Os Meninos do Orfanato escrita por Beatriz Azevedo, Joh Mettler


Capítulo 5
Quebra na Rotina


Notas iniciais do capítulo

Narrada pela Yoko, escrita por mim (A rainha dos vampiros). A gente simplesmente amou este capítulo e mesmo que seja complicado escreve-lo assim acho que super valeu a pena :D divirtam-se



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Acompanhei meu pai até a entrada da casa segurando sua mão. Ele parou na porta e se ajoelhou para me olhar nos olhos.

"Feliz aniversário, moçinho." Sua voz era calma e seus olhos serenos.

"Você não vai ficar?" Perguntei franzindo a testa. Ele riu de leve acariciando minha bochecha antes que eu ficasse bravo.

"Não posso, mas eu volto para soprar as velinhas com você." Ele respondeu se levantando.

"Que horas?"

"Seis e meia." Olhei em volta a procura de um relógio e ele riu se ajoelhando novamente na minha frente e mexendo em dos bolsos de seu sobretudo.

"Não se preocupe, fique com o meu." Ele me entregou um relógio dourado e pendurou a corrente no meu bolso. "Feliz aniversário de seis anos!"

Sorri abrindo o relógio e tentando advinhar a hora.

"Preciso ir agora, comporte-se." Ele beijou minha testa e saiu da casa.

–------

"Sopre as velinhas e faça um desejo." Uma voz no meu ouvido sussurrou. Acordei chutando tudo em volta e caindo da cama.

Rapidamente agarrei o relógio na minha cabeçeira e tentei me acalmar para que minha respiração baixasse e no final tudo que eu ouvia era o tic tac do relógio. Dei corda no aparelho e forçei meus braços que tremiam agarrar o colchão e subi na cama novamente.

Acordei de manhã com a Sra. Mc Breen batendo na porta, entrando no meu quarto e anunciando que se eu não levantasse agora eu perderia o café da manhã. Eu nunca estava atrasado e eu nunca dormia demais.

Ela abriu as cortinas e eu esperei ela sair para me levantar e as fechar, mas antes de minhas mãos agarrarem o tecido esverdeado meus olhos capturaram uma quebra na rotina.

O pátio cinza e cheio de neve estava, estranhamente, cheio de crianças brincando. Tentei identifica-las pelos cabelos que fugiam das toucas que usavam, mas só reconheci o único que não usava casacos o suficiente para não congelar do lado de fora. Semicerrei os olhos para o menino mesmo que ele não notasse meu rosto pela janela.

Desisti do café da manhã, coloquei meu cachecol, cartola e sobretudo e desci até o pátio para entender o que se passava. Assim que saí do prédio desviei de uma bola que foi chutada até o outro lado do pátio.

Observei Charles correr até a bola e a chutar com força. Todos olharam a bola cair do outro lado do muro alto e ai os cochichos começaram. Um menininho se sentou no chão e começou a chorar. ¨Era o meu presente de Natal!" Mordi o lábio.

A maioria das crianças resmungaram algo e começaram a voltar para o prédio. Eu ia as acompanhar quando vi o ruivo andar em direção ao menino e se sentar com ele. Me abracei perguntando a mim mesmo como ele encontrou forças para sentar na neve com a calça remendada dele quando ele falou algo para o menino. O menininho sorriu imediatamente.

O ruivo se levantou e gritou em direção as crianças "Ei, voltem aqui seus covardes!" Olhei os meninos pararem de andar e podia ver nos seus rostos que eles estavam sentindo uma mistura de medo e vergonha. O menino ruivo não parecia se importar com o fato de que ele havia insultado metade das crianças do orfanato e continuou falando. Me espantei a ver as crianças voltando para o pátio.

"Isso aqui é mais fácil que tirar doce de criança" Ele falou e as crianças cochicaram entre si. "Mas ninguém pod- consegue sair daqui" Um menino falou saindo do meio da multidão. O menino ruivo sorriu e olhou para o muro apontando para o mesmo. Arregalei os olhos. Ele não iria. Pensei em correr até a secretaria, mas minhas pernas não me obedeciam e eu fiquei parado observando a cena.

"Então?" Ele continuou e as crianças se entreolharam. "Alguém se propoem?" Houveram risos e conversas e alguns já saiam de perto.

