Silver Snow ESPECIAL DE NATAL DO TAP escrita por Matheus Henrique Martins
Às duas da tarde em ponto, o carro de Henrique estaciona em uma vaga livre do Pizza Hut. Já na frente do local, vemos crianças correndo para lá e para cá, rindo e brincando nos escorregadores. Parecem felizes enquanto se lambuzam e brincam ao mesmo tempo. Todas devem estar felizes.
Mais felizes que eu.
Taffara, Henrique e eu saímos do carro ao mesmo tempo. Eles saem pelas portas da frente, eu saio pela detrás do carro. Andamos juntos até a entrada da loja. Eles de mãos dadas. Eu com as mãos dentro do bolso.
Enquanto esperamos o alguma mesa ficar disponível, Taffara e Henrique estão brincando de morder o pescoço um do outro. Isso seria fofo, se não fosse desconfortável. Ela grita quando ele morde sua clavícula e isso chama a atenção de várias pessoas no local.
Tento parecer natural. Não preciso me importar com isso. É só um casal, se beijando apaixonadamente. Não tem que ter problema nenhum para mim.
A não ser, claro, que eu já toquei os lábios de um deles.
Quando finalmente encontramos uma mesa livre, Taffara vai na frente e Henrique se vira para mim.
– Cara, muito obrigado mesmo por estar aqui – seu olhar é sincero e brilhante.
– Esta tudo bem – esfrego as mãos, extasiado. – Eu amo Pizza, mesmo sendo de queijo vagabundo.
Ele ri e me empurra de brincadeira.
– Ei, não diga isso antes de provar!
Eu o empurro de volta.
– Oh, eu já provei.
Ele fuzila os olhos para mim e morde o lábio inferior. Inconscientemente olho para sua boca e ele nota isso. Por um segundo, fico sem saber o que dizer. Estamos na entrada de uma casa de Pizza – onde a namorada também esta, alias – e ele esta me dando um olhar desses.
– Que foi? – questiono.
– Nada – ele sorri. – Você só me parece... Bem.
Dou de ombros.
– Eu estou.
Ele assenti.
– Eu também estou, por você estar aqui.
Enrubesço.
– Olha, Henrique – meus dedos tremem com o que vou dizer. – Tem algo aqui acontecendo?
Ele franze a testa.
– Desculpa, como?
– Alguma coisa – repito. – Por que toda vez você fica fazendo esses comentários que dão a entender alguma outra coisa?
Ele dá de ombros.
– Acha que meus comentários tem duplo sentido?
– Oh, yes, muito!
Ele se ajeita e aproxima o rosto do meu.
– Bom, pode ter certeza – seu tom fica mais baixo. – Que quando eu quiser dizer alguma coisa, eu direi.
– Rafa?
Viramo-nos ao mesmo tempo para olhar e um casal, muito familiar para mim, estão entrando no local de mãos dadas e sorrindo de orelha a orelha para mim.
– Oh – enrubesço mais do que o comum. – Sr. e Sra. Johnson! O que fazem aqui?
Eles se entreolham confusos por um momento e Henrique me dá um olhar cheio de perguntas.
– Pode ir na frente – eu digo a ele. – Eu sento com vocês depois.
– Tudo bem – ele afaga meu abraço e vai se sentar com Taffara.
Viro-me para os Johnson e eles se viram ao mesmo tempo, pareciam conversar entre ambos antes de se virarem para mim.
– Rafa – a Sra. Johnson sorri para mim e afaga meu braço. Seu cabelo é escuro e seus olhos tem uma cor vibrante castanha. – Como você está crescido.
Enrubesço aceitando o carinho dela.
– Obrigado, Sra. Johnson.
– Oh, pra que tanta formalidade? – o Sr. Johnson sorri também, coçando a parte de cima de meu cabelo escuro azulado. – Nós te conhecemos desde esse tamanho – ele abaixa a mão para fazer o gesto.
