Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP escrita por Matheus Henrique Martins
– Então, quem é a garota? – perguntando a Lucas, jogando uma batata frita na cabeça dele.
Estamos na Praça de Alimentação do Vally-Mall-Shopping-Wood, o shopping mais frequentado da região de Vallywood. Lucas tinha se recusado a vir comigo, reclamando do cansaço de ter que ajudar a montar uma arvore de natal, porém, diga a seu amigo que você vai pagar tudo e, voiiiiiiila, ele fará tudo o que você quiser.
Depois de rodarmos o shopping inteiro, consegui achar uma toca de Natal decente e ele, lógico, conseguiu uma mesa na Praça com um ângulo perfeito para ficar olhando para os peitos das Ajudantes do Papai Noel.
– Não sei – ele responde me atirando uma batata de volta. – Ainda não fui pedir o numero dela.
Sigo seu olhar e vejo que ele esta falando de uma das ajudantes do Papai Noel, uma loira com tranças que pendem até o meio das costas.
– Não dela – atiro outra batata frita na cabeça dele. – Estou falando da tal garota que você vem conversando online.
Sua expressão é de quem entende por um momento, mas então ele desvia o olhar e coça a parte de trás da orelha, um pouco nervoso.
– Sim, o que tem ela? – questiona.
Faço uma cara de paisagem.
– Lucas.
– Quê?
– Você esta fazendo aquilo de novo.
– Aquilo o que?
– Se esquivando do assunto – jogo outra batata, mas dessa vez ele agarra e come.
– Foi mal, foi mal – ele suspira e recosta na cadeira. – É que eu não quero falar dela, só isso.
– Por quê?
Ele me avalia com o olhar cautelosamente enquanto pensa se deve responder.
– Ok, eu desisto – ele me encara nos olhos. – Eu acho que estou a fim de outra garota.
Fico um pouco chocado enquanto absorvo essa, mas faço o máximo para não parecer assim. Se ele souber que estou surpreso, vai ficar com vergonha e não vai querer contar mais nada.
– Ok – balanço a cabeça. – Isso é novo.
– Novo? – ele dá uma risada nervosa. – Rafa, eu estou falando que desisti da garota que eu estava louco por mais de uma semana e você diz: Novo?
– Desculpa – pelo visto não é a melhor coisa bancar o não chocado. – Minha mente está meio cheia.
Ele me avalia com o olhar.
– Eu quem diga – ele sorri.
Eu o encaro de volta.
– Aonde quer chegar?
Ele cruza os braços.
– Você esta pensando no beijo do Henrique.
Não foi uma pergunta e logo estou engasgando e tossindo para controlar minha respiração. Olho para o rosto de Lucas vitorioso. É, talvez ele não tenha sido tão bobo quanto o resto dos outros mais cedo.
– Não, não estou – tento fazer um tom firme, mas minha voz some no final.
– Rafa, não precisa negar, tá legal, eu entendo – ele faz um gesto vago com as mãos. – Você está se sentindo culpado por ter beijado o Henrique.
Faço que sim com a cabeça, realizando agora que isso é uma meia verdade. Na verdade estou me sentindo culpado porque quis retribuir, mas Lucas não precisa saber disso, precisa?
– Mas olha a situação – ele se endireita na cadeira. – Vocês estavam sob o visco. E foi ele quem avançou em você, lembra?
Fico surpreso com a leveza do tom de Lucas ao dizer aquelas palavras.
– E isso não me faz culpado? – questiono.
– Não se você não gostou – ele diz e meu estomago revira. – Mas olha, se você gosta mesmo do Rael, aposto que esse beijo não foi nada.
Engulo uma batata para me impedir de engolir em seco. O que Lucas diria disso tudo se soubesse que eu e Rael estamos brigando por culpa do garoto que meu deu um ‘beijo de nada’?
– Claro – pigarreio. – Mas enfim, viemos falar de você, não?
Ele fecha a cara.
– Não tem nada para dizer.
– Não mesmo, só um nome – zombo. – Olha, por que não fazemos assim, eu digo o número de letras do nome da garota e você me diz se tem a mesma quantidade.
Ele hesita por um segundo, mas então faz que sim meio encabulado.
– Ok.
– Uma letra.
– Ah, claro, até porque eu me apaixonei por alguém chamado “A” ou “B”, certo?
– Era só pra começar o jogo, idiota – reviro os olhos. – Duas letras.
Ele apenas começa a roer a unha, entediado.
– Ok, três letras.
– É um nome de Alien, é isso – ele zomba, bem humorado.
Suspiro e continuo:
– Quatro letras.
Lucas pensa em algo engraçado para dizer, mas então sua testa fica franzida e ele morde o lábio inferior.
– Depende – ele engole em seco.
– Depende do que? – questiono.
– Conta se for apelido?
Estou prestes a dizer algo, mas então duas silhuetas entrando na praça de alimentação fazem com que minha boca fique seca. Lucas segue meu olhar por um momento.
– Oh – ele franze a testa mais ainda. – Olha só, o casal do ano.
Não falo nada enquanto encaro Henrique e Taffara procurando uma mesa de mãos dadas. Ela sorri para ele e se senta primeiro, jogando sua bolsa de lado. Henrique esta prestes a fazer isso, até que nota meu olhar e seus olhos aumentam de tamanho.
Fico rubro e tento desviar o olhar. Porém, Lucas acena para ele e me cutuca.
– Que coincidência louca, não é?
Não respondo e jogo outra batata frita dentro da boca, tentando fazer cara de paisagem. Quando olho Henrique de novo ele ainda esta me encarando e acena com um sorriso. Apenas balanço a cabeça.
– Muita coincidência – solto vagamente enquanto vou perdendo a fome e a vontade de falar.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!