O outro lado do clichê escrita por Apiolho


Capítulo 29
29 - Cara a cara com o inimigo


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem? *-*

Quanto tempo não? Quero muito cumprir a promessa de terminar esse ano, então aqui estou eu com o penúltimo capítulo, acho que o último vai ser grande e ainda estou planejando como vai ser.

Agradeço a Bellaluna Creator por comentar e me ajudar a continuar com a fic, assim como outros leitores.

Bom proveito da leitura, porque vai ser tenso e talvez tenha gatilho com palavras sensíveis.



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Capítulo vinte e nove
       Cara a cara com o inimigo

 “Será só imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?”
(Legião Urbana – Será)

 

Quando entrei na sala e a primeira pessoa que meus olhos encontraram foi o Evan, o pensamento de focar mais nos estudos e não nele quase foram por água abaixo, era como estar tentando lutar contra o impossível, porém respirei fundo e apenas segui até a minha carteira sem sequer acenar. Não sei se o que fiz o preocupou muito sobre o assunto que tive com o diretor, mas foi o bastante para me procurar quando as aulas acabaram.

Menos um certo homem de olhos verdes e mais apostilas. Sem caras sedutores e com Audrey em outro país.

Drey! — Se fosse para estragar meu mantra, tinha de ser justamente com a interferência do próprio diabo em pessoa? Apenas continuei a andar, como dizia a famosa filósofa contemporânea, Dory (ou seus pais). — Foi tão ruim assim que nem quer falar com o seu parceiro aqui? — Como um tom de voz poderia me fazer arrepiar e querer o socar ao mesmo tempo?

— Parceiros não deduram o outro, Miller. — Falei pausadamente e tentando por raiva em cada palavra, mas sem me virar ou saber que reação teria.

— O que ele falou? — Não sei se estava tão concentrada que nem notei quando me passou e se colocou a minha frente.

Talvez nem sequer soubesse, mas era a pessoa mais difícil de encarar nesse momento. Era como se toda a armadura que construí desde que sai daquela sala até agora não tivesse valido de nada, pois seu olhar transmitia mais que a curiosidade, parecia desespero para saber a verdade.

O problema é que não queria de jeito nenhum contar que saber o quanto é galinha e que vai quebrar meu coração pelo diretor me doía tanto hoje, já que era algo que desde sempre acreditava ser assim, só que depois de tudo que me falou e a confusão sobre o que sinto por ele me deixava sem entender o que fazer. Por que você não é de verdade o crápula que eu tinha em mente, Evan? Seria tão fácil matar isso dentro de mim assim.

— Pare de achar que tem a ver com outra coisa que não aquele showzinho que você fez lá no refeitório! — Estou mentindo e ele tem razão? Com certeza, mas essa era a melhor desculpa que pensei no momento. — Só vai embora e me deixe em paz. — Eu sei, deve estar me julgando agora, apenas é melhor do que dizer “eu não paro de pensar naquele dia, me toque” ou “eu posso estar gostando de você e prefiro me afastar a ser a próxima a levar um pé na bunda seu, então tchau”.

Se eu contava com a mínima possibilidade de que me deixaria se afastar sem nem tentar, todos iam rir de mim, até porque Evan Miller talvez pareça outra pessoa, mas ainda assim era um baita de um teimoso.

— Audrey, você pode se abrir comigo, estou aqui para te ouvir. — Seu corpo e rosto perto do meu não me ajudava, nem como sussurrou ou seu hálito batendo em meu pescoço, a apenas seguir em frente e ir para o exterior. — Não parecia estar braba pelo que fiz, mas agora é como se não quisesse mais ser minha amiga, como aquela vez.

Essa é a palavra-chave, amiga, desejar ser ou mais?

— Quer saber? Ele disse que você é péssima influência. — Tentei ir pelo outro caminho que me incomodava mesmo, a minha provável não bolsa a faculdade.

— E a novidade? — Tinha parado de falar, no entanto meus olhos revirados tenham o feito mudar de ideia. Até o sorrisinho sumiu. — Te deu advertência?