A falta de resposta não pareceu desanimar o menino que continuou falando. "Vamos lá pessoal" inclinei a cabeça para o lado e evitei rir. Ele realmente esperava que um de nós saíssemos do orfanato? "É só pular o muro, pegar a bola e voltar." E ai, com essa frase tudo ficou quieto. Pela primeira vez na minha vida ouvi alguém falar sobre sair do orfanato tão claramente em voz alta. O menino colocou as mãos na cintura e revirou os olhos. "Tá legal." Ele se virou para o muro e parecia o medir com os olhos. Ele se virou novamente para nós. "Vocês são uns bocós às vezes, sabiam?" As crianças voltaram a cochichar e eu não aguentei.

"Não somos covardes. Você é que está acostumado a fugir da lei subindo nos muros e se escondendo depois de roubar! Você deveria estar na cadeia!"

Houveream mais cochichos e eu corei ao notar que as palavras realmente sairam da minha boca. O rosto do menino ficou da mesma cor de seu cabelo e eu tremi. Ele era mil vezes mais forte que eu (não que isso seja difícil). O menininho que perdeu a bola caminhou lentamente até mim. "Ele deveria ir para a cadeia por tentar fazer algo diferente que todos vocês? Vocês vão deixar meu presente lá fora?"

Baixei os olhos e ia responder o garotinho quando o ruivo voltou a falar. "Quer saber? Roubava mesmo! Eu não tinha uma vida de engomadinho de merda e precisava sair por aí pulando muros e roubando comida, mas pelo menos eu não sou um bocó!" Inclinei a cabeça para o lado e sorri de leve. Ele simplesmente se virou para o muro e tentou o pular sem sucesso. Cruzei os braços.

"Típico de um pobre. Classe nenhuma." Murmurei alto o bastante para ele ouvir. "O que aconteçeu com seus pais? Eles morreram na cadeia?" Minha garganta estava seca metade por causa do clima seco, metade por não estar acostumada a ser usada a tanto tempo.

Ele se virou novamente, podia ser só o frio, mas ele estava soltando fumaça. "Talvez! Mas pelo menos eles não se entregaram de bandeja para assassinos!" As crianças em volta de mim começaram a rir e eu segurei meu relógio com mais força. Elas haviam contado. Suspirei e andei até o muro. "Você se acha tão melhor por que você consegue pular um murinho?" Olhei para o menininho que começava a chorar. A frase que já estava prestes a sair da minha boca travou e eu mudei de ideia arquitetando outro plano. "Então é melhor correr por que a maioria das crianças já foram contar para o coordenador. Acabe com isso logo."

Engoli em seco e tentei sooar convincente. "Faça algo que nunca passou de um pensamento nas nossas cabeças."

Ele sorriu e travou seus olhos azulados comigo.

"É assim que se fala, garoto."

Revirei os olhos e me abaxei para o ajudar.

Ele pegou impulso e saltou agarrando o muro com força. Observei ele balançar a perna de cada lado e fazer um 'ok' antes de se jogar para o outro lado.

"Você já a achou?" Perguntei e recebi um leve sim. Ele podia não admitir, mas pelo tom de sua voz ele sabia que o que estava fazendo era arriscado. A pior coisa é que ele não sabia o quão arriscado era. Ele ainda não conhecia o verdadeiro coordenador.

"Eu vou subir nessas caixas de frutas para alcançar o muro e voltar." Ele falou com a mesma voz leve de antes. Concordei e me espantei quando ele pulou de volta para dentro do orfanato por pouco caindo em pé, mas invés ele caiu torcendo o tornozelo. O som do crac foi grande e eu senti um frio subir na minha espinha enquanto o menino ruivo gritava e tentava se levantar. Pensei em ajuda-lo, mas todos já haviam o circulado e o entupido de perguntas. Resolvi deixar para lá já que os meninos o ajudavam à andar até a enfermaria do orfanato e ele parecia ter se esquecido de mim. O menino havia recebido a bola novamente e as meninas comentavam o quão corajoso e charmoso o ladrãozinho com cabelo cor de fogo era. Ergui uma sombrancelha e olhei para a porta que o menino havia acabado de passar.

Soprei a franja que caia nos meus olhos, cruzei os braços e resmunguei. "Ele só queria atenção." Revirei os olhos e andei silenciosamente até o meu quarto sorrindo de leve. "Já sei o que você é."


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