– Verdade – a Sra. Johnson sorri para ele. – Nós até limpamos a sua fralda.
– Hum – coço a base do meu pescoço. – Que assunto mais agradável, hein?
Eles riem alto com a minha reação desconfortável e sorrio de volta. Tem algo nos Johnson que eu sempre admiro. Eles parecem que nunca encontram motivos para chorar.
– Você parece bem – ela me avalia com o olhar. – Quem era o moço que estava falando?
Se antes eu estava vermelho, provavelmente agora estou rubro.
– É só um amigo – aponto por sobre um ombro.
O Sr. Johnson aperta os olhos e dá uma risadinha.
– Ele parece bem atraente, não acha, Bete? – ele pergunta a mulher.
– Muito, Will – ela o cutuca com o cotovelo.
– Não é nada disso – reviro os olhos. – Ele não é meu namorado, eu juro.
Eles riem mais ainda e fico surpreso com a facilidade com que conto isso a eles. Dá ultima vez que eles tinham vindo eu ainda não era assumido.
– Quando foi que chegaram aqui?
– Semana passada – diz a Sra. Johnson.
– Minha nossa – fico surpreso. – E ainda não passaram na casa dos meus pais? Estou chocado.
Eles hesitam e se entreolham outra vez.
– O que foi? – pergunto com um nervosismo. – Tem algo errado?
– Nada – a Sra. Johnson sorri falsamente. – É que já estamos partindo amanhã, mesmo.
– Ah – fico um pouco chateado com a noticia. – Que pena, achei que íamos poder aproveitar mais a visita. Vocês podiam passar o Natal aqui, sabe?
– Na verdade não podemos – o tom do Sr. Johnson é duro e de repente me ocorre uma coisa.
– Por causa de Melissa?
A Sra. Johnson me olha atentamente.
– Melissa?
– Melissa, a filha de vocês – franzo o cenho, me lembrando de uma garota de cabelo castanho magricela que vivia me irritando na minha própria casa.
– Isso – A Sra. Johnson assenti. – Melissa ficou sozinha em casa e não podemos demorar a voltar.
– Como ela está? – questiono.
O olhar do Sr. Johnson fica petrificado para algo na loja e sigo seu olhar. Henrique está olhando ele atentamente de volta. Taffara esta distraída demais com o cardápio.
– Sr. Johnson? – passo a mão na frente do rosto. – Esta tudo bem?
– Melissa esta ótima – Sra. Johnson chama minha atenção. – Esta exatamente do seu tamanho – ela dá tapinhas no braço do marido. – Vamos, Will?
Sr. Johnson relaxa e mexe no cachecol listrado. Noto que abaixo de todo o tecido tem um cromossomo “Y” de cabeça para baixo.
– Mas já?
– Sim, estamos com pressa – ele me dá mais um tapinha no braço. – Nós vemos por aí, Rafa?
– Em breve – a Sra. Johnson corrige e me dá um abraço.
Logo depois disso, eles saem da loja apressados.
Penso na reação estranha deles antes de ir e me pergunto o que pode ter incomodado eles e os fazer irem embora. Olho para Henrique e agora ele esta folheando o cardápio normalmente com Taffara.
Caminho até eles e me sento de frente para eles.
– E aí, pessoal – sorrio.
– E aí – Henrique sorri. – Quem eram aqueles dois que você estava falando?
Fico desconfortável com a curiosidade evidente dele.
– Hum, os Johnson’s – comento. – São parentes e amigos da minha família.
Henrique assenti com a cabeça, distraído.
– Parecem legais.
– E são – eu o asseguro.
– Pra mim não parecem – Taffara diz sem erguer o olhar. – São estranhos, pra mim.
Franzo a testa para ela.
– Por que diz isso?
– Sei lá – ela dá de ombros e ergue o olhar para mim. – Pergunte a eles. Não pararam de olhar para nós um segundo sequer.
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