Ela não era a Alice, mas bem que poderia ser. escrita por Flávia Monte


Capítulo 2
capítulo 2 - Ao trabalho


Notas iniciais do capítulo

Agora teremos duas pessoas contando a história, espero que gostem.

"Eu vi as paredes ao meu redor desabarem
Mas não é como se eu não fosse construí-las novamente
Então aqui está sua última chance de redenção
Aproveite enquanto durar, porque isso vai acabar
Minhas lágrimas estão virando no tempo
Que eu perdi tentando achar uma razão para o adeus"
(Over/Lindsay Lohan)



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ABBEY

Meu avião havia pousado a menos de duas horas. Ainda com sono desliso a senha do meu Ipad, e vejo que ainda são seis horas da manhã, só precisava enviar o arquivo as nove horas, hoje. Antes disso, Julian não estaria no escritório. Já que não ia para o atelie do meu chefe assim que chegasse, eu poderia comer em algum lugar. Ainda cansada, depois de pegar a mala, vou ao banheiro feminino. Tento enxergar melhor quando molho meu rosto com água, na pia. Noto que a luz não esta muito forte, o que dificulta eu ajeitar a maquiagem. Então desisto dessa ideia, por hora.

Vou para a área de carros, esperando que Margarett Smet passasse para me buscar do Aeroporto. Ela já estava uma hora atrasada.

Mexi em minha bolsa de mão, ainda com sono, para pegar uma barrinha de cereal. Era uma das únicas coisas que poderia comer naquele momento. Meu relógio apitou quando foi seis e quarenta, já era hora de me arrumar para sair do apartamento alugado, e Mag não estava aqui. Mesmo que eu tenha tomando um banho frio antes de entrar no avião, me sentia muito suja.

Mag já estava lá fora quando sai pela vigésima vez. Ela estava com uma regata azul e sua saia da Aeropostale, como se ainda estivesse na faculdade, ou até em uma escola.

O que houve com a sua saída? – Ela perguntou olhando para as minhas malas. – Você não está um pouco adiantada?

Acho que você que está atrasada... – Murmurei tentando não discutir, afinal não tinha tempo para isso.

Não interessa, Abbey, já estamos saindo dessa ilha mesmo, em menos de um ano. Espero que você não se importe, mas chamei Joshua para vir com a gente.

Joshua era o irmão mais velho de Margarett. Ele tinha trinta anos, um ano a mais do que eu. Era para ele estar na Califórnia, contudo, anos atrás, ele ficou hospitalizado por um ano. O que o fez perder o trabalho que teria no Canadá, de marketing.

Porque você o chamou? – Perguntei com uma voz um pouco alterada. – Você sabe o problema que ele tem com a polícia de Nova York. – Meu sussurro passou quase despercebido.

Joshua não iria me deixar vir se ele não viesse junto... Desculpa Abbey – Mag fugiu da conversa levando minha mala para o carro do irmão. – O problema maior não é o que ele tem com a polícia. – Em sua voz havia um pouco de malícia.

O irmão dela estava encostado na Picape prata, relaxado, com os braços cruzados e com o fone no ouvido. Assim que me viu endireitou a postura e abriu um sorriso. Mag era apenas cinco minutos mais nova que Josh, mas suas personalidades são distintas.

Não acha que está atrasada? – Perguntou ele, como se tivesse sido eu a chegar fora do horário.

Eu vou dirigindo – Grita Margarett atrás de mim, correndo para o banco de motorista. - Você sabe que passo mal no banco de atrás, Abbey, por favor? – Abaixou a cabeça e olhou para mim. O que me fez sentir péssima.

Você quem sabe, mesmo que eu vá atrás não vou acabar dormindo, se é isso que você espera.