Andei até o local mais próximo que pudesse me sentar e me acompanhou. A conversa ia ser longa e ficar em pé era uma terrível ideia, pelo jeito que me olhou talvez já soubesse disso também.

— Meu sonho é ir para outro país, sabia disso? — Tentei deixar claro o quanto era importante para mim.

— Sim. — Essa seriedade, o que significava?

— E para isso eu preciso da recomendação do diretor.

— Sim. — Virou monossílabo foi? Não estava legal.

— Com a foto do beijo se espalhando e essa aposta, o diretor me chamou para dizer que se continuar assim vai mandar outro aluno em meu lugar. — Fui sincera. — Em outras palavras, me aconselhou a ficar longe de você.

— Sim. — Agora já chega!

— Posso ir embora então? — Levantei e, juro, a minha vontade era de deixa-lo sozinho com essa sua resposta de uma única palavra. Pelo jeito levou muito a sério quando disse que estava aqui para escutar.

— Audrey, por que quer ir aos Estados Unidos? — Antes que desse um passo a mais me veio com essa, me fazendo dar a volta e chegar perto dele de novo.

— Não é óbvio? — Sim, não é óbvio?

— Para mim não, desde quando você tem esse tal sonho? E qual universidade quer ir? Tem noção do quanto custa um aluguel lá? As leis? — Foi um bombardeio tão grande de perguntas que até fiquei tonta.

— Para que saber toda essa merda aí? O importante é que lá não tem James Carter, Evan. — Soltei e pareceu até ficar aliviado com o que comentei.

— O problema, Drey, é que desde que seu pai morreu e veio esse cara você não tem a sua vida, apenas vive para e pela sua mãe. — Confesso que foi um choque e tanto e me segurei para não dar na cara dele, porém ele continuou. — Ouviu o que acabou de dizer? Talvez nem queira ir tanto assim estudar fora, apenas quer fugir daquele cara.

— E o que tem se for isso? Não preciso de conselhos de alguém que até ontem trocava mais de mulheres que de roupa, muito menos seguir. — Fui babaca, mas se estava nessa de tocar na minha ferida, ia fazer o mesmo também.

— E se não conseguir essa bolsa? Já pensou nisso? — Parece que a minha alfinetada não fez efeito, porque continua com essa história.

— O mundo é grande, posso tentar em outro lugar. — Falei, nesse momento estava escorada na parede para que não saísse praticamente voando dali. Sua empolgação para tentar me fazer chegar a algo que nem sei ainda estava em seus olhos, corpo e até no sorriso. Era irritante!

— E se não der vai ficar quanto tempo tentando? — O que ele quer com isso? Não estou entendendo.

— Não preciso pensar nisso, vou passar.

— Então “tá”, fique com esse seu medo e boa sorte nos Estados Unidos. — Agora ia dar as costas? Ainda depois de vir com toda essa história? Se começou, pelo menos termine.

— O que você quer que eu faça? — Gritei quando estava um pouco longe e segui em sua direção, tão perto que podia sentir a sua respiração e encará-lo ao ponto de quase encostarmos nossos narizes. Por notar o quão próximo estávamos dei uns passos para trás e o que mais observava agora era o chão e algumas gramas que se formavam.

Estava com vergonha sim, e daí?

— Eu? Que você converse com ele na prisão, pense no que realmente quer fazer de curso e fale com sua mãe sobre tudo isso. — Começou e fiquei sem palavras, nem sequer levantei a cabeça para o olhar. — Mas a vida é sua e faz o que quiser dela, fiz mal em me meter nisso.

— Acho que irei falar com o James sim. — Apenas de tocar no nome dele eu já me sentia doente, mas continuei. — Com uma condição. — Se o Evan pedia algo tão difícil assim, queria algo em troca.

— Qual? — Como poderia ficar feliz tão rápido se até pouco tempo parecia a pessoa mais triste de todas?

— Que fale com seus pais. — Na mesma hora entendeu do que se tratava e eu jurava que ia recuar e íamos deixar toda essa discussão para lá, mas o que falou a seguir me deixou bem surpresa e com frio na barriga.

