Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 19
Pressentimento




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O resto a viagem foi um tanto confuso. Ao mesmo tempo em que me aproximei de Mia, eu me afastei de Bel. Antes que percebesse, eu estava de volta a São Paulo.

A segunda-feira de manhã, na escola, foi muito monótona. Ainda havia aquele clima de “eu queria estar na praia” em todas as salas. Depois da aula, eu queria ir embora, mas acabei me atrasando e topei com Tristan na escada de sempre.

Eu esperava que ficasse aquela sensação estranha de quando as pessoas brigam e querem fazer as pazes, mas no momento em que me viu, Tristan me abraçou como se não me visse há séculos.

– Eu senti sua falta! – ele exclamou.

– É, é, eu também...

– O que houve? Aconteceu alguma coisa?

– Tipo o que? Você ligar e falar com todo mundo menos comigo?

– Eu não falei com todo mundo. Falei com a Marina e uns três segundos com a minha irmã.

– Não foi o que a Mia me disse.

– E você vai acreditar nela ou em mim?

Analisei a situação por um momento. Bem, eu estava cansada.

– Tudo bem, eu acredito em você dessa vez.

– Ótimo! Vem, vamos sentar. – ele pegou minha mão e me levou até o canto da escada – Sinto que recuperou sua alma.

– É...

– Tá a fim de me contar o que aconteceu?

– Bom, tinha essa garota tentando matar uma mulher. Eu tentei impedir e senti que minha alma estava com ela, mas eu não estava em condições de enfrentá-la. Quando eu estava prestes a desistir, a Bel apareceu com uma pistola d’água e fez com que a garota devolvesse minha alma e depois fugisse.

– A Bel é uma caçadora? – ele levantou uma sobrancelha.

– É. Eu acabei contando tudo a ela e agora ela não quer mais falar comigo.

– Que droga... Mas você conseguiu reconhecer a garota?

– Tenho certeza que era alguém da minha série, mas ela fez alguma coisa na voz para que eu não reconhecesse. Sem falar que estava muito escuro.

– Hum...

– Mas e você? Me conte alguma coisa. – dei um leve tapa no joelho dele.

– Eu vou terminar com a Mari. – Tristan respondeu com toda naturalidade do mundo, como se estivesse contando o que havia comido no almoço.

O quê? – aquilo tinha me pego de surpresa.

– Isso aí.

– Por quê?

– Não sei, não tá dando muito certo.

– Você tem certeza de que quer fazer isso? – qual é, eu não gostava da Marina, mas me sentiria muito culpada se ela ficasse mal daquele jeito outra vez.

– Tenho sim.

– Bom, então tudo bem...

– Só não conta pra ninguém sobre isso. Eu só to contando pra você.

– Claro.

Apoiei minha cabeça no ombro dele e senti uma pontada no meu coração.

– Eu sinto sua falta, Tristan.

– Eu sei.

– Você não sente a minha?

– Claro que sinto.

– É que eu andei te evitando por causa da Marina...

– Relaxa, Emi, eu sei.

– Então... Será que você pode passar a tarde comigo aqui na escola, sexta? Como nos velhos tempos?

– Acho que não vai dar.

– Por quê?

– Porque tenho compromisso sexta.

– Ah, tudo bem então. – achei que fosse chorar, mas fui forte. Eu o recuperaria aos poucos.

Então, a sexta-feira chegou.

Eu fiquei na escola até mais tarde para terminar o trabalho que envolvia todas as matérias e estava indo embora da escola com Yuji, quando encontrei Tristan e Carol na saída.

– Ah, oi. – cumprimentei, confusa.

– Oi Emilia! – Tristan se levantou e me abraçou – Eu terminei com a Marina.

– Ah, legal... Achei que você não fosse ficar na escola hoje.

– É, eu não ia, mas agora eu vou. Fica também.

– Ah, ok...