Mag apenas concordou, entrou no carro e deu a partida. Olhei para o lado e o Josh já havia entrado no carro. Estávamos indo para o apartamento que iriamos dividir, em South Aquarium, no bairro de Upper West Side. Depois disso eu ainda teria que tomar banho e me arrumar para ir ao atelie. Meu chefe era muito arrogante, mas no mundo da moda quem não é não se encaixa. Além de sua secretária eu fazia suas viagens para mostrar os rascunhos dos desenhos, conversar com modelos e atrizes para desfilarem para Julian. Entre outros furos que ele me metia. Apesar disso, eu gostava do meu trabalho, era tranquilo e está me fazendo ficar em Nova York esse ano.

– Vamos rápido, Julian vai me matar se os desenhos, as roupas, e a comida vegetariana dele não estiver lá!

CARTER

Saí do legista me sentindo mal. Já haviam me chamado para trabalhos sem pistas antes, mas demorava muito para conseguirmos prender o assassino, e isso sempre me incomodou. Meu antigo parceiro, Tony, me pediu ajuda com essa jovem morena, que por coincidência foi morta, provavelmente, pela mesma pessoa da falsa Alice.

O doutor me deu as fotos da autópsia de ambas as garotas e também as que ele tirou antes de despi-las. Eu já sabia como estava vestida aquela que encontrei, então, primeiro observei a morena. Diferente da falsa Alice, ela estava toda ensanguentada. Usava uma blusa branca, por cima da saia vermelha, que ia até o joelho. Usava um corpete negro com pedras, por isso não tinha machucados nessa parte do corpo. Porém, não posso dizer o mesmo dos braços. Eles não estavam nem um pouco a mostra, pois o vestido tinha longas e finas mangas. Mas, estava toda rasgada, principalmente nos lugares em que foi mordida. Calçava botas de couro negro e seus olhos, que estavam um pouco abertos para a foto, eram verdes claros. Seu cabelo era bem longo e, sem contar pelo o sangue seca-los, pareciam muito lisos. A morena estava muito bem vestida, o que faz sentido já que em sua bolsa tinha um convite de casamento. Pelo o que dizia era um casamento de máscaras. Porém, na foto não havia máscara em nenhum lugar, apenas uma echarpe vinho.

As semelhanças que eu via em ambas as jovens eram: moças, com em média vinte anos, moravam nos Estados Unidos e estão ambas mortas.

A loira se chamava Astrid Hawley, tinha olhos azuis, pele branca, trabalhava em um consultório de uma empresa de música, sendo secretária, e a noite em um bar perto das casas dela. Morava no bairro de Chealsea, com sua mãe, a qual já havia sido avisada da morte da filha amada.

Bem diferente da morena, que se chamava Cintia Rubbens. Não tinha trabalho fixo, já trabalhou de garçonetes em alguns lugares e ficava a maior parte do tempo em casa. Tinha poucas amigas, e seus pais eram separados, morando cada um em um lugar dos Estados Unidos. Tinha também uma avó, mas não a via fazia anos. Vivia sozinha em Holland Park, com seus sete gatos.

Elas não tinham nada em comum, e nem motivo aparente para serem assassinadas. Não tinham inimigos em comum. Não frequentavam os mesmos ambientes. Como resumir diferente disso?

Escutei meu telefone tocando. Era uma música padrão do Samsung, a qual me irritava. Já que tenho três celulares, fiz questão de não comprar todos iguais: Um Iphone branco, como telefone pessoal. O Galaxy, onde eu falava com o pessoal do trabalho e um Iphone preto, que eu normalmente dava o número para aqueles com quem eu devia me infiltrar.

Tocou apenas quatro vezes até que eu o encontrasse no chão. Cliquei no botão e atendi sem falar nada.

– Carter? É você? – Meu silêncio respondeu por mim. – Precisamos nos encontrar e conversar sobre os homicídios. Estarei lá em quinze minutos.

Era Antonio e “lá” significava o bar que frequentavam regularmente. Normalmente, quando ligam do trabalho para mim eu não digo muita coisa. No máximo um “ok” ou um “vá mais cedo”. Não sou chefe de ninguém e eu só tenho uma pessoa que é acima de mim, onde trabalho. Não tento ser autoritário, mas também não sou de aceitar muito bem ordens.

