Hunter escrita por Jiinga


Capítulo 10
Respostas


Notas iniciais do capítulo

Pra quem estava esperando mais ação e um pouquinho de plot twist, aqui vai...



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Mas ele não voltou a ser como antes. Só continuou a ser o Tristan grosso, estranho e distante, como se aquela conversa nunca houvesse existido. Eu já estava ficando seriamente estressada com esse ciclo infinito de amor e ódio. Simplesmente tive que aceitar o fato de que o Tristan que eu conhecia e amava não existia mais.

Então, numa bela segunda-feira fria e chuvosa, cheguei na escola ensopada e fui direto para minha sala. Quando cheguei lá, deparei-me com Bel e Thaís conversando. Thaís estava chorando.

– O que aconteceu? – perguntei.

– Eu... Eu vou mudar de escola, Emi! – exclamou Thaís, em prantos.

Droga. Senti o chão sumir embaixo dos meus pés. Isso simplesmente não podia estar acontecendo!

Como assim? – quase gritei.

– As minhas notas estão muito baixas. Então, mesmo que eu passe de ano, minha mãe quer que eu vá para uma escola mais fraca. – ela enxugou as lágrimas, mas novas se formaram – Você conhece a minha mãe, ela não vai mudar de ideia.

– Ah, Thaís! – abracei-a e comecei a chorar também.

Era isso, meu mundo estava desabando. Caindo pedaço por pedaço. Meu melhor amigo não falava mais comigo. Minhas melhores amigas não queriam ou não podiam mais me ter por perto. Nem sequer poderia contar essas coisas para a minha família, eles não entenderiam.

Durante a minha vida, tive vários momentos difíceis. Vários mesmos. Daqueles que você acha que não tem mais saída. Mas nunca havia me sentido desse jeito. Sem ter com quem contar, sozinha. Aquele vazio que queimava no meu peito. Eu faria absolutamente qualquer coisa para acabar com aquilo.

Então, quando cheguei em casa naquele dia, com o vazio no peito e lágrimas nos olhos, larguei minha mochila no chão, encostei a porta do meu quarto e resolvi fazer algo que nunca havia passado pela minha mente. Caminhei receosa até a cozinha e peguei uma faca aparentemente afiada na gaveta. Voltei para o meu quarto.

Sentada na minha casa e com a faca na mão direita, encarei meu pulso esquerdo. Era pálido e eu podia ver as veias.

Pela Thaís.

Um corte.

Não foi fundo o suficiente. Apenas uma marquinha vermelha que sumiria quando eu acordasse no dia seguinte.

Pelo Tristan ter ido embora.

Outro corte.

Esse já foi mais fundo. Um pontinho de sangue apareceu, nada grave.

Por ter sido magoada.

Mais um corte igual ao primeiro.

Por ter sido enganada.

Outro.

Por ter perdido meu melhor amigo.

Droga. Esse realmente doeu.

Larguei a faca no chão. Havia um pequeno filete de sangue no meu braço, eu havia cortado um pouco da pele. Estava ardendo.

Minhas mãos tremiam. Eu... Não estava mais certa se era isso que eu queria.

Então, as lembranças vieram à minha mente. Thaís, Tristan, Bel...

Peguei a faca no chão.

Um último corte, com confiança, e estaria tudo acabado.

Então, bateram na porta do meu quarto.

– Emilia? Temos um espectro para matar. Vamos nessa. – disse meu pai.

Assustada, escondi a faca em uma gaveta.

– Ok, ok, já vou.

Coloquei uma jaqueta por cima do uniforme com mangas suficientemente compridas para esconder meus cortes, afinal, não era algo que meu pai aprovaria. Hoje o maldito espectro não escaparia. Não com a raiva com que eu estava.

O espectro era o das luvas de couro e não estava longe de onde o encontrei da última vez, no parque. Quando o vi, ele estava de costas, então envolvi seu pescoço com meu braço e apontei a pistola para seu coração. Como consegui fazer isso tão rápido, não sei. Talvez ele estivesse fraco ou algo do tipo.

– Você não escapa hoje.

Esqueci que espectros são extremamente fortes. Ele pegou meu braço e me arremessou no ar. Doeu.

Sentei meio tonta e chequei se não havia nada quebrado. Droga, onde estava a minha família?

A resposta veio como se a pergunta tivesse sido ouvida.

