O Sequestro de Madame Rowling escrita por Aluada


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

O começo deste capítulo era pra ser uma enrolação proposital, porque eu achava que não iria conseguir terminar do jeito que eu queria. Mas deu. O capítulo saiu um pouco maior do que o pretendido, mas não sinto vontade de mudá-lo.

Novamente, mudo a sinopse da história. Como eu disse, deu pra terminar do jeito que eu queria. Eu espero que vocês peguem todas as referências.
Quem descobrir a que se refere o número 713 ganha um doce! =3

E NÃO PRIEMOS CÂNICO! Ainda tem um epílogo! ;D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/5720/chapter/4

03h23
No pub Câmara dos Segredos


              Eram poucos aqueles que não se intimidavam pela grande placa em formato de bode no lado de fora. Mesmo que o lugar fosse bonito e bem acabado, confortável e aconchegante, apesar de pequeno: havia um balcão extenso de bebidas, um canto reservado para os músicos da noite, e algumas poucas mesinhas de madeira, nada mais. A decoração à moda antiga dos anos 20 e a iluminação bastante sutil tornava agradável a estadia de algumas horas ali, e certamente pedia por mais – mas ninguém nunca vai descobrir isso, pensava triste o barman atrás do balcão, por causa da maldita placa de bode!

            Não havia nada no mundo que ele detestasse mais do que ela – ou não, talvez houvesse, mas não, não, Dumbledore, brigou consigo mesmo, não são coisas, são pessoas, apesar de você não conseguir vê-las assim. Eram duas. A primeira, sem dúvida, era seu irmão e sua bizarra proximidade com bodes e afins. A segunda, no topo da lista, era sua mãe e sua horrível paixão por bandas suecas. Não tivesse ele nascido em 1976 e em pleno sucesso do single Dancing Queen, não teria recebido seu nome vergonhoso: Abba Dumbledore.

            Punha-se a refletir sobre isso enquanto lavava copos. Não pôde evitar ficar nervoso, deixou um deles pular de sua mão e se espatifar no mármore preto. Respirou fundo e tentou se controlar; afinal, era sempre assim. Não conseguia fugir de seu passado, e não conseguiria nunca. Aquelas questões familiares lhe atrapalhariam a vida para sempre. Contentou-se por, pelo menos, ver-se livre para fazer feio e deixar quebrar quanta louça quisesse: estava sozinho. Ou praticamente só, pois duvidava que qualquer um dos presentes se incomodasse com o barulho de seus descuidos.

            Nada que fosse surpreendente. Era considerável o fato de que duas das poucas pessoas dali já estavam fazendo o maior barulho do recinto: era a música ao vivo contratada da noite, a dupla Frederico & Georgiano de um arrasta-pé bem brabo. Os melhores, sim, se diziam os melhores do estilo. Abba não conseguia concordar muito com isso, no entanto. Eles não podem ser sérios, o pensamento estalava em sua cabeça sempre que virava para olhar a dupla de irmãos gêmeos sorridentes, cobertos por capas esquisitas.

            Além deles, havia os ocupantes da mesa 713, sérios demais para se importarem com qualquer coisa (é interessante frisar que o pub, na verdade, só tinha espaço para abrigar quinze mesas; a numeração a começar pelo 700 – e as pequenas placas novamente em forma de bode que numeravam cada móvel – tinha sido outra idéia excêntrica do caçula Dumbledore). Eram três: um homem de aparência arrogante, uma mulher de gestos grosseiros e uma segunda, quieta e de expressão cansada. Viu-os abrirem a porta ruidosamente e se sentarem em silêncio. Quando se aproximou, somente a morena lhe dirigiu a palavra; entre os outros dois, um se punha a observar o teto e a outra escrevia sem parar.

            — Um café expresso simples e uma Coca light — sua voz era tão dura que seria capaz de esmagá-lo.

            — Só temos Pepsi, senhora, pode ser?

            — Não.

            Não se atreveu a lhe ofereceu qualquer outra bebida. Ficou com medo de se manter muito próximo e levar um soco no estômago. Só se viu a salvo novamente quanto se pôs separado da mulher pelo outro lado do balcão.