Fechado! — Meu coração falhou uma batida e não sabia o que fazer quando estendeu a mão, só ficar de queixo caído enquanto pensava se aceitaria.

Fechado! — Repeti como um papagaio e quando apertei eu tinha certeza que era uma promessa da qual deveria cumprir. Se fosse o Evil anterior faria “figa” no mesmo momento e riria por dentro, só que agora eu confiava nele. — Em dois dias vou poder visitar.

Quem diria, Audrey Campbell, ouvindo conselhos dele, bem quem até uns minutos atrás estava o chamando dos piores nomes possíveis.

— Então será daqui pouco tempo. — Era tão baixinho que quase nem ouvi. Apesar de ter parecido que não tinha medo dessa conversa e ter aceitado, era evidente que estava, sua postura, jeito e expressão o entregavam. Desde quando te conheço tão bem?

Ia sair correndo e me preparar para esse dia, quem sabe conversar com minha mãe seria o primeiro passo, mas como disse, ia, pois o Evan não soltava nossas mãos de jeito nenhum. Seu carinho ali e seu jeito pensativo foram o suficiente para eu continuar ali e ver o que viria a seguir. A quem quero enganar também? É, infelizmente tinha sentido falta desse toque.

— Precisamos conversar, não acha? — Por que vem com isso justo agora?

— Era uma desculpa para despistar a Catherine. — Respondi de imediato, talvez era sobre isso que se referia. Seu aperto ficou mais forte e entendi na mesa hora que estava encrencada.

“Por que fico tão irritada as vezes quando fico do seu lado? Por que eu não consigo te odiar nenhum pouco? Por que eu senti tanto sua falta? Por que eu quero ser sua amiga? Por que eu ainda quero tanto que me toque como na madrugada? Por que agora parece que só me importo contigo?”

Essas frases ficavam rondando na minha mente feito uma assombração ao ponto de me sentir tonta e com um pouco de falta de ar. Olhar para ele nesse momento era como reviver tudo e me sentir mais envergonhada ainda, quem sabe se não tivesse esse sorriso zombeteiro as coisas fossem menos difíceis.

— Eu te devo uma resposta. — Nem foi o que começou a dizer que me fez recuar, mas como me observou, daquela mesma maneira, com pena.

— Nem eu sei, vamos deixar para outro dia. — Se eu era boa em mentir, a partir de hoje descobri que tenho uma certa especialização em fugir.

— Vou esperar ansioso. — Quando terminou nem tive tempo de reagir, pois tinha soltado minha mão e afastado sem ao menos se despedir. Mas não reclamo, fez até um favor de não continuar essa conversa.

Cheguei em casa e minha mãe estava ali como um milagre, porém o que mais me surpreendeu foi ter mais do que biscoitos e suco de uva industrial na mesa, sim café e até pão. O que está acontecendo com ela?

— Quem é você? — Apontei para a sua direção.

— Eu disse que ia mudar, não? — Isso é verdade, mas suas promessas eram como nada. Fazia um tempo desde que tinha falado disso e por enquanto nada de garotos de programas em casa ou bebidas aos montes, talvez tenha resolvido fazer seu papel dessa vez.

Nesse momento estava era sentada na mesa e colocando café e leite na xícara como se fazia anos que não provasse. E não é que é verdade?

— Já que falou sobre, sabe que quero ir para fora daqui? — Ela respondeu que sim. — Mas o que não disse é o porquê, não escolhi ir para fora para ter bons estudos, mas sim para ficar longe do James e nos proteger dele. Você acha isso certo?

— Filha, você é maravilhosa, mas isso é muito difícil. — Seu suspiro me fez ficar mais triste ainda. Não acredita em mim?

— O quê? Não me apoia? — Falei já querendo jogar os cachorros em cima dela, dizer tudo o que vivi nesses anos após a morte do meu pai.

— Longe disso, eu só desejo que seja feliz, não que fique fazendo as coisas por mim. Quem deveria estar te dando bronca por beber ou sair a noite era eu, estar trabalhando para trazer comida para cá ou tentar nos deixar em segurança. — Começou e eu arregalava os olhos em cada palavra dela, porque fazia cada vez mais sentido tudo o que o Evan dizia. — Tem 16 anos e quantas vezes saiu? 2 vezes?

