Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 17
Solidão




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Minha volta à escola foi mais estranha do que eu esperava. Ninguém parecia saber o que tinha acontecido comigo. Aparentemente meu pai, Tristan e Rique haviam dito a todos que eu havia passado mal e ido pro hospital. Era melhor assim, ninguém precisava saber o quão fraca eu era.

Mas eu não era a mesma. Ali, cercada de pessoas, parecia que eu me sentia ainda pior do que sozinha em casa. Isso me fez pensar na teoria de precisar de almas humanas pra me sentir bem, mas logo tirei isso da cabeça. Qual é, eu podia estar mal, mas não ia sair por aí sugando almas de vítimas inocentes. Eu nem sabia ao certo como fazer isso.

Como se já não bastasse, minhas amigas começaram a se afastar ainda mais de mim. Eu não falava com Carla desde a nossa briga, Mia tinha parado de andar com a gente de vez e Bel e Thaís vinham me excluindo. Não que eu as culpasse, afinal eu andava com uma nuvem de tristeza sobre a minha cabeça e estava evitando contato pra não matá-las por acidente.

E então vinham meus amigos espectros. O Rique andava meio que se isolando do mundo ultimamente e eu não sabia se era porque a Vitória tinha terminado com ele ou se era porque ele ainda não havia aceitado nossos laços familiares. Comecei a refletir sobre como era irônico eu ter gostado dele... Se tivesse dado certo, eu estaria namorando meu meio-irmão e provavelmente seria eu terminando com ele no lugar da Vitória.

Quanto a Tristan, ele só tinha tempo para a Marina. Era Marina no teatro, Marina depois do almoço, Marina antes da aula, Marina, Marina, Marina. Por isso, comecei a evitá-lo para não ter que vê-los juntos, e ele não correu atrás. Eu não falava com ele desde a reunião com o Chris.

E finalmente chegou a última semana de aula antes da excursão da escola. Iríamos para Paraty. Como eu ia ficar no mesmo quarto que Mia e Bel, resolvi acertar as coisas com as duas lá mesmo.

Foi na quinta-feira antes da viagem que resolvi passar no QG dos espectros pra ver se Chris tinha descoberto alguma coisa sobre minha condição não-natural.

– Não, não consegui chegar à conclusão de quem possa ter roubado sua alma, mas descobri uma coisa. – disse ele – Tem que ter sido alguém próximo a você, por que você tira a alma de uma pessoa do mesmo jeito que mata um humano.

– Quer dizer que pode ter sido alguém da minha turma?

– Sim.

– Ótimo, tenho quatro dias de viagem pra descobri quem foi.

– Boa sorte. E boa viagem.

– Valeu, Chris.

– Paz e bem.

Saí da sala dele e encostei a porta cuidadosamente. Soltei um longo suspiro. Essa viagem daria um trabalho danado.

– Oi, eu não esperava ver você aqui.

Meu coração deu um pulo ao ouvir a voz de Tristan. Ele estava sentado em um dos sofás, olhando pra mim.

– Tinha assuntos a resolver. – respondi friamente. Se ele não queria falar comigo, não ia tratá-lo com todo o carinho do mundo.

– Ah, interessante. Vocês viajam segunda, né?

– É. – continuei andando, tentando ignorá-lo.

– Eu sinto sua falta. – parei pouco antes de chegar na porta, assim que ele disse isso.

– Você pode passar um tempo comigo quando quiser.

– Ora, você também.

– Você sabe que não é tão simples.

– É sim, você que fica complicando.

– Bom, Tristan, desculpa, mas eu não sou obrigada a ficar vendo você e a Marina. Se isso é motivo pra você parar de falar comigo, então tchau.

– Eu não parei de falar com você por isso. Eu... Achei que você precisava de um tempo sozinha depois de todo aquele lance sobre a sua alma, etc.

– É, mas eu não precisava. Eu precisava do meu melhor amigo lá, comigo, mas ele estava muito ocupado com a nova namorada pra se importar.

– Desculpa. Mas, olha, Emilia, eu prometo mudar se você me der uma chance.

– Como assim?

– Fica lá na escola amanhã à tarde e eu provo que posso mudar.

Respirei fundo.

– Tudo bem.

A sensação de levar um bolo porque o cara que você ama está com outra é terrível, devastadora. É ridículo e humilhante, mesmo você sendo a única com conhecimento do que está acontecendo.

Pelo menos na biblioteca, ninguém vai te dizer "Querida, acho que ele não vem.". Você está sozinha nessa.

Você vê as sombras de passos por baixo da porta e espera que seja ele, mas tem certeza de que não é. Ele tem coisas mais importantes para fazer do que passar um tempo com você, mesmo sabendo que vocês não vão se falar por uma semana e já não se veem há duas.

Ele não te ama.

Podia ter te ligado, te procurado, ao menos respondido ou lido suas mensagens, mas não o fez.

Ele não liga pra você.

Afinal, quem ligaria? Até mesmo você preferiria passar horas se pegando com alguém do que tendo conversas chatas na biblioteca. Mas, para você, nenhuma conversa com ele é chata.

Tudo que quer é ir pra casa, chorar, talvez tentar se matar de novo. Mas você está presa nessa escola cheia de desconhecidos. Sozinha.

E então ele aparece. Com a namorada.

O resto da tarde com aquele casalzinho feliz foi um saco. O Tristan da noite anterior, fazendo promessas e parecendo arrependido, simplesmente desapareceu e foi substituído pelo Tristan “não estou nem aí para o sofrimento da Emilia e vou fingir que não sei que ela é a fim de mim”.

Então, tomei uma decisão: eu iria parar de me importar com ele e me concentrar em recuperar a minha alma o quanto antes.


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