Meu pai chegou com o carro em alta velocidade e atropelou o espectro, que veio parar do meu lado. Ele estava prestes a levantar e ir embora, mas eu segurei sua mão.

– Você não vai embora assim!

Infelizmente, o espectro foi mais rápido e se esquivou de mim, depois pulou na água do lago e desapareceu. Tudo que sobrou foi uma luva de couro preta na minha mão.

Estressada, tirei minha jaqueta e entrei no carro.

– Meu Deus, o espectro fez isso? – perguntou meu avô ao ver meu pulso.

Fiquei assustada. Tinha esquecido completamente do corte.

– Er... É. Deve ter sido quando eu caí. Nem tinha percebido.

Estava um calor do inferno na manhã seguinte, mas eu fui obrigada a ir na escola de casaco devido aos cortes. Graças a Deus ninguém comentou nada.

Era plena sexta-feira, o único dia da semana em que eu não tinha nada para fazer a tarde e isso me tranqüilizava um pouco. Se bem que seria muito melhor passar a tarde com Tristan, como eu costumava fazer antes de ele me deixar.

Quando me vi sozinha no pátio, tirei minha jaqueta. Infelizmente, eu não estava completamente sozinha.

– Oi, Emilia.

Olhei para cima das escadas e vi Rique. Ele estava parado em pé, de casaco e com as mãos nos bolsos.

– Ah, oi, Rique.

– Tá se sentindo melhor? – ele desceu e se sentou no degrau de cima, ao meu lado.

– Não.

– Ah, meu Deus, o que você fez no seu pulso?

– Nada. – resmunguei, cruzando os braços.

– Emilia...

– Eu me cortei tá legal? Por que eu tô cansada dessa vida. Mas pelo jeito me matar eu consigo. Eu sou mesmo patética.

– Que droga, viu? Deixa eu ver.

Rique tirou a mão direita do bolso e estendeu para o meu braço. Ele não estava usando a luva. De repente, pareceu perceber isso e colocou a mão de volta no bolso, depois com a outra mão, pegou meu pulso.

Olhei confusa para ele.

E foi então que percebi.

O mistério.

As luvas.

A mão.

Senti a luva quente do espectro no meu bolso e olhei novamente para a luva de Rique. Elas eram exatamente iguais.

Dei um grito e fiquei em pé, aterrorizada. Ele percebeu que eu havia entendido tudo.

– Emilia, eu posso explicar! – Rique ficou em pé e ergueu os braços. A luva que faltava era a mesma que eu havia arrancado do espectro.

– Você... Você...!

– Fica calma! – deu um passo na minha direção.

– Fica longe de mim! – gritei, como naqueles filmes de terror. Eu estava em pânico. Tudo que consegui foi sair correndo. Corri para longe, para o quarto andar e sentei na escada, tremendo e prestes a chorar.

Isso não podia estar acontecendo! Rique era um espectro? O espectro que eu estava tentando matar? Desde quando? Não, não fazia o menor sentido! Espectros são criaturas do mal, terríveis, que só pensam em roubar a alma de pessoas inocentes e o Rique era... Bom, era um doce de pessoa.

– Emilia?

Deparei-me com Tristan subindo a escada lentamente.

– Tristan! – exclamei, em prantos. Ele sentou-se na escada ao meu lado e eu o abracei – O Rique! Ele é um... Um...

– Espectro, eu sei.

Afastei-me dele.

– Você sabe?

– Sim.

– E por que não me contou? Como você pôde?

– O que teria acontecido se eu tivesse te contado, hein? Você iria matá-lo?

– Eu... – hesitei - Não sei.

– Então.

– Tristan, eu tô assustada! - ele não disse nada - Tristan, chega! O que está acontecendo? Quando é que você vai me contar, porra? E não me venha com essa de que “não está acontecendo nada” por que eu sei e você sabe que está sim.

– Emilia...

– Me diz, Tristan! Por que você não sequer me olha mais nos olhos?

Ele respirou fundo e engoliu em seco. Pude sentir que sua resposta seria forte antes mesmo de ele abrir a boca.

– Por que se eu fizer isso, você morre.

Eu travei por um segundo. Então minha ficha caiu.

– Você...?

– Sim.

Fiquei em pé, mais assustada e confusa do que já estava.

– Não!

– Sinto muito.

Não! – gritei e desci as escadas correndo. Precisava ir embora daquela escola naquele exato momento.


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