Sentei no banco que ficava na saída e fiz com que Yuji se sentasse também. Tristan se sentou ao lado de Carol, que começou a rir e mordê-lo. Eu observei a cena. Minutos e mais minutos se passaram enquanto Tristan se divertia com ela e eu observava tudo do banco.

– Você tá bem? – Yuji perguntou.

– Não, Yuji, eu não tô nada bem!

– Quer que eu te leve até em casa?

Assenti e me levantei rapidamente e comecei a sair da escola o mais rápido possível. Yuji se levantou e correu atrás de mim.

– Ei, Emilia, espera! – ouvi Tristan falando, mas não olhei pra trás.

Quando cheguei na esquina do quarteirão da escola, sentei no chão e comecei a chorar. Yuji me alcançou e me acalmou.

– Eu finalmente achei que as coisas iam ficar bem de novo, Yuji!

– Eu sei, eu sei, relaxa. Emilia, você precisa realmente parar de gostar desse cara. Olha o mal que tá te fazendo.

– Acha que eu não sei? Não é fácil.

Não falei com Tristan por todo o fim de semana. Na segunda de manhã, ele estava parado ao lado da porta da minha sala quando cheguei.

– Emilia, fala comigo.

– Não.

– O que foi que eu fiz?

– Você ainda pergunta?

– Emilia, por favor!

– Tá bom, Tristan, eu falo o que você fez. Você mentiu pra mim. Disse que não ia ficar aqui sexta.

– É, houve uma mudança de planos. Mas eu te chamei pra ficar com a gente.

– Como se eu fosse ficar aqui pra ver você se pegando com a Carol.

– Não entendo.

– Tristan, você sabe que eu gosto de você, você sabe que eu tenho ciúmes, então por que faz essas coisas?

Ele respirou fundo.

– Tem razão. Eu fui um idiota, desculpa.

– Desculpo, claro. De novo. Eu to sempre te desculpando, sempre! Que saco! – eu estava quase gritando.

– É que eu ando meio estressado.

– Posso saber por que?

– É que eu tenho uma coisa pra fazer hoje e to com um mau pressentimento.

– O quê?

– Hum... Nada importante.

– Tristan. – bati o pé no chão.

– O quê?

– Eu já te disse pra não falar que vai fazer uma coisa se não for me falar o que é, por que eu fico preocupada!

– Tudo bem, tudo bem, relaxa. Não faço mais isso.

– Não vai mesmo me falar o que é?

E, como isso sempre acontece no pior momento possível, o sinal tocou.

– Tenho que ir. – ele me deu um beijo na bochecha e subiu para o andar dele, deixando-me sem a resposta.

Revirei os olhos e entrei na sala.

Na terça-feira, teríamos a última aula de teatro antes da peça - é, o ano letivo estava acabando - e todos estávamos preocupados em terminarmos as camisetas dos nossos figurinos.

Antes da aula, eu ajudei várias pessoas com os figurinos delas, enquanto Tristan me trocava pela Carol, que aparentemente havia virado o novo centro da tenção dele. Ela era uma garota bem nojentinha, a Carol. Estava sempre com o cabelo liso, e a franja cobria metade do rosto de um jeito emo e bizarro. Seus lábios eram finos demais, ela usava muito lápis de olho e tudo que tinha era rosa.

Enquanto eu me distraía, estava tudo bem, mas a partir do momento em que todos subiram para o teatro e ele resolveu ficar um pouco lá na escada com ela, eu desabei.

A primeira a perceber que eu estava chorando foi Natasha. Sim, Natasha, a garota meio ruiva e de olhos lindos que eu odiava meses atrás por passar tempo demais com Tristan.

– Emilia, o que aconteceu? – perguntou com seu sotaque do Rio.

– Nada. – enxuguei minhas lágrimas.

– É por causa do Tristan com a Carol, né? – ela pareceu ler minha mente. Eu assenti – É, eu também não to gostando nada disso.