            Ou não. Infelizmente havia se esquecido de uma terceira presente, uma que estava ali todas as noites, que não se intimidava com qualquer balcão, e que certamente tinha se incomodado com o tímido ruído de copo quebrando – se “incomodar” fosse realmente um sinônimo de “se aproveitar de uma situação para se aproximar novamente”.

            Quando se lembrou, já era tarde demais. O par de óculos de lentes quadradas já estava o observando de perto, abraçado ao peitoril.

            — Querido, aconteceu alguma coisa? Você se machucou?

            — Não, senhora Unilever. Está tudo bem, obrigado.

            — Quer ajuda pra recolher os cacos de vidro?

            — Não se incomode, senhora Unilever...

            — Não é incômodo nenhum, querido, pelo contrário! Fico preocupada com você, você pode se cortar com os —

            — A senhora quer alguma coisa? — não agüentava suas justificativas melosas.

            — Ora, ora!  — riu-se — Nós dois sabemos muito bem o que eu quero, querido.

            Por favor, não diga, não diga, não diga —

            — Você, querido.

            Não pôde evitar. Ela disse, com o mesmo tom de voz de todas as noites, quase se jogando pelo balcão.

            — Senhora, por favor, não foi isso que eu quis dizer — corou sob os óculos em meia-lua — A senhora gostaria de algo para comer? Alguma coisa – algum tipo de comida?

            — Bom, querido, já que agora você me deixou sem opção... É, é, eu adoraria que você me trouxesse uma porção de batatas fritas na minha mesa. Só pra eu poder te ver de novo daqui alguns minutos... — piscou uma daquelas piscadelas cheia de segundas intenções.

            — Vou providenciar, senhora Unilever. Pode se sentar.

            — E pára com essas formalidades, querido! Pra você, é só Minerva — soprou um beijo pelo ar, voltou de onde veio. Felizmente.

            Dumbledore anotou o pedido tremendo com a caneta. Por que ela precisava ser tão descarada assim? Por que não podia parar de dar em cima dele pelo menos – pelo menos – por uma noite? Era insuportável! E decididamente sua adorável família estava envolvida nisso (não poderia se esquecer jamais do dia em que sua mãe os trancou a sós no banheiro – doera demais quebrar o nariz ao pular pela janela). Era a Minerva isso, a Minerva aquilo, a Minerva assim, a Minerva assado – será que ninguém conseguia perceber que ele não queria nada com ela?!

            Colou o pedido das fritas no vidro da cozinha, para que Gegê o achasse mais fácil. Gegê, o cozinheiro. Não, na realidade seu nome verdadeiro era Geraldo Grindelwald – Abba o chamava de Gegê como um apelido carinhoso.

            Suspirou. Era tão difícil assim que alguém percebesse que ele era gay?!         

            Suspirou de novo, e por um momento deixou-se ouvir a música. Levantou a cabeça para olhar a dupla do arrasta-pé, mas logo tornou a abaixá-la: chegava a ser irônico contratar músicos que se diziam os melhores e que, no entanto, tinham juntos apenas uma orelha.





03h30
Na mesa 713



           
Tony Riddle empurrou o café expresso que Dumbledore lhe entregara errado. Jo Rowling deu um gole apressado para não queimar a boca e continuou a escrever. A caneta corria rápida; sua mente estava em todos os lugares, exceto acompanhando seus movimentos.

            Eu não deveria ter posto a folha no livro. E se ninguém achar? E se ninguém ler? E se ninguém... der pela minha falta, e nunca entrar em casa? Parou por um momento, só pra se assegurar de que suas linhas se mantinham retas. Que absurdo, Jo, isso é impossível! Virou a cabeça para Beatriz Lestrange, que lhe encarou com um sorriso maldoso. Sempre vai ter um fã maluco que vai perceber que sumi.

            — Você está pensando a mesma coisa que eu, não está, Jo?

            A fã maluca mais próxima interpretara mal sua olhadela devaneadora. Tirou mais um sorriso educado do seu repertório.

            — Ahn... estou?

            — Você sabe pra quem escreve, sabe o que eu tenho em mente.

            — Bea, assim você a atrapalha... Não acredito que este seja o momento correto para falarmos.

            — Mas — e parou, derrotada — Certo, Tony, querido.

