou, cuidadoso.

– T-Tristan... – forcei-me a ficar em pé. – Pare com isso!

– Hum... Eu pensei melhor. – Damon apontou novamente para o alarme, que começou a espirrar lágrimas. Tristan voltou a gritar, contorcendo-se na cadeira.

– Tristan! – gritei e corri na direção dele, mas Rique me segurou por trás.

– Emilia, você está sem sua alma, se for lá, vai morrer também.

– Eu não me importo, eu tenho que salvá-lo! – gritei desesperada, tentando me livrar dos braços de Rique.

– Vitória! – gritou Rique.

Ela o ouviu, apontou a mão para a névoa da minha alma e começou a fazer com que ela fosse na minha direção.

– Rique, me larga!

Os gritos de Tristan iam aumentando cada vez mais, conforme eu sentia minha alma voltando para o meu corpo e me debatia nos braços de Rique.

No exato momento em que a névoa terminou de se dissipar, o jato de água cessou e Tristan se soltou completamente na cadeira.

– Não! – gritei. Rique finalmente me soltou e eu corri até Tristan. O campo de força tinha desaparecido. Ergui o rosto dele, seus olhos estavam fechados – T-Tristan, por favor fala comigo! – comecei a tentar desamarrar as cordas em volta dele, mas minhas mãos tremiam demais.

Rique apareceu para me ajudar e assim que Tristan estava solto, eu o deitei no meu colo. A pele dele que sempre havia sido fria como gelo, agora estava quente, muito quente.

– Tristan, por favor! Você tem que acordar!

Ele abriu ligeiramente os olhos e eu me aliviei.

– Emilia...

– Fala.

– Desculpa por tudo, viu?

– Que isso, Tristan, você não precisa... – ele ergueu o indicador e colocou na minha boca, pra que eu ficasse quieta.

– Eu te amo, tá? – e então fechou os olhos, deixando seu braço cair ao lado do corpo.

– Não, Tristan, não! Não, não, não, não! – minhas lágrimas começaram a cair no corpo dele, mas elas não queimavam. Não queimavam por que não havia mais um espectro ali para ser queimado – Rique, faz alguma coisa! – gritei.

– Acho que não tem mais nada a ser feito, Emilia. – ele se abaixou e colocou a mão no meu ombro. Olhei em volta e todos estavam nos olhando.

– Chris... – implorei. Chris não respondeu nada, apenas desviou o olhar.

Olhei desolada para Tristan em minhas mãos. Eu não conseguia imaginar que ele tinha ido. Pra sempre.

Tudo que me restou fazer foi abraçar seu corpo quente e sem vida, enquanto ainda chorava.


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