Estava prestes a perguntar o que ela quis dizer com isso, quando nosso professor entrou. Fiquei sentada num canto, chorando, até Tristan entrar no teatro. Assim que ele reparou minha situação, veio até mim.

– O que foi agora, Emi?

– Nada.

– Como nada? Você tá chorando! Eu fiz alguma coisa?

– Não.

– Então o que foi? Por que você não me conta?

– É que... Você não fala mais comigo, Tristan! – menti. Eu não podia comentar nada sobre Carol - Você nem se preocupa mais quando eu to triste!

– Claro que me preocupo! Eu vim aqui falar com você!

– Tá, tá, bom, eu acredito. – desisti e abracei-o. Não me importava com o quão irritada e preocupada eu estava, ainda queria o abraço dele – Posso te perguntar uma coisa?

– Pode.

Respirei fundo. Era hora de acabar com as minhas suspeitas.

– Você tá a fim da Carol?

– Não.

– Mesmo? Olha, você não precisa esconder de mim só pra não me magoar...

– É sério. Por que você acha isso?

– Por nada. – respirei fundo e enxuguei minhas lágrimas – Vamos pra aula, ok?

– Ok.

Naquela noite, eu tive um pesadelo. Não foi bem um pesadelo, foi mais uma série de visões, mas quando acordei, tinha uma certeza: Tristan iria ficar com a Carol.

A peça foi um sucesso, graças a Deus.

No dia da estréia, eu acabei decidindo fazer as pazes com Carla. Cada uma explicou o seu lado. Ah, se eu soubesse que ela estava passando pela transformação na época em que brigamos, eu teria sido muito mais compreensível. Carla acabou me contando que estava a fim do Rique, mas estava com medo por que, além de ele ser o melhor amigo do irmão dela, ela não tinha certeza se a Vitória o havia superado. Acabei dando uma ajudinha para ela.

Na ultima aula de teatro, só eu, Tristan, Carla e Rique fomos, por causa da semana de provas que começava no dia seguinte. Tristan passou a aula toda deitado no meu colo, enquanto eu passava a mão no cabelo dele. Foi a mesma coisa com Rique e Carla. Estava tudo perfeito demais para continuar durando.

Durante o almoço de quarta-feira, eu e Carla fomos ao shopping.

– Você acha que o seu irmão voltaria com a Mari? – perguntei.

– Acho que não. Ele não gosta mais dela.

– Hum... Você acha que ele tá gostando de alguém?

– Sei lá, talvez da Carol.

– Eu também achava isso, mas ele me disse que não gosta.

– Bom, ele pediu pra ficar com ela.

Ele o que? ­– meu estômago deu uma leve embrulhada.

– É, ele pediu pra ficar com ela.

– Caramba, ele mentiu pra mim? – exclamei.

– Pois é... – ela não olhava para mim e fingia estar distraída procurando doces em um balcão.

– Não acredito que ele não me contou! Ele sabe o quanto eu odeio que mintam pra mim!

– Ele não contou nem pra mim! E eu sou a irmã dele!

– E como você soube?

– Ah, ela me contou, né?

– E o que ela respondeu?

– “Não”.

Voltamos para a escola e nos sentamos na escada. Dez minutos depois, Tristan desceu e veio me cumprimentar, mas eu nem olhei para ele.

– Tá tudo bem?

– Tá.

– Não, não tá. O que aconteceu?

Eu já estava chorando.

– Você mentiu pra mim, Tristan! De novo!

Ele suspirou, cansado.

– Ah, tá, e sobre o que eu menti dessa vez?

– Você disse que não gostava da Carol.

– Eu... Não gosto. – pude ver que ele hesitou.

– Então por que pediu pra ficar com ela?

– Eu não pedi!

– Pediu sim!

– Por que você não acredita em mim?

– Porque todos os fatos apontam contra você!

– É, mas eu to falando a verdade. E se você é minha amiga, devia confiar em mim.

Não argumentei mais. Não valia à pena discutir com alguém como Tristan.


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