            Segui-se um silêncio longo, forçando Jo a voltar a seu bloquinho de notas. Ficou feliz; não estava pronta para o que quer que eles fossem falar, não conseguiria contornar mais ainda a situação. Demoraria o máximo possível para reescrever aquelas partes finais. Não poderia sair daquele pub jamais. E nunca antes desejara tanto que sua vizinha da frente esticasse o pescoço pela janela, só para bisbilhotar..!

            Ganhe tempo, Jo. Escreva, escreva, escreva, escreva.

            A paz durou pouco, contudo. A música era demasiado ruim para os seqüestradores, ou para qualquer um. Beatriz lançou um olhar impaciente para o namorado e ele respondeu com um gesto da mão significativo. Podia falar.

            — Madame Rowling... Jo — por um momento, ela pareceu ser novamente a garota tímida do programa de entrevistas — Não queria atrapalhar... Sei que tem muita concentração... Mas eu... Ah, seria tão, tão maravilhoso, e tão importante pra mim, pra nós, se a madame... se você... não deixasse de considerar a nossa fonte de inspiração, e mostrasse aos fãs como eles, nós, podemos fazer parte deste mundo mágico que a madame, que você, criou, e —

            — Em suma, queremos que você nos escreva uma dedicatória — Tony interrompeu-a quase como naturalmente, sem sequer levantar os olhos; ela somente mexeu a cabeça freneticamente, em sinal afirmativo.

            — Vocês o quê? — largou a caneta.

            — De-di-ca-tó-ria. A homenagem que você sempre deixa no começo dos seus livros.

            — Eu sei o que é uma dedicatória, obrigada – mas vocês não acham que estão pedindo demais? Quero dizer — tentou consertar —, eu dediquei este livro a meus fãs... lembra, sete partes, forma de raio, etecétera e tal?

            — Mas agora o livro é diferente! — o grito de Beatriz foi bem audível, e ignorável — Nós fomos sua fonte de inspiração direta! Nós salvamos a história! Pessoas do mundo inteiro vão ler Harry Potter, e elas precisam saber quem foram os heróis que pouparam elas de um final pavoroso!

            — Você não poderia estar cogitando a possibilidade de nos confrontar — o único homem da mesa sorriu —, poderia, madame Rowling?

            Ela não ouviu aquelas palavras... ela as leu. Sentiu um arrepio dos pés à cabeça, mas forçou-se a se manter resoluta.

            — Eu-eu quero outro café — empurrou a xícara vazia —. Por favor.

            — Pois não, Jo — Tony a pegou, sorrindo um sorriso de causar arrependimento profundo — Trocar sua filha por uma xícara de café expresso me parece justo.

            Fez que ia levantar a mão para chamar o garçom, mas Rowling foi mais rápida.

            — NÃO! Não foi isso que eu quis dizer! Eu-eu... Veja — rabiscou bem rápido, e depois estendeu o caderno até a vista do casal — Faço questão de dedicar este livro pra vocês, OK?  E com amor.

            — Amor? Ah, que graça, querida — Beatriz mostrou todos os dentes —, mas dispensamos as palavras de Dumbledore. Ele não era um personagem importante.

            — Impertinente, eu diria, e bastante irritante — o namorado ainda acrescentou, puxando para si as anotações —, sempre se achando o grande bruxo, chefe supremo disso, presidente daquilo, o melhor dire – o que é isso?

            Jo sentiu o estômago deslizar até o pé, de uma vez só, como se fosse líquido. Pensou mesmo em tentar arrancar seu escrito das mãos de Riddle, sair correndo até a rua e fazer um escândalo escandaloso – nada disso passou de pensamentos, no entanto, porque seus braços se mantiveram fixos e bem grudados no assento da cadeira. Ele vai me matar, eu sei. Já podia ver a ira saltando-lhe dos olhos. Oh, não, ele não está gostando nada disso, constatava para si mesma, enquanto ele lia, incrédulo, página após página, virando-as ininterruptamente com as pontas dos dedos. Eu sabia. Sabia. Escolheu, por fim, se manter quieta. Quem sabe se parasse de respirar ela conseguisse ficar momentaneamente invisível.

