Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP escrita por Matheus Henrique Martins


Capítulo 13
Dramas Natalinos




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Decidi voltar a pé do Pizza Hut até a minha casa. Não só para queimar as calorias do queijo vagabundo, mas também porque eu não suportaria entrar no mesmo carro que Taffara e Henrique de novo. Não só pelo fato de eles ficarem estranhos por causa do casal Johnson, mas porque eu não ia suportar vê-los se beijando.

Andando na calçada, tento dizer a mim mesmo que não é por causa de Henrique e sim por qualquer outro motivo. Eu não gosto do Henrique. Ao menos, não posso gostar, posso?

Escuto um som estranho vindo de algum lugar da rua e me viro. O sol esta no fim no horizonte, mas sua luz ainda consegue iluminar tudo.

Vejo alguém se agachar perto de uma arvore. Ele tem cabelo escuro e olhos mais escuros ainda. Parece ofegar alto e, quando me nota, franze o cenho para mim.

– O que esta olhando, pateta?

Franzo o cenho de volta.

– Não sou pateta – sibilo. – Você esta legal? Parece estar fugindo de algo.

– Eu estou – seu tom é irônico e ele olha por sobre o ombro. – Literalmente.

Hesito um pouco.

– Você não é um foragido da policia, é?

Ele se vira e me lança um olhar de desdém.

– Sou. Pode, por favor, chamar a policia? Estou louco para vestir um uniforme laranja e comer comida ruim para sempre – seu tom é carregado de ironia.

– Como sabe que a comida de lá é ruim?

Ele revira os olhos para mim e se levanta. Me olha por um momento e franze os lábios, parecendo decidir o que fazer. Encaro-o de volta, de jeito interrogativo e ele passa a mão no queixo, apreensivo.

– Você mora perto? – ele questiona.

Vou um pouco para trás.

– Talvez – aperto os olhos, desconfiado.

Ele suspira.

– Não fique preocupado, não vou te assaltar, Caubói – ele olha por sobre o ombro de novo. – Só queria que me fizesse um favor, se não for pedir muito.

Dou de ombros.

– Envolve vestir um gorro e entregar presentes pela chaminé? – questiono.

– Hahahaha – ele ri sem nenhum humor.

– Na verdade, é ho-ho.

Ele me ignora e começa a tirar a jaqueta preta. Arregalo os olhos enquanto ele vai tirando a camiseta, também, preta, abruptamente.

– Por que diabos esta tirando a roupa? – exclamo, não me contendo em avaliar seu abdome.

Ele me olha de volta.

– Porque você vai tirar também.

– Quê? – guincho.

– Tem como parar de gritar? – ele pede. – E não é nada disso que você esta pensando. Preciso das suas roupas para despistar alguém.

Interrogo-o com o olhar.

– Então você é mesmo foragido?

– Tira logo essa roupa! – ele exige.

Suspiro, pensando que vou me arrepender disso, mas então tiro minha camiseta, timidamente. Depois mais rapidamente a calça, arrancando o resto dela com as pernas.

Enquanto ele me passa as roupas dele, me avalia com o olhar.

– Magricela – ele murmura.

Eu ergo o olhar.

– Vai falar que fazer academia é saudável? – aponto para o seu abdome lindo. – Esse corte no baço faz parte do processo?

Ele olha a ferida e depois para mim.

– Não consegui isso na academia – ele começa a pegar minhas roupas.

– Conseguiu aonde então?

Ele não responde e termina de se arrumar.

– Muito obrigado, caubói – ele alisa a camiseta que fica apertada. – Comer faz bem, sabia?

Reviro os olhos e pego sua jaqueta preta. Ele tira da minha mão com uma velocidade sinistra.

– Minha jaqueta não – ele franze o cenho e se afasta.

– Ei – grito quando ele vira as costas. – Não vai me dizer seu nome?

Ele me olha de jeito interrogativo.

– Como se eu fosse te ver de novo, Caubói – ele solta essa e se vai, correndo com minha calça skinny.

Confuso e arrebatado, olho as roupas legais do estranho obcecado pela própria jaqueta e penso que seu gosto para roupas não é tão ruim.

E com isso volto a andar para casa.

* * *

Chego à rua da minha casa e estou prestes a correr feito louco para a porta. Porém, uma silhueta sentada no meu jardim me surpreende.

– Vick? – ando até ela sobre a grama. – Você esta bem? – ela esta chorando e abraçando a si mesma no chão.

– Não – ela funga, os olhos avermelhados. – Não estou nada bem.

Afago seu rosto e limpo uma lágrima que avançava o caminho até o queixo.

– Conta o que foi – peço, solidário. – Eu posso ajudar.

Ela ri sem nenhum humor.