Esse “lá” não é muito longe da onde moro. É apenas do outro lado do Central Park, o que quando vou andando parece uma eternidade. Cheguei antes de Tony como o de costume e não fui direto para uma mesa. Sentei em um banco livre, na área do balcão. Ao meu lado tinha um homem musculoso, com o braço cercado de tatuagens. Ele tinha a cabeça raspada e uma barba rala. A sua frente, com a mão na camisa do cara, havia um garota ruiva risonha que a cada segundo jogava o cabelo para o lado. Fui vistoriando o bar e encarando cada um que passava. Em meu tempo livre, enquanto espero meu ex parceiro, normalmente faço algo do tipo.

– Hey, Julio. – Chamei o barman. Fazia algumas semanas que eu não vinha aqui, mas Julio é barman desse bar desde que comecei a vir aqui.

– Carter. – Cumprimentou-me com um aceno de cabeça. – O de sempre?

– Traz logo três de uma vez? – Murmurei cansado, esperando que Antonio aparecesse.

Antonio era como um muleque. Tinha cabelo com topete, usava normalmente uma blusa preta apertada e um casaco. Fazia aquele “tipo” de colocar o casaco e olhar para a garota quando ia embora. Tony adora encantar as garotas deste bar, principalmente por ser bonito e as jovens sempre caem em cima. Não sou desse estilo, para falar a verdade, não saberia me descrever nem se me apontasse uma arma na cabeça.

– Eu quero uma batida de morango. – Quase gritou uma garota, com cachos claros e um belo sorriso, ao meu lado. Parecia tentar chamar atenção do barman. Já aparentava estar bêbada, mas feliz.

E com apenas essas palavras, conseguiu toda atenção de Julio para o resto da noite. Vezes ou outra ela trocava olhares comigo, sorria, mas como em todas as outras noites que estive aqui, não dei bola para a garota. Como quase nunca dou atenção para as garotas depois de Lindsay, minha ex noiva. Desde sua morte e, por consequência, a morte prematura do nosso filho Isac, nunca mais fui o mesmo. Admito. Mas agora não importa.

– Onde está o filho da puta do Waetfrod? – Murmuro, trincando os dentes. Percebo que o tempo em que estou aqui, aquele novo assassino está à solta. E eu não posso fazer nada continuando aqui.

– Calma, Carter! – Diz Julio no balcão. – Ele está logo ali. – Aponta para as portas que estão se fechando e vejo que Antonio já passou por elas.

Levanto-me e vou até ele, apenas para descobrir que andei tantas quadras atoa. Esbarro em alguns homens que bebiam cerveja em algumas mesas e sento na frente de Tony.

– Como assim? – Bato com o punho na mesa, fazendo um estrondo. – E quando você me ligou para vir até aqui você só queria que...

– Você se acalmasse. – Contou ele, tranquilamente. – Miguel me contou como você estava estressado por falta de pistas e pensei que podíamos passar pelo zoológico e depois amanhã irmos ao parque. Procurar mais evidências.

– Elas estão frias agora. – Quase grito, porém tento me controlar. – Você tem noção do que é preciso para obter pista, e estar presente, minutos depois do cadáver ser achado, já é de bom agrado? Principalmente, se você não for obrigado a sair de perto.

– Eu sei que você ficou puto, Carter, mas nós precisávamos tira-lo de lá. Você poderia ter nos ajudado, porém você não estava lá antes dela morrer. Não é policial como eu, amigo. Você é secreto, sabe como funciona, certo?

– Temos sorte de você não ser secreto... – Comento baixo e Tony ignora, porém sei que ouviu. – Vamos logo para o zoológico, antes que você se acostume com outros animais.

É óbvio que o bar que passamos a frequentar não tem boa clientela, porém tem nosso quase exclusivo barman, Julio, tem música ao vivo, como gostamos e acima de tudo: a bebida é por conta da casa.


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Notas finais do capítulo

HEEEEEEEEEEEEY! Comentem!!!! Logo terá o capítulo 3!
Será que finalmente acharão alguma pista?



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