            Contou um, dois, três segundos com a respiração contida. Soltou-a: Tony Riddle tinha atirado o caderno contra seu rosto. Continuou com ele abaixado o suficiente para ler sua própria letra largada no chão, desenhando as palavras idênticas e repetidas:


             Eu não devo contar mentiras
            Eu não devo contar mentiras
            Eu não devo contar mentiras...


            
 — Ninguém — bateu com o punho forte na mesa —, eu disse ninguém, tenta enganar Tony Riddle e consegue. Ouviu bem? Nin-guém.

            Inspire, expire, inspire, expire. Calma, Jo, ele só é um fã maluco. Ele não é um Riddle do jeito que você pensa. Ele é um trouxa, Jo, só um trouxa! Olhe ao seu redor. Você está cercada de pessoas. É só gritar que o garçom vem correndo te proteger – oh, céus, Dumbledore vem, eu tenho Dumbledore do meu lado!
            Eu não preciso ter medo. Não vou ter. Eles são uns trouxas. Uns trouxas!

            — Não fique bravo, querido. Nós temos Jessica — a gargalhada de Beatriz foi a mesma, causadora de arrepios — A pequena Jessy, a coitadinha!

            — Vocês também não devem contar mentiras — e, pela primeira vez nas últimas três horas, a voz de Rowling era firme e decidida — Eu sei que vocês não podem machuca-la. Quando chegamos, ela já tinha saído. O único encontro possível entre vocês teria sido na minha casa. E, se vocês realmente a tiverem pegado, ela estará lá, há quilômetros de vocês. Vocês não têm Jessica.

            — Eu deveria ter sabido que não poderíamos te enganar, madame — Tony muito bruscamente impediu que a namorada falasse. Algumas gotas de suor nervoso escorriam por sua testa. —. Você se deteve nos detalhes de sua história por 10 anos. Os detalhes desta também não poderiam lhe escapar.
            Rowling tinha que virar o pescoço para trás para poder enxergar a porta de saída. Não conseguia deixar de fazê-lo. Seus olhos iam de lá para Riddle, seu rosto e suas mãos – ou o que podia imaginar que elas estivessem fazendo embaixo da mesa. Não vê-las a deixava preocupada. Calma, Jo, calma. Não é como se ele estivesse segurando a varinha para lançar um Avada Kedavra a qualquer momento. Ele não vai. Isso é só da sua cabeça, Jo. Só da sua cabeça...

            De qualquer maneira, já tinha discretamente posicionado o corpo para correr loucamente caso pressentisse algum movimento suspeito. Ela tinha escrito o livro. Ela conhecia os gestos necessários de uma magia.

            — Eu deveria ter sabido, Jo, que não poderíamos esperar que atendesse ao nosso pedido. Afinal, a história é sua, certo? Você é a autora. Nós somos os fãs. Se queremos que aconteça qualquer coisa, devemos nos contentar com nossas próprias fanfics.

            — Tony, querido, o quê — ?

            Sim! O que diabos ele está dizendo?!

            — Ah, Bea, ela está certa. O sétimo livro já está perdido, não há mais volta.

            — Não, não, Tony, não podemos pensar assim! Ainda dá pra mudar, ainda dá!

            — Eu também acho, meu amor. Mas também reconheço minha derrota. Nossa única salvação está nas mãos do fanon, e... — tomou uma grande golada de ar — Ah, Bea, você escreve tão bem, é uma ficwritter fabulosa, escreve Sirius/ Remus como ninguém... Ah, meu amor, meu amor, será que você não gostaria de nos escrever o seu final?

            A expressão contorcida de ira de Beatriz iluminou-se instantaneamente. Por um momento, Jo se assustou – então essa menina consegue sorrir de alegria?!

            — O meu..? Sério, Tony? Você quer mesmo?

            — E por que não? Eu ficaria muito feliz.

            Trocaram juras de amor e se beijaram por um tempo bastante demorado. Joanne também não pôde deixar de sorrir. Aquele era um final feliz para uma noite de terror. Deixou-se relaxar em seu assento novamente. Tudo estava bem.

            Ou não.

            — Mas não se esqueça, madame — Tony se desvencilhou da namorada, agora contraindo o rosto de um modo ainda mais perigoso —, de que nosso propósito inicial era o de poupar os fãs de ler o seu final pavoroso. Ele ainda é.