– Só se você aceitar em seduzir meu pai!

Franzo o cenho.

– Hein?

– Ah, graças a Deus!

Lucas se junta a nós, o celular nas mãos.

– Eu recebi sua mensagem – Lucas fala com Vick e senta ao seu lado. – Sinto muito.

– Sinto muito pelo que? – questiono e olho Vick. – O que aconteceu?

– O pai dela arranjou uma namorada – Lucas desabafa.

Dou de ombros.

– E o que isso tem de mais?

Vick para de chorar e me encara.

– O que tem de mais?! – ela repete.

Franzo o cenho e Lucas se levanta. Sigo-o com o olhar e ele acena para eu segui-lo.

– Então – cruzo os braços para ele. – O que esta acontecendo?

Ele abre a boca para me responder, mas então me avalia.

– Que roupas são essas?

Olho para elas e tento parecer o mais natural possível.

– São do Rael – desabafo. – Continue, por favor.

– O pai dela arrumou uma namorada.

– Isso eu ouvi, só não entendi o que tem demais nisso.

Lucas toma folego, como faz sempre que quer contar algo forte. Me preparo para o pior.

– Acontece que era um namoro recente, sabe. Ele conheceu ela a uns dois meses no...

– Lucas, vai direto ao ponto.

– Tudo bem. Acontece que ela engravidou.

Sinto meus olhos se arregalarem.

– E Vick não ficou sabendo da boca de um dos dois, apenas ouviu a conversa, o que é pior.

– Meu Deus – respiro fundo. – Espera, e isso é tão ruim?

– Não, o bebê é uma maravilha, ela esta muito feliz – ele sorri um pouco. – Mas a madrasta é uma total vadia, se é que me entende.

– Ih, rapaz – faço uma careta. – Me deixa adivinhar, trai o pai dela?

– Quem dera fosse isso. Ela é uma vadia com a Vick. Gosta de ficar soltando comentários venenosos pra ela e fica fazendo a cabeça do pai sempre que tem uma oportunidade.

– Que vaca – arfo.

– Pois é. Vick esta feliz por ganhar um irmãozinho novo. Porém, isso significa que a madrasta esta ligada ao pai e ela – Lucas faz um drama antes de continuar. – Pelo resto da vida.

Levo minha mão à boca, imaginando o horror que Vick deve estar passando com toda a certeza.

– Coitada da Vick – passo a mão no rosto. – Nem consigo imaginar pelo que ela esta passando.

– Nem eu – Lucas assenti.

– Pelo menos ela tem a nós pra passar por isso tudo – desabafo.

– Tem mesmo – ele assenti. – Tem a mim, com toda certeza.

Algo na frase intensa dele me deixa confuso e olho seu rosto. Ele tem um olhar estranho e abobado.

– Só não sei se ter a mim é o suficiente para ela – ele continua.

E então os fios na minha cabeça se ligam abruptamente. A expressão sincera de que sente muito por ela. O fato de saber toda a história de Vick e a madrasta antes de mim. Como fica tímido quando ela o elogia. Quatro letras.

Tudo se encaixa.

– Vick – sussurro.

Lucas me olha surpreso.

– O que tem ela?

Eu o fito com o olhar.

– Vick – eu digo de novo, segurando ele pelo ombro.

Ele faz careta para mim.

– O que tem ela, Rafa?

– Quatro letras – ergo minha mão como gesto. – Vick.

Ele enrubesce e abaixa minhas mãos. Depois olha por sobre o ombro.

– É a Vick – sussurro para ele. – Ela é a garota que esta fazendo você se sentir indeciso pela Rita, não é?

Seus olhos estão arregalados e ele não parece saber o que dizer.

– Confessa – eu aponto o dedo na cara dele. – É a Vick, pode dizer.

– Tudo bem – ele confessa, suspira e me olha nos olhos. – É a Vick. Sempre foi.

– Sempre foi? – questiono. – Desde quando?

– Desde a sexta série – ele responde como se estivesse orando. – E tem sido desde então.

– Desde a sexta série você vem guardando isso em segredo?

– Sim.

– Por quê?

Ele me olha de um jeito sério.

– Porque eu não apenas gosto dela. Eu a amo.

Fico embasbacado.

– E como eu amo a Vick – seu sussurro é de aço. – Fica mais difícil ainda.

– O que fica difícil?

– A rejeição – ele me olha de modo murcho. – Eu não quero ser rejeitado. Não quero que ela me odeie. Não quero perder a amizade dela.

Balanço a cabeça.

– Mas Lucas, se você tem sentimentos tão fortes, isso não é amizade, é amor.

Seus olhos brilham.

– Eu sei, Rafa – ele toca meu braço. – Eu sei disso.


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