— Nem sou tão boa assim, eu gastava o pouco dinheiro que me dava em hamburguer. — Confessei e ela só faltou gargalhar de mim.

— Uma vez no mês. — Como sabe? — Isso é o mínimo, Audrey, se eu fosse mais responsável poderia comer toda a semana se pudesse e ainda teria algo comestível em casa, não aquele biscoito e suco que tinha gosto de tudo, menos de fruta.

— Mãe, eu também só queria que fosse feliz. — Ao comentar isso ela começou a chorar e foi me abraçar, quando vi estava no mesmo estado.

— Mas para isso precisa anular a sua? — Arregalei meus olhos e fiquei sem ter o que falar, porém pelo jeito ela tinha. — Pare de se pressionar tanto, faça a faculdade que quiser, com o James eu cuido. — Será que consigo dar outro voto de confiança? Para isso preciso vê-lo.

— Falando nele, quero visita-lo. — Fui direta para não vacilar.

— Por quê? Não vai não, aquele maldito pode fazer alguma coisa. — Estava bem irritada.

— É por mim, preciso perder o medo dele. — Talvez tenha sido influenciada pelo Evan, mas tem razão, foi isso que me fez querer ir para fora, não é um sonho.

— Tudo bem. — Percebi que não estava tão em concordância assim, porém pelo menos pude ir.

Claro que ela jamais me deixaria ir fácil, porque fez questão de ir junto e ainda ficou do meu lado até eu entrar. Depois de tanto insistir consegui ir sozinha até aquela sala e sentar ali, apenas esperando por ele.

Quando chegou eu senti todos as células do meu corpo tremerem, mas não de um jeito bom. Ver que estava aqui depois de tudo o que aconteceu era uma das coisas mais difíceis, mas tenho de sair dali não sendo consumida pelos seus toques, palavras e até violência. Eu preciso falar!

O pior de tudo eram seus olhos, que pareciam querer me comer.

— Então a ninfetinha veio me ver no lugar da mãe é? — Que nojo!

— Vim aqui para dizer o quanto você me dá pena! — Comecei e quase me segurei para não cuspir na cara dele.

— É? Tem certeza? Acho que ficou é com saudades de ser tocada pelo papai aqui. — Olhei para o guarda, mas estava muito longe, já que ali não tinha só eu de visita. Respirei fundo antes de continuar e lembrar a mim mesma que estava algemado e não poderia fazer nada.

— Pelo jeito não recebeu ainda a notícia. — Falei quase sem voz.

— Qual? — Perguntou sem tirar aquele sorriso maldoso do rosto.

— Que eu te denunciei faz umas semanas. — Falei o começo mais alto, porém o resto saiu quase sussurrado pela vergonha. Eu ainda tinha medo desse cara a minha frente, mas não tinha. — Por estupro.

— O quê? Eu te mato! — Ele até tentou se levantar para me atacar, porém os carcereiros viram e vieram para o tirar dali.

— Agora entendeu a pena? E irei até o fim. — E assim o vi se afastando com todo o ódio no coração e olhar. Talvez a coisa pioraria? Quem sabe, só que precisava dizer que eu tive coragem de falar tudo o que fez comigo e ia continuar.

Ter ficado anos nessa angústia de não ter seguido em frente ou pensar no que faria se denunciasse me consumiu a alma, a autoestima, o meu ânimo e até a vontade de ter amigos. É como um alivio que foi melhorado com uma bela tarde com hambúrguer e milk-shake ao lado da mãe.

Estava orgulhosa de mim. Será que Evan sentiria o mesmo?


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Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam das palavras do Evan? Da conversa com a mãe e Jamie?

A imagem não é minha. Se tiver erros desculpem-me.

Por favor, sei que é super chato, mas quem quiser comentar muito me deixará feliz. É sério, muito me anima. Assim como sobre recomendar, mas será um belissimo presente de final de 2022.

Beijos e até a próxima.



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