            — Você-você acabou de dizer que não pode mudar ele — engasgou.

            — Não podemos.

            — Então o que você pretende fazer? Publicar um livro de fanfiction ou — ?

            — Não, não, madame. Eu prefiro pensar grande.

            — Você não pode impedir as pessoas de lerem o livro.

            — Eu não terei que impedi-las se não houver livro algum para ser lido.

            Oh-oh.

            As mãos de Riddle então se ergueram, e a escritora não parou para pensar duas vezes quando encarou a varinha – a faca, Jo, a faca! – prateada que ele tinha entre os dedos: num único movimento levantou seu corpo para fora da cadeira, quase a derrubando, sem nunca deixar de fitar os olhos do inimigo.

            Correu como nunca achou que poderia correr.

            Por quatro segundos.

            E então muitas coisas aconteceram ao mesmo tempo.

            Num quinto, tentou voltar sua cabeça para frente: seu cabelo comprido cegou-a enroscando-se pelos cílios e engasgou-a entrando pela boca aberta – um passo em falso antecipou um provavelmente certo, enlaçando suas pernas e dobrando seus joelhos – voou em câmera lenta em direção ao pobre Abba Dumbledore, mal posicionado, inocentemente levando batatas à senhora Unilever – parar, tinha que parar –

            Com gritos em uníssono, Joanne despencou sobre o garçom assustado, no que pratos e talheres lançaram-se pelo ar como pássaros sem asas. Não chegaram a sentir o chão – sentiram, sim, o ardor da queimadura de batatas pelando –, pois no meio da caminho as portas duplas de entrada  abriram de supetão: posteriormente Larry, Donald e Jessica se arrependeriam de não terem sido mais delicados e desejariam ter evitado o arremessar das duas vítimas ao lado oposto, contra a parede, contra a cristalheira belamente posicionada em sua decoração de anos 20.

            Não pôde calcular a dor: entre sua vista meio aberta, Jo enxergou apenas o suficiente para pensar – e por muito ficar refletindo – como aquela única vasilha de batatas fritas poderia ter assustadoramente se multiplicado em outras dúzias de mais vasilhas, além de copos, xícaras, pratos, pires, jarras, cálices, louça delicada e frágil, quebrável, rasgando sua pele com vidro e calor insuportável, afundando-a sob uma cascata de cristal infinita...

            — ALI! Pega, pega!

            — Não, pare!

            — Mamãe!

            — Onde está ela? Onde?       

            — Meu Deus, isso é caro!

            — Madame Rowling! — a última voz distante veio acompanhada de uma mão amiga que a trouxe de volta da morte. Donald Weasley suspirou de alívio.

            Logo atrás, de costas para suas costas, uma cena trágica se formava: a varinha – faca – prateada tinha pulado para as mãos perigosas de Beatriz Lestrange, que ao mesmo tempo segurava Jessica numa posição horrível de refém.

            — PRA TRÁS! — berrou com a voz rasgada, afastando o policial mais próximo alguns passos — Larga ele ou eu estraçalho mais um pescoço essa noite!

            Larry encarou-a com profundidade, como se tentasse ler através deles suas intenções e seu potencial de matar. Depois de distanciar-se não se atreveu a mexer qualquer músculo, apesar de não seguir as instruções da seqüestradora: ainda mantinha-se segurando firmemente Tony Riddle pelos braços e de cabeça baixa, ajoelhado. Calculou. Estreitou sua visão em direção a Beatriz e por poucos instantes desviou o olhar – mas não o suficiente para que ela pudesse prever o movimento da Rowling armada atrás de si:

            — NÃO A MINHA FILHA, SUA VACA!

            Realmente, não poderia saber. Não teve tempo de se preparar. Antes que pudesse se dar conta, a bandeja de metal afundava forte em sua cabeça. Caiu no chão, inconsciente.

            Terminado. O fim. O melhor que poderia ser.

            Minutos depois, inúmeras viaturas escandalosas chegavam para fazerem suas apreensões policiais, suas observações policiais, suas averiguações policiais, suas parabenizações policiais, sua bagunça-organizada policial inglesa.

            Exaustas e aliviadas, mãe e filha deixaram-se ficar abraçadas por muito tempo depois que saíram